“O modelo agrícola de produção que predomina hoje não é
adequado para responder aos novos desafios da segurança alimentar no
século 21 e nem à necessidade de um produção sustentável, inclusiva e
resiliente”, disse o brasileiro José Graziano, diretor-geral da
Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO) no
Fórum de Agricultura e Mudanças Climáticas realizado em Paris no final
de fevereiro. “Uma vez que a produção não é uma condição suficiente para
a segurança alimentar, isso significa que o modelo atual de produção
não é mais aceitável”, continuou ele.
A organização reconhece que a agricultura convencional não
previne a degradação dos solos e a perda de biodiversidade – e ambos são
essenciais, especialmente para futuras gerações. “Esse modelo precisa
ser revisto. Precisamos de uma mudança de paradigmas”, completou
Graziano.
Segundo dados da FAO, o número de famintos crônicos foi
reduzido em 100 milhões de pessoas na última década, mas ainda se
contabiliza 805 milhões de pessoas sem o suficiente para comer.
“Aumentar a produção não significa acabar com a fome. Está evidente que
toda a produção do mundo já é suficiente para alimentar toda a população
do planeta. No entanto, a fome segue sendo um problema”, afirmou
Gabriela Vuolo, coordenadora da campanha de agricultura e alimentação do
Greenpeace no Brasil. “O desafio está na distribuição do que é
produzido, no acesso aos meios de produção agrícola e na produção de
alimentos para pessoas sem destruir o planeta”.
Produtora agroecológica no Rio Grande do Sul (© Rodrigo Baleia / Greenpeace)
A agricultura tem um enorme papel para desempenhar na
segurança alimentar, seja em resiliência para os efeitos das mudanças
climáticas como também reduzindo as emissões globais de gases de efeito
estufa provenientes do homem.
Prova disso é o estudo Cool Farming
(em inglês), de 2008, escrito pelo Professor Pete Smith, que desenvolve
estudos para o Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas
(IPCC), da Organização das Nações Unidas (ONU). Segundo o documento, os
fertilizantes químicos à base de nitrogênio – que são a maioria dos
fertilizantes usados hoje pela agricultura convencional – são grandes
responsáveis pela emissão de gases de efeito estufa provenientes da
agricultura, tanto durante sua fabricação como na aplicação desses
produtos.
“Qualquer modelo de agricultura que não faça uso de
fertilizantes à base de nitrogênio estará contribuindo com a redução dos
gases de efeito estufa. Por isso defendemos a adoção do modelo
agroecológico, que não prevê a utilização de fertilizantes químicos”,
disse Gabriela.
O estudo Cool Farming também indica que a agroecologia
tende a acumular carbono no solo, o que evita sua degradação e previne a
emissão de gases de efeito estufa na atmosfera. A agricultura orgânica
garante solos ricos em matéria orgânica e carbono, enriquecendo a
biodiversidade da região e contribuindo para que futuras gerações também
possam aproveitar dessas áreas cultiváveis.
“A questão vem avançando, e agora com o respaldo da FAO
esperamos que a agroecologia seja cada vez mais estudada, debatida e
colocada em prática como forma de mitigar as mudanças climáticas e
erradicar a fome global”, concluiu Gabriela.
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