A política de retorno forçado à província de Fukushima, no Japão, expõe moradores a risco de contaminação radioativa.
Greenpeace japão documenta trabalho de descontaminação radioativa no
distrito de Iitate, no Japão. A área está contaminada desde março de
2011 quando o reator nuclear da usina de Fukushima explodiu. (©Jeremy
Sutton-Hibbert/Greenpeace)
A contaminação radioativa nas florestas e terras da província de
Iitate, em Fukushima, é tão vasta e tão intensa que será praticamente
impossível que antigos moradores retornem em segurança para seus lares,
revelou uma investigação conduzida pelo Greenpeace Japão.
Os resultados da investigação foram revelados dias depois de o
Governo de Shinzo Abe, primeiro-ministro japonês, anunciar que a ordem
de evacuação da região será suspensa em março de 2017, e que encerrará
as indenizações aos moradores em 2018, o que, na prática, forçará as
vitimas a retornar a uma região altamente contaminada.
A província Iitate, que ocupa mais de 200 quilômetros quadrados, está
localizada entre 28-47 km a noroeste de Usina Nuclear de
Fukushima-Daiichi, e foi uma das áreas mais atingidas após a catástrofe
de Março de 2011. Desde 2014, dez mil trabalhadores buscam reduzir os
níveis radioativos de algumas áreas do município de Fukushima, incluindo
a região de Iitate, mas com poucos resultados práticos.
“O Primeiro-Ministro Abe adoraria que as pessoas do Japão
acreditassem que o governo está descontaminando a enorme área de
Fukushima e fazendo com que a área tenha níveis de radiação seguros o
bastante para que pessoas possam viver lá. A verdade é que esta medida
está fadada ao fracasso. As florestas da região de Iitate são, agora,
grandes armazéns de radioatividade, trarão enormes riscos de
contaminação direta e também serão fontes de recontaminação por milhares
de anos. É impossível descontaminar a região”, disse Jan Vande Putte,
especialista em radiação do Greenpeace Bélgica.
“O Governo japonês condenou as populações de Iitate a viverem em um
ambiente que oferece riscos inaceitáveis à saúde. Retirando das vítimas
sua já insuficiente compensação, o governo os estará forçando a
retornarem a regiões perigosas e altamente radioativas por motivos
financeiros. Sejamos claros: esta é uma decisão do Governo de Abe, sem
respaldo científico, sem dados, ou preocupação com saúde pública,” disse
ele.
O Greenpeace conduziu um estudo sobre radiação, retirando amostras em
Iitate, incluindo suas florestas. Uma das principais descobertas foi
que a maior parte da região de Iitate nunca será descontaminada, sendo
que a maioria da radiação está depositada nas florestas e montanhas da
região.
Mesmo as áreas que teriam sido descontaminadas, próximas às casas,
terrenos e estradas, possuem níveis de contaminação incrivelmente altos e
inaceitáveis. Os resultados mostram que o atual programa de
descontaminação não está obtendo sucesso na redução efetiva dos níveis
de radiação, que se mantêm altos e inseguros para a presença humana.
Os níveis de radiação encontradas em regiões tidas como
“descontaminadas” é dez vezes mais potente do que a dose máxima
permitida ao público em geral. Nas florestas, a radiação tem níveis
altíssimos que se manterão assim por muitos anos.
Apoiando o governo japonês em sua manobra para forçar o retorno das
pessoas às áreas contaminadas, está a Agência Internacional de Energia
Atômica (AIEA), que auxiliou a promover o retorno prematuro de cidadãos
de Fukushima a áreas que haviam sido evacuadas. Não só os preceitos da
AIEA em relação aos riscos radioativos estão baseados em conclusões
científicas questionáveis, como também há certa ignorância em relação
aos reais efeitos da radioatividade. A AIEA deturpou as medições e a
efetividade do programa de descontaminação, inclusive em litate.
“Mesmo após quase trinta anos, os 30Km ao redor de Chernobyl
permanecem como área de exclusão. É alarmante a cumplicidade entre a
AIEA e o Governo Abe, o que revela o quanto eles estão desesperados para
transmitir a ilusão de que o retorno ‘à normalidade’ é possível, mesmo
após um acidente nuclear desta magnitude. A posição deles é
indefensável, e o planejamento para um retorno forçado deve ser
impedido”, disse Mamoru Sekiguchi, da campanha de Energia do Greenpeace
Japão.
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