Apesar das inúmeras denúncias, a madeira ilegal continua ameaçando o povo Awá, um dos mais vulneráveis do mundo
Os Awá durante documentação do Greenpeace em 2013 ( ©Greenpeace/Eliza Capai)
“Sem a natureza, sem a mata também, nós acaba” diz Tiparajá, índio
Awá, em reportagem do programa Fantástico, da TV Globo, veiculada no
último domingo. A Terra Indígena Awá que sofre com a invasão de
madeireiros, perdeu 35% de seu território apenas entre 2010 a 2013,
colocando o povo Awá, um dos mais vulneráveis do mundo, sob constante
ameaça.
Esse povo nômade, de cerca de 400 pessoas, com alguns membros vivendo
isolados, está espalhado nas terras indígenas Alto Turiaçu, Awá, Caru e
Arariboia, no Maranhão, uma região que sofre há anos com a extração de
madeira ilegal, causando degradação e desmatamento.
A madeira ilegal persiste no Brasil também porque tem garantia de
venda, ou seja, consegue ser escoada para o Brasil e para o mundo como
se fosse legal. Desde maio de 2014 o Greenpeace vem mostrando na Campanha Chega de Madeira Ilegal
um esquema de lavagem de madeira que, somado à impunidade, serve como
um grande estímulo para a extração de madeira ilegal, pois permite que a
madeira retirada de forma predatória, invadindo áreas protegidas e
muitas vezes utilizando trabalho degradante, possa ser vendida com
documentação oficial, como se fosse legal.
O esquema consiste em uma série de fraudes que permitem inflar o
sistema eletrônico de controle de madeira com créditos oficiais. É nesse
sistema que ocorrem as transações de transporte e venda de madeira por
meio de créditos emitidos para áreas autorizadas. Mas, na realidade, os
créditos “extras” ou falsos acabam sendo utilizados para acobertar e dar
status de legalidade para a madeira retirada de áreas públicas sem
autorização, como unidades de conservação ou terras indígenas, causando
violência e ameaçando comunidades.
Enquanto o governo fecha os olhos para o problema, índios e
comunidades que tentam defender a floresta são os mais afetados por
isso. Já é comprovado que unidades de conservação e terras indígenas são
uma das formas mais eficientes de proteger a floresta, mas se elas
continuam sendo ameaçadas fica praticamente impossível impedir sua
destruição.
Segundo a reportagem, no local cerca de 500 árvores eram derrubadas
por dia e 173 serrarias já foram fechadas, mas ações pontuais
infelizmente não são suficientes para acabar com a madeira ilegal.
“Mesmo o esforço sendo grande para essas ações pontuais, elas não
resolvem o problema, é preciso fazer muito mais. É fundamental uma
reforma robusta no sistema de controle, não só no eletrônico, mas também
no sistema de fiscalização e monitoramento”, afirma Marina Lacôrte, da
Campanha da Amazônia do Greenpeace.
Em 2013 o Greenpeace esteve com os Awá para documentar e denunciar o problema,
que, no entanto, continua acontecendo diante da falta de vontade
política das autoridades para combater o caso. Nesse meio tempo, os Awá continuam vivendo sua eterna resistência.
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