Em reforma administrativa, governo do Amazonas extingue Centro Estadual
de Unidades de Conservação, deixando vulneráveis 19 milhões de hectares
protegidos pelo estado. Secretaria de Meio Ambiente teve corte de 47% em
seu orçamento
Os efeitos nocivos da destruição do meio ambiente nunca estiveram tão
claros na rotina dos brasileiros como agora, com a atual crise hídrica e
energética que afeta o País. A ciência vem comprovando que as florestas
tropicais são fundamentais para a manutenção dos sistemas de chuva que
abastecem represas e reservatórios de água. Mas mesmo em um momento tão
crítico, a insensatez da política não cansa de nos surpreender: em uma
reforma administrativa, o governo do Amazonas, que possui a maior área
preservada de floresta Amazônica do continente, fragilizou secretarias
estratégicas para o tema e extinguiu dois órgãos estaduais responsáveis
pela gestão ambiental.
As reformas, que foram enviadas pelo governo e aprovadas em votação
relâmpago na Assembleia Legislativa do Estado na última quinta-feira
(5), contradizem o compromisso assumido pelo atual governador, José Melo
(PROS), que no período de campanha eleitoral se comprometeu com o coletivo Ficha Verde
a promover a governança, a preservação da floresta e o desenvolvimento
sustentável na região. Metas que estão em total oposição com as decisões
tomadas neste início de governo.
“De acordo com Melo, o corte de verbas direcionadas a gestão
ambiental e a extinção secretarias estratégicas, como a de ciência e
tecnologia, ajudarão o estado a economizar dinheiro. Mas é uma economia
pouco inteligente, a medida que não considera os prejuízos ambientais
que a reforma pode causar não só ao estado, mas para todo o Brasil”,
pondera Rômulo Batista, da campanha Amazônia do Greenpeace.
Um dos órgãos extintos, o Centro Estadual de Unidades de Conservação
(CEUC), atuava diretamente na demarcação e gestão das 42 áreas estaduais
de proteção ambiental e desenvolvimento sustentável existentes no
Amazonas. De 2003 a 2009, a instituição, sozinha, foi responsável pela
demarcação de 16,5% de todas as unidades de conservação (UC)
identificadas e reconhecidas no mundo no período, uma área de 11,6
milhões de hectares de floresta, segundo relatório do Programa de Áreas
Protegidas da Amazônia (ARPA).
A criação de UCs é comprovadamente uma das ferramentas mais eficazes
de conservação florestal e combate ao desmatamento. Mas sem a gestão,
estas importantes reservas não atingem seus objetivos de desenvolvimento
sustentável, ficando vulneráveis a ações criminosas, como a grilagem de
terra e a exploração ilegal de madeira.
“Depois de anos liderando a agenda ambiental na Amazônia brasileira,
criando UC’s, realizando inventários biológicos que levaram a descrição
de novas espécies, o estado do Amazonas infelizmente perde sua posição
de vanguarda, deixando vulneráveis suas UC’s e quase 15 mil famílias que
lá vivem”, afirma Batista.
O Centro Estadual de Mudanças Climáticas (CECLIMA) também foi
considerado descartável pelo governador. O órgão estadual foi criado em
2007, com a finalidade de propor políticas públicas de combate,
mitigação e adaptação às mudanças climáticas, o primeiro do gênero no
País.
Em sua reforma, Melo extinguiu, ainda, a Secretaria de Ciência,
Tecnologia e Inovação (Secti) e reduziu em 30% o já deficiente quadro de
funcionários da Secretaria Estadual de Meio Ambiente e Desenvolvimento
Sustentável (SDS), que também amargou um corte de 47% em seu orçamento
para este ano, na comparação com 2014.
A floresta paga a conta
Graças a uma política à frente de seu tempo, o Amazonas vinha
garantindo a preservação da maior área de Floresta Amazônica intacta do
continente, mais de 145 milhões de hectares preservados, graças à
criação de Unidades de Conservação (UCs), muitas delas estaduais. Mas
reformas como esta colocam o atual governo na contramão da preservação
ambiental e em um momento especialmente complicado.
A região sul do Amazonas vem sendo pressionada pelo arco do
desmatamento, uma espécie de cinturão de destruição, que vai do Acre até
o Maranhão, cortando o Brasil ao meio, promovido pela expansão do
agronegócio e pela exploração ilegal de madeira na Amazônia. A escalada
da violência nesta região de fronteira, entre o Amazonas e o Acre, é
extremamente crítica.
“O desmatamento na Amazônia vem acompanhado da violência contra os
povos da florestas. Além disso, o uso de fogo no preparo da terra para
atividades agropecuárias contribui para as mudanças climáticas”,
esclarece Rômulo Batista.
Enquanto a luta é para que o governo federal e outros estados
melhorem a governança sobre a Amazônia, o governador do Amazonas, José
Melo, acaba de retroceder anos na corrida contra as mudanças climáticas e
pelo desenvolvimento sustentável na floresta. Com esta atitude, Melo
enfraquece a proteção de 19 milhões de hectares de florestas e deixa o
estado mais frágil ao avanço do desmatamento.
A única maneira de garantirmos a proteção integral das florestas
brasileiras, independente de destemperos políticos, é com o fim imediato
do desmatamento, como regra. Mais de 1 milhão de brasileiros já
declararam apoio ao projeto de lei pelo desmatamento zero, promovido
pelo Greenpeace que visa proteger as florestas remanescentes.
Assine pela lei do Desmatamento Zero e compartilhe esta ideia.
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