Friday, July 22, 2022

Desmatamento: DETER confirma pior 1° semestre da série histórica na Amazônia

Greenpeace Brasil 

 Somente em junho foram 1.120 Km2 com alertas de desmatamento. No acumulado de 2022, a área com alertas já é 10,6 % superior a registrada no mesmo período de 2021

Desmatamento de 2.300 hectares de floresta pública não destinada na Gleba Federal Curuquetê, registrado em março de 2022, em Lábrea (AM). (© Christian Braga / Greenpeace)

Dados do sistema Deter, do Instituto de Pesquisas Espaciais (Inpe), divulgados hoje, mostram uma área destruída de 1.120 Kmno mês de junho, um recorde na série histórica e aumento de 5,5 % na área com alertas de desmatamento, em relação aos registrados em junho de 2021. No acumulado do ano, essa área já chega a 3.988 Km2, número 10,6% maior que o mesmo período de 2021, que já havia sido recorde da série temporal do sistema DETER-B.   

Área com alertas do Deter-B, que iniciou em 2016, para o 1º semestre.(Fonte: Inpe)

O primeiro semestre deste ano teve quatro meses com recordes de alertas de desmatamento, o que é uma péssima notícia, pois existe muita matéria orgânica morta, e com o verão amazônico começando, período mais quente, com menos chuva e mais seco do ano, todo esse material serve como combustível para as queimadas e incêndios florestais criminosos que assolam a região, adoecem os moradores e dizimam a biodiversidade da maior floresta tropical do mundo. 

“É mais um triste recorde para a floresta e seus povos. Esse número só confirma que o governo federal não tem capacidade, nem interesse, de combater toda essa destruição ambiental. Seja por ação ou omissões, o que vemos é uma escalada inaceitável da destruição da floresta e do massacre de seus povos e defensores”, declara Rômulo Batista, porta-voz da campanha Amazônia do Greenpeace Brasil.

O destaque ainda mais negativo fica com o Amazonas, que pela primeira vez lidera a lista de estados que mais desmataram no primeiro semestre, com 1.236 Km2, o que representa 30,9% do total desmatado no período, seguido pelo Pará, com 1.105 Km2, (27,7% do total), e Mato Grosso, com  845 Km2 (21,1%). 

Enquanto o Executivo nada faz para cessar a destruição, o Congresso nos dá ainda mais motivos para nos preocupar. Projetos de lei como o 2.633/2020, que anistia grileiros, e o PL 490/2007, que abre terras indígenas para atividades predatórias, acrescentam mais uma camada de pressão sobre nossas florestas. 

“Em vez dos parlamentares estarem focados em conter os impactos da destruição da Amazônia sobre a população e o clima, no combate ao crime que avança na floresta, e que não só queima nossas riquezas naturais, mas também a imagem e a economia do país, eles tentam aprovar projetos que irão acelerar ainda mais o desmatamento, os conflitos no campo e a invasão de terras públicas. Nosso país não precisa da aprovação destes projetos. O que precisamos é de vontade política para avançar no combate ao desmatamento, queimadas e grilagem de terras”, finaliza Rômulo.

Adiar o julgamento do Marco Temporal é aprofundar as ameaças aos povos indígenas

Greenpeace Brasil

Reconhecido como o caso mais importante da história para os povos originários, julgamento não tem previsão de nova data

Há anos o movimento indígena vem denunciando a inconstitucionalidade da tese do Marco Temporal. Foto: Tuane Fernandes/Greenpeace

A decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) de adiar pela terceira vez o julgamento do Marco Temporal foi recebida com frustração pelo movimento indígena no Brasil, já que a demora na sentença aprofunda as ameaças aos povos originários, que seguem expostos a tragédias e conflitos em seus territórios tradicionais. 

Quem se beneficia desse adiamento são os invasores de Terras Indígenas – como grileiros, madeireiros e garimpeiros. Quanto mais tempo o STF levar para reconhecer a tese do Marco Temporal como inconstitucional, maior é o custo imposto aos povos indígenas e ao patrimônio ambiental de seus territórios ancestrais. 

Afronta

Utilizada para contestar a demarcação da Terra Indígena Ibirama-Laklãnõ (SC), dos povos Xokleng, Kaingang e Guarani, a tese do Marco Temporal está no centro do julgamento do Recurso Extraordinário (RE) 1.017.365. Ela busca limitar no tempo os direitos dos povos indígenas aos seus territórios tradicionais, tendo como base a data de promulgação da Constituição Federal – 05 de outubro de 1988. Assim, poderiam ser reclamadas como Terras Indígenas apenas os territórios ocupados nesta data.

Para muitos juristas, isso é uma afronta ao texto constitucional, visto que, no texto da Carta Magna, não existe nenhuma referência de tempo específica para os direitos indígenas. Na Constituição, fala-se de “direitos originários” – ou seja, direitos que são anteriores à formação do Brasil.

Alguns especialistas lembram inclusive que existia sim um marco temporal na Constituição: uma previsão de que, em 5 anos, até outubro de 1993, todas as Terras Indígenas do País estariam demarcadas. Obviamente, isso nunca aconteceu. 

Preocupação

O julgamento do Recurso Extraordinário (RE) 1.017.365 possui o status de “repercussão geral”. Isso significa que a decisão tomada aqui servirá de referência para os inúmeros processos, existentes nas diferentes instâncias do Poder Judiciário de nosso país. De acordo com o Conselho Indigenista Missionário (Cimi), existem hoje no Brasil mais de 800 Terras Indígenas que aguardam providências para serem devidamente reconhecidas e homologadas

Em nota, a Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (Apib) deixou clara sua preocupação com mais esse adiamento: “A Apib, embora respeite as decisões internas da Suprema Corte, (…) não poderia deixar de tornar pública a sua preocupação a respeito dos impactos da decisão sobre os territórios, a vida, integridade física, cultural e espiritual de nossos povos, uma vez que tememos pelo agravamento das invasões praticadas pelos distintos grupos criminosos (garimpeiros, grileiros, madeireiros e pecuaristas, entre outros) que agem impunes praticando violências nas terras indígenas, sob incentivos do atual governo.” 

O movimento indígena mantém a agenda de mobilizações pelos direitos dos povos originários. Foto: Diego Baravelli/Greenpeace

Contexto de insegurança

Nas últimas semanas, durante suas lives e pronunciamentos, o presidente Bolsonaro tem recorrido ao julgamento do Marco Temporal para intimidar o STF, chegando a dizer que não vai acatar a sentença caso a Corte seja favorável aos povos indígenas.

Este tipo de atitude afronta gravemente não só os direitos originários, mas a democracia brasileira, que se vê refém das vontades autoritárias do presidente de plantão. E foi nesse contexto de insegurança contra o STF e a democracia, estimulado pelo atual governo, que se deu a retirada de pauta do julgamento do Marco Temporal no dia primeiro de junho. A retomada da votação estava prevista para hoje (23). O julgamento, no entanto, foi tirado de pauta e não tem previsão de nova data para voltar ao plenário. 

Para marcar a data, no entanto, estão programadas para hoje diversas manifestações Brasil afora, lembrando da importância de ser julgar o Marco Temporal o quanto antes. Uma delegação de 150 lideranças, dos povos Xokleng (SC), Guarani Kaiowá (MS), Tupinambá (BA) e Taurepang, Macuxi e Wapichana (todos de RO) cumprem agenda em Brasília (DF) esta semana alertando as autoridades da urgência dessa definição.

Quem se beneficia

O porta-voz da Campanha Amazônia do Greenpeace Brasil, Danicley de Aguiar, lembrou que o adiamento do julgamento do Marco Temporal ameaça diversos aspectos da vida brasileira. “Além de ser uma uma fraude, a tese do Marco Temporal  ataca algo fundamental para a vida dos povos indígenas: o direito ao território. Este ataque tem o claro desejo de inviabilizar a reprodução de culturas milenares que foram e são determinantes para a construção da cultura brasileira e para a proteção de nosso patrimônio ambiental”, disse o especialista. 

Danicley disse também que precisamos ter em mente quem se beneficia com os ataques aos direitos indígenas: “Como esquecer ou ignorar o histórico de violências que esses povos sofrem? Os genocídios? As remoções forçadas? Na condição de cidadãos, é urgente que todos os brasileiros e brasileiras se mobilizem pela rejeição desta tese absurda que só interessa àqueles que historicamente lucram com as violações dos direitos indígenas e enriquecem às custas da exploração do nosso patrimônio ambiental.”

O adiamento do julgamento da tese do Marco Temporal beneficia apenas os criminosos ambientais que querem explorar os territórios indígenas. Foto: Tuane Fernandes/Greenpeace

 


Maio tem maior número de queimadas na Amazônia para o mês em 16 anos

Greenpeace Brasil 

 No caso do Cerrado, este foi o pior resultado de toda a série histórica para o bioma. Dados reforçam o impacto das escolhas antiambientais e das eleições no avanço da destruição

Árvore ainda em chamas em área recém queimada, em Porto Velho, Rondônia, registrada em setembro de 2021 (© Victor Moriyama / Amazônia em Chamas)

Dados divulgados na noite desta terça-feira (31), pelo Instituto Nacional de Pesquisa Espaciais (Inpe), apontam que o mês de maio teve o pior número de focos de calor na Amazônia desde 2004, com 2.287 focos e bateu recorde histórico para o mês de maio no Cerrado, com 3.578 focos. Isso representa um aumento de 96% na Amazônia e de 35% no Cerrado de 35%, em relação a 2021.  

“O verão Amazônico ainda nem começou e a estação seca do Cerrado está só no início e o Brasil já está batendo novos recordes na destruição ambiental. Infelizmente o ocorrido não pode ser considerado uma surpresa, tendo em vista que é resultado direto de uma política antiambiental aplicada por quase quatro anos”, comenta Cristiane Mazzetti, porta-voz da campanha de Amazônia do Greenpeace Brasil.

Os números mostram que as ações do governo Federal nos últimos anos, como o desmonte da fiscalização e dos órgãos ambientais, resultaram em uma elevação drástica do patamar da destruição ambiental no país.

Na bioma Amazônia os focos se concentraram em Mato Grosso (77,4%), que é o estado onde o verão Amazônico começa primeiro. Quando a floresta está mais seca é o momento em que o fogo é utilizado para renovação de áreas agrícolas e pastagens, para realizar o desmatamento ou queimar os restos da floresta derrubada, depois de seca ao sol. No caso do Cerrado, um pouco mais da metade dos focos se concentrou em Tocantins e Mato Grosso. 

Com os números altos de queimadas e desmatamento que vêm sendo registrados nos primeiros meses deste ano, a previsão é de que o cenário se agrave com o fim do inverno amazônico – quando há a diminuição das chuvas em regiões da Amazônia. Outro fator crítico é o fato de este ser um ano eleitoral, quando a devastação ambiental historicamente se acentua. 

“A tendência desse contexto é catastrófica, não somente pela perda da biodiversidade nesses biomas, mas também para as populações que vivem na Amazônia e adoecem com a fumaça, em especial os povos indígenas e comunidades tradicionais que além de sofrer com a fumaça, têm seus territórios invadidos e desmatados. Esses números reforçam o desafio de superarmos essa economia que se alimenta de floresta e que não desenvolve a região. É um ano decisivo para o Brasil, é preciso que o povo brasileiro reflita profundamente sobre o futuro que queremos para o nosso país”. Completa Mazzetti.