Indígenas fecham BR-316 e pedem justiça por morte de liderança que atuava contra a exploração ilegal de madeira em TI
Crédito: Assessoria de Comunicação CIMI
Durante a manhã e parte da tarde da última quinta-feira (30), um
protesto de índios do povo Ka’apor interditou a rodovia federal BR-316
entre os municípios de Araguanã e Nova Olinda, no Maranhão. Moradores da
Terra Indígena (TI) Alto Turiaçu, os manifestantes pediam
principalmente pela prisão dos suspeitos de assassinar Eusébio Ka’apor,
uma das principais lideranças indígenas no combate contra a exploração
ilegal de madeira e o desmatamento na região, em 16 de abril deste ano.
Segundo a Polícia Rodoviária Federal, o bloqueio foi encerrado de
maneira pacífica, depois que representantes da Secretaria de Segurança
Pública (SSP) foram ao local para negociar. De acordo com os membros da
etnia e agentes do Conselho Indigenista Missionário (CIMI), a morte de
Eusébio, líder da aldeia Ximborendá, nunca foi investigada
apropriadamente e os inquéritos sobre o assassinato estão paralisados. A
Polícia Civil e o Ministério Público Federal, no entanto, negam a
omissão nas investigações.
Eusébio foi encontrado com um tiro nas costas no Povoado do Pedro,
entre os municípios de Centro do Guilherme e Santa Luzia do Paruá (MA).
Até o momento, nenhum dos madeireiros apontados como suspeitos nos
depoimentos foi intimado a depor. “Um dos filhos de Eusébio está
recebendo ameaças constantes, estamos com medo do que pode acontecer com
ele e com a gente, porque nada foi feito para intimidar os madeireiros e
as comunidades ficam vulneráveis à ação dos pistoleiros”, diz um
indígena em reportagem publicada no portal do CIMI.
Segundo a organização indigenista, essa não é a primeira vez que os ka’apor sofrem
retaliação por expulsar madeireiros ilegais de seu território em 2015.
No último dia 27, outra liderança Ka’apor, foi alvo de um atentado
quando visitava uma das áreas de proteção criadas na TI para impedir a
exploração de madeira, principal causa de conflitos na região nos
últimos 25 anos.
“A floresta e seus povos estão sendo constantemente ameaçados pela
extração de madeira ilegal, o primeiro passo para a destruição total da
floresta” afirma Marina Lacôrte, da Campanha da Amazônia do Greenpeace.
“Se esses conflitos são tão comuns é porque a atividade madeireira está
completamente fora de controle, o que faz com que a madeira ilegal
chegue facilmente aos mercados com documentação oficial. O governo não
pode continuar ignorando essa situação”, complementa.
Desmatamento
Com cerca de 531 mil hectares, a TI Alto Turiaçu é o maior
remanescente florestal do que um dia foi a Amazônia Maranhense. Só em
2013 1.113 hectares de floresta desapareceram do mapa. Em termos de
degradação, os dados absolutos para o período de 2007-2013 chegou a
5.733 hectares. A área desmatada total chega a 30% do território
indígena, segundo estimativas do Greenpeace.
Além de o território ser um direito destes povos a criação de Terras
Indígenas e Unidades de Conservação são os mecanismos mais eficientes
para garantir a conservação da floresta e mitigar as consequências das
mudanças climáticas, como vem sendo mostrado por diversos estudos.
Apesar disto, o Degrad (Mapeamento da Degradação Florestal na Amazônia
Brasileira), que detecta indícios de degradação e é utilizado como
suporte à fiscalização e controle deste processo, aponta que quase 26%
da degradação ocorreu dentro de TIs entre 2006 e 2007. Ou seja, neste
período foram perdidos 2,630 milhões de hectares de floresta Amazônica
que, em tese, deveriam ser protegidas.
No comments:
Post a Comment
Note: Only a member of this blog may post a comment.