Liderança rural assassinada no município de Iranduba (AM), Dora Salvador
convivia com ameaças há pelo menos 4 anos e havia denunciado diversas
vezes as intimidações
Dora fez diversas denúncias sobre as ameaças que sofria, mas não obteve proteção (Foto: Divulgação)
Maria das Dores dos Santos Salvador, de 52 anos, conhecida como
Dora, foi sequestrada na última quarta-feira, 12 de agosto, em sua casa
na comunidade de Portelinha, no município de Iranduba, a 27 quilômetros
de Manaus (AM). Seu corpo foi encontrado no dia seguinte, com marcas de
brutal violência e 12 tiros, segundo informações da Polícia Civil do
estado.
Liderança rural, Dora denunciava a venda ilegal de terras
na comunidade em que vivia e lutava pelo direito à terra, à moradia de
qualidade, segurança, saúde e educação. Conforme as denúncias de Dora e
dos moradores da região, a comercialização ilegal de lotes na comunidade
era realizada por Adson Dias Silva, conhecido como “Pinguelão”,
apontado como o principal suspeito de ser mandante do crime. De acordo
com o jornal A Crítica, de Manaus, ele foi preso na última
segunda-feira, dia 17, e estaria detido na delegacia de Manacapuru,
município vizinho a Iranduba.
Gerson Priante, marido de Dora, que
também foi agredido, disse à Comissão Pastoral da Terra (CPT) que ela
convivia com ameaças há 4 anos e já havia registrado mais de 20 boletins
de ocorrência na Delegacia de Iranduba contra Adson Silva. Há cerca de
dois anos, ela denunciou uma agressão que havia sofrido à Secretaria de
Segurança Pública do estado. Mais recentemente, em junho, também expôs a
violência que vinha sofrendo na Assembleia Legislativa do Amazonas.
Tudo sem resultados, já que ela não recebeu nenhuma proteção.
“Tudo
que você pode imaginar de denúncias foi feito. Ela era uma líder e foi
uma grande perda. Queremos que a justiça seja feita e que essa morte não
seja em vão”, disse uma pessoa que conhecia Dora, mas não quis se
identificar por questões de segurança.
Ainda segundo reportagem do jornal A Crítica,
de Manaus, o secretário estadual de segurança pública do Amazonas,
Sérgio Fontes, informou que a polícia não descarta a participação de
Pinguelão no crime. Há sinais da participação dele também com o tráfico
de drogas: de acordo com declarações das autoridades, em julho, uma
operação da Polícia de Iranduba, em conjunto com um braço da Secretaria
de Segurança Pública do Amazonas, realizada na comunidade de Portelinha,
cumpriu cinco mandados de busca e apreensão contra o suspeito e apontou
seu envolvimento com venda ilegal de terras, tráfico de drogas, ameaças
e porte ilegal de armas de fogo.
“Estamos contando com o apoio,
solidariedade e pressão de amigos e movimentos sociais para que este
momento não fique só no choro, lamento e emoção. Queremos justiça”,
afirmou Gerson Priante, o marido de Dora, em entrevista ao jornal A Crítica.
Uma homenagem está sendo organizada pelos movimentos sociais da região
nessa terça-feira, dia 18, em razão da missa de sétimo dia.
Segundo
dados da CPT, até julho de 2015 já foram registrados 23 assassinatos em
conflitos no campo no Brasil, sendo 22 deles na Amazônia.
O crime
ocorre 32 anos depois do assassinato da líder camponesa Margarida Maria
Alves, em 12 de agosto de 1983, símbolo da Marcha das Margaridas, que
reuniu milhares de trabalhadoras na semana passada, em Brasília, para
lembrar o Dia Nacional de Luta das Mulheres Trabalhadoras Rurais contra a
Violência no Campo e por Reforma Agrária.
Pressione as
autoridades para que haja Justiça! Envie um e-mail à Secretaria de
Segurança Pública do Amazonas (SSP-AM) para exigir que a morte de Dora
não fique impune: cg@ssp.am.gov.br
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