Deputado Átila Lira (PSB/PI), presidente da Comissão, ouve fala de convidado (© Alan Azevedo / Greenpeace)
A exploração do gás de folhelho, mais conhecido no Brasil
como gás de xisto, voltou a ser debatida na Câmara dos Deputados após
dois anos. A Comissão do Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável
discutiu ontem (2) o Projeto de Lei (PL) 6904, de autoria do deputado
Sarney Filho (PV/MA), que suspende as autorizações desse tipo de
operação pelo período de cinco anos.
Foram convidados para o debate representantes do Ministério
de Minas e Energia (MME), da Agência Nacional de Petróleo (ANP), do
meio acadêmico e da sociedade civil, que analisaram a moratória de
diversos pontos de vista.
A técnica de extração de gás não convencional – como é o
gás de xisto – é o fraturamento hidráulico com perfuração horizontal,
chamado de fracking. Trata-se de um processo onde se insere água com
componentes químicos, alguns cancerígenos, no subsolo para literalmente
quebrar rochas sedimentares, que liberam gás e óleo.
“São mais de 600 fluídos químicos injetados no subsolo,
entre eles produtos tóxicos e radioativos. E boa parte dessa água não
volta a superfície, contaminando o solo e o lençol freático”, explicou o
engenheiro Juliano Araújo, coordenador da Coalização Não-Fracking
Brasil. Um poço precisa, em média, de 15 milhões de litros d’água.
A representante do MME, Symone Santana, por sua vez,
defendeu a fonte. “O que nós temos que discutir aqui é a importância
dessa energia para o País”, disse ela, garantindo que o governo está
extremamente preocupado em garantir a extração desse recurso com nível
de responsabilidade social e ambiental tal como é definido em nossa
Constituição.
Para Silvio Jablonski, chefe de gabinete da ANP, o
fraturamento hidráulico só aconteceria mesmo daqui a cinco anos, quando
acabar o período de pesquisa geológica.
Autor da proposta, o deputado Sarney Filho disse após o
debate não ter sido convencido de que o gás de folhelho seria positivo
para o País. “O melhor para o Brasil seria uma moratória ainda maior, de
cinco para dez anos”, afirmou o parlamentar.
Gás de xisto e mudanças climáticas
Jablonski também lembrou da política global de redução de
emissão de gases de efeito estufa a partir do investimento em fontes
alternativas e sustentáveis, que não contribuam para o aquecimento
global. “13% da matriz energética do mundo é renovável. Espera-se que em
2050 esse número chegue a 40%. Hoje o Brasil tem 44% de sua matriz
renovável. Então temos um espaço razoável [em termos de emissão] para
trazer esses recursos [gerados com a exploração do gás de xisto] para
educação e saúde. Vamos levar adiante o projeto de xisto”.
“Essa premissa é falsa”, contesta Thiago Almeida, da
campanha de Clima e Energia do Greenpeace. “A extração de gás de xisto
resulta na emissão de metano e dióxido de carbono, ambos gases que
agravam o aquecimento global. Também temos que considerar que essa
parcela de renováveis na matriz energética brasileira leva em conta as
grandes hidrelétricas, que embora sejam renováveis não são sustentáveis e
geram enormes impactos socioambientais”, defende ele.
Outra importante questão a ser considerada é a crise
hídrica que o Brasil enfrenta. Enquanto diversas cidades presenciam
escassez de água, os blocos de exploração estão localizados sobre
importantes aquíferos como o Guarani, Bauru, São Francisco, entre
outros. O fracking representa uma séria ameaça ao fornecimento de água,
razão pela qual tanto no Paraná quanto na Bahia, a exploração dos blocos
licitados na 12ª Rodada de Licitações de Petróleo e Gás, de 2013, está
suspensa pela justiça após atuação do Ministério Público Federal (MPF).
“O Brasil não pode se dar ao luxo de arriscar contaminar
esses aquíferos Para além da ameaça à saúde das pessoas, a concorrência
pela água afeta a quantidade de água disponível para consumo humano e
produção de alimentos”, explica Almeida.
As
energias renováveis crescem e ganham cada dia mais espaço no cenário
internacional, segundo o relatório REN21 as energias renováveis bateram
recorde de instalação no mundo em 2014.O Brasil tem um potencial de
energia solar e eólica de dar inveja e, no entanto, ainda engatinha no
incentivo às fontes renováveis e sustentáveis. Se o País for capaz de
aproveitar sua capacidade de gerar energia alternativa, pode se tornar
um referência mundial na matéria. E nesse momento, ninguém mais vai
lembrar o que é xisto.
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