Projeto Minha Casa, Minha Vida em Juazeiro, Bahia, tem painéis solares. Moradores foram capacitados para a manutenção do sistema. (©Carol Quintanilha/Greenpeace)
O governo federal anunciou hoje o Plano de Investimento em
Energia Elétrica (PIEE), um pacote de investimento de R$ 116 bilhões em
geração e R$ 70 bilhões em transmissão de energia elétrica até o final
de 2018. Na prática, são definidos os projetos prioritários de energia
para o País, quais são as usinas que vão receber investimentos e quais
os rumos do setor elétrico nos próximos anos. "O anúncio do Plano que
poderia indicar que o Brasil vai entrar no trilho das energias
renováveis, como solar e eólica, no entanto, não traz muita novidade e
demonstra falta de visão por parte do governo federal", afirma Larissa
Rodrigues, da campanha de Clima e Energia do Greenpeace Brasil.
Para os próximos três anos, o plano indica mais usinas
termelétricas a carvão e a gás natural, além de grandes hidrelétricas na
Amazônia e outras tantas pelo País, mesmo quando os reservatórios
destas últimas estão praticamente secos. Ou seja, o Brasil opta por
investir em fontes que são poluentes, que trazem grandes impactos
socioambientais e custos elevados para o bolso do consumidor.
Hidrelétricas no Rio Tapajós
O ministro de Minas e Energia, Eduardo Braga, destacou as
hidrelétricas de São Luiz do Tapajós e Jatobá entre as obras planejadas,
ambas no rio Tapajós, no Pará. O objetivo do Ministério é correr para
realizar o leilão da maior delas até o final do ano.
A falta de transparência e de diálogo do governo com o povo
Munduruku sobre os planos de construção da hidrelétrica no rio Tapajós e
a ausência da demarcação da Terra Indígena Sawré Muybu, que deve ser
alagada caso a usina seja construída, são algumas das questões em
relação à construção da hidrelétrica.
Ao pronunciar que fará o leilão da hidrelétrica ainda em
2015, o Ministro assume que passará por cima dos direitos do povo
Munduruku e das demais comunidades tradicionais que vivem ao longo do
rio Tapajós. Para obter o licenciamento ambiental da obra é obrigatório
realizar com a uma consulta livre, prévia e informada (CLPI) com a
população afetada, prevista na Convenção 169 da Organização
Internacional do Trabalho (OIT), da qual o Brasil é signatário.
A Convenção 169 estabelece o direito dos povos tradicionais
a serem consultados antes que decisões com implicações diretas em suas
vidas sejam tomadas. A convenção pretende reservar a eles o direito de
influenciar o processo de tomada das decisões que lhes afetam.
No início de 2015, o povo Munduruku e os ribeirinhos da região
entregaram à Secretaria-Geral da Presidência um Protocolo sobre como
querem ser consultados, mas até hoje não obtiveram um retorno.
Fato é que o processo de consulta prévia não está sendo
realizado e por isso, no mês de junho, uma sentença da Justiça Federal
de Itaituba proibiu o governo federal de licenciar a usina de São Luiz
do Tapajós, caso não seja devidamente realizada a consulta à população
afetada.
A Convenção 169 vem sendo historicamente desrespeitada pelo
governo brasileiro, principalmente quando se trata de projetos de
hidrelétricas. Alguns outros exemplos recentes de não cumprimento à
Convenção 169 são as populações atingidas pela construção das
hidrelétricas de Jirau e Santo Antônio (rio Madeira), ou Belo Monte (rio
Xingu), que nunca foram devidamente consultadas.
Faltaram novidades e a conta de luz continua cara
O governo perdeu a chance de mostrar que o Brasil pode,
sim, contar com mais fontes renováveis e fazer com que a sua matriz
elétrica seja mais diversificada e distribuída. O plano não trouxe
muitas novidades em relação às outras fontes renováveis para além das
hidrelétricas. Continuamos a perpetuar um modelo de geração de energia
centralizado, que privilegia grandes obras, mesmo quando seus efeitos
negativos já são conhecidos.
No plano do governo foram finalmente incluídas projeções para a
energia solar, fonte que foi sempre negligenciada no planejamento. Os
números são tímidos tanto para a energia solar quanto para a eólica, que
tem potencial para contribuir com muito mais que os 6 mil MW previstos
no Plano. "A ambição para essas fontes deve ser maior para que o Brasil
possa evitar novos investimentos, por exemplo, em usinas a carvão, que
não fazem sentido em um país cuja vocação natural são as fontes
renováveis", conclui Rodrigues.
Mais do que isso, em discurso sobre o Plano, a presidenta
Dilma enalteceu as decisões tomadas em seu governo no final de 2012 que
reduziram as contas de luz dos brasileiros em cerca de 18%. No entanto,
não comentou que as contas de luz praticamente dobraram desde 2013.
Infelizmente, não é preciso fazer contas, porque todos os brasileiros
sentiram a mudança diretamente no bolso.
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