Com o enfraquecimento da PEC 215, ruralistas aceleram aprovação do PL de
extração de recursos minerais em territórios indígenas, que tramita em
regime de prioridade
Deputado Índio da Costa (PSB/RJ), presidente da Comissão Especial que analisará o PL 1610 (© Alan Azevedo / Greenpeace)
Foi reinstalada ontem (16) uma Comissão Especial na Câmara dos
Deputados para proferir parecer ao Projeto de Lei (PL) 1610/1996, que
dispõe sobre a exploração e o aproveitamento de recursos minerais em
terras indígenas. O presidente eleito da Comissão Especial é o deputado
Indio da Costa (PSB/RJ) e o relator continua sendo o deputado Édio Lopes
(PMDB/RR).
Criada pelo senador Romero Jucá (PMDB-RR), o PL é um texto que vem do
Senado Federal para aprovação da Câmara dos Deputados, que o analisa
desde 1996. O projeto já passou por diversas Comissões, como a de Minas e
Energia e a de Meio Ambiente. No entanto, pareceres contrários
travaram sua aprovação e arrastaram o processo até os dias de hoje.
Agora o texto tramita em regime de prioridade.
Segundo o presidente da mesa, a ideia é aprovar o texto que vem do
Senado, para ir direto à sanção presidencial. “O direito de exploração
mineral não quer dizer a obrigação [da exploração]. Não estamos
tirando nenhum direito dos índios, e sim ampliando. Os que quiserem
autorizar a exploração em suas terras, terão suas terras exploradas”,
afirmou Indio da Costa.
“Essa é uma grande falácia. Primeiro que o projeto de lei nunca
passou por consulta dos povos indígenas. Segundo que as populações
afetadas pela Usina de Belo Monte nunca autorizaram a construção da
hidrelétrica. Em Jirau, Santo Antônio, Tapajós e tantos outros projetos,
também não. Como ele pode afirmar isso?”, defende Danicley de Aguiar,
da campanha de Amazônia do Greenpeace Brasil.
O PL 1610 é mais um ataque ruralista aos direitos dos povos
indígenas, assim como é a Proposta de Emenda Constitucional (PEC) 215,
que quer passar o poder de demarcar terras indígenas, quilombolas e
unidades de conservação do Poder Executivo para o Legislativo.
Enfrentando crescente resistência, a PEC 215 foi negada pelo Senado, que já se posicionou contra a proposta.
“Os ruralistas atacam em diferentes frentes, e agora têm pressa para
aprovar esse projeto de lei totalmente inadequado. As terras indígenas
são Áreas de Proteção, e não de mineração”, argumenta Aguiar.
Deborah Duprat, vice procuradora geral da República, já foi
consultada pela Câmara em 2012 sobre o PL. Ela exigiu atenção: “o Brasil
é signatário de vários documentos internacionais que determinam
inúmeras cautelas em relação aos povos indígenas e também aos povos
tribais. [...] A União não é gestora dos interesses apenas econômicos
deste Estado nacional; ela é gestora, também, de vários outros
interesses, como é a questão do pluralismo social, étnico e cultural da
sociedade brasileira. Então, a mineração sempre estará sujeita a esse
juízo de ponderação de interesses em cada caso concreto”.
Da mesma forma se manifestou o antropólogo Ricardo Verdum em
audiência pública no mesmo ano: “para a Associação Brasileira de
Antropologia e para o Instituto de Estudos Socioeconômicos, a elaboração
de uma regulamentação da mineração em terras indígenas só faz sentido
se desembocar num processo de consulta aos povos, suas organizações e
representações”.
A próxima reunião da Comissão irá ouvir o parecer do relator da
legislação passada, Édio Lopes – que continua como atual relator. O
presidente Indio da Costa disse que é possível o agendamento de
audiência spúblicas para debater a questão, mas o objetivo é aprovar o
texto o mais rápido possível.
No comments:
Post a Comment
Note: Only a member of this blog may post a comment.