Levantamento publicado hoje pelo Instituto Socioambiental aponta que
ainda há muitas pendências socioambientais a serem resolvidas antes do
Ibama poder emitir a Licença da Operação da usina
Obra da construção da hidrelétrica de Belo Monte, no rio Xingu, Pará (©Greenpeace/Fábio Nascimento)
Em fevereiro de 2015, a Norte Energia, empresa responsável pela usina
hidrelétrica de Belo Monte, que está sendo construída no rio Xingu, em
Altamira, no Pará, pediu ao Ibama a emissão da última licença ambiental
da obra. Chamada de Licença de Operação, ela permitiria o enchimento do
reservatório da hidrelétrica.
No entanto, enquanto mais de 70% das obras já foram concluídas, as
medidas condicionantes que mitigam os inúmeros impactos socioambientais
causados pelo empreendimento foram apenas parcialmente atendidas. Para
alertar a população brasileira sobre esse desrespeito com os direitos
das pessoas que habitam a região, um levantamento batizado de “Dossiê
Belo Monte – Não há condições para a Licença de Operação”, publicado
hoje pelo Instituto Socioambiental (ISA) aponta sérias consequências
resultantes do não cumprimento das condicionantes. O estudo mostra que
ainda há muito a ser resolvido antes de se permitir o enchimento do
reservatório.
O documento apresenta uma síntese dos principais erros e omissões,
tanto da Norte Energia (empresa responsável pela hidrelétrica) como do
governo federal na condução das obrigações socioambientais relacionadas a
Belo Monte. Também faz um alerta de que se a licença for emitida sem o
atendimento satisfatório de todas as condições não haverá nova
oportunidade para exigir-se a resolução dos problemas causados pelo
empreendimento.
Desrespeito
Entre as denúncias presentes no relatório estão o aumento da
exploração ilegal de madeira, a inviabilização do modo de vida
ribeirinho e indígena, a destruição da atividade pesqueira da região e
um atropelado do processo de reassentamento compulsório de populações
urbanas e rurais, com projetos de assentamento sendo implementados
distantes do rio, impedindo que as famílias continuem a exercer a pesca,
sua principal atividade.
A ameaça às terras indígenas, fruto da pressão causada pelo aumento
populacional da região, é uma das graves consequências da obra. Segundo o
ISA, a Terra Indígena Cachoeira Seca, por exemplo, localizada na área
de impacto de Belo Monte, foi, em 2013, a mais desmatada do Brasil. Os
indicadores de saúde indígena também são alarmantes. Ainda segundo o
ISA, a taxa de mortalidade infantil indígena da região, que já era alta,
cresceu 127%, só entre 2010 e 2012.
Em suma, o documento descreve a ineficácia, ao longo dos últimos
cinco anos, das ações executadas para prevenir ou diminuir os impactos
causados aos povos tradicionais e à própria população urbana local e
relembra que o governo federal tem utilizado um mecanismo judicial da
época da ditadura – chamado Suspensão de Segurança – para derrubar as
ordens judiciais que pedem a paralisação da obra diante dos absurdos que
estão sendo cometidos na região.
Próximo alvo: Tapajós
Foi passando por cima dos direitos das populações tradicionais à
consulta prévia, livre e informada, prevista na Convenção 169 da OIT, da
qual o Brasil é signatário, que o governo federal impôs a construção de
Belo Monte. Isso, e mais todos os problemas citados nesse texto, pode
se repetir na próxima barragem que o governo quer construir, dessa vez
no rio Tapajós, onde vivem mais de 12 mil índios Munduruku. Não é justo.
Vamos lutar para que a Amazônia e seus povos possam ter sua vida
respeitada.
“Permitir a repetição do que aconteceu em Belo Monte no rio Tapajós é
flertar perigosamente com uma prática política totalitária que
relativiza os direitos e garantias fundamentais previstos na
Constituição brasileira”, conclui Danicley de Aguiar, da Campanha da
Amazônia do Greenpeace.
No comments:
Post a Comment
Note: Only a member of this blog may post a comment.