Após denúncias do Greenpeace sobre extração e exportação de madeira
ilegal, Câmara organiza audiência aberta ao público para debater a
questão
À mesa, Bruno Valente, Procurador da República, Marcio Astrini,
coordenador da campanha de Amazônia do Greenpeace Brasil e o deputado
Átila Lira (PSB-PI), presidente da Comissão de Meio Ambiente (© Alan
Azevedo / Greenpeace)
Uma Audiência Pública sobre Desmatamento e Exploração Ilegal de
Madeira na Amazônia Legal foi realizada ontem, dia 24, no Congresso
Nacional, em Brasília, a partir de denúncias feitas pelo Greenpeace a
respeito de fraudes e falhas no sistema de controle madeireiro.
Tais fraudes permitem que a madeira ilegal - aquela retirada de forma
predatória, que destrói a floresta e ameaça os povos que vivem nela -
seja “lavada” e comercializada no Brasil e no exterior como se fosse
legal, inclusive utilizando documentos oficiais.
Marcio Astrini, coordenador de políticas públicas do Greenpeace, fez
parte da mesa de debates e expôs o trabalho de investigação realizado
pela organização, que revelou um vasto esquema de lavagem de madeira. Em
sua fala, Astrini chamou a atenção para as fragilidades do sistema e
seus pontos sensíveis. De acordo com ele, “os mecanismos de controle
madeireiro são absolutamente falhos. Tão falhos que eles acabam
alimentando os crimes que ocorrem dentro dos planos de manejo”, a partir
da utilização de créditos falsos que permitem a retirada de madeira de
áreas protegidas.
Veja aqui a investigação completa do Greenpeace: Chega de Madeira Ilegal
Para se ter uma ideia da dimensão do descontrole no setor, dados do
Imazon (Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia) mostram que a
exploração ilegal de madeira no estado do Pará e Mato Grosso, os dois
maiores produtores e exportadores de madeira nativa da Amazônia, foi de
80% e 54% respectivamente, entre agosto de 2011 e julho de 2012.
A exploração ilegal é atualmente um importante vetor de destruição
florestal, e essa madeira não fica só no Brasil. Países como Bélgica,
Canadá, Estados Unidos, Espanha e França são compradores de madeira
amazônica sem garantia de origem, já que os papéis não são nada
confiáveis. “Hoje, qualquer empresa que compra madeira da Amazônia não
consegue saber sua procedência; se foi retirada de uma unidade de
conservação, ou de uma terra indígena, por exemplo”, disse Astrini.
O Procurador do Ministério Público Federal Bruno Valente, que vem
trabalhando nesse tema, reconheceu durante sua fala que faltam
instrumentos para assegurar a origem da madeira e sua extração legal.
Ele reforçou que a atividade madeireira deve ser estratégica e realizada
da forma correta para gerar emprego e riqueza, sempre preservando a
biodiversidade. “Precisamos pensar em meios de combater essa ilegalidade
sem inviabilizar quem quer de fato manejar a floresta”, propôs o
Procurador.
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A questão da integração dos sistemas de controle estadual e federal
foi levantada por alguns dos representantes, uma vez que boa parte da
geração de créditos falsos ocorre por conta da falta de articulação e
entendimento entre esses sistemas.
“Se atacarmos o problema da origem do crédito florestal, vamos evitar
a criação de papéis para esquentar madeira”, disse Jair Schimitt,
coordenador geral de fiscalização do Ibama. Ele considera a
digitalização, a integração e a publicação dos dados florestais
ferramentas cruciais contra a atividade ilegal, criando um banco que
possibilite o acesso fácil à informação. “Assim todos, inclusive a
sociedade, podem fiscalizar”, afirmou ele.
A mesa foi composta também por representantes do Instituto Nacional
de Pesquisas Espaciais (Inpe), Secretaria do Meio Ambiente e
Sustentabilidade do Pará (SEMAS), Associação de Exportadores da Amazônia
(Aimex) e parlamentares como o presidente da Comissão de Meio
Ambient Átila Lira (PSB-PI), Arnaldo Jordy (PPS-PA), Julia Marinho
(PSC-PA), Ricardo Tripoli (PSDB-SP) e Edmislon Rodrigues (PSOL-PA).
Durante toda a audiência ficou clara a gravidade da situação e a
necessidade de ação imediata em defesa da floresta e das atividades
florestais, de grande importância para o Brasil, que tem em seu
território a maior floresta tropical do planeta. Como o Greenpeace vem
pedindo desde que lançou a campanha Chega de Madeira Ilegal, é preciso
que os governos estadual e federal parem de ignorar a destruição da
floresta e se unam para atacar a raiz do problema.
Desmatamento Zero no Congresso
Na manhã de hoje, dia 25, o Greenpeace participou do café da Frente
Parlamentar Ambientalista na Câmara dos Deputados, em Brasília, e teve
espaço para falar sobre a campanha do Desmatamento Zero.
“A idade da pedra não acabou por falta de pedra. E o desmatamento não
vai acabar por falta de árvore”, brincou Marcio Astrini, do Greenpeace,
em sua fala na mesa de debate. “Existe uma relação muito grande entre
água, energia e a manutenção das florestas. Esse ano temos que
aproveitar o momento para inflamar esse debate aqui na Casa”, alertou
ele ao parlamentares presentes.
Em contexto de crises, mas com o conhecimento cada vez maior da
população acerca desses problemas, fica cada vez mais fácil dizer em
alto e bom som que o desmatamento não pode ocorrer. “Isso vai criando
cada vez mais espaço para a gente apresentar iniciativas como essa, com
respaldo da sociedade”, completou Astrini.
No ano de 2010, o Greenpeace começou a campanha em parceria com
várias outras ONGs para a coleta de assinaturas de um Projeto de Lei
(PL) de iniciativa popular pelo desmatamento zero. Ao atingir 1,4 milhão
de assinaturas, o PL pode ser encaminhado ao Congresso Nacional para
apreciação dos deputados. Até o momento, já são mais de 1 milhão de
pessoas engajadas na causa. O Greenpeace e as ONGs parceiras continuam
coletando assinaturas para finalmente viabilizar o PL.
Clique aqui, assine você também e ajude a salvar a Amazônia.
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