Com dados obtidos junto ao MTE, pela Lei de Acesso à Informação,
jornalista Leonardo Sakamoto disponibiliza lista suja alternativa. Lista
oficial continua bloqueada pelo STF
Em setembro do ano passado 31 trabalhadores que atuavam em condição
análoga a da escravidão foram resgatados em uma carvoaria na região de
Rondon do Pará, a 150 km de Marabá. (Divulgação MPT/AM)
No final do ano passado, em pleno recesso de Natal, o ministro Ricardo Lewandovski emitiu uma decisão liminar que suspendeu da publicação da Lista Suja do Trabalho Escravo,
do Ministério do Trabalho e Emprego (MTE). O documento, utilizado por
empresas e pela sociedade para excluir fornecedores que usufruem de mão
de obra escrava, segue bloqueado até agora. Mas nesta sexta-feira (6), o
jornalista Leonardo Sakamoto publicou uma lista alternativa, com base em dados obtidos através da Lei de Acesso à Informação.
A Lista Suja do Trabalho Escravo é uma ferramenta essencial para o
cumprimento de acordos de mercado que garantem não apenas o respeito à
vida, mas também a preservação da floresta em pé, como o Compromisso
Público da Pecuária e a Moratória da Soja. A lista alternativa, apesar
de não ser oficial, poderá ser usada agora como uma opção de referência
para que as empresas possam continuar evitando o envolvimento com tais
práticas.
O jornalista Leonardo Sakamoto, colaborador da ONG Repórter Brasil,
pediu ao MTE, com base na lei 12.527/2012, que obriga o governo a
fornecer informações públicas, todos os dados sobre empregadores
autuados em decorrência do uso de mão de obra em condição análoga a
de escravo e que tiveram decisão administrativa final, entre dezembro de
2012 e dezembro de 2014. O resultado foi o conteúdo mais próximo o
possível do que seria a Lista Suja oficial do MTE.
“Não seria possível pedir o conteúdo exato porque a decisão do
ministro Lewandowski, atendendo à Ação Direta de Inconstitucionalidade
movida pela Abrainc (ADI 5209), exigiu a suspensão da eficácia
das portarias que criaram e mantêm a lista. A questão, portanto, não é
apenas de divulgação, mas da existência do próprio cadastro”, esclareceu
Sakamoto em seu blog.
A lista alternativa possui 404 nomes de empregadores, pessoas física e
jurídica, autuados pelo uso de trabalho escravo, com decisão
administrativa final. Entre o setores produtivos que constam no material
estão o têxtil, a construção civil e a pecuária – que na última lista
oficial correspondia por 40% dos nomes.
A Lista Suja do Trabalho Escravo é uma iniciativa reconhecida
internacionalmente, por seu papel no combate a este tipo de relação
abusiva de trabalho. Atualmente, mais de 400 empresas de diversos
setores utilizam a ferramenta para cumprir o Pacto Nacional pela Erradicação do Trabalho Escravo.
Da mesma maneira, as empresas que assinaram o Compromisso Público da Pecuária e a Moratória da Soja,
que inclui as maiores empresas de soja e carne do mundo, utilizam o
cadastro do MTE diariamente antes de aprovar as compras junto aos seus
fornecedores, para manter este ilícito social longe de suas cadeias
produtivas, assim como Bancos e outras instituições financeiras.
O Supremo Tribunal Federal já retornou do recesso, mas a liminar que
garantiu o bloqueio da Lista continua válida, expondo todo o mercado ao
problema.
O documento não obrigava ninguém a deixar de comprar de fornecedores
escravocratas, mas garantia a liberdade para que escolhêssemos não
compactuar com a escravidão. Sua suspensão torna a todos nós um pouco
escravos.
A lista elaborada pelo jornalista Leonardo Sakamoto segue os mesmos
critérios estipulados pela lista oficial, portanto, pode servir como
fonte de consulta , pelo menos até que o STF recupere o “juízo” e
derrube a liminar.
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