Menos de uma semana após termos publicado artigo no UOL com críticas ao governador Geraldo Alckmin e a dirigentes da Sabesp por continuarem negando a falta de água em São Paulo, finalmente o Governo do Estado reconheceu que, sim, enfrentamos uma crise hídrica.
No dia 18, por meio do Diário Oficial, o Governo de SP declarou “situação de criticidade hídrica a região da bacia hidrográfica do Alto Tietê”, um dos principais e mais exauridos sistemas que abastecem a Grande São Paulo e que passou a suprir parte da população que antes recebia água do Sistema Cantareira.
Essa é a primeira vez que o governo reconhece a situação crítica de falta de água em São Paulo. Mesmo com o rodízio de água implementado pela Sabesp, milhares de famílias sem água e o uso do volume morto nos dois principais sistemas que abastecem a cidade - Alto Tietê e Cantareira -, o governador Geraldo Alckmin ainda insistia em dizer que não havia estresse hídrico em São Paulo, como chegou a afirmar no Senado em julho desse ano.
Mesmo assim, a criticidade foi apenas reportada para o Alto Tietê, não incluindo outros sistemas, como o Cantareira, que atua no nível de 12,6% negativo desde o dia 19 de agosto. Esse sistema deixou de ser o principal fornecedor de água de São Paulo, e hoje abastece 5,3 milhões de pessoas – quase metade dos mais de 8 milhões de antes da crise.
Até agora, todas as respostas para a falta de água se resumem em grandes obras de transposição. Mas em época de seca, o que especialistas já previam aconteceu: o desvio do Rio Guaió para a represa Taiaçupeba, no Alto Tietê, com gasto de 28,9 milhões, não pode avançar pois o rio está seco.
O governo e a Sabesp precisam entender que a solução para a falta de água é admití-la e, assim, informar os cidadãos sobre seu alcance e o que se deve fazer em tempos críticos. Afinal, se a aceitação da crise tivesse vindo antes, os mananciais não estariam na situação alarmante em que se encontram hoje, já que ações para diminuir a demanda de água poderiam ter sido sido realizadas a tempo de diminuir os danos causados aos reservatórios.
Além disso, é urgente que se realize a recuperação e conservação das florestas em áreas de mananciais. Apesar de essas medidas serem de médio e longo prazo, a situação atual necessita também de políticas de curto prazo para que no futuro a falta de água e a degradação dos mananciais não chegue a níveis alarmantes. Atualmente, no Sistema Cantareira, restam apenas 15% de vegetação nativa.
Ações defendidas pelo Greenpeace, como o Desmatamento Zero, a recuperação de áreas de mananciais e o fim dos descontos para grandes consumidores são medidas que buscam soluções e encaminhamentos para crises. Tarefas atribuídas aos governantes que, infelizmente, a exemplo da crise em São Paulo, preferem esperar por São Pedro.
*Fabiana Alves é da campanha de Clima e Energia do Greenpeace Brasil