Friday, September 22, 2023

Vitória! Maioria no STF rejeita Marco Temporal

Andressa Santa Cruz  

Por 9 votos a 2, ministros da alta corte mantêm os direitos dos povos originários no julgamento do século

O Marco Temporal é uma tese anti-indígena que ameaça a democracia no Brasil e o futuro do planeta
© Levi Tapuia / Greenpeace

Quinta-feira, 21 de setembro, virou um dia histórico. Depois de muita luta e resistência, os povos indígenas conseguiram a garantia de um direito fundamental: o direito à terra.

Por 9 votos a 2, os ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) formaram maioria contra o Marco Temporal e em defesa dos direitos dos povos indígenas – veja no fim da matéria os votos de cada ministro.

“Dá para dizer: vitória! Ao formar maioria, o STF estabelece uma decisão histórica de rejeitar o Marco Temporal de uma vez por todas. Quem ganha somos todos nós, porque promover os direitos indígenas significa, sobretudo, a defesa de direitos de toda a sociedade”, destaca Ariene Susui, porta-voz do Greenpeace Brasil. “Direitos conquistados não devem ser questionados e sim cumpridos.” 

De norte a sul do país, o grito era um só: Marco Temporal não. Para acompanhar o julgamento em tempo real, mais de oito mil indígenas lotaram a praça de Boa Vista, em Roraima, enquanto mil lideranças de todo Brasil assistiram em Brasília, em frente ao STF. 

O Marco Temporal é uma tese patrocinada pelo agronegócio para explorar Terras Indígenas, que busca definir uma data a partir de quando os territórios podem ou não ser considerados Terra Indígena, o que é absurdo. No artigo 231, a Constituição Brasileira reconhece a esses povos os direitos originários sobre os locais que ocupam – sem menção a períodos de tempo.

Ao negar a tese anti-indígena do Marco Temporal, avançamos também no combate à crise climática e ambiental. Ariene Susui explica que “os povos originários e seus territórios exercem um papel crucial na proteção da biodiversidade brasileira, sendo de grande importância para o clima global”

Entretanto, a mobilização segue firme e forte. O tema ainda está em discussão no Senado e o resultado do julgamento também preocupa. 

Algumas lideranças acompanharam o julgamento de dentro do plenário do STF
© Kamikiá Kisedje/Apib

Votos e brechas

Apesar da boa notícia, a decisão final do STF precisa de atenção. Alguns votos apresentam pontos preocupantes, como a possibilidade de explorar a mineração em Terras Indígenas e de indenizar os não-indígenas que se apossaram desses territórios. 

“Os votos do ministro Alexandre de Moraes e do Dias Toffoli rejeitam a tese do Marco Temporal, mas abrem um precedente perigosíssimo ao citar indenização para invasores e mineração em Terras Indígenas”, alerta Ariene Susui. 

Lideranças de todo o Brasil acompanharam o julgamento num telão instalado do lado de fora do STF, em Brasília (DF)
© Kamikia Kisedje/Apib

Marco Temporal no STF e no Senado

Além da Suprema Corte, as atenções seguem no Senado. Isso porque a bancada ruralista tem forçado a aprovação do Marco Temporal através do Projeto de Lei 2.903/2023 (antigo PL 490/2007)

Desde 2019, o STF julga a ação de repercussão geral que pode dar um fim, de uma vez por todas, ao Marco Temporal. No entanto, os parlamentares do agronegócio tem promovido um tensionamento proposital com o STF e a sociedade ao insistir na tese. 

Neste momento, o PL 2903 está na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) do Senado e pode ser votado na próxima semana. 

Mais do que validar o Marco Temporal, o PL possui mais oito pontos preocupantes, incluindo a abertura das Terras Indígenas para exploração econômica e a autorização de contato com povos isolados. 

O Greenpeace, a Apib, a Funai, o Ibama, o Ministérios dos Povos Indígenas e mais de 300 entidades assinaram o manifesto Vale Tudo em Terra Indígena, Não, que repudia o avanço do PL 2903.  

Por isso, contamos com você para ficar vigilante e dizendo: Marco Temporal Não! Ajude a apoiar o movimento indígena! Participe e divulgue a petição:

VOTOS CONTRA O MARCO TEMPORAL:

Edson Fachin 
Alexandre de Moraes 
Cristiano Zanin
Luís Roberto Barroso
Rosa Weber
Carmen Lúcia
Luiz Fux
Dias Toffoli 
Gilmar Mendes

VOTOS A FAVOR DO MARCO TEMPORAL:

Nunes Marques
André Mendonça

O Marco Temporal ainda é uma ameaça no Senado, onde tramita como o Projeto de Lei 2903/2023
© Levi Tapuia / Greenpeace

Friday, September 15, 2023

Santuários oceânicos são essenciais para proteção da vida marinha

 Lu Sudré

 

Novo relatório do Greenpeace reforça importância da ratificação do Tratado Global dos Oceanos e indica áreas prioritárias para a criação dos santuários oceânicos

O Mar dos Sargaços, no Atlântico Norte, é uma das áreas prioritárias indicadas pelo Greenpeace para a criação dos santuários oceânicos. A organização esteve em expedição no local em julho de 2019. (Foto: Shane Gross/ Greenpeace)

O Greenpeace Internacional lança nesta quinta (14) um novo relatório que indica caminhos para que a meta 30×30 – proteção de 30% dos oceanos até 2030 – seja alcançada.

A publicação, intitulada “30×30: Do Tratado Global dos Oceanos à proteção dos mares”, ressalta a importância da ratificação do Tratado Global dos Oceanos para a proteção da vida marinha. 

O Tratado será aberto para assinatura dos governos no dia 20 de setembro, durante a 78ª Assembleia Geral da ONU, em Nova York. Ele se tornará um instrumento legalmente vinculativo somente quando ao menos 60 países aprovarem uma legislação nacional para ratificá-lo.

Segundo o Greenpeace, o Tratado é determinante para a criação dos santuários oceânicos, áreas de alta proteção ou proteção integral em alto-mar onde a biodiversidade marinha pode se desenvolver sem os impactos de atividades predatórias.

O relatório recém-lançado pela organização traça uma rota política para a meta 30×30 a partir da identificação de três locais prioritários para a criação dos primeiros santuários,  devido à sua importância ecológica. 

São eles: o Mar dos Sargaços no Oceano Atlântico, os Montes Submarinos do Imperador, no Oceano Pacífico, e o Mar da Tasmânia do Sul, entre a Austrália e a Nova Zelândia. 

Disposições institucionais que devem ser criadas também são elencadas pelo documento para a implementação do Tratado. O relatório sugere uma Conferência das Partes (COP), com um Órgão Técnico-Científico, assim como a criação de uma comissão preparatória.

O relatório também propõe um fluxo para que, por meio do instrumento global, os governos criem Áreas Marinhas Protegidas (AMP) em alto-mar, considerando desde a primeira apresentação de uma proposta à COP até a implementação e estabelecimento de uma nova AMP.

Novos dados e informações

De acordo com a publicação, 11 milhões de km² dos oceanos devem ser protegidos, por ano, para que o objetivo acordado na ONU seja cumprido. Vale ressaltar que o Tratado Global dos Oceanos é um dos acordos internacionais de conservação mais importantes da história e o primeiro centrado na conservação da vida marinha em alto-mar. Atualmente, somente 1% está protegido.

O relatório também detalha as consequências das atividades humanas para os mares, que continuam a aumentar. 

A pesca industrial em alto-mar, por exemplo, aumentou 8,5% entre 2018 e 2022. Já nas três áreas identificadas como prioritárias para a criação dos santuários oceânicos, o aumento foi de 22,5%. As informações de referência do relatório são da Global Fishing Watch.

Além dos números, os métodos são extremamente destrutivos. A pesca com espinhel, onde linhas com milhares de anzóis iscados podem chegar a 100 km de comprimento, fisgando tudo que encontram pelo caminho, representa  ¾ do total da atividade em nível mundial.

O Brasil participou da campanha global que reuniu mais de 5 milhões de assinaturas para que a ONU criasse o Tratado Global dos Oceanos. Agora, é preciso que os países ratifiquem e se comprometam com as ações (Foto: © Laurel Chor / Greenpeace)

Informações sobre como o bioma marinho está sendo impactado pelo aquecimento do planeta, pela acidificação dos oceanos e poluição plástica também estão presentes na publicação, com destaque para a ameaça emergente da mineração em águas profundas.

Chris Thorne, porta-voz da campanha Proteja Os Oceanos, do Greenpeace Internacional, destaca que a cada ano sem os santuários oceânicos, mais o bioma marinho é destruído. 

“A saúde dos oceanos está ameaçada e, por extensão, o futuro e a saúde de todo o planeta. Para dar uma oportunidade à vida marinha, pelo menos 30% dos oceanos devem ser protegidos numa rede de santuários oceânicos até 2030. Restam-nos apenas sete anos”, alerta Thorne.

“Os países que levam a sério a proteção dos oceanos devem assinar o Tratado dos Oceanos na próxima semana, na Assembleia Geral da ONU, e garantir que seja ratificado pela Conferência dos Oceanos da ONU em 2025”, defende.

 

Thursday, September 14, 2023

Fumaça de queimadas faz mal a saúde

 Greenpeace Brasil

 

A fumaça das queimadas na Amazônia pode viajar pela atmosfera e prejudicar a saúde até de quem vive longe da floresta. Conheça alguns fatos sobre a fumaça e o fogo na Amazônia

Queimada na Gleba Abelhas, no município de Canutama (AM), registrada em sobrevoo realizado em 2 de agosto de 2023, durante monitoramento de desmatamento e fogo do Greenpeace Brasil. © Marizilda Cruppe / Greenpeace

Na Amazônia, o fogo não ocorre naturalmente, ele é usado pelos humanos no processo de desmatamento da floresta. Mas além de prejudicar a biodiversidade e contribuir para as mudanças climáticas, esse fogo criminoso gera uma fumaça tóxica que afeta a saúde de milhares de pessoas.

Separamos cinco fatos que vão ajudar você a entender como o fogo e a fumaça das queimadas e incêndios florestais na Amazônia prejudicam nossa saúde e nosso futuro. 

  1. Fumaça tóxica

A fumaça das queimadas está repleta de partículas minúsculas (sulfatos, nitratos, amônia, cloreto de sódio, fuligem, pós minerais e água) com menos de 2,5 micrômetros de diâmetro (PM 2.5). 

Esses resíduos, chamados de material particulado (PM – particulate matter), podem se acumular nos pontos mais terminais do nosso sistema respiratório, os alvéolos, onde ocorre a hematose, que é a troca de gás carbônico por oxigênio e, a partir dali, esse material entra na corrente sanguínea, causando complicações de saúde imediatas e de longo prazo.

De acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS), a exposição à poluição causa 7 milhões de mortes prematuras todos os anos no mundo e reduz a expectativa de vida da população. Em 2021, a organização revisou as diretrizes globais para a qualidade do ar e determinou que a média diária de material particulado no ar não pode passar de 25 μg/m³. Mas no período do ano em que ocorrem as queimadas criminosas na Amazônia, de julho a outubro, essa concentração pode ser duas vezes maior que o limite de segurança e persistir por tempo prolongado

  1. Como a fumaça afeta a saúde? 

Entre os sintomas mais comuns causados pela interação com o material particulado da fumaça estão ardência na garganta e narinas, dor ao respirar, dor de cabeça e tosse persistente. Os efeitos podem ser ainda mais devastadores para pacientes que já contam com alguma comorbidade, como hipertensão, asma ou doença pulmonar obstrutiva crônica, levando até  internação.

Os mais acometidos pela poluição causada pelas queimadas na Amazônia são os idosos e as crianças. “As crianças, por terem o sistema imunológico ainda em desenvolvimento e por apresentarem um aparelho respiratório anatomicamente menor”, explica o médico pediatra Daniel Pires de Carvalho, diretor geral adjunto do Hospital Infantil Cosme e Damião, de Porto Velho (RO). 

Mas o material particulado pode continuar agindo por muitos anos no corpo humano. A exposição crônica a essas partículas pode favorecer o surgimento de tipos de câncer, como o câncer de pulmão, doenças hematológicas, hipertensão e Acidentes Vasculares Cerebrais (AVC)

  1. Veneno à domícilio

Você já ouviu falar dos rios voadores? São enormes nuvens carregadas de água que se formam sobre a Amazônia, e viajam pela atmosfera, levando água para todo o centro-oeste, sul e sudeste do País. Pois da mesma maneira que esse sistema de ventos pode carregar água acima das nossas cabeças, ele também transporta a fumaça, que pode viajar por muitos quilômetros, afetando a saúde de quem mora perto e de quem mora longe da floresta.

Uma pesquisa recente mostrou que Manaus, capital do Amazonas, por exemplo, foi um dos municípios que ficaram mais tempo expostos à má qualidade do ar nos últimos anos, com de 75% a 100% dos dias no período de agosto a outubro entre 2010 e 2019 com qualidade do ar ruim. A maior concentração de focos de calor, no entanto, ficam distantes da capital.

Mas a fumaça não fica restrita às metrópoles amazônicas. Em 2019, as queimadas na Amazônia foram tão intensas, que a fumaça do fogo fez o dia virar noite em São Paulo e em outras grandes cidades no sudeste e centro-oeste. Se até as roupas no varal ficaram cheias de fuligem, imagina o nosso pulmão? 

  1. Queimando recursos da saúde

Um estudo da  Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) sobre o impacto das queimadas para a saúde infantil em aproximadamente 100 municípios da Amazônia Legal, publicado em 2019, mostrou que o número de internações de crianças devido a problemas relacionados à exposição a fumaça dobra na região amazônica durante o período em que ocorrem as queimadas criminosas, o que acarretou num custo extra de R$ 1,5 milhão ao Sistema Único de Saúde (SUS).

De acordo com a pesquisa, viver em uma cidade próxima aos focos de incêndio aumenta em 36% o risco de se internar por problemas respiratórios. 

“Aumenta a demanda nas unidades de saúde, aumentam os custos de saúde, por conta dos procedimentos que você tem que dar para a pessoa, e essa questão econômica afeta as famílias também, é medicamento que tem que comprar, deslocamento que tem que fazer”, explica Arlete Baldez, médica epidemiologista da Agência Estadual de Vigilância e Saúde estado de Rondônia (Agevisa).

  1. É ruim para o clima, é ruim para a gente

O desmatamento e as queimadas correspondem por 49% das emissões de gases do efeito estufa do Brasil, mais do que as emissões de todos os carros, aviões e fábricas do pais juntas! O que acontece é que as árvores da floresta guardam um monte de carbono em sua biomassa (seu tronco e folhas). Mas quando essa floresta é derrubada e queimada, todo esse carbono volta para a atmosfera. 

Assim, a floresta, que é uma grande aliada na luta contra a crise climática, por sua capacidade de guardar carbono, acaba se transformando em uma gigantesca fonte de emissões. E quanto mais emissões destes gases, pior nossa situação. 

Há algum tempo as mudanças climáticas deixaram de ser uma previsão de cientistas e passaram a fazer parte do nosso cotidiano. Este ano, o planeta vem registrando temperaturas recorde e eventos climáticos extremos com intensidade e frequência nunca antes vistos, fazendo milhares de vítimas, inclusive aqui no Brasil. Para piorar, a maior parte das nações ainda não estão preparadas para lidar com isso, o que torna a tragédia ainda maior. 

E como acabar com esse problema? Bem, acabar com o desmatamento é uma missão que depende da ação de todos os atores envolvidos.

Este ano, finalmente voltamos a ver movimentações do governo federal no combate ao crime ambiental, com a retomada de políticas públicas e ações do Ibama e do ICMBio. De janeiro a agosto de 2023, o número de focos de calor na Amazônia teve uma redução de 32% e a área com alertas de desmatamento caiu 48%, comparados com os números do mesmo período do ano passado. 

Mas isso não basta, o desmatamento tem que chegar a zero! E para isso será preciso que empresas se comprometam a fechar de vez a porta para produtos vindos do desmatamento, assumindo esta responsabilidade, e que os governos dos estados amazônicos deixem para trás este modelo de desenvolvimento do século passado e comecem a levar a sério a missão de proteger a floresta e seus povos, com adoção de políticas públicas para coibir o avanço da agropecuária e do garimpo sobre a Amazônia, e investimentos em novos modelos econômicos, que valorizem a floresta em pé. 

Na Carta pelo Futuro fazemos uma série de recomendações de ações que os estados da Amazônia Legal podem colocar em pratica para endurecer o combate ao crime ambiental. Assine e ajude a pressionar por mudanças.

 

III Marcha das Mulheres Indígenas: a luta das guerreiras ancestrais

 Andressa Santa Cruz

 

Milhares de anciãs, lideranças e jovens indígenas de 150 povos originários estão em Brasília na luta por seus direitos

III March of Indigenous Women, in Brasilia, Brazil. © Edgar Kanaykõ / Greenpeace
© Edgar Kanaykõ / Greenpeace

A força das guerreiras ancestrais está dominando Brasília! Nesta semana, entre os dias 11 e 13 de setembro, acontece III Marcha das Mulheres Indígenas, que reúne seis mil participantes de 150 povos originários de todos os cantos do país e do mundo. 

Nesta terceira edição, o tema é ‘Mulheres Biomas em Defesa da Biodiversidade pelas Raízes Ancestrais’, chamando atenção para a conservação ambiental. “O nosso bioma está sendo destruído a todo tempo. E que a gente tá aqui pra dizer pro mundo que nós precisamos ser respeitadas, porque se a Amazônia for destruída, nós também vamos juntas”, alerta a liderança Watatakalu Yawalapiti. 

“Tenho orgulho de ser uma das primeiras do movimento de mulheres do território indígena do Xingu. Enfrentei muitas barreiras para que a minha filha e as minhas netas possam chegar um dia sem precisar passar por tudo que nós vivemos.

III March of Indigenous Women, in Brasilia, Brazil. © Edgar Kanaykõ / Greenpeace
© Edgar Kanaykõ / Greenpeace

Organizada pela rede ANMIGA (Articulação Nacional das Mulheres Indígenas Guerreiras da Ancestralidade), o principal intuito é potencializar as vozes das anciãs, jovens e lideranças mulheres que protegem seus territórios e suas culturas. Por isso, toda a programação foi criada para fortalecer a atuação das mulheres indígenas, debatendo os desafios e propondo diálogos de incidência política.

Para conquistar e demarcar mais espaços de poder, logo no primeiro dia 500 lideranças participaram da sessão solene ‘Reflorestando o Congresso’, impulsionada pela Bancada do Cocar, que é chefiada pela deputada federal Célia Xakriabá (PSOL-MG). Vale destacar que, pela primeira vez em sua história, o Brasil possui uma Ministra dos Povos Indígenas, Sônia Guajajara; e uma indígena presidente da Funai, Joênia Wapichana. 

III March of Indigenous Women, in Brasilia, Brazil. © Edgar Kanaykõ / Greenpeace
© Edgar Kanaykõ / Greenpeace

III Marcha das Mulheres Indígenas 

O evento é um grande chamado à humanidade para proporcionar uma nova forma de nos relacionar com a Mãe Terra e promover o bem-viver entre nós, seres que nela vivem. 

“As mulheres indígenas e seus povos têm um papel fundamental no combate à emergência climática. A gente tem feito esse trabalho há milhares de anos, e ainda dá tempo de salvar o planeta se todos nós repartimos essa responsabilidade”, explica Puyr Tembé, membra da ANMIGA que ajudou a organizar este momento.

“Depois de dois anos preparando, chegar hoje e ver a quantidade de mulheres de todos os biomas que estão presentes, inclusive mulheres internacionais, é a certeza de que a gente está no caminho certo”.

Com seus cantos, rituais e vestimentas tradicionais, guerreiras dos seis biomas brasileiros abriram mais uma edição da Marcha das Mulheres Indígenas, em Brasília, que ocorre de dois em dois anos. 

Segundo a ANMIGA, no centro da marcha está um poderoso apelo por direitos iguais para as mulheres indígenas. São inúmeros os desafios e injustiças ao longo de suas vidas, mas elas se recusam a continuar sendo silenciadas. Exigem acesso a cuidados de saúde de qualidade, educação e oportunidades econômicas, e lutam pela proteção da terra e de suas riquezas naturais, que vêm sendo explorados por muito tempo.

III March of Indigenous Women, in Brasilia, Brazil. © Edgar Kanaykõ / Greenpeace
© Edgar Kanaykõ / Greenpeace

Futuro é ancestral

Para combater as emergências que o mundo enfrenta hoje, é necessário e urgente nos conectarmos com a Mãe Terra e com os saberes de quem dela cuida há milhares de anos. É essencial para a manutenção da vida e para o bem-viver de todos.

A fome, a violência, o desemprego, as desigualdades, o racismo, a LGBTFOBIA e o machismo colocam milhões de pessoas em situação de risco, e são sintomas de um modelo predatório falido, que empurra o mundo a um ponto de não-retorno. 

A Marcha das Mulheres Indígenas joga luz nos conhecimentos, na riqueza cultural e nas tecnologias ancestrais das mulheres indígenas, que são exemplos concretos de solução e de que é possível vivermos e convivermos de outra forma.

Precisamos de um modelo de reconstrução que se baseie no cuidado com a Terra e na troca de saberes ancestrais dos povos que há anos convivem com a natureza. Para isso, é crucial a articulação política das mulheres indígenas, a escuta ativa e o apoio de toda a sociedade.

III March of Indigenous Women, in Brasilia, Brazil. © Edgar Kanaykõ / Greenpeace
© Edgar Kanaykõ / Greenpeace

Marco Temporal Não

A uma semana do julgamento do século, as esperanças e as expectativas também estão presentes na Marcha das Mulheres Indígenas. Até o momento, o placar no Supremo Tribunal Federal (STF) está a favor dos povos indígenas: 4 x 2 contra o Marco Temporal. Ainda faltam cinco votos – a votação continuará em 20 de setembro.

Se aprovado, o Marco Temporal vai impossibilitar a demarcação de territórios originários, piorando a insegurança para os povos indígenas e a crise climática. As Terras Indígenas são essenciais para o equilíbrio ecológico e para o clima global, conservando mais de 100 milhões de hectares de florestas. O Marco Temporal coloca o mundo inteiro em risco e os povos indígenas estão na linha de frente defesa do planeta.

Nunca estivemos tão perto de derrubar essa tese anti-indígena de uma vez por todas! A sociedade precisa reconhecer e respeitar o direito à vida. Faça parte desse momento: apoie a luta das mulheres indígenas e diga Marco Temporal Não. 

 

Rascunho do Tratado Global de Plásticos é divulgado e acende alerta

 Lu Sudré

 

Primeira versão do texto que será discutido na terceira rodada de negociações da ONU, em novembro, sinaliza avanços mas ainda não responde à crise da poluição plástica à altura

Poluição por plásticos é a segunda maior ameaça ambiental ao planeta, segundo a Organização das Nações Unidas (ONU) (Foto: Made Nagi/Greenpeace)

O rascunho zero do Tratado Global de Plásticos foi divulgado pelo Programa das Nações Unidas Para o Meio Ambiente (PNUMA) e pela presidência do Comitê de Negociação Intergovernamental (INC) no início desta semana. 

O texto será discutido pelos governos globais em Nairobi, Quênia, de 13 a 19 de novembro deste ano. Esta será a terceira rodada de negociações para a criação de um instrumento global contra a poluição plástica até o final de 2024. 

A primeira versão do texto, que será analisada por mais de 175 países, traz elementos importantes para a redução do uso de plásticos mas não aborda metas mais ambiciosas, que são essenciais para que um futuro sem plásticos se torne realidade.

É o que analisa Graham Forbes, líder da campanha global de plásticos do Greenpeace EUA. Segundo ele, os governos ainda precisam avançar mais para que alcancemos um  tratado ambicioso que “feche de vez a torneira tóxica do plástico”. 

“O Tratado Global de Plásticos deve reduzir a produção de plástico em pelo menos 75% para garantir que a temperatura do planeta permaneça abaixo de 1,5°C e para proteger as comunidades, a saúde humana e a biodiversidade. Pelo bem do nosso futuro coletivo, não podemos desperdiçar este momento”, argumenta Forbes.

O Greenpeace defende que o Tratado priorize uma transição energética justa para uma economia de baixo carbono, baseada na reutilização. O desincentivo à exploração de petróleo e gás, usados como matéria-prima, é crucial para que a produção desenfreada de plásticos seja interrompida.

Responsabilizar a indústria que lucra com a poluição plástica é outro ponto determinante.  É urgente que grandes marcas, varejistas e empresas de alimentos invistam em modelos de reutilização e reabastecimento.

A organização também demanda que o texto apresente ações e metas a serem cumpridas pelos países com base no respeito aos direitos humanos e foco na redução das desigualdades.

Ainda dá tempo!

A terceira rodada de negociações (INC3) acontecerá daqui a dois meses. Ou seja, ainda temos uma janela de tempo para pressionar os governos a se comprometerem com a negociação de um Tratado Global de Plásticos sólido e ambicioso. 

Estamos falando de um produto que ameaça a saúde pública e causa poluição durante todo o seu ciclo de vida, desde o momento da extração da matéria-prima até o descarte.

Se o setor dos combustíveis fósseis conseguir incidir no processo de criação do Tratado para enfraquecê-lo, as consequências serão graves. De acordo com relatório do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma), se as tendências atuais se manterem a produção de plásticos deve triplicar até 2060.

A Era dos Plásticos precisa acabar! Por isso, te convidamos a pressionar os líderes globais em defesa de um planeta mais limpo e saudável.

 

Dia da Amazônia: ainda temos muito trabalho pela frente

 Laís Modelli

 

Apesar da melhora nos dados da região em 2023, ainda há muitos problemas urgentes. Não é momento de baixar a guarda, mas de estar atento e forte.

Foram 4 anos de recordes consecutivos de queimadas e desmatamento na Amazônia, violência contra defensores, ativistas e povos indígenas e de impunidade, fruto de um desmonte sistemático de políticas públicas e de órgãos ambientais e de fiscalização. Este ano, contudo, já é possível voltar a comemorar a data de 5 de setembro, Dia da Amazônia: no acumulado dos oito meses de 2023, houve redução de 32% nos focos de calor na Amazônia em comparação ao mesmo período de 2022. É o menor número registrado neste intervalo desde 2018. 

Apesar da melhora nos dados da região em 2023, ainda há muitos problemas urgentes a serem resolvidos na Amazônia, como o garimpo em terras indígenas, contaminação de solos, rios e peixes por mercúrio, o desmatamento, a violência contra povos indígenas, invasões e grilagem de unidades de conservação e de florestas públicas, entre muitos outros. 

Além disso, mesmo que os dados de fogo e desmatamento tenham melhorado em 2023, o número de focos de calor segue em um nível elevado na Amazônia, e que pode piorar nos próximos meses por causa da influência do fenômeno El Niño, que deixará o clima ainda mais quente e seco na região. 

Por isso, para a diretora-executiva do Greenpeace Brasil, Carolina Pasquali, o momento não é o de baixar a guarda, mas o de manter a vigilância e cobrar medidas concretas.

“Temos muito trabalho pela frente. Por isso, nos colocamos ao lado daqueles que cobram compromissos concretos com a agenda socioambiental e com a reconstrução do Brasil em uma direção que supere a economia que destrói a natureza e concentra riqueza. As soluções velhas não nos servem mais, os projetos antigos não cabem. O país que se vangloria de ser celeiro, mas não alimenta os seus, não é suficiente”, afirma Carolina Pasquali.

É fundamental acelerar a construção de  alternativas socioeconômicas viáveis para a Amazônia, superando o atual modelo econômico de destruição, que concentra renda, produz desigualdade social e engole a floresta e seus povos.

“É cada vez mais urgente mudar comportamentos e apontar soluções para que o planeta seja um lar também para as gerações futuras. Para isso, seguiremos nas ruas, honrando a força do ativismo e da mobilização, e seguiremos questionando e expondo problemas”, diz Pasquali. 

Queimada em desmatamento recente na Gleba Abelhas, uma floresta pública não destinada federal localizada no município de Canutama, Amazonas. O Greenpeace sobrevoou áreas com alertas de desmatamento e fogo entre os dias 2 e 4 de agosto de 2023, especialmente na região entre os estados do Amazonas, Rondônia e Acre, para registrar e denunciar a destruição que segue avançando sobre a floresta.

Ouvir quem sabe: os povos da Amazônia

Como superar o atual modelo econômico de destruição na Amazônia? A resposta é complexa, mas, independente dela, o Greenpeace Brasil defende que qualquer futuro possível para a região passa em ouvir e incluir o conhecimento ancestral dos povos indígenas, que vivem em harmonia com a floresta, os animais e os rios há mais de 15 mil anos. 

Um estudo do Inpa de 2021 mostrou, por exemplo, que 84% das plantas arbóreas da Amazônia são utilizadas no cotidiano dos povos tradicionais há séculos para alimentação, ornamentação, venenos, panos, cestaria, remédios e muitos outros usos. Várias dessas espécies foram domesticadas por esses povos, que aprenderam como cultivá-las em quintais, roças e agroflorestas, como o cupuaçu, o açaí, a andiroba e o cacau.

Muitos dos remédios utilizados na medicina tradicional também vem da floresta e dos povos indígenas, que dominam um vasto conhecimento de como utilizar substâncias naturais, que vão medicamentos a base de plantas, de óleo de frutos, cascas de árvores, à secreção da pele de rãs e cobras. Na maioria dos casos, contudo, a indústria e universidades requerem patentes sobre esses usos sem reconhecer o conhecimento ancestral dos povos indígenas (mas isso é assunto para uma outra matéria…)  

Como disseram os mais de mil indígenas que participaram dos Diálogos Amazônicos em agosto, no Pará, “o futuro é indígena”, “nunca mais um Brasil sem nós”. (assista abaixo a fala emocionante da liderança Concita Sompré na cerimônia de abertura do evento)

Desmatamento zero

Por falar em Diálogos Amazônicos, o Greenpeace Brasil participou do evento e apresentou um posicionamento com 8 demandas para a região. Uma delas é acabar com o desmatamento na Amazônia até 2030 como forma de evitar o temido “ponto de não retorno” – estágio de devastação em que a floresta não será capaz de recuperar a sua capacidade de regular o ciclo de chuvas e o clima do Brasil e de todo o continente – e proteger povos indígenas e a biodiversidade amazônica.

Além disso, se por um lado a floresta é vida, saúde e conforto, por outro, o desmatamento e a perda da biodiversidade nos aproximam de potenciais doenças mortais: quanto mais destruímos ecossistemas naturais, mais facilitamos o aparecimento de doenças, que podem se transformar em pandemias e trazer perdas para toda a sociedade.

Porém, como diz a música, “é preciso estar atento e forte, não temos tempo de temer a morte”.

Nos ajude a cobrar a proteção da Amazônia!

Em agosto, o Greenpeace Brasil lançou uma carta pública aos governadores que integram o Consórcio Amazônia Legal, onde traz uma série de recomendações de ações para deter o desmatamento e evitar a ocorrência de fogo na Amazônia.

Nos ajude a cobrar dos governadores medidas concretas para proteger a Amazônia.

 

O Dia da Amazônia na Era do Fogo

 Rosana Villar

 

A maior floresta tropical do mundo é essencial para o equilíbrio do clima, mas está cada vez mais perto de um ponto de não-retorno. Para evitar isso, será preciso mudar o “sistema”

Queimada em desmatamento recente na Gleba Abelhas, registrada no município de Canutama, Amazonas, em agosto de 2023. Foto: Marizilda Cruppe/ Greenpeace
© Marizilda Cruppe / Greenpeace

É 2023 e o mundo observa, estarrecido, o registro das maiores temperaturas da história. O planeta está em chamas, em uma resposta da natureza à nossa falta de ação contra a crise climática. Mas, na Amazônia, o fogo que transforma florestas em cinzas tem uma causa um pouco diferente – a ganância. 

A exploração infinita de recursos naturais finitos é o problema que está na raiz de ambas as situações. A perpetuação de um modelo que gera lucro para um pequeno grupo de pessoas, enquanto arrasta toda a sociedade para uma emergência climática, ambiental e social. Parece que brincamos tanto com fogo, que estamos bem perto de nos queimar.  

Nesse Dia da Amazônia, gostaria de poder apenas exaltar a exuberância de seus rios, árvores e pessoas. Mas precisamos dar um “pause” nesse filme para observar com cuidado em que ponto chegamos, e refletir até onde estamos dispostos a ir pela preservação da floresta e de tantos outros ambientes naturais pelo mundo. 

Amazônia, a gigante verde

A Bacia Amazônica ocupa uma área de 6,7 milhões de km², espalhada por nove países da América do Sul: Brasil, Bolívia, Colômbia, Equador, Guiana, Guiana Francesa, Peru, Suriname e Venezuela. A maior parte fica no Brasil, que guarda 60% desta gigantesca floresta e a maior parte da população que vive na região, cerca de 28 milhões de pessoas, de um total de 38 milhões da Pan-Amazônia. 

A Amazônia é tão grande quanto diversa. Em seus ecossistemas, como florestas, mangues, campos e montanhas, vive 10% da biodiversidade da Terra. E além de armazenar de 150 a 200 bilhões toneladas de CO2eq (dióxido de carbono equivalente) em seu solo e árvores, a floresta ainda lança na atmosfera 20 trilhões de litros de água por dia, o que funciona como um grande ar condicionado global. 

Apesar da magnitude dos números, a floresta está perigosamente ameaçada. A ciência alerta sobre um  ponto de ruptura do equilíbrio de grande parte da Amazônia, o chamado ponto de não retorno, onde espécies e uma série de benefícios e serviços ambientais hoje fornecidos por ela serão perdidos. As primeiras estimativas sobre o assunto sugeriam que este ponto poderia ser atingido quando o desmatamento da floresta alcançasse 40%.

Mas um estudo mais recente, publicado em 2018 na revista Science Advances pelos pesquisadores Thomas E. Lovejoy e Carlos Nobre, considerou os impactos da “sinergia negativa” entre desmatamento, mudanças climáticas e uso generalizado do fogo e recalculou essa estimativa, e hoje acredita-se que se a destruição atingir de 20 a 25% da floresta, é fim de jogo para nós. 

Na verdade, esse processo já pode até ter começado. Um estudo publicado em 2021, liderado pela pesquisadora Luciana Gatti, do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), indica que isso já está acontecendo em florestas no sudeste amazônico, entre Pará e Mato Grosso, que deixaram de retirar CO2eq da nossa atmosfera, e passaram a ser grandes emissores de um dos principais gases do efeito estufa.

Capitalismo selvagem

Até hoje, a Amazônia já perdeu 17% de sua vegetação nativa, sendo que no Brasil essa porcentagem chega a 21%, segundo dados da organização Mapbiomas.  Outro levantamento recente, feito pelo Laboratório de Aplicações de Satélites Ambientais (LASA), mostra que só nos últimos 10 anos as cicatrizes de incêndios e queimadas na Amazônia Legal já atingiram uma área maior que a França (62 milhões de hectares). 

E de onde vem tanta destruição? Vem da ideia de que a Amazônia é um grande campo desabitado e que a floresta em pé não tem valor nem serventia, que deve ser destruída para dar lugar à produção de carne, soja, óleo de palma, petróleo, ouro, grilagem e especulação de terra para que proporcionem lucro imediato para seus investidores e especuladores, não importando quantas vidas sejam perdidas no caminho. Um clássico caso de capitalismo selvagem. 

Não estamos falando de pequenos desmatadores, nem de criminosos solitários. Trata-se de um esquema complexo e fartamente financiado pelo sistema financeiro global, que alimenta a grilagem, a violência e a destruição florestal para a produção de commodities. 

Gado em área embargada pelo Ibama no município de Aripuanã (MT). © Bruno Kelly / Greenpeace

Balancete positivo

Na Amazônia, o fogo é usado no processo de desmatamento. Por ser uma floresta tropical úmida, a Amazônia não queima sozinha. Antes é preciso enfraquecer a floresta, retirando as árvores maiores, até que ela esteja seca e fragilizada o suficiente para ser queimada, geralmente na época mais quente na região, que vai de julho a outubro. Para que uma área seja completamente desmatada, ela provavelmente será submetida a vários ciclos de degradação e fogo, o que pode levar meses e até anos. Um processo longo e caro, que só é possível porque o dinheiro continua jorrando para a mão dos desmatadores. 

Mas com tudo que sabemos hoje, é inadmissível que governos sigam investindo neste modelo econômico destrutivo e excludente, enquanto empresas fingem não ver os danos causados por suas operações e bancos sigam injetando dinheiro nesses setores. Também não há mais tempo para discursos sem conexão com a realidade. São necessárias ações imediatas para zerar o desmatamento da Amazônia, e por parte de todas as esferas governamentais, empresas, setor financeiro e demais membros da sociedade, o que não vem acontecendo na velocidade que precisamos.

A indústria da carne vem renovando e quebrando promessas há quase 15 anos. Empresas como a JBS, por exemplo, gigante brasileira de produção de carne, segue constantemente envolvida com casos de compra de gado de áreas desmatadas na Amazônia, mas se prepara para abrir uma Oferta Pública Inicial de ações (IPO) na bolsa de valores de Nova Iorque. Pois o importante é maximizar os lucros.

No Brasil, depois de quatro anos de aumento da destruição sob o governo de Jair Bolsonaro, a chegada de Lula à presidência trouxe esperança de tempos melhores. Mas, mesmo com perceptíveis avanços na agenda ambiental, o governo não pensa em abrir mão de explorar Petróleo na Foz do Amazonas.

Esse tipo de distorção da realidade acontece na Amazônia, mas também acontece no Cerrado, na Floresta da Bacia do Congo, no Chaco, até no Artico! Até quando o crescimento infinito e o balancete positivo de grandes corporações será mais importante que garantir a vida de basicamente todo o mundo? 

Será o Piroceno?

Em 2015 o especialista em história do fogo, Stephen Pyne, nos apresentou o conceito de Piroceno. Do seu ponto de vista, a Terra estaria passando por uma nova Era Geológica, influenciada pelo poder da humanidade de alterar o ambiente com o uso do fogo: se o fogo nos permitiu evoluir, o mesmo fogo, na queima de combustíveis fósseis e florestas, poderia ser nossa desgraça. 

Já ultrapassamos o ponto em que a Amazônia precisava ser salva. Agora quem precisa ser salvo somos nós, e é necessário colocar em prática todas as soluções disponíveis: zerar o desmatamento, reflorestar, estabelecer compromissos de mercado, fortalecer o ativismo, estruturar um novo sistema alimentar, justiça climática, o fim dos fósseis! Temos que desmontar este sistema, peça por peça, e construir algo novo, algo que faça sentido para os tempos que vivemos. 

Nesse Dia da Amazônia, desejamos à floresta um futuro de paz e total respeito.

 

Saturday, September 2, 2023

Número de focos de calor na Amazônia têm queda de 48% em agosto

 Rosana Villar

Nos últimos oito meses, foram registrados 31.489 focos de calor na Amazônia, o menor número desde 2018

Área recém desmatada e queimada em Porto Velho (RO), registrada durante o monitoramento de desmatamento e queimadas na Amazônia do Greenpeace, realizado em agosto de 2023. (Foto Marizilda Cruppe/Greenpeace).

Dados apresentados nesta quinta-feira (31) pelo Programa Queimadas do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) mostram redução de 32% nos focos de calor na Amazônia no acumulado dos oito meses de 2023, em relação ao mesmo período do ano anterior. É o menor do número registrado neste intervalo desde 2018. 

Só em agosto, houve queda de 48% no número de focos, em relação ao mesmo mês do ano passado, sendo 17.373 focos de calor em agosto de 2023, contra 33.116 em 2022. Os estados com mais registros de fogo foram: Pará (38,7%), seguido de Amazonas (31,5%) e Rondônia (9,9%).

Para Rômulo Batista, porta-voz do Greenpeace Brasil, a queda do desmatamento na Amazônia presenciada nos últimos meses reflete as ações implementadas no combate ao desmatamento e às queimadas, e influenciou no resultado da diminuição de focos de calor na região, já que muitas vezes as queimadas são utilizadas para finalizar o desmatamento.

“Isso, atrelado a postura do atual governo, que é bastante diferente da adotada no governo Bolsonaro com sua agenda antiambiental, ampliou as ações de comando e controle com aumento de multas e embargos para os desmatadores, seja na floresta ou de forma remota, além da mudança de discurso na área ambiental”, afirma. 

Batista ressalta, entretanto, que o momento ainda é de alerta. “Não é o momento de baixar a guarda, o verão amazônico continua bastante quente e com poucas chuvas e o El Niño promete diminuir as chuvas a partir do mês de outubro, é necessário que as ações de comando e controle continuem e que os governadores que compõem o Consórcio da Amazônia Legal adotem o desmatamento zero até 2030 como principal objetivo do grupo”.

Os resultados da retomada do combate ao desmatamento e ao fogo são uma pequena redenção, depois de tantos anos de más notícias. Mas ainda precisamos avançar nos outros eixos desta complexa missão que é proteger a Amazônia, seus povos e sua biodiversidade. É fundamental acelerar a construção de  alternativas socioeconômicas viáveis para a região, superando o atual modelo econômico predatório, que concentra renda, produz desigualdade social e engole a floresta.

 
Rosana Villar

sobre o(a) autor(a)

Jornalista do Greenpeace Brasil em Manaus. Adora acampar e o cheiro da floresta depois da chuva. Ama sua filha, dormir, cozinhar e contar histórias, nessa ordem.

 

Friday, September 1, 2023

4 x 2 contra o Marco Temporal

Andressa Santa Cruz

O placar no Supremo Tribunal Federal está a favor dos povos indígenas, mas ainda faltam cinco votos – julgamento continuará em 20 de setembro

As associações indígenas pedem que todos mantenham as mobilizações contra o Marco Temporal
© Pedro Ladeira/Greenpeace

O julgamento do século avançou no Supremo Tribunal Federal (STF). Neste momento, o placar está ao lado dos povos indígenas, da democracia e do futuro de todos nós: 4 x 2 contra o Marco Temporal. Mas a mobilização segue firme, porque ainda faltam cinco votos até a decisão final. 

“Que seja favorável ao bem viver do nosso povo”, esperançou o Cacique Raoni, que está em Brasília (DF) acompanhando o julgamento junto de mais de 600 lideranças indígenas de todo o país.

Assim que a data foi anunciada, a Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (Apib) convocou suas delegações de base para marcarem presença na capital. Iniciado em 2019, o caso do Marco Temporal já foi adiado oito vezes e, agora, nunca esteve tão perto de seu fim. 

Nesta quinta-feira (31), a sessão começou com a conclusão do voto do Ministro André Mendonça, que foi a favor do Marco Temporal. Em seguida, Cristiano Zanin e Luís Roberto Barroso se posicionaram contra, abrindo vantagem para os direitos dos povos originários e foram ovacionados com gritos, cantos e maracás vibrando.

Veja a lista de votos dos Ministros no final do texto

Dentro do plenário do STF, os Ministros e Ministras conseguiram ouvir os povos indígenas celebrando os votos conquistados – um telão com tenda foi instalado na área externa da Suprema Corte para que as lideranças pudessem acompanhar a sentença em tempo real. No fim do dia, a sessão foi suspensa e a votação será retomada em 20 de setembro.  

O julgamento do Marco Temporal definirá o futuro das demarcações de Terras Indígenas no Brasil
© Pedro Ladeira/Greenpeace

Vidas em julgamento

O Marco Temporal é uma tese anti-indígena, antidemocrática e inconstitucional que acaba com um direito fundamental aos povos indígenas: o direito à terra. Criado por ruralistas para explorar os territórios tradicionais, o Marco Temporal inviabiliza a demarcação de Terras Indígenas e coloca em risco as vidas que nelas vivem. 

Alessandra Munduruku, liderança indígena e vencedora do prêmio Goldman de Meio Ambiente, lembra que, apesar do julgamento do Marco Temporal no STF ser sobre a Terra Indígena Laklãnõ, do povo Xokleng, em Santa Catarina, o resultado vai impactar todas as Terras Indígenas do país, porque é um caso de repercussão geral. “Da Amazônia, do Cerrado, do Pampa, de qualquer canto do Brasil vamos continuar a mobilização: não ao Marco Temporal!”. 

As Terras Indígenas são essenciais para o equilíbrio ecológico e para o clima global, conservando mais de 100 milhões de hectares de florestas. Se o Marco Temporal for aprovado, vai colocar o mundo inteiro em risco e os povos indígenas estão na linha de frente. 

“É nesse momento que precisamos de apoio”, destaca Alessandra Munduruku. Por isso, é hora de agir! Quase 500 mil pessoas já se uniram aos povos indígenas e exigem: MARCO TEMPORAL NÃO! Faça parte dessa mobilização e ajude a defender os direitos indígenas.

Votos dos Ministros até o momento (31.08.23)

CONTRA O MARCO TEMPORAL:

Edson Fachin 
Alexandre de Moraes 
Cristiano Zanin
Luís Roberto Barroso

A FAVOR DO MARCO TEMPORAL:

Nunes Marques
André Mendonça

FALTAM VOTAR:

Rosa Weber
Carmen Lúcia
Luiz Fux
Dias Toffoli 
Gilmar Mendes

O Marco Temporal é uma tese anti-indígena, antidemocrática e inconstitucional
© Pedro Ladeira/Greenpeace

 

Marco Temporal é retomado no Supremo Tribunal Federal

 Andressa Santa Cruz

 

Mais de 600 lideranças indígenas acompanharam a volta do julgamento do século para os povos originários

Mais de 600 lideranças de todo o Brasil foram a Brasília deixar bem clara sua posição
© Pedro Ladeira/Greenpeace

Nesta quarta-feira (30/8), o Supremo Tribunal Federal (STF) retomou a votação do Marco Temporal (RE 1017365): o julgamento mais importante da história dos povos indígenas do Brasil. Isso porque o resultado vai definir um direito fundamental aos povos originários – o direito ao território. 

Mais de 600 lideranças indígenas de todas as regiões do país estão em Brasília (DF) para acompanhar a decisão da Suprema Corte e, principalmente, para expressar em uma só voz: Marco Temporal Não! A Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (Apib) montou uma estrutura com telão e tenda na frente do STF e 50 lideranças tiveram acesso para assistir à sessão no plenário do Supremo. 

Além da mobilização na capital brasileira, houve também manifestações de norte a sul do Brasil e nas redes sociais, reiterando o repúdio ao Marco Temporal: uma tese anti-indígena criada por ruralistas para explorar os territórios dos povos originários, e que ataca os direitos indígenas assegurados na Constituição brasileira.

O Marco Temporal representa uma ameaça às Terras Indígenas e às riquezas naturais protegidas por elas – mais de 50 milhões de hectares de florestas estão conservados no interior de Terras Indígenas. Ou seja, Marco Temporal vai na contramão do equilíbrio ecológico e do combate à crise climática.

A grande liderança Kayapó Raoni Metuktire (à esq.) esteve no plenário do Supremo acompanhando o julgamento
© Pedro Ladeira/Greenpeace

Neste momento, o placar oficial está 2 x 1 contra o Marco Temporal. O próximo a votar é André Mendonça, que começou a pronunciar seu voto nesta quarta, mas o tempo da sessão se esgotou. O julgamento continuará na quinta (31) às 14h – embora o ministro já tenha sinalizado que pretende votar a favor do Marco Temporal, empatando o placar. 

Por isso, continuaremos em Brasília, junto com o movimento indígena, acompanhando a votação do Marco Temporal e pedindo a rejeição dessa tese, pela democracia e pelo futuro dos povos originários. Já somos quase 500 mil pessoas dizendo: Marco Temporal Não!

Junte-se a nós! Seja na capital do país ou virtualmente participando do nosso abaixo-assinado, ajude a apoiar o movimento indígena!

O julgamento do Marco Temporal se arrasta há anos – e os indígenas querem que ele seja concluído
© Pedro Ladeira/Greenpeace