Ministro Everton Lucero, Chefe da Divisão de Clima, Ozônio e Segurança Química do Ministério das Relações Exteriores (© Alan Azevedo / Greenpeace)
Aconteceu na manhã de hoje uma reunião no Palácio do Itamaraty convocada pelo ministério de Relações Exteriores para discutir a participação do Brasil na COP, Conferência de Mudanças Climáticas das Nações Unidas. O tema – “o que aconteceu em Lima e o que vai acontecer em Paris” – fazia referência à COP 20, última edição do evento realizada no Peru, e à próxima, a ser sediada no fim desse ano na França.
Há uma grande expectativa quanto a COP 21, onde os 194
países membros vão apresentar suas promessas de esforços para combater
as mudanças climáticas. Em dezembro do ano passado o IPCC, painel
climático da ONU, cravou categoricamente que as mudanças no clima
ocorrem por culpa das ações humanas e que a meta global deveria ser um
aumento máximo de 2ºC na temperatura do globo. Do contrário, será grande
o risco de encarar consequências climáticas catastróficas para o
planeta, onde os mais pobres, como os países em desenvolvimento, serão
afetados.
No entanto, a gravidade do alerta dos cientistas não está
sendo capaz de mover os países na velocidade necessária. A se julgar
pelo que disse o ministro Everton Lucero, Chefe da Divisão de Clima,
Ozônio e Segurança Química do Ministério das Relações Exteriores, o
Brasil não pretende assumir compromissos ousados. Para o governo, o País
já fez o que deveria para contribuir pela mitigação do aquecimento
global, principalmente graças ao reconhecimento internacional no combate
ao desmatamento. Segundo o ministro, agora cabe aos outros países
apresentarem seus planos.
Mas não é assim. Hoje o Brasil ainda convive com a
inaceitável taxa de mais de 5 mil quilômetros de desmatamento por ano.
Mais do que metas para a ONU, acabar com o desmatamento das florestas
nacionais significa não apenas uma contribuição para o clima, mas a
oportunidade de gerar uma nova economia florestal e assegurar os
serviços hídricos que a floresta presta para toda a região sulamericana –
principalmente para as regiões Sul, Sudeste e Centro-Oeste do Brasil,
que enfrentam hoje uma crise histórica no abastecimento de água.
Há também de se considerar que as emissões brasileiras em
geração de energia caminham a passos largos para um cenário cada vez
pior. Além de não garantir a segurança energética necessária para o
desenvolvimento do País, a insistência do governo em investir em fontes
de grandes impactos ambientais, como as hidrelétricas, e sujar a matriz
com usinas térmicas, coloca o setor como um dos grandes responsáveis no
aumento de emissões de gás efeito estufa.
“Paris não vai resolver todos os problemas do clima. Mas é
importante que países como o Brasil cheguem lá apresentando metas
ambiciosas, encorajando e cobrando que outros façam o mesmo”, comenta
Márcio Astrini, de Políticas Públicas do Greenpeace. Para ele,
“diversificar e limpar nossa matriz energética, apostando principalmente
em energia solar, e acabar com o desmatamento da Amazônia, não deve ser
encarado como um sacrifício, e sim como uma oportunidade para o País” –
o que também trará diversos ganhos no combate ao aquecimento global.
Lição de casa
As consultas públicas do ministério de Relações Exteriores
são de praxe, e devem continuar acontecendo na agenda para os
preparativos da participação brasileira na COP 21 de Paris.
Em meados de abril o Itamaraty deve divulgar o texto base
para o INDC brasileiro, que é o relatório de compromissos que cada país
deve entregar à ONU até outubro. O documento, que segundo o ministro
Lucero será público, deve ser distribuído aos ministérios envolvidos na
discussão de clima, como o do Meio Ambiente e o de Minas e Energia. O
texto, em seguida, volta com as avaliações de cada área e vai para a
presidente Dilma decidir a versão final. O prazo da ONU para receber o
INDC é o primeiro dia de outubro.
“Agora é hora de pressionar ainda mais o governo para que o pacote de
promessas enviado pelo Brasil seja ambicioso, refletindo o que podemos e
devemos fazer pelo clima: compromisso com o desmatamento zero e uma
matriz energética baseada em novas energias renováveis. Isso podemos e
devemos fazer pelo País e pelo clima mundial”, pontua Astrini.
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