Tuesday, January 31, 2023

Os Corais da Amazônia estão sob ameaça; entenda porque devemos protegê-los

Lu Sudré 

 Petrobras quer extrair petróleo na foz do rio Amazonas, impactando a biodiversidade e comunidades locais

Imagem do fundo do mar retrata um recife de corais na foz do Rio Amazonas
Formação encontrada no Grande Sistema de Recifes da Amazônia / Greenpeace

O Dia Mundial dos Corais da Amazônia é celebrado em 28 de janeiro, data criada para exaltar a grande biodiversidade deste ecossistema marinho, tão único e encantador. Em 2023, mais do que comemorar a existência do bioma, ressaltamos a necessidade de protegê-lo! E temos urgência nesse chamado: a Petrobras quer explorar a Foz do Amazonas, o que pode gerar um efeito devastador para o recife de corais, fundamental para a saúde das águas, e para comunidades locais.

A movimentação da petrolífera para conseguir a licença ambiental acontece desde o ano passado. O plano para a Margem Equatorial, como é chamada a “nova fronteira exploratória”, conta com a previsão de 16 poços exploratórios que se estendem do Amapá ao Rio Grande do Norte, com investimentos de aproximadamente US$ 3 bilhões. 

Quando uma empresa petrolífera inicia atividades em uma área, junto delas vêm o risco de derramamentos acidentais que ameaçam diretamente a vida das espécies de animais e plantas. Quando se trata da Foz do Amazonas, onde o rio encontra o Oceano Atlântico, a situação é ainda mais delicada pois estamos falando de uma biodiversidade gigantesca, única e ainda desconhecida – os Corais foram descobertos em 2016 e ainda há muito a ser estudado e catalogado pela ciência.

O projeto da Petrobras também é uma ameaça iminente para as comunidades indígenas, quilombolas e ribeirinhas, que têm a biodiversidade dos mares como fonte de renda e subsistência. Exatamente por isso, as unidades do Ministério Público Federal do Pará e do Amapá emitiram uma recomendação conjunta ao Ibama (Instituto Brasileiro de Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis) e à Petrobras, para que a perfuração marítima na região seja suspensa.

Segundo os órgãos, a atividade vai impactar quatro povos indígenas no Amapá (Karipuna, Palikur-Aruk Wayne, Galibi Marworno e Galibi Kali), localizados no município de Oiapoque, e comunidades no Pará. Além disso, não houve a consulta prévia, livre e informada, um direito desses povos garantido pela Convenção 169 da Organização Internacional do Trabalho. 

A empresa também não apresentou estudos suficientes sobre os riscos de um possível vazamento de óleo. Caso a Petrobras consiga o necessário aval do estado do Pará e a licença final do Ibama, a costa da Amazônia Atlântica pode ser alvo de danos ambientais com potencial para atingir até o mar territorial da Guiana Francesa. 

Há um histórico de mobilização a ser levado em conta. Em 2017, a petroleira francesa Total também tentou perfurar perto dos Corais da Amazônia, mas o projeto foi barrado quando 2 milhões de pessoas ao redor do mundo se uniram e participaram da campanha “Defenda Os Corais da Amazônia”. O Ibama negou a permissão para a empresa após pressão pública, uma vitória para a biodiversidade brasileira.

“A Petrobras assumiu a operação de blocos os quais gigantes do petróleo, como a francesa Total e a britânica BP, desistiram devido à pressão da sociedade brasileira e aos riscos socioambientais, econômicos e reputacionais. Vemos este movimento com grande preocupação, já que a estatal deveria ser a primeira a zelar pela soberania dos povos e ter responsabilidade sobre nossos recursos naturais”, afirma Marcelo Laterman, da campanha de Oceanos do Greenpeace Brasil.

O especialista complementa ainda que episódios como o derramamento criminoso de óleo no nordeste em 2019, mostram que o Brasil está despreparado para lidar com esse tipo de evento.

Uma imagem aérea da orla de Copacabana, no Rio de Janeiro, com a mensagem "Defenda os Corais da Amazônia" escrita na areia.
Em 2018, na praia de Copacabana, uma imagem de 100 metros de comprimento foi formada por mais de 500 pessoas. Cerca de 200 eram estudantes de escolas públicas do Rio de Janeiro. A ação foi coordenada pelo artista John Quigley junto ao Greenpeace Brasil para a campanha Defenda os Corais da Amazônia.
© Fernanda Ligabue/Greenpeace

Saiba mais sobre os Corais da Amazônia 

Os Corais tiveram sua existência registrada pela ciência em 2016. No início do ano seguinte, o Greenpeace Brasil realizou uma expedição com pesquisadores que revelou, de forma inédita, imagens de dezenas de espécies de peixes, esponjas-do-mar, corais e rodolitos (algas calcárias).

Os primeiros registros mostraram ao mundo um verdadeiro tesouro natural. Um ecossistema rico em texturas, cores e formatos, que sobrevive em águas profundas e com pouca luminosidade. O recife dos Corais da Amazônia está próximo ao encontro do Rio Amazonas com o Atlântico, e, de uma maneira única, se adaptou bem a uma mistura de água doce e salgada. 

A princípio, os pesquisadores imaginavam que Corais tivessem 9,5 mil quilômetros quadrados, mas, após a expedição, os cientistas estimam que a área dos recifes possa ter até 56 mil quilômetros quadrados – o tamanho do estado do Rio de Janeiro. Clique aqui e confira mais curiosidades sobre os Corais da Amazônia.

Lu Sudré

sobre o(a) autor(a)

Lu Sudré é jornalista do Greenpeace Brasil em São Paulo. Tem experiência na cobertura de temas relacionados ao meio ambiente, direitos humanos e política.

Wednesday, January 11, 2023

Amazônia perdeu 10.267 km² em 2022, aponta Deter

Greenpeace Brasil 

 Esse resultado representa um aumento de 11,3% na área com alertas de desmatamento, na comparação com 2021. É a pior marca desde o início do monitoramento, em 2015

Desmatamento flagrado entre os estados de Rondônia e Amazonas, durante sobrevoo de monitoramento do Greenpeace em agosto de 2022. (© Bruno Kelly / Greenpeace)

Dados do sistema Deter-B, do Instituto de Pesquisas Espaciais (INPE), divulgados na sexta-feira (6) mostram que de, 1º a 30 de dezembro de 2022, 218 Km² da Amazônia, estiveram sob alertas de desmatamento, representando um aumento de 125% em relação ao mesmo mês de 2021. Em dezembro, último mês sob a gestão Bolsonaro, os estados que concentram as maiores taxas de desmatamento foram o Pará (48,12%), seguido de Roraima (21,1%) e Amazonas (9,1%). 

No acumulado entre janeiro e dezembro de 2022, houve recorde da série histórica: uma área total destruída de 10.267 km², superando o registrado nos anos anteriores da série, mais um legado de destruição do ex-governo Bolsonaro. 

Vale ressaltar que a taxa oficial do desmatamento no Brasil é medida pelo sistema Prodes/Inpe e o ano base para a medição se dá de agosto de um ano a julho do ano seguinte. Os números acumulados de agosto a dezembro de 2022, portanto, irão compor o resultado da próxima medição do Prodes. Só nesse período, os alertas de desmatamento tiveram aumento de 53,8% em relação ao mesmo período do ano anterior, o que também é considerado um recorde na série histórica.

“Esse número além de confirmar que tivemos o pior governo na área ambiental desde a nossa redemocratização, já trás um grande problema ao novo governo que acabou de assumir com a promessa de baixar o desmatamento e cumprir os acordos internacionais feitos pelo Brasil, como é o caso do Acordo de Paris.” afirma Rômulo Batista, porta-voz de Amazônia do Greenpeace Brasil.

O desmonte das políticas ambientais e o sucateamento dos órgãos de proteção que testemunhamos ao longo do governo de Jair Bolsonaro (PL), incentivou à desmatadores, grileiros e garimpeiros ilegais, de que as atrocidades cometidas contra nossas florestas e seus povos seriam toleradas. O resultado prático disso se traduz nos números, a destruição não parou de avançar e acelerou até o último mês de gestão do ex-governo. 

No caminho da reconstrução de tamanha destruição, é fundamental ter um plano robusto de controle do desmatamento, que inclua entre outras medidas a volta das atividades de comando e controle, a retomada da estratégia de criação de áreas protegidas, a demarcação das Terras Indígenas (TIs) e a devida responsabilização por crimes ambientais nos últimos quatro anos. É preciso também que haja transição ecológica que estabeleça na Amazônia uma economia predominante que consiga conviver com a floresta em pé e que traga um real desenvolvimento para a região.