Thursday, September 14, 2023

Dia da Amazônia: ainda temos muito trabalho pela frente

 Laís Modelli

 

Apesar da melhora nos dados da região em 2023, ainda há muitos problemas urgentes. Não é momento de baixar a guarda, mas de estar atento e forte.

Foram 4 anos de recordes consecutivos de queimadas e desmatamento na Amazônia, violência contra defensores, ativistas e povos indígenas e de impunidade, fruto de um desmonte sistemático de políticas públicas e de órgãos ambientais e de fiscalização. Este ano, contudo, já é possível voltar a comemorar a data de 5 de setembro, Dia da Amazônia: no acumulado dos oito meses de 2023, houve redução de 32% nos focos de calor na Amazônia em comparação ao mesmo período de 2022. É o menor número registrado neste intervalo desde 2018. 

Apesar da melhora nos dados da região em 2023, ainda há muitos problemas urgentes a serem resolvidos na Amazônia, como o garimpo em terras indígenas, contaminação de solos, rios e peixes por mercúrio, o desmatamento, a violência contra povos indígenas, invasões e grilagem de unidades de conservação e de florestas públicas, entre muitos outros. 

Além disso, mesmo que os dados de fogo e desmatamento tenham melhorado em 2023, o número de focos de calor segue em um nível elevado na Amazônia, e que pode piorar nos próximos meses por causa da influência do fenômeno El Niño, que deixará o clima ainda mais quente e seco na região. 

Por isso, para a diretora-executiva do Greenpeace Brasil, Carolina Pasquali, o momento não é o de baixar a guarda, mas o de manter a vigilância e cobrar medidas concretas.

“Temos muito trabalho pela frente. Por isso, nos colocamos ao lado daqueles que cobram compromissos concretos com a agenda socioambiental e com a reconstrução do Brasil em uma direção que supere a economia que destrói a natureza e concentra riqueza. As soluções velhas não nos servem mais, os projetos antigos não cabem. O país que se vangloria de ser celeiro, mas não alimenta os seus, não é suficiente”, afirma Carolina Pasquali.

É fundamental acelerar a construção de  alternativas socioeconômicas viáveis para a Amazônia, superando o atual modelo econômico de destruição, que concentra renda, produz desigualdade social e engole a floresta e seus povos.

“É cada vez mais urgente mudar comportamentos e apontar soluções para que o planeta seja um lar também para as gerações futuras. Para isso, seguiremos nas ruas, honrando a força do ativismo e da mobilização, e seguiremos questionando e expondo problemas”, diz Pasquali. 

Queimada em desmatamento recente na Gleba Abelhas, uma floresta pública não destinada federal localizada no município de Canutama, Amazonas. O Greenpeace sobrevoou áreas com alertas de desmatamento e fogo entre os dias 2 e 4 de agosto de 2023, especialmente na região entre os estados do Amazonas, Rondônia e Acre, para registrar e denunciar a destruição que segue avançando sobre a floresta.

Ouvir quem sabe: os povos da Amazônia

Como superar o atual modelo econômico de destruição na Amazônia? A resposta é complexa, mas, independente dela, o Greenpeace Brasil defende que qualquer futuro possível para a região passa em ouvir e incluir o conhecimento ancestral dos povos indígenas, que vivem em harmonia com a floresta, os animais e os rios há mais de 15 mil anos. 

Um estudo do Inpa de 2021 mostrou, por exemplo, que 84% das plantas arbóreas da Amazônia são utilizadas no cotidiano dos povos tradicionais há séculos para alimentação, ornamentação, venenos, panos, cestaria, remédios e muitos outros usos. Várias dessas espécies foram domesticadas por esses povos, que aprenderam como cultivá-las em quintais, roças e agroflorestas, como o cupuaçu, o açaí, a andiroba e o cacau.

Muitos dos remédios utilizados na medicina tradicional também vem da floresta e dos povos indígenas, que dominam um vasto conhecimento de como utilizar substâncias naturais, que vão medicamentos a base de plantas, de óleo de frutos, cascas de árvores, à secreção da pele de rãs e cobras. Na maioria dos casos, contudo, a indústria e universidades requerem patentes sobre esses usos sem reconhecer o conhecimento ancestral dos povos indígenas (mas isso é assunto para uma outra matéria…)  

Como disseram os mais de mil indígenas que participaram dos Diálogos Amazônicos em agosto, no Pará, “o futuro é indígena”, “nunca mais um Brasil sem nós”. (assista abaixo a fala emocionante da liderança Concita Sompré na cerimônia de abertura do evento)

Desmatamento zero

Por falar em Diálogos Amazônicos, o Greenpeace Brasil participou do evento e apresentou um posicionamento com 8 demandas para a região. Uma delas é acabar com o desmatamento na Amazônia até 2030 como forma de evitar o temido “ponto de não retorno” – estágio de devastação em que a floresta não será capaz de recuperar a sua capacidade de regular o ciclo de chuvas e o clima do Brasil e de todo o continente – e proteger povos indígenas e a biodiversidade amazônica.

Além disso, se por um lado a floresta é vida, saúde e conforto, por outro, o desmatamento e a perda da biodiversidade nos aproximam de potenciais doenças mortais: quanto mais destruímos ecossistemas naturais, mais facilitamos o aparecimento de doenças, que podem se transformar em pandemias e trazer perdas para toda a sociedade.

Porém, como diz a música, “é preciso estar atento e forte, não temos tempo de temer a morte”.

Nos ajude a cobrar a proteção da Amazônia!

Em agosto, o Greenpeace Brasil lançou uma carta pública aos governadores que integram o Consórcio Amazônia Legal, onde traz uma série de recomendações de ações para deter o desmatamento e evitar a ocorrência de fogo na Amazônia.

Nos ajude a cobrar dos governadores medidas concretas para proteger a Amazônia.

 

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