Estudos apontam que as temporadas de queimada na Amazônia devem aumentar
nos próximos anos e entre as causas estão a degradação e o desmatamento
florestal
Queimada para limpeza do pasto, em São Félix do Xingu, no Pará (© Greenpeace/Daniel Beltrá)
O período de seca mal começou no Norte do Brasil, mas as queimadas já
pintam de vermelho a cobertura verde da floresta. Os incêndios, tão
comuns de agosto a setembro, estão começando mais cedo e, de acordo com
duas pesquisas lançadas este mês, a explicação pode estar no
desmatamento e a tendência é que tenhamos cada vez mais dias com fogo e
menos dias com chuva.
Segundo o Instituto Brasileiro de Pesquisas Espaciais (INPE), de
janeiro a 29 de julho deste ano o número de focos de incêndio cresceu em
cinco, dos oito estados que compõem o bioma Amazônia, chegando a até
70% de aumento, no Acre e em Rondônia, na comparação com o mesmo período
de 2014. Nas últimas 48 horas a Amazônia concentrou 39,3% dos focos de
incêndios identificados por satélite.
Segundo o estudo “Climate-induced variations in global wildfire danger from 1979 to 2013”
(Variações induzidas pelo clima no risco de incêndios florestais),
publicado no periódico Nature, as mudanças climáticas estão alterando os
padrões globais de queimadas e devem gerar um aumento na “temporada de
incêndios” nas próximas décadas. O estudo aponta também que, de 1979 a
2013, o período anual de queimadas ficou 18,7% maior .
“O aumento da temporada de fogo e das áreas afetadas por queimadas
foi verificado em todos os continentes, exceto Austrália. Florestas
tropicais e subtropicais, campos e savanas da América do Sul têm
experimentado enormes mudanças meteorológicas e temporadas de fogo mais
longas, com um aumento médio de 33 dias ao longo dos últimos 35 anos”,
revela a pesquisa.
“Esses dados são preocupantes. Vale lembrar que as queimadas ainda
respondem por boa parte dos gases do efeito estufa emitidos pelo Brasil,
o que agrava ainda mais as mudanças climáticas”, explica Rômulo
Batista, da Campanha da Amazônia do Greenpeace. “É um círculo vicioso:
as queimadas deixam o clima mais seco, o que provoca mais queimadas.
Esta é uma relação perigosa, que deve ser evitada a todo o custo”,
completa Batista.
Queimada gigantesca registrada dentro do Parque Nacional do Xingu, no Mato Grosso (© Paulo Pereira
/Greenpeace)
De acordo com o artigo, a seca enfrentada na Amazônia em 2005 trouxe
um longo período propício ao fogo, “levando a um aumento dramático na
atividade com uso de queimadas em toda a bacia”.
Para os pesquisadores de outro estudo recente - “Landscape fragmentation, severe drought, and the new Amazon forest fire regime” (Fragmentação
de paisagem, secas severas, e o regime de fogo na Amazônia), fruto de
uma parceria entre as universidades de Stanford e da Flórida com o
Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (IPAM), os incêndios
florestais estão cada vez mais longos e comuns na região devido a
“mudanças fundamentais no clima e na paisagem”.
“O desmatamento influencia os regimes de fogo da Amazônia, pois
resulta no aumento de fontes de ignição, aumento do comprimentos de
borda da floresta , e alterações de climas regionais”, esclarece o
estudo. Ou seja, o desmatamento e a degradação deixam as florestas mais
expostas e vulneráveis à queimadas.Segundo a pesquisa, ao longo de um
período de 24 anos (de 1983-2007) 44% das florestas degradadas e 46%
florestas de transição queimaram, contra 15% das florestas primárias,
muito mais densas e protegidas.
“Os efeitos combinados de um futuro climático mais seco, com mais
fontes de ignição em paisagens cada vez mais fragmentados, pode diminuir
a resistência ao fogo até nas densas florestas verdes”, alerta o
estudo.
“As Florestas Primárias ou mata virgem, como são chamadas aqui na
região, são muito mais densas e úmidas, constituindo uma barreira para o
fogo. Além disso é nela que se concentram a biodiversidade e o carbono
estocado na Amazônia, além de retirar da atmosfera mais de 2 toneladas
de carbono por hectare todo ano. Ao preservá-las evitamos e mitagamos
as mudanças climáticas e garantimos a sobrevivência de milhões de
espécies únicas” afirma Batista.
Ambos os estudos chamam atenção para o alarmante aumento na emissão
de gases do efeito estufa que este “alongamento” na temporada de
queimadas pode representar. “O aumento dos incêndios de larga escala em
florestas degradadas pode aumentar as emissões de carbono para as taxas
de três ou quatro vezes as emissões anuais de desmatamento de alguns
tipos de floresta”.
O Brasil já conseguiu reduzir o desmatamento. Mas ainda não é o
suficiente. Esta destruição está fragilizando nossas florestas e os
serviços ambientais que elas nos prestam. Está na hora de o país
reassumir o papel de vanguarda ambiental, a que está destinado, e
apresentar metas realmente ambiciosas em relação ao combate às mudanças
climáticas e a perda florestal, assumindo um compromisso com o
Desmatamento Zero no Brasil.
Faça parte do movimento pelo fim do desmatamento de nossas florestas. Assine em apoio ao projeto de lei pelo Desmatamento Zero e ajude a levar esta demanda ao Congresso Nacional.
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