Eduardo Braga, ministro de Minas e Energia, confunde a população ao
dizer que está estabelecendo diálogo com os povos tradicionais que serão
afetados caso as hidrelétricas no rio Tapajós sejam construídas
Aldeia Sawré Muybu, do povo Munduruku, que corre o risco de ser alagada
caso a hidrelétrica de São Luiz do Tapajós seja construída
(©Greenpeace/Fábio Nascimento)
Em entrevista à Reuters Brasil, no dia 9 de junho, o presidente da
Empresa de Pesquisa Energética (EPE), Mauricio Tolmasquim, disse que o
leilão da usina de São Luiz do Tapajós poderá ficar apenas para 2016
devido à resistência do povo Munduruku ao empreendimento,
indelicadamente chamada de "problema indígena” por Tolmasquim.
Ainda que de forma inadequada, Tolmasquim reconheceu que a questão – e
não o “problema” – indígena não pode ser tratada como mera formalidade e
terá que ser levada em conta no processo de licenciamento do
empreendimento.
O leilão já havia sido programado para o fim de 2014, mas em seguida
suspenso após pressão do povo Munduruku. A resistência desse povo a um
projeto que vai afetar brutalmente o rio do qual eles dependem para
sobreviver está ancorada na busca legítima pelo cumprimento de seus
direitos. O Brasil é signatário da Convenção 169 da OIT (Organização
Internacional do Trabalho), que prevê a consulta prévia, livre e
informada aos povos tradicionais sujeitos a impactos de grandes
empreendimentos.
A luta é para evitar que aconteça no Tapajós o mesmo que ocorreu no
rio Xingu, no caso de Belo Monte, onde o governo viabilizou a construção
da obra sem realizar a consulta prévia, ou seja, violando os direitos
indígenas garantidos na Constituição.
Na mesma semana, apenas dois dias depois da declaração do presidente da EPE, o ministro de Minas e Energia, Eduardo Braga, deu uma entrevista à Agência Brasil
afirmando que a licitação da construção da hidrelétrica de São Luiz do
Tapajós poderá entrar em um novo pacote de leilões para o setor
elétrico, que será lançado em agosto, e que anunciará os planos de
investimento no setor. Assim ele passou o recado de que o leilão da
hidrelétrica do Tapajós continua na pauta.
Na mesma entrevista ele afirmou que o Ministério de Minas e Energia
(MME) está trabalhando para que o “diálogo e a construção de uma
política de compensações ambientais e sociais” possam acontecer, dessa
vez, de forma diferente de Belo Monte. No entanto, não é isso que as
ações, na prática, vêm mostrando.
No caso do Tapajós, sem constrangimento algum, o ministro tem
ignorado a decisão do Superior Tribunal de Justiça, que impossibilita a
emissão da Licença Prévia da obra sem que antes a União realize o
processo de Consulta Livre, Prévia e Informada ao povo Munduruku.
Em fevereiro desse ano, por exemplo, os Munduruku foram a Brasília e
entregaram ao ministro da Secretaria Geral da Presidência da República
um Protocolo de Consulta
onde detalharam como e onde querem ser consultados. Até hoje aguardam
uma resposta, ou seja, parece que por ali não há diálogo, ao contrário
do que afirma o ministro.
Além disso, vale relembrar o lamentável episódio ocorrido durante
audiência pública realizada no dia 15 de abril na Comissão de Minas e
Energia, onde Eduardo Braga disse aos deputados federais que o
Ministério de Minas e Energia tinha boas relações com os Munduruku,
apenas para ser desmentido, no dia seguinte, pelas principais lideranças
do povo Munduruku, em carta aberta à sociedade brasileira.
Se considerarmos os fatos recentes, fica evidente que o discurso do
ministro está descolado da realidade. Em vez de jogar com as palavras,
ele deveria chamar os Munduruku para um diálogo sério e verdadeiro,
respeitando a forma como esse povo decidiu ser consultado.
Independentemente de o governo reconhecer que no Tapajós há a necessidade de mudar o modus operandi
adotado no licenciamento de Belo Monte, a obra continua sendo um erro
para o desenvolvimento e a conservação da Amazônia, dado o gigantismo de
seus impactos sociais e ambientais, que serão aprofundados com o
licenciamento de hidrelétricas para o rio Tapajós.
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