Saturday, July 31, 2021

Desmatamento e fogo na Amazônia: acompanhe o TOP5 da Destruição

 Rosana Villar 

O crime ambiental ocorre longe dos olhos do grande público. Mas com apoio de imagens de satélite e monitoramento de campo, denunciamos a destruição que avança sobre a floresta

O desmatamento e as queimadas geram impactos extremos em nossa vida, afetando o clima, a disponibilidade de água, a biodiversidade e a segurança de quem vive nessas regiões. Mas às vezes pode ser difícil ter noção do tamanho desse impacto, já que são crimes que ocorrem longe das vistas da maioria das pessoas, que vivem nos grandes centros urbanos. 

Para trazer atenção para essas proporções, criamos o Top 5 da Destruição, onde traremos à público periodicamente alguns dos maiores, mais escandalosos e absurdos casos de destruição florestal do período. A ideia é que as investigações possam ser usadas pela sociedade como ferramenta de denúncia e mobilização, amplificando os dados e os fatos, para que possamos exigir ação de políticos e empresas. 

Nos próximos meses, nossa equipe de pesquisas irá monitorar de perto o avanço da destruição, e traremos essas histórias até você. 

Veja no Youtube e compartilhe! 

E para você que leu até aqui, temos um extra! A medalha de Nióbio.

Nossa menção desonrosa desta semana vai para um estado que tinha tudo para ser exemplo de conservação, mas que vem há alguns anos escorregando na missão: o Amazonas, que no mês de junho ocupou o segundo lugar em desmatamento na Amazônia, atrás apenas do Pará. 

Assim, a medalha de Nióbio fica para o município de Lábrea (AM), onde encontramos um desmatamento de 1.392 hectares dentro de uma floresta pública não destinada. Para você ter uma ideia, essa área é quase 26 vezes o tamanho do Jardim Botânico do Rio de Janeiro! 

É tempo de fazer nascer a sociedade que queremos, onde o crime ambiental não será tolerado, onde nossos rios corram sem barreiras e nossa terra seja respeitada, com comida boa para todos e um ambiente saudável. O lugar que queremos para agora, não para o futuro, e que cabe a nós conquistar.  

Entre para a Brigada Digital e faça mais pela proteção da floresta. Quer saber mais? Acesse aqui 

 

Se o planeta está esquentando, por que faz tanto frio no Brasil?

 Greenpeace Brasil 

Entenda como as mudanças climáticas estão provocando eventos extremos como essa friaca no Centro-Sul do país

Árvore congelada no centro da cidade de São Joaquim, na Serra Catarinense, na manhã de 28/07/2021. A sensação térmica chegou a -12ºC no centro da cidade. ©Mycchel Legnaghi/ São Joaquim on line

Uma massa de ar polar avança sobre o país fazendo a temperatura cair abaixo de 5ºC esta semana em algumas capitais como Porto Alegre, Florianópolis, Curitiba, São Paulo e Campo Grande. No Rio Grande do Sul, nevou em pelo menos 13 cidades. E então você pode estar se perguntando, se existe aquecimento global e o planeta já está mais quente, como pode fazer tanto frio?

O aumento da temperatura média do planeta, conhecido como aquecimento global, é um fenômeno que está sendo acelerado pelas ações humanas e que tem provocado alterações no clima mundial, ou seja, se tinha chuva ou sol em uma época do ano e em um determinado lugar, tudo isso está ficando mais intenso, desequilibrado. São os chamados eventos extremos.

Ainda que a chegada de massas de ar frio seja comum nesta época do ano, elas estão ainda mais frequentes. Segundo o Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet), essa é a terceira massa polar que atinge o país somente em 2021.

Como o superaquecimento do planeta influenciou o frio que chegou ao Brasil?

Como já explicamos neste outro artigo, existe uma diferença entre o clima do planeta, que é um estudo feito no longo prazo, e a previsão do tempo para amanhã ou para a próxima semana, que é uma situação pontual e restrita a um determinado local.     

O processo de agravamento dos fenômenos naturais em decorrência da crise do clima é alertado há décadas pela ciência e se manifesta de diferentes formas. 

Em entrevista à BBC News Brasil, o geógrafo e climatologista Francisco Eliseu Aquino, professor da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), explicou as origens do frio extremo que atinge o “país tropical” neste momento.

Segundo Aquino, o sul do Brasil recebe massas de ar frio vindas da Antártida, assim como envia massas de ar quente. Mas, com a alta variabilidade climática provocada pelo aquecimento global, o calor fora do comum no Brasil interfere neste sistema de trocas enviando mais ar quente para a Antártida e, como consequência, abrindo espaço para a chegada de ar frio. 

O especialista detalha ainda que esta onda de frio, em específico, será ainda mais severa por ter passado pelo Mar de Weddell,  uma das regiões mais geladas da Antártica.

Enquanto a seca e o frio avançam sobre o Centro-Sul do Brasil, alguns países do Hemisfério Norte registram recordes de calor e volume de chuvas. Como declarou o climatologista José Marengo em entrevista recente ao Greenpeace Brasil: “A atmosfera não reconhece fronteiras”. 

Isso significa que todos já sentimos e sentiremos ainda mais as consequências das mudanças climáticas se nada for feito. O Canadá, por exemplo, conhecido pelas paisagens com montanhas cobertas de gelo, chegou a registrar 50° em julho. A maior onda de calor dos últimos tempos causou a morte de centenas de pessoas e incêndios florestais em diversas cidades do país.

Poucas semanas depois, chuvas muito acima dos padrões inundaram cidades na Alemanha e na China. Os eventos extremos nos três países provocaram centenas de mortes.

“Este é um ano que está sendo marcado por eventos extremos, uma das graves consequências das mudanças climáticas. Salta aos olhos, mas também às casas e aos corpos, o potencial devastador dos impactos e da emergência que vivemos. Precisamos de medidas concretas para combater essa crise. No Brasil, isso significa o fim do desmatamento, o maior fator de emissões de gases de efeito estufa no país, e uma transição energética para fontes limpas e renováveis”, diz Marcelo Laterman, da campanha de Clima e Justiça do Greenpeace Brasil.

Veja alguns extremos do clima que já aconteceram no Brasil este ano:

Já existem soluções para a crise climática e que podem ajudar muito na resolução da crise econômica e social brasileira. Precisamos apenas ligar os pontos, contar com quem já está atuando junto e promover ações que contribuam para a construção de um mundo mais justo, inclusivo e considerando os limites da natureza. Assine a nossa petição para se juntar ao movimento de pessoas que reconhecem a urgência da crise climática, dar voz às pessoas mais afetadas por este problema e manter-se informado para nos mobilizarmos pela causa e pressionarmos as autoridades.

 

Tuesday, July 27, 2021

Após aprovação de lei que reduziu áreas protegidas em Rondônia, ameaças e invasões aos territórios indígenas se intensificaram

 Jorge Eduardo Dantas

 Lei Complementar 1.089/21 deixou diversas Terras Indígenas desprotegidas e vulneráveis

Diversas lideranças – de povos como Karitiana, Karipuna, Kanoé, Kassupá, Uru Eu Wau Wau – redigiram uma carta em que denunciam a situação dos territórios. Foto: Cimi/ Regional Rondônia © Cimi/ Regional Rondônia

Lideranças indígenas de Rondônia, do noroeste do Mato Grosso e do Sul do Amazonas divulgaram recentemente uma carta denunciando que, desde que a Lei Complementar 1.089/21 foi sancionada pelo Governo de Rondônia, em maio, as ameaças e invasões aos territórios indígenas se intensificaram. 

A carta foi produzida entre os dias 12 e 14 de julho, num encontro que reuniu diversas lideranças em Porto Velho (RO) e que foi realizado cumprindo todos os protocolos sanitários de defesa contra a COVID-19. O documento é fruto de um debate entre os representantes sobre a conjuntura política envolvendo os seus territórios. Leia o conteúdo do documento. 

Participaram desta discussão lideranças Karitiana, Karipuna, Kanoé, Kassupá, Uru Eu Wau Wau, Oro Waram, Oro Waram Xijein, Salamãe e Oro Mon. A produção da carta foi intermediada pela Organização dos Povos Indígenas de Rondônia, Noroeste do Mato Grosso e Sul do Amazonas (Opiroma).

A Lei Complementar 1.089 foi sancionada pelo governador de Rondônia, Coronel Marcos Rocha (PSL), em 20 de maio. Ela extinguiu 202 mil hectares de áreas protegidas no estado, retirando a proteção de porções significativas da Reserva Extrativista Jaci-Paraná e do Parque Estadual de Guajará-Mirim. Essa lei está sendo questionada na Justiça (leia mais abaixo). A Resex Jaci-Paraná perdeu 171 mil hectares – quase 90% de seu território – e o Parque Estadual de Guajará-Mirim perdeu 55 mil hectares.

Demandas

Na carta, as lideranças afirmam que a sanção da Lei Complementar 1.089/21 possibilitou que as Terras Indígenas Karipuna, Uru Eu Wau Wau, Karitiana, Lage e Ribeirão passassem a sofrer mais invasões  – uma vez que as áreas protegidas que serviam como proteção ou zona de amortecimento não existem mais. 

Além disso, disseram as lideranças, os invasores sentem que suas invasões serão legalizadas, o que fez com que eles tivessem mais confiança e passassem a adentrar mais e mais os territórios. A carta cita também a situação dos povos isolados da região – essa mudança nas áreas protegidas reduziu sua área de circulação, deixando menos recursos para a sobrevivência física e cultural desses povos.

Para repercutir o conteúdo da carta – que alerta para a maior pressão de invasões dentro dos territórios indígenas e fala dos custos ambientais que a LC 1.089 traz – as lideranças entregaram cópias do documento para órgãos como o Ministério Público Federal (MPF) e para representantes da Embaixada da Alemanha que recentemente visitaram os povos indígenas de Rondônia.

Líderes do povo Karipuna têm frequentemente denunciado as invasões e destruição de seu território, causada por grileiros e madeireiros. © Chico Batata / Greenpeace

Impactos

Um dos territórios mais impactados pela LC 1.089 é a Terra Indígena Karipuna, lar do povo de mesmo nome que, por reunir uma população de apenas 60 pessoas, têm sua existência ameaçada pelo crescente processo de invasão de seu território.

No início de maio, representantes do povo Karipuna entraram com uma ação na Justiça Federal de Rondônia demandando diversas medidas dos governos Estadual e Federal, incluindo a retirada de invasores, fiscalização e vigilância da Terra Indígena e destruição de obras dos criminosos no interior do território. Entre 2017 e 2020, foram devastados 3.646 hectares da TI Karipuna. Hoje, ela é a 9ª Terra Indígena mais desmatada da Amazônia.

Coordenador da Opiroma, José Luiz Cassupá falou sobre os perigos que a Lei Complementar traz: “A LC 1.089 tem diversas consequências ruins para as Terras Indígenas. Ela vai contribuir com o desaparecimento de alguns rios e igarapés, vai abrir espaços para novas invasões, vai aumentar o desmatamento, vai aumentar o registro do Cadastro Ambiental Rural (CAR) dentro dos territórios e aumentar o número de queimadas. Por tudo isso, nós não apoiamos essa lei, nós não estamos de acordo com o que ela propõe”.

José Luiz disse ainda que está muito claro, às lideranças indígenas rondonienses, que a Lei Complementar faz parte de uma ofensiva maior contra os direitos indígenas que inclui o PL da Grilagem, o PL da Mineração e o julgamento do Marco Temporal. “São vários projetos de lei que, analisados em conjunto, existem para impedir a demarcação de novas Terras Indígenas e dificultar a proteção daquelas que já existem. Hoje temos uma Funai fragilizada, um Ibama sem agentes de fiscalização. Não temos hoje um órgão que fiscalize de maneira eficiente os crimes contra as Terras Indígenas”, declarou.

Porta-voz da Campanha Amazônia do Greenpeace Brasil, Rômulo Batista contou que a intensificação das invasões e o aumento das ameaças eram consequências esperadas da aprovação da Lei Complementar 1.089. 

“Essa lei, de maneira totalmente inconstitucional, piorou muito a situação para diversas populações indígenas que dependem de seus territórios para manter vivas suas famílias e culturas – e já eram vítimas de ameaças e invasões. Esse aumento da violência já estava dado. Estamos assistindo ao Governo de Rondônia premiar  grupos criminosos que invadiram, destruíram essas áreas dentro das Unidades de Conservação e infelizmente nada indica que algo será feito para impedir o avanço sobre as terras indígenas que ficaram ainda mais vulneráveis. Isso é só mais um aspecto do genocídio indígena que estamos vendo acontecer hoje no Brasil”, disse Rômulo.

Questionamento

A situação da Lei Complementar 1.089/21 não está resolvida: ela está sendo questionada pelo Ministério Público Estadual (MPE) de Rondônia e pelo MPF.

Antes mesmo de sua sanção, a Procuradoria Geral do Estado  (PGE) de Rondônia havia se manifestado contrariamente a essa lei, afirmando que ela não foi precedida de nenhum estudo técnico (conforme preconiza o artigo 22 da Constituição Federal) e que ela fragilizava um importante corredor ecológico que liga diversas Unidades de Conservação e Terras Indígenas. 

Pouco dias após o governador Marcos Rocha sancionar a Lei Complementar 1.089, o Ministério Público Estadual entrou na Justiça com uma Ação Direta de Inconstitucionalidade (ADIN) contra ela. No início de julho, foi a vez do MPF encaminhar o caso à Procuradoria-Geral da República (PGR), também alegando inconstitucionalidade. Os procuradores federais lembraram que não houve consulta livre, prévia e informada aos povos indígenas afetados pela medida, conforme previsto na Convenção 169 da Organização Internacional do Trabalho (OIT).

Não podemos normalizar a violência contra os povos originários e nem permitir uma política genocida que nos remete ao nosso passado colonial. Exija a proteção imediata da vida dos povos indígenas e de seus territórios assinando a nossa petição Basta de Violência contra os Povos Indígenas!

Thursday, July 22, 2021

No Congresso Nacional, passou boi, não passa boiada

 A mobilização da sociedade em defesa das florestas e contra a destruição ambiental foi fundamental para frear as boiadas no primeiro semestre. No segundo semestre, a boiada não passará!

© Bruno Kelly / Greenpeace

O primeiro semestre de 2021 termina com a certeza de que a mobilização da sociedade é fundamental para frearmos a destruição ambiental, em defesa da Amazônia e outros ambientes naturais e dos direitos das populações do campo, da floresta e da cidade. Apesar de ter sido colocado em pauta mais de uma vez este ano, o PL da Grilagem não foi votado e um dos motivos para isso foi que pessoas como você, junto com organizações ambientalistas e indígenas, movimentos do campo, artistas e parlamentares, fizeram pressão para que o roubo de terras públicas não fosse legalizado no país. 

Devido à pandemia da Covid-19, o Congresso Nacional segue restrito para a participação da sociedade. Mais do que nunca, os presidentes da Câmara e do Senado, Arthur Lira (PP/AL) e Rodrigo Pacheco (DEM/MG), respectivamente, precisam deixar de lado propostas que ameaçam o bem-estar coletivo e a economia brasileira e focar em soluções para conter a crise política, econômica e sanitária no país.

No momento, as atividades na Câmara e no Senado estão paradas devido ao recesso parlamentar e, por duas semanas, nada de boiada! Mas é preciso preparar os corações, porque, em agosto, o trator ruralista que atropela estará de volta querendo passar. Juntas e juntos, continuaremos resistindo para não deixar isso acontecer.

No Congresso Nacional, passou boi, mas não passou a boiada! Confira abaixo um resumo do que combatemos na Câmara dos Deputados e no Senado Federal no primeiro semestre de 2021:

1. PL 2.633/2020 e PL 510/2021 – Os PLs da Grilagem

É sempre bom lembrar: grilagem é sinônimo de roubo de terras públicas, ou seja, é crime. Mas, se nossos deputados e senadores aprovarem os projetos de lei 2.633/2020 (Câmara) e 510/2021 (Senado), deixará de ser. Uma reportagem recente mostra que, no primeiro semestre de 2021, um terço do desmatamento na Amazônia ocorreu em áreas florestais que não tiveram seu uso decretado como unidade de conservação. Ou seja, terras públicas que foram ocupadas ilegalmente, estimulando desmatamento e conflitos no campo.

No fim de abril, Rodrigo Pacheco tentou colocar em votação no Senado, sem debate, o PL 510 do senador Irajá Abreu, conhecido e influente ruralista. Mas, após forte pressão da sociedade civil, o projeto de lei foi retirado de pauta.

Já na Câmara, em julho, Arthur Lira também tentou votar o PL da Grilagem (2.633/2020), após aprovação da urgência da matéria. Isso significa que ele pode ser colocado para votação em plenário a qualquer momento na Câmara, após o recesso. 

Ação para o segundo semestre: pressionar Arthur Lira e Rodrigo Pacheco para que os PLs da Grilagem não entrem em pauta na Câmara e no Senado.

2. PL 4.348/2019 – Grilagem em assentamentos rurais

Em abril, na surdina, senadores tiraram da gaveta e aprovaram sem nenhum debate o PL 4.348/2019, projeto de lei que ameaça direitos de agricultores e agricultoras familiares e pode facilitar a ocupação ilegal de terras públicas. O texto aprovado altera a legislação atual que regulamenta a regularização fundiária em assentamentos rurais dentro e fora da Amazônia Legal. No entanto, já existe lei para titular terras de trabalhadores rurais – ela precisa ser aplicada. 

O PL 4.348 está atualmente em tramitação na Câmara dos Deputados. Ele chegou a ser colocado em pauta em julho, mas não andou. Se aprovado pelos deputados, seguirá para sanção presidencial. 

Ação para o segundo semestre: pressionar Arthur Lira para que o PL 4.348 não entre em pauta na Câmara. 

3. PL 3.729/2004 – A lei do não-licenciamento

O licenciamento ambiental é um dos principais instrumentos de controle que a sociedade dispõe para a proteção do meio ambiente e das pessoas e, por isso, a proposta de uma nova lei precisa ser discutida amplamente, através de audiências públicas, debates e participação social. Mas, fechando totalmente os ouvidos para os argumentos de ambientalistas, técnicos de meio ambiente, cientistas e outros setores, o deputado Neri Geller (PP/MT) propôs a pior versão do PL 3.729, a Lei Geral do Licenciamento Ambiental, desde que ele foi criado, em 2004. Assim, a Câmara aprovou, em maio, o que pode ser chamado de PL do não-licenciamento e a “mãe de todas as boiadas”. 

Atualmente, o PL 3.729/2004 tramita no Senado e tem como relatora a senadora Kátia Abreu (PP/TO). Se os senadores alterarem o texto aprovado, o PL retorna à Câmara, para rediscussão específica dos itens modificados. Caso o Senado o aprove na íntegra, o PL segue para sanção presidencial.

Ação para o segundo semestre: pressionar Rodrigo Pacheco para que o PL do Licenciamento não entre em pauta no Senado sem passar por amplas discussões com a sociedade civil.

4. PL 490/2007 – Ameaça a territórios e povos indígenas

O PL 490/2007 foi mais um dos projetos desengavetados repentinamente por parlamentares que querem tirar direitos dos povos indígenas garantidos pela Constituição Federal. No fim de junho, alheia aos protestos pacíficos de mais de 800 indígenas nas proximidades do Congresso Nacional, em Brasília, a deputada Bia Kicis colocou a proposta em pauta na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) e ela foi aprovada por deputados governistas e ruralistas. 

O PL agora aguarda para ser votado no plenário da Câmara. Se aprovado, ele abrirá caminho para uma nova onda de genocídio dos povos nativos no Brasil, pois inviabilizará demarcações de terras indígenas, além de escancará-las a empreendimentos predatórios, como garimpo, estradas e hidrelétricas. 

Ação para o segundo semestre: pressionar Arthur Lira para que o PL 490 não entre em pauta no plenário da Câmara.

5. PDL 28/2019 – Fragmentação de terras indígenas

Outra proposta que ataca direitos dos povos indígenas é o Projeto de Decreto Legislativo (PDL) 28/2019, que exclui da Terra Indígena São Marcos a área urbana da sede do Município de Pacaraima, em Roraima. Isso significa uma brecha para que territórios indígenas sejam fragmentados em todo o país. Lideranças indígenas e o Ministério Público Federal em Roraima são contra o PDL 28.

Depois de passar pelo Senado em 2019, atualmente o PDL tramita na Câmara dos Deputados e pode ser votado assim que o recesso parlamentar terminar, em agosto. 

Ação para o segundo semestre: pressionar Arthur Lira para que o PL 490 não entre em pauta no plenário da Câmara.

6. PL 984/2019 – Reabertura de estrada que corta ao meio o Parque Nacional do Iguaçu

O projeto de lei 984/2019 pretende reabrir a Estrada do Colono dentro do Parque Nacional do Iguaçu, que é Patrimônio Natural da Humanidade e uma área de Mata Atlântica rica em biodiversidade. Localizado no Paraná, o parque seria cortado ao meio, ameaçando a vida de espécies animais e vegetais que habitam nele. 

O PL ganhou status de regime de urgência em junho e pode ir à votação na Câmara dos Deputados a qualquer momento após o recesso. Mais de 300 instituições e lideranças já se posicionaram contra mais essa tentativa de destruição do meio ambiente. 

Ação para o segundo semestre: pressionar Arthur Lira para que o PL 984 não entre em pauta no plenário da Câmara.

Veneno no prato dos outros é refresco

Além desses projetos de lei, outra boiada a que precisaremos resistir no segundo semestre é a tentativa dos ruralistas e do governo Bolsonaro de aprovarem o Pacote do Veneno, que vai aumentar ainda mais a quantidade de agrotóxicos no campo e no prato. Não queremos comer comida com veneno!

 Anote os contatos dos presidentes da Câmara e do Senado

Arthur Lira
Twitter: @ArthurLira_ 
Facebook: https://www.facebook.com/arthurliradeputadofederal
Instagram: https://www.instagram.com/oficialarthurlira/
E-mails: dep.arthurlira@camara.leg.br e presidencia@camara.leg.br

Rodrigo Pacheco
Twitter: @rpsenador 
Facebook: https://www.facebook.com/RodrigoOtavioPacheco
Instagram: https://www.instagram.com/rodrigopacheco
E-mail: sen.rodrigopacheco@senado.leg.br 
Telefone do gabinete: (61) 3303-2794 / 2795

sobre o(a) autor(a)

Jornalista do Greenpeace Brasil em Brasília, integra os times de Políticas Públicas e Agricultura & Alimentação. Começou a abraçar árvores ainda criança e não parou mais.

Thursday, July 15, 2021

No time or forest to lose

Gaby Flores 

 Illegal deforestation in the Gran Chaco forest region continues. A Greenpeace Argentina team conducted an overflight last week and discovered unlawful deforestation in the Chaco province of Argentina. 

Flyover deforested land in Chaco region of Argentina © Alejandro Espeche / Greenpeace
Flyover deforested land in Chaco region of Argentina ©Alejandro Espeche / Greenpeace

The deforestation of 10,329 hectares was detected by comparing satellite images from November 2020 to July 2021. Greenpeace aerial images from July also show bulldozers in operation, with forest destruction recorded in at least 10 places in the province.

All of this illegal forest clearing is occurring despite the November 2020 ruling of the provincial government suspending such activity for the Chaco province, part of the Gran Chaco forest region in South America. The suspension of clearing was supposed to be a temporary solution but has not stopped deforestation.  What is really needed is an update to Argentina’s Territorial Ordinance of Native Forests — and enforcement of the law.

Why this matters

The Gran Chaco is the second largest forest ecosystem in South America, after the Amazon. Divided amongst Argentina, Paraguay, Bolivia, and a small part of Brazil, the Gran Chaco is home to 3,400 plant species, 500 bird species, 150 mammals, 120 reptiles, and 100 amphibians. There are also more than 4 million people living in the region, around 8% of whom are Indigenous People depending on the forest to obtain food, water, lumber, and medicine.

Similar to that of the Amazon, clearings and logging with the Gran Chaco forest are driven by industries seeking to secure land for agricultural and livestock production, mostly for export to China and Europe. However, deforestation worsens climate change and generates extreme events, such as droughts and severe storms.

In the Argentine Chaco, there are around 200,000 native dwellers from nine Indigenous Peoples groups (most of them Wichi and Qom). Yet, according to Greenpeace Argentina monitoring, deforestation in the Salta, Chaco, Formosa, and Santiago del Estero provinces (Gran Chaco region of Argentina) was 44,815 hectares between January – June 2021 and more than 6 million hectares in the past 30 years.

Cut down trees and branches next to a bulldozer in Chaco province of Argentina © Alejandro Espeche / Greenpeace
Cut down trees and branches next to a bulldozer in Chaco province of Argentina ©Alejandro Espeche / Greenpeace

And when we talk about deforestation, we are not only talking about loss of biodiversity, but also about the destruction of the home and livelihood of Indigenous People. Indigenous communities have also denounced the clearing and the advances on their territories. 

According to data from the Argentina Ministry of the Environment, Chaco was the province with the greatest loss of native forests between 2016 and 2019, with 130,487 hectares deforested. For its part, Greenpeace satellite monitoring detected that, despite the restrictions imposed by the COVID-19 pandemic, 13,128 hectares of forests were lost in the province during 2020

Bulldozer clearing path and removing branches in Chaco province of Argentina ©Alejandro Espeche / Greenpeace
Bulldozer clearing path and removing branches in Chaco province of Argentina ©Alejandro Espeche / Greenpeace

How we must act

The floods and droughts that hit the Chaco every year increase as deforestation progresses, leaving no doubt that the current health, climate and biodiversity crisis in which we find ourselves will only increase with increased deforestation and should force us to act accordingly. 

Any suspensions of clearing cannot be carried out with success while deforestation is still being promoted by those putting profits over people. Upholding of the current suspension requires a collaborative process with Indigenous expertise and the objectives of ending forest clearing, sustainable management, and restoration of native forests.

Any forest destruction cannot be tolerated as clearings are a crime and must be fully banned now, before anymore damage can be done

Progression of deforestation in Chaco province of Argentina ©Alejandro Espeche / Greenpeace
Progression of deforestation in Chaco province of Argentina ©Alejandro Espeche / Greenpeace

about the author

Gaby Flores is a content editor for Greenpeace International based in New York.

Receitas de saúde com plantas medicinais

Bernardo Camara 

Além de produzir comida de verdade, a agroecologia promove práticas de cuidado e saúde que vêm do saber popular e tradicional. Dividimos com vocês algumas receitas enviadas por mulheres, mães e agricultoras familiares desse imenso Brasil.
Saiba como fazer receitas de saúde | Créditos: Raiane Hellen
  • 1 – Como fazer o xarope de cebola?

É bom pra quê?

Trata problemas respiratórios em geral, mas é especialmente indicado para aliviar sintomas de sinusite e como descongestionante pulmonar. Também é antifúngico e bactericida

Ingredientes

1 cebola grande

1 xíc. de açúcar mascavo (ou rapadura ralada)

3g de cravo-da-índia

Ingredientes do xarope de cebola | Créditos: Raiane Hellen

Materiais e utensílios

Colher

Peneira fina ou coador de inox

Panela esmaltada, de inox ou vidro

Faca e tábua para corte

Vidro âmbar de 100ml

Modo de preparo

1- Corte as cebolas em rodelas finas

2- Misture o cravo-da-índia e o açúcar mascavo

3- Na panela, ponha uma camada dessa mistura e depois de cebola. Repita até que a última camada seja novamente da mistura.

4- Leve ao fogo brando a panela tampada. Ao levantar fervura, mantenha no fogo por mais cinco minutos e desligue

5- Após esfriar, coe e embale num vidro de âmbar. Conserve na geladeira por até 1 mês.

Modo de usar

Adulto: 1 colher de sopa, 4 vezes ao dia

Crianças (acima de 1 ano): 1 colher de chá, 4 vezes ao dia

Sunday, July 11, 2021

Global heatwaves are fossil fuel-driven climate chaos

Chris Greenberg 

 Unprecedented danger will be the new normal if we don’t take urgent action to stop fossil fuel-driven climate change.

From Canada and the United States to Russia and even the Arctic, record-breaking heatwaves are putting lives, livelihoods, and communities at risk. The soaring temperatures not only pose individual health dangers, but they also put entire ecosystems and communities at increased risk of wildfires and failures of power grids.

Hundreds of deaths in British Columbia in Canada and Washington and Oregon in the United States have already been linked to the heatwave that began late in June, according to The New York Times.

Those vulnerable communities facing the most intense impacts of the climate crisis urgently need empathy and aid. At the same time, the entire global community needs to demand that fossil fuel companies and corporate polluters stop accelerating climate change with reckless, profit-hungry drilling and burning of coal, oil, and gas.

What is happening?

In Canada, the record for the highest temperature ever seen in the country has been broken and then broken again. One of those record-breaking temperatures occurred in Lytton in the province of British Columbia. On Tuesday, the village experienced a historic temperature of 49.5°C / 121°F. A day later, it was evacuated due to a wildfire.

Parts of the United States are under the same heat dome as Canada. The temperature at Portland International Airport in Oregon reached 46.1°C / 115°F on 28 June. For context, the average high temperature at that airport during this time of year is approximately 22.8°C / 73 °F, according to forecasters.

In California, wildfires are again posing a threat to communities that are facing a drought that began before the heatwave. 

The month of June also brought the hottest day on record in Moscow (34.8°C / 94.6°F) and Helsinki (31.7°C/ 89.1°F), according to NASA’s Earth observatory blog

This is a climate emergency!

Why is this happening? 

It’s clear that fossil-fuel driven climate change is contributing to an increase in the frequency and intensity of heatwaves as well as driving the conditions for bigger and faster growing wildfires

Fossil fuel companies have put profits over people and the planet and will continue to do so while masquerading as friends of the environment — unless we stop them. Meanwhile, those least responsible for the climate crisis — especially communities of color and Indigenous Peoples around the world — have disproportionately experienced the most severe climate impacts and health harms. 

If governments don’t take urgent action for a just transition to renewable energy then the climate emergency is only going to get worse, with parts of the world becoming uninhabitable. 

What can you do?

We need to treat this as the emergency that it is and push for urgent action. 

We can take lessons from the global action and local empathy in response to the COVID-19 pandemic. We need empathy for communities in danger paired with pressure around the world on governments to leave fossil fuels to build back green. 

There is still time to limit the disruption and stay on course to meet the 1.5°C goal outlined in the Paris Agreement to avoid the worst-case climate scenarios. 

Action at Power Plant Niederaussem in Germany - Aerial View © Greenpeace
Greenpeace activists put a 50-meter-long symbol of a thermometer with the temperature gauge 1,5 degrees during a 2019 protest at a power plant in Germany. © Greenpeace

Greenpeace USA is calling for an end to federal subsidies for fossil fuel companies who have accelerated the climate emergency. In California, Greenpeace USA is calling on Governor Newsom to commit to clear and urgent action to phase out climate-warming fossil fuels as well as to halt all new oil and gas permits within 2,500 feet (762 meters) of homes, schools, and other sensitive sites.

Greenpeace Canada is calling for the government to Build Back Fossil Free as well as for the preservation of climate-cooling old-growth forests.

Wherever you are, you can look for ways to support impacted communities and call on your government to accelerate a just transition away from fossil fuels. 

about the author

Chris Greenberg is a content editor for Greenpeace International based in New York.

DETER de junho confirma tendência de alta nos alertas de desmatamento

Rosana Villar  

Em sua primeira semana de trabalho como novo ministro do meio ambiente, Leite já teve que encarar 326 km² de área desmatada. No acumulado de 2021, a área com alertas já é 17,1% superior a do mesmo período de 2020

Imagem aérea de desmatamento registrada pelo Greenpeace durante sobrevoo no estado de Roraima em abril de 2021. (Foto: Christian Braga/Greenpeace)

Dados do sistema DETER, do Instituto de Pesquisas Espaciais (Inpe), divulgados hoje, indicam que o desmatamento segue com tendência de alta na Amazônia, números que não param de crescer desde 2019. Os dados do mês de junho mostram uma área destruída de 1.062 Km2, aumento de 1,8% na área com alertas de desmatamento em relação aos registrados em junho de 2020. Somente na última semana do mês passado foram 326 Km2. No acumulado do ano, essa área já chega a 3.610 Km2, número 17,1% maior que o mesmo período de 2020.   

Os números chegam em um momento crítico para o meio ambiente brasileiro, com uma temporada intensa de seca, um novo ministro do Meio Ambiente, Joaquim Alvaro Leite, que ao que tudo indica, seguirá à risca a agenda de destruição de Salles, e a insistência do governo federal em manter uma operação cara e comprovadamente ineficaz para lidar com o problema, enviando tropas militares, através da GLO, para combater o desmatamento. 

“É mais um triste recorde para a floresta e seus povos. Esse número só confirma que o Governo Federal não tem capacidade, nem interesse de combater toda essa destruição ambiental”, declara Rômulo Batista, porta-voz da campanha Amazônia do Greenpeace.

Esse tipo de operação vem, há dois anos, mobilizando recursos públicos, muitas vezes superiores ao orçamento anual do IBAMA para fiscalização, e um grande número de militares sem efetividade na prevenção do desmatamento e queimadas. Além de não evitar o desmatamento, o próprio governo divulgou os 26 municípios onde atuarão as Forças Armadas, o que compromete o “elemento surpresa” necessário para encontrar e punir criminosos.

Ainda de acordo com o DETER, no período de janeiro a junho, na comparação com o mesmo período do ano passado, a área com alertas de desmatamento por corte raso, quando toda a cobertura florestal é retirada, teve aumento de 19%. Houve aumento também em outras classes de desmatamento, com destaque desastroso para o aumento de 335% nas áreas com cicatriz de queimadas e de 135% nos alertas de degradação, que é quando há uma retirada parcial da floresta, que deixa as áreas mais vulneráveis aos incêndios. No mesmo período, os alertas de desmatamento em Terras Indígenas atingiram 7.369km² , um aumento de 7% na comparação com o ano passado.   

Novo ministro, mesmos problemas

Depois de dois anos e meio ocupando o posto de “ministro contra o meio ambiente”, Ricardo Salles finalmente deixou o cargo, no final de junho, deixando um legado de destruição e os órgãos de fiscalização, como Ibama e ICMBio, em frangalhos. 

A nomeação de seu sucessor, Joaquim Álvaro Pereira Leite, entretanto, não nos permite muito otimismo de que essas políticas desastrosas venham a ser revertidas. Leite foi conselheiro de uma entidade ruralista (SRB – Sociedade Rural Brasileira) por 23 anos e sua família, composta por fazendeiros de café, tenta abocanhar um pedaço da Terra Indígena Jaraguá, em São Paulo. 

O principal motivo da descrença, no entanto, é claro: Joaquim Álvaro Pereira Leite se torna ministro de um presidente da República que já provou, em diversas ocasiões, não estar preocupado com a conservação da floresta e seus povos — e também não gosta de ser contrariado por seus ministros. 

Para Rômulo Batista, com a recorrência de indicadores ambientais desastrosos – só nos dois primeiros dias de julho, o Deter já registrou 216 Km² de alertas – “empresas, governos e a opinião pública devem pressionar para que a destruição ambiental cesse e não devem se enganar com um novo rosto na cadeira do ministro, tendo em vista que a política antiambiental estabelecida no Brasil nos últimos 30 meses tem na figura do presidente o seu líder maior e o apoio cego do presidente da Câmara Arthur Lira.”   

Sabemos que, se depender do Congresso e do governo Federal, temos motivos para nos preocupar. Projetos de Lei, como o 2633/2020, que anistia grileiros, e o 490/2017, que abre terras indígenas para atividades predatórias, acrescentam mais uma camada de pressão sobre nossas florestas, que já são muitas. 

“Ao invés dos parlamentares estarem focados em conter os impactos da pandemia e combater o crime que avança na floresta, e que não só queima nossas riquezas naturais, mas também a imagem e a economia do país, eles tentam aprovar projetos que irão acelerar ainda mais o desmatamento, os conflitos no campo e a invasão de terras públicas. Nosso país não precisa da aprovação destes projetos. O que precisamos é de vontade política para avançar no combate ao desmatamento, queimadas e grilagem de terras”, finaliza Rômulo. 

Ciência que ecoa: pesquisadores do Projeto Mantis contam como foi a experiência imersiva na Amazônia

Leo Lanna  

Dois meses na Amazônia e muito conhecimento depois, Leo Lanna, bolsista do Programa Tatiana de Carvalho, e Lvcas Fiat iniciam agora uma nova etapa do processo científico

Em 1838, com a minha idade, Hermann Burmeister publicava na Alemanha mais um de seus trabalhos descrevendo a biodiversidade de nosso planeta. O naturalista foi responsável por descrever e nomear incontáveis espécies de insetos e outros animais a partir de exemplares depositados em museus e coleções particulares. Também realizou expedições, incluindo ao Brasil, em uma época que se valorizava muito esse tipo de viagem. Hoje, mais de 180 anos depois, abro um arquivo digitalizado de seu trabalho, que lembra um pergaminho antigo escrito com letras medievais em alemão. Busco sua descrição para uma espécie de louva-a-deus encontrada em nossa expedição Austral: Mantis da Amazônia. É um clássico louva-a-deus verde do gênero Stagmatoptera, característico pela mancha nas asas dos adultos. Burmeister foi o primeiro a reconhecer a espécie como única, a partir de ilustrações de um outro cientista chamado Stoll. Isso descobri lendo um trabalho mais recente, de 2016, do especialista e amigo Henrique Rodrigues, onde ele revisou todas as espécies desse gênero de louva-a-deus, trazendo agora descrições detalhadíssimas, fotografias de alta resolução e o histórico de cada uma. A espécie que encontramos é conhecida, tem nome científico Stagmatoptera supplicaria e pode ser encontrada em toda a bacia amazônica. O conhecimento sobre ela, como se pode notar, foi construído através de gerações de cientistas. Em breve os resultados de nossa expedição adicionarão mais camadas a esse conhecimento.

Após dois meses na Amazônia, uma longa jornada nos trouxe de volta à Mata Atlântica, no interior do Rio de Janeiro. Conosco vieram mais de 150 louva-a-deus e, entre eles, sete filhotes da espécie que citei acima. Pela primeira vez o ciclo de vida da espécie será conhecido e poderemos dizer quanto tempo vivem. Além disso, a ooteca (casinha de ovos) de onde nasceram os louva-a-deus estava sendo protegida pela mãe quando a encontramos, comportamento inédito para essa espécie, relembrando que pouco conhecemos desses animais em seu ambiente natural. Em dois meses de expedição, encontramos apenas essa única fêmea protetora na floresta, fora os machos que vieram voando em nossa armadilha de luz e os mais de cem filhotes que nasceram da ooteca, quase todos devolvidos à mata. Isso sugere que a espécie vive nas partes mais altas das árvores, longe de nossos olhos. 

Esse é apenas um exemplo do sucesso da expedição, e quão rica e imersiva ela foi. Para cada espécie de louva-a-deus encontrada reunimos uma enorme quantidade de informações. Até o momento, já são mais de 30 espécies diferentes, incluindo ao menos três espécies novas para a ciência. Muitos desses mantis só eram conhecidos para o Norte da Amazônia, e foi importante mostrar que a região Sul, tão afetada pelo desmatamento, também abriga uma riqueza enorme de espécies. Desvendamos diversos mistérios e, como sempre, surgiram ainda mais perguntas. Por que algumas espécies foram raríssimas e outras super comuns? Como as espécies se adaptarão às mudanças climáticas, com secas mais severas na região? De que forma os louva-a-deus típicos de Cerrado que encontramos na Amazônia colonizaram a região?

Seguimos criando todos até a morte natural, aprendendo cada vez mais. Conforme crescem e se desenvolvem, lembramos do momento em que os achamos, das noites de calor iluminadas pela Lua, dos sons misteriosos que nos rodeavam, dos detalhes das plantas e animais que habitam aquele universo. Lá na RPPN Cristalino era um desafio buscar o equilíbrio entre o trabalho de pesquisa científica, metódico e organizado, e a vibração constante e efêmera que havia em nosso entorno. Acredito que conseguimos. Foi a expedição mais bem-sucedida do Projeto Mantis, e um orgulho de poder trabalhar nossa ciência contemporânea em seu auge, construindo e transmitindo conhecimentos e sentimentos na busca pelo bem-estar de nossa natureza. 

Eumusonia – esta espécie de louva-a-deus habita áreas abertas e não era conhecida (nem esperada) para a Amazônia. Encontrá-la lá foi uma surpresa e levanta várias questões sobre seu habitat e a relação entre Amazônia e Cerrado, onde a espécie é comum.

Melhor ainda foi poder compartilhar a expedição com muitas pessoas, seja aqui pelo blog do Greenpeace, nas redes sociais do Projeto Mantis ou em lives e publicações que fizemos diretamente da Amazônia. Localmente, demos uma das palestras mais emocionantes de nossa vida aos funcionários da reserva, verdadeiros guardiões daquela floresta. Toda a expedição foi ricamente documentada por vídeos e fotografias. As milhares de espécies registradas serão compartilhadas por meio do iNaturalist, incrível ferramenta de ciência cidadã que todos podem contribuir. E claro, vamos continuar compartilhando histórias e memórias dessa Amazônia que vivemos, tanto em nossas redes quanto aqui. Nos conforta saber que, diante do cenário calamitoso que o meio ambiente brasileiro enfrenta, o local que visitamos continuará protegido. Saímos com a certeza de que aquela floresta guarda os mais preciosos segredos, e logo voltaremos. Saímos renovados e gratos pelos aprendizados que a Amazônia viva nos proporciona. Vamos garantir que a expedição ecoe através dos tempos, seja nas publicações científicas, seja nas histórias ao longo de gerações, contribuindo com a construção do conhecimento. A diversidade, humana e selvagem, é nosso maior tesouro e força. Juntos, resistiremos.  

Estudo mostra que os indígenas do Maranhão não conseguem acessar a Justiça

Greenpeace Brasil  

Entre 2003 e 2019, foram registrados 57 assassinatos de indígenas no estado; não foi encontrada nenhuma sentença condenatória relativa a esses casos

Titular da Coordenação das Organizações Indígenas da Amazônia Brasileira (Coiab), Nara Baré segura cartaz com a foto de Paulino Guajajara, um Guardião da Floresta assassinado em novembro de 2019. Foto: Divulgação/Coiab

Um estudo publicado esta semana pela Coordenação das Organizações Indígenas da Amazônia Brasileira (COIAB), feito em cooperação com Instituto Humanista para Cooperação e Desenvolvimento (Hivos), mostrou que os povos indígenas do Maranhão têm enormes dificuldades para ter seus direitos e garantias constitucionais reconhecidos pelo Poder Judiciário.

O relatório mostra que existem grandes obstáculos na efetivação dos direitos territoriais indígenas; que os indígenas maranhenses não conseguem acessar seus direitos durante os processos penais; e que existem falhas sistemáticas na prevenção e repressão de homicídios contra indígenas. A pesquisa foi feita com apoio do Greenpeace Brasil, da Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (Apib) e da Coordenação das Organizações e Articulações dos Povos Indígenas do Maranhão (Coapima).

Leia aqui o relatório ou acesse seu sumário-executivo.

Diante da omissão do Estado brasileiro em cumprir o seu dever constitucional de demarcar e proteger os territórios indígenas, diversos povos têm assumido esse papel. O Greenpeace Brasil, através do projeto Todos os Olhos na Amazônia, apoia este movimento de autodeterminação. Em parceria com a Coiab e a Coapima, por exemplo, já realizamos uma série de oficinas para fortalecer o monitoramento territorial que os Guardiões da Floresta de oito terras indígenas realizam naquela região.

Conflitos

O Estado do Maranhão possui uma dinâmica territorial marcada por conflitos e ameaças a seus povos originários. De acordo com o estudo Towards zero deforestation and forest restoration in the Amazon region of Maranhão state, Brazil, cerca de 75% da Amazônia maranhense já foi desmatada. O Maranhão possui hoje 22 Terras Indígenas demarcadas ou em processo de demarcação – boa parte dela palco de conflitos e disputas.

Os responsáveis pelo estudo fizeram uma pesquisa de jurisprudência que analisou decisões do Supremo Tribunal Federal (STF), do Superior Tribunal de Justiça (STJ) e da segunda instância do Tribunal Regional Federal da 1ª Região (TRF-1). Além disso, os pesquisadores também investigaram a atuação do Estado nos casos de assassinatos de lideranças (relembre, ao fim do texto, alguns desses casos). Foram analisados inquéritos policiais e processos judiciais.

Entre 2003 e 2019, foram registrados 57 assassinatos de indígenas naquele estado – e pelo menos um terço desses registros (32,3%) estava ligado a conflitos de terra. O povo Guajajara tem sido o mais visado: a cada 10 homicídios indígenas registrados no Maranhão, nada menos que sete são registrados entre representantes deste povo. Os conflitos ocorridos na Terra Indígena Arariboia, que ameaçam a saúde e integridade física dos Awá e dos Guajajara, são motivo de preocupação internacional.

Crimes impunes

De acordo com o estudo, o poder judiciário tem contribuído para dificultar a demarcação de territórios indígenas e ressalta que os municípios estão entre os atores que mais ativam o poder judiciário para impedir a efetivação dos direitos territoriais indígenas. 

O documento aponta ainda que crimes ambientais ocorridos dentro de territórios indígenas seguem impunes e os direitos indígenas à autodeterminação e autorrepresentação são sistematicamente desrespeitados. Outros problemas apontados no documento incluem a descaracterização étnica e ocultação do contexto de disputa por trás dos assassinatos.

Falhas

“O relatório revela a impunidade e a situação da violência contra os indígenas no estado do Maranhão. Mostra o quanto os processos latifundiários das terras indígenas estão paralisados e o quanto nossas lideranças têm sido criminalizadas. Ele revela também a forma como o Estado, responsável pela proteção das terras indígenas, tem falhado em todas as esferas”, disse a titular da Coapima, Edilena Krikati.

“O fato de o Estado brasileiro ser omisso em garantir a aplicação dos direitos indígenas garantidos na Constituição não é novo, mas neste atual cenário a situação se agravou”, disse a porta-voz da Campanha Amazônia do Greenpeace Brasil, Carol Marçal.

“Este é o primeiro Governo que declara publicamente que não irá cumprir o seu dever constitucional junto aos povos originários. Além disso, promove o ataque aos direitos dos indígenas e estimula a invasão de seus territórios.  Este relatório é um lembrete de que precisamos nos manter atentos e continuar mobilizados cobrando do poder público e das autoridades”, declarou a porta-voz. 

Ação em rede

Desde 2018, o Greenpeace, juntamente  com outros parceiros, vem realizando um projeto focado na proteção territorial de áreas específicas no Norte do Brasil. O “Todos os Olhos na Amazônia” tem como objetivo estimular a ação em rede como estratégia para apoiar a luta de povos indígenas e comunidades tradicionais pela conservação das florestas e de seus territórios tradicionais. Exija a proteção imediata da vida dos povos indígenas e de seus territórios – assim como a retirada do pacote de destruição ambiental atualmente em pauta no Congresso Nacional.

Relembre alguns casos:

Eusébio Ka’Apor – defensor da Terra Indígena Alto Turiaçu, foi assassinado com dois tiros nas costas em abril de 2015. A abertura de inquérito por parte da Polícia Federal ocorreu cinco meses depois do crime. As investigações não foram concluídas até hoje e ninguém foi punido pela morte do líder indígena. 

Paulino Guajajara – Membro dos Guardiões da Floresta – um grupo de indígenas voluntários que patrulham áreas protegidas no Maranhão – Paulino foi baleado na cabeça por invasores em 1º de novembro de 2019. Sua morte ocorreu dentro da Terra Indígena Araribóia. Dois suspeitos chegaram a ser identificados, mas ninguém foi punido. Paulino foi nosso aluno no processo formativo no uso de tecnologias para o monitoramento territorial. Assim como todos os Guardiões da Floresta, lutava incansavelmente para proteger seu povo, seu território, seu modo de vida e cultura.

Zezico Guajajara – Diretor de escola e professor, Zezico foi encontrado morto perto de sua aldeia em 23 de março de 2020. Os suspeitos foram presos e ouvidos em audiências que se encerraram em dezembro. Ninguém foi punido. Se contarmos a partir do ano 2000, Zezico é o 19º indígena Guajajara morto por denunciar invasões a terras indígenas no Maranhão. 

O educador foi morto em março de 2020, alvejado por um tiro de espingarda. É o décimo-nono Guajajara morto desde o ano 2000.Foto: Divulgação/Coiab

O que as mudanças climáticas têm a ver com a crise hídrica e o aumento na conta de luz?

Camila Doretto 

 Em entrevista ao Greenpeace, o climatologista José Marengo faz uma análise da relação entre aquecimento global e a falta de chuvas que impactou o nível dos reservatórios de grande parte das hidrelétricas do país, um dos motivos da alta nas tarifas de energia

Detalhe de um terreno ressecado que costumava ser o fundo do reservatório de Serra Azul. Em 2015, o Greenpeace realizou uma expedição aos principais mananciais superficiais da região sudeste do Brasil, onde milhões de pessoas foram ameaçadas pela falta de água desde 2014, para destacar a ligação entre o desmatamento e a crise hídrica. © Gabriel Lindoso / Greenpeace
Detalhe de um terreno ressecado que costumava ser o fundo do reservatório de Serra Azul. Em 2015, o Greenpeace realizou uma expedição aos principais mananciais superficiais da região sudeste do Brasil, onde milhões de pessoas foram ameaçadas pela falta de água desde 2014, para destacar a ligação entre o desmatamento e a crise hídrica. © Gabriel Lindoso / Greenpeace

A escassez de chuvas entre setembro de 2020 e março de 2021 nos reservatórios de grande parte das hidrelétricas do país somada à falta de planejamento do poder público resultaram na pior crise hídrica dos últimos 91 anos, no Centro-Sul. Cinco estados estão em alerta de emergência para o período de junho a setembro: Goiás, Mato Grosso do Sul, Minas Gerais, Paraná e São Paulo.

Por conta dessa queda no nível dos reservatórios, o governo anunciou o acionamento das termelétricas para atender à demanda do consumo de energia. Além de mais poluentes, a produção de energia por usinas térmicas é mais cara e essa decisão reflete diretamente no bolso da população, que é para quem o governo repassa o prejuízo com o aumento da conta de luz

Mais emissões, maiores os riscos de novas secas. E o planejamento?

Uma vez que geram energia a partir da queima de combustíveis, como diesel, gás e carvão, as termelétricas são mais poluentes, contribuindo assim para o aumento das emissões brasileiras de gases de efeito estufa que intensificam o aquecimento global e, consequentemente, o risco de um futuro com mais secas e ainda mais intensas.  

Há tempos a ciência vem alertando que as mudanças climáticas estão provocando o aumento da intensidade e frequência de eventos extremos, caso de secas e cheias. Como bem lembrou o climatologista e meteorologista José Marengo em entrevista ao Greenpeace Brasil (que você pode conferir nos vídeos que estão nesta página), “a atmosfera não reconhece fronteiras”. Enquanto o mundo todo sofre os impactos do agravamento da crise climática, o Brasil também paga seu preço, e em vez de tentar reverter este cenário com o reconhecimento de que vivemos uma crise e um plano de enfrentamento, o governo coleciona ações que seguem aumentando as emissões

Como se não bastasse as dificuldades impostas pela pandemia, pelos eventos decorrentes da crise climática, insegurança alimentar e desemprego, agora o cidadão brasileiro vai ter de arcar com o aumento da tarifa de energia que, como toda situação de crise, tem peso e consequências muito mais graves sobre aqueles que vivem em situação de vulnerabilidade.

A situação atual poderia ter sido evitada? Será que em vez de construir e acionar termelétricas, que agravam a crise climática, o Brasil já não poderia ter acelerado em direção à transição para o investimento em fontes de  geração de energia limpa, renovável e sustentável? 

Para responder a algumas dessas perguntas, a gente te convida a ouvir essa entrevista com José Marengo, climatologista, meteorologista e coordenador-geral de pesquisa e desenvolvimento do Cemaden (Centro Nacional de Monitoramento e Alerta de Desastres Naturais), órgão ligado ao Ministério da Ciência. 

A entrevista com Marengo foi realizada virtualmente no dia 25 de junho de 2021. 

Parte 1: Eventos extremos, como a seca no Centro-Sul, poderão ser mais frequentes e intensos com as mudanças climáticas?

Nesta primeira parte da conversa, Marengo chama atenção para o fato do clima mundial estar mudando como resultado da intensificação do aquecimento global e que as consequências já estão sendo observadas. “O aquecimento global é um processo natural, só que as atividades humanas estão acrescentando e intensificando, assim como seus impactos. Nós estamos sentindo coisas que não deveriam estar acontecendo, deveriam acontecer nas próximas décadas ou 100 anos”, alerta. 

Parte 2: O que pode ser feito para mitigar os impactos das mudanças climáticas?

Em novembro deste ano, representantes de países representantes dos países-membros da Organização das Nações Unidas (ONU)  vão se reunir na Conferência da ONU sobre Mudanças Climáticas (COP26) para tratar de um inimigo comum e que não reconhece fronteiras, a crise climática. O Brasil tem um papel fundamental neste enfrentamento, que passa pelo fim do desmatamento da Amazônia.  

O cumprimento das metas assumidas pelos países no Acordo de Paris e o combate ao desmatamento são algumas das ações destacadas por Marengo para mitigar os impactos das mudanças climáticas. Ele também aborda a questão social, uma vez que as pessoas em situação de vulnerabilidade têm sua realidade agravada pelas consequências da crise do clima. 

Parte 3: Ao acionar termelétricas para evitar apagão, Brasil entra no “cheque especial”

O Brasil tem um enorme potencial para investimento em geração de energia limpa, renovável e sustentável, como eólica e solar. No entanto, em um momento como este, por falta de planejamento, infraestrutura e vontade política, precisamos recorrer às térmicas para evitar um apagão, que são mais caras e poluentes. 

Nesta terceira parte da entrevista, Marengo aborda as consequências de ainda termos de depender de fontes de energia suja para situações de emergência como a que estamos vivendo agora. 

Parte 4: Quais outros eventos extremos são provocados pelas mudanças climáticas no Brasil?

Chegando ao fim desse papo sincero com a ciência que esperamos ter te ajudado a pensar em algumas das perguntas lançadas lá no começo do texto, Marengo comenta sobre alguns outros eventos extremos que já são reflexo das mudanças climáticas.

Quais as consequências do desmatamento na Amazônia para nossa saúde? Drauzio Varella explica em série de vídeos

Greenpeace Brasil  

A série “Preservação é saúde”, desenvolvida pelo Dr. Dráuzio junto a um grupo de organizações, terá quatro capítulos, abordando a relação entre desmatamento, queimadas, doenças e Covid-19.

Por que é tão importante preservar a nossa biodiversidade?

Você sabia que o aumento crescente no desmatamento também traz graves consequências para a nossa saúde, como problemas respiratórios, novas doenças e pode até causar novas pandemias? Esses impactos não são tão visíveis como a perda da biodiversidade, mas são igualmente preocupantes para o nosso bem-estar.

O próprio surgimento da pandemia da Covid-19 criou inúmeras especulações sobre a origem do vírus. Especialistas e cientistas já entendem hoje que o novo coronavírus surgiu através da transmissão por meio de animais e provavelmente esses mesmos hospedeiros foram consumidos por humanos. 

E onde o desmatamento entra nessa história? É em como a destruição da floresta causa  o desequilíbrio desse ecossistema que retém vírus e animais que são próprios para aquele habitat — com as espécies fora do lugar, a chance de surgirem novas doenças e pandemias cresce muito. 

O doutor Dráuzio Varella explica

Essa relação é uma das coisas que o doutor Drauzio Varella, médico oncologista, cientista e escritor brasileiro, explica com maestria na série de vídeos  “Preservação é saúde”, desenvolvida em parceria com um grupo de organizações. Nos vídeos, o doutor também conta porque precisamos conservar (com todo cuidado) nossas florestas, biodiversidade e respeitar os povos originários.

Confira o primeiro vídeo da série e acompanhe o perfil oficial do YouTube do doutor Drauzio — os episódios serão lançados todas as segundas-feiras do mês.

Incêndio em duto submarino no México mostra riscos de modelo baseado em fontes fósseis

  Greenpeace Brasil

 Vazamento acidental no Golfo do México evidencia que é urgente acelerar uma transição energética justa

A biodiversidade e as comunidades que dependem da saúde do mar para seu sustento são as mais afetadas em acidentes como esse, a exemplo das manchas de óleo que atingiram a costa do Nordeste brasileiro em 2019 (Reprodução/Internet)

Um incêndio foi registrado nas águas marítimas do estado de Campeche, no Golfo do México, após vazamento de gás de um duto submarino da estatal Petróleos Mexicanos (Pemex) na última sexta-feira (2).

O acidente ocorreu próximo à plataforma Ku-Charly e mostra, mais uma vez, que precisamos abandonar as fontes fósseis e acelerar a transição energética justa. Essas fontes são as principais causas das mudanças climáticas e sua exploração traz riscos constantes, a exemplo do que vemos acontecer novamente.

É importante lembrar que acidentes como esse – ou similares e até piores – frequentemente afetam de maneira desproporcional as pessoas em situação de maior vulnerabilidade.

Em 2019, o Brasil viu manchas de óleo atingirem toda a costa do Nordeste e dois estados do Sudeste, no maior derramamento da história do Brasil em extensão (mais de mil localidades espalhadas por 3.000km). Até hoje as populações, especialmente as mais vulneráveis, sofrem os impactos.

O próprio Golfo do México tem seu histórico de derramamentos de petróleo e impactos desiguais nas pessoas. O mais “famoso” é o desastre da plataforma Deepwater Horizon, em 2010, que inclusive rendeu um filme que mostra a irresponsabilidade da indústria petroleira na operação de poços de petróleo.

Novamente, a biodiversidade e as comunidades que dependem da saúde do mar e da costa para seu sustento são as mais afetadas.

“No acidente atual, a imagem de barcos – que parecem minúsculos – tentando apagar um incêndio no mar choca. Nos faz lembrar das falsas soluções apresentadas para a crise climática que vivemos”, afirma Thiago Almeida, da Campanha de Clima e Justiça do Greenpeace.

“Apagar o incêndio não é solucionar o problema, abandonar os combustíveis fósseis é. Não podemos lutar contra as mudanças climáticas usando, por exemplo, compensação de carbono e offsets florestais que permitem que a floresta siga sendo desmatada. Precisamos fazer uma transição energética e ela deve ser, acima de tudo, justa”, defende Almeida.

Qual a relação entre pandemias e o desmatamento?

Rosana Villar 

 A destruição de ecossistemas naturais favorece o surgimento de microrganismos nocivos à nossa saúde. Proteger as florestas é proteger nossa vida

Garimpo ilegal dentro da Terra Indígena Yanomami, registrado em Roraima, em abril de 2021. Historicamente, surtos de malária estão conectados a padrões de desmatamento como este. (Foto: Christian Braga)

Existem vários fatores que favorecem o aparecimento e a transmissão de doenças devastadoras, como a Covid-19. Mas o principal fator, segundo relatório da EcoHealth Alliance, é a mudança no uso da terra, ou seja, o desmatamento, que aparece como determinante em 31% dos casos de novas doenças. 

A destruição do meio ambiente favorece o surgimento de novas doenças e coloca nossa saúde em risco. 

Para esclarecer essa relação, e chamar atenção para a urgência de agir pela proteção da Amazônia, o Greenpeace Brasil publicou uma história especial, desenvolvida em parceria com o time de pesquisas do Greenpeace Internacional, que reúne informações sobre o desmatamento e a biodiversidade, o histórico de pandemias ao redor do mundo e os fatores que colocam a nossa saúde em risco. 

Confira a matéria especial

Nossa sociedade, e principalmente nossos governantes, precisam entender que o que acontece na floresta impacta nossa vida e nossa saúde. Sem uma biodiversidade equilibrada, a humanidade não tem chance! Precisamos agir agora, conheça e compartilhe essa história. 

sobre o(a) autor(a)

Jornalista do Greenpeace Brasil em Manaus. Adora acampar e o cheiro da floresta depois da chuva. Ama sua filha, dormir, cozinhar e contar histórias, nessa ordem.