A falta de autorização final do governo dos EUA faz Shell adiar início
de exploração no Ártico, que estava programada para amanhã; se licença
sair, operação começa em 15 dias
Dois ativistas do Greenpeace Canadá colocaram seus corpos em frente ao
percurso da plataforma Polar Pioneer, que acelerou para cima dos
nadadores. Essa foto foi feita após a tentativa de bloqueio. (©
Greenpeace / Keri Coles)
A Shell chegará ao Ártico mesmo sem as permissões finais do governo do
Estados Unidos que legalizariam de fato a exploração de petróleo na
região. Segundo os planos da empresa, as operações começariam amanhã,
dia 1º de julho, mas agora a Shell deve aguardar parecer do governo
norte americano.
No início de maio, a administração do presidente
Obama aprovou os novos planos da petrolífera – pedidos anteriores foram
negados – de operar nas águas do Alasca, mais precisamente no Mar de
Chukchi, que faz parte da região ártica. Entretanto, a Shell ainda
precisa da permissão do Escritório de Segurança Ambiental dos Estados
Unidos e mesmo assim já tem sua plataforma Polar Pioneer saindo de sua
última parada, nas Ilhas Aleutas, rumo ao Ártico.
Os artistas britânicos KennardPhillipps criaram uma nova versão da
pintura "Um Verão no Ártico", de William Bradford. (© KennardPhillipps /
Greenpeace)
“A assessoria da Shell diz que isso é rotina, mas na verdade é mais uma
tática para pressionar os órgãos federais a assinarem essas últimas
permissões”, explica Thiago Almeida, da campanha de Clima e Energia do
Greenpeace. Se as autorizações forem concedidas, a Shell estará livre
para perfurar o fundo do Oceano Ártico a partir de 15 de julho.
Os
planos da gigante do petróleo são concretos. Outra embarcação, a Noble
Discoverer, está pronta para zarpar do porto de Everett, no estado de
Washington (EUA), para o Mar de Chukchi.
O Ártico é um dos biomas
mais ricos do mundo, e também um dos mais ameaçados. Um derramamento de
petróleo na região, que desempenha o importante papel de refletir parte
da irradiação do Sol de volta para a atmosfera, colocará em xeque o
equilíbrio climático global.
Mas pra quê isso, Shell?
Oitenta
e três bilhões de barris. Essa é a quantia estimada de petróleo
apresentada pela Agência Geológica Americana em 2008. Mas oitenta e três
bilhões de barris de petróleo na verdade não é tudo isso que parece.
Vista aérea do navio Arctic Sunrise, do Greenpeace, em expedição no Ártico. (© Nick Cobbing / Greenpeace)
“Essa quantia seria suficiente para satisfazer a demanda mundial por
apenas três anos em nosso nível atual de consumo”, defende Almeida.
“Levando em conta a dificuldade de operar na região, é um investimento
muito controverso mesmo para os acionistas da Shell”.
Um
histórico de acidentes e incerteza marca a história da Shell com o
Ártico. Em 2012, as condições climáticas impediram que a empresa
operasse no norte do Alaska. Com a chegada do verão, a Shell não
conseguiu instalar nenhum poço de petróleo, mesmo com duas plataformas a
mais e outra dúzia de navios.
Em dezembro do mesmo ano, a Shell
perdeu o controle de sua plataforma de perfuração durante uma
tempestade. A embarcação foi jogada contra as pedras e destruída. A
solução foi rebocar a carcaça por mais de 5 mil quilômetros, uma vez que
a região do Alasca não tem infraestrutura e nem pessoas autorizadas
para lidar com esse tipo de emergência.
A outra plataforma de
petróleo que zarpa rumo ao Ártico, a Noble Discoverer, é uma das mais
antigas do mundo. Em dezembro de 2014, a empresa Noble Drilling,
terceirizada da Shell para operar no Ártico, foi acusada e condenada de
oito crimes relacionados com as tentativas anteriores da Shell de
explorar petróleo no Ártico, em 2012.
Em uma análise ambiental do
próprio governo Obama, que aceitou em primeiro lugar o pedido da Shell,
foi prevista uma chance de 75% de um vazamento em larga escala no
Ártico. Nesse caso, o acidente seria devastador ao ambiente, com um
agravante: o óleo se degrada muito lentamente em águas geladas – até
hoje podemos encontrar vestígios do vazamento do Exxon Valdez, no
Alasca, em 1989.
Cerca de 500 caiaques bloquearam a saída da plataforma Polar Pioneer do
porto de Seattle no dia 16 de maio de 2015. (© N. Scott Trimble /
Greenpeace)
Petróleo do Ártico custaria o triplo
A Shell gastou a impressionante marca de 7 bilhões de dólares em mais de cinco anos tentando explorar a região ártica.
Michael
Byres, do Departamento de Políticas Globais e Leis Internacionais da
Universidade da Columbia Britânica (Canadá), explica que a logística de
colocar o petróleo do Ártico no mercado é extremamente difícil, o que
pode fazer o preço da barril dobrar ou triplicar
“Seriam
necessários tanques especiais e muito tempo para o transporte,
considerando a distância, as regiões congeladas, a escuridão, o clima
duro e uma limitada infraestrutura na costa do Alasca”. No final, os
gastos da empresa seriam enormes, resultando, segundo Byres, no aumento
do valor final do produto. “Os investidores deveriam anotar isso”,
completa ele.
Mais um protesto de vários contra a Shell
Para protestar contra a exploração de petróleo no Ártico, ativistas do
Greenpeace bloquearam postos de gasolina da Shell em Zurique, na Suíça.
(© Daniel Larizza / Greenpeace)
Após mais de 500 ativistas sobre caiaques bloquearem a saída da
plataforma da Shell Polar Pioneer do porto de Seattle, nos Estados
Unidos, foi a vez de 80 ativistas do Greenpeace, vindos de várias partes
da Europa, bloquearem todos os postos de gasolina da Shell na cidade de
Zurique, capital da Suíça.
Não são poucos os argumentos
racionais contra os planos da Shell. Por isso precisamos agir mais e
mais. Esses dois são apenas um exemplo de uma série de protestos
realizados por mais de 7 milhões de pessoas ao redor do mundo. São as
pessoas contra a Shell – cada uma somando sua voz pela defesa de um dos
ecossistemas mais ricos do planeta. Assine você também a petição; Salve o Ártico!
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