Presidenta Dilma Rousseff e presidente norte-americano Barack Obama (©creative commons)
Dilma vive atualmente sua pior crise política. A mais
recente pesquisa de opinião pública revela que o governo brasileiro tem,
hoje, a segunda pior avaliação de sua história entre os eleitores. O
cenário econômico também vai mal: cortes de orçamento em Saúde e
Educação, inflação e preço dos alimentos aumentando, conta de luz nas
alturas. Nem o futebol se salva, muito pelo contrário.
Mas nem tudo está perdido. Há alguns assuntos nos quais
Dilma pode esbanjar categoria e fazer um gol de placa. Quase todos dizem
respeito ao que o Brasil pretende fazer com relação ao meio ambiente,
especialmente para combater as mudanças climáticas. Para ajudar nossa
presidenta, listamos algumas dicas que podem deixar Obama de queixo
caído.
Florestas
Temos a maior floresta tropical do planeta, mas que perde
uma área do tamanho de um campo de futebol por minuto para o
desmatamento. Além disso, na Amazônia a retirada de madeira acontece de
forma criminosa e descontrolada. No Cerrado, a coisa é ainda pior, mas
Dilma pode dar a resposta. Basta anunciar que o Brasil adotará uma política nova: o desmatamento zero.
Sem derrubar mais nenhuma árvore, o País poderia reduzir em
mais de 30% suas emissões de gases de efeito estufa, além de proteger
nossas fontes de água e biodiversidade. Não faltam evidências de que o
Brasil pode continuar expandindo a produção de alimentos sem desmatar
mais nada, e Dilma também poderia anunciar um pacote de investimentos em
logística em tecnologia para fortalecer isso.
Para lidar com o problema da madeira ilegal, Dilma também
poderia anunciar a reformulação do sistema de controle desse setor na
Amazônia e, o que agora opera quase que totalmente na ilegalidade,
produziria de forma saudável e manejada, com respeito à floresta. Ao
legalizar a produção, conseguiríamos aumentar a arrecadação de impostos,
possibilitando a melhoria de programas sociais, além de gerar mais
verbas para áreas como saúde e educação.
Com isso, diria Dilma, os americanos poderiam comprar
carne, couro e madeira do Brasil, pois além de preservar a floresta,
esses produtos ajudariam no desenvolvimento do País e na distribuição de
renda. Para mostrar que não está de brincadeira, a Presidenta também
pode levar para Obama uma cópia do Diário Oficial com as demarcações de
terras indígenas e unidades de conservação que estão há anos paradas nas
gavetas dos gabinetes de Brasília. Para coroar, Dilma garantiria que projetos que prejudicam as florestas e seus povos, como a PEC 215, seriam vetadas.
Energia
Dilma poderia convidar Obama a investir em energia solar
por aqui. Neste campo, aliás, Dilma poderia dar um show ambiental e
econômico e brilhar muito. A lógica é mais ou menos essa:
1. Estamos com um baita problema de geração de energia no
país. As usinas hidrelétricas estão com reservatórios secos e, com o
acionamento das usinas termoelétricas (mais caras), a conta de luz subiu
mais de 60%.
3. O Brasil é um dos países onde essa fonte de energia
ainda é pouco explorada, menos de 0,1% da energia do País é gerada por
solar.
4. O Brasil tem um dos maiores índice de irradiação solar.
Só para comparar, a Alemanha, líder mundial de geração de energia solar,
recebe 40% menos raios solares que o pior local do Brasil e mesmo assim
já tem 8,5 milhões de pessoas aproveitando o potencial do Sol para
gerar energia, contra cerca de 500 casas no Brasil.
Dilma pode anunciar a energia solar como um caminho para,
além de garantir luz na casa das pessoas, aliviar a conta no bolso do
cidadão. De quebra, ainda desativaríamos as caras e poluidoras térmicas.
Se todo o potencial teórico de energia solar nas
residências brasileiras fosse aproveitado, produziríamos eletricidade
suficiente para abastecer pouco mais de duas vezes o consumo residencial
atual. Esse aproveitamento também significaria a possibilidade de
geração de 6 milhões de novos postos de trabalho diretos e indiretos e,
de quebra, uma economia potencial de mais de R$95 bilhões ao ano. Como
cereja do bolo, a Presidenta também poderia garantir ao presidente
americano que irá liberar o uso do FGTS para as pessoas financiarem as
instalações. Dá-lhe, Dilma.
Para impressionar Barack Obama, Dilma ainda poderia
anunciar que o Brasil chegará à 2030 com um teto limite de emissões de
um bilhão de toneladas de gás carbônico por ano. Exemplo de ambição que
irá cobrar dos seus pares na convenção da COP 21 de Paris no final do
ano.
A receita não é difícil de seguir.
Tanto que, para facilitar ainda mais para a Presidenta, nesta sexta
(26/06) um grupo de 37 ONGs que compõem o Observatório do Clima lançou
estas propostas de forma bem explicada. Além de florestas e energia,
há ainda receitas para melhorar o transporte nas grandes cidades, que
rouba horas importantes da vida de todos nós e envenena o ar que
respiramos, e dicas para agricultura, entre outros. É só acessar aqui.
Assim, a Presidenta iria impressionar não apenas o Obama, mas certamente também receberia as bençãos do Papa Francisco,
que recentemente pediu ações urgentes pelo clima e pelos mais pobres.
Tudo isto está aí, no pacote que a Presidenta poderia anunciar ao Obama.
Agora é só correr para o abraço, Dilma!
*Márcio Astrini é coordenador de políticas públicas do Greenpeace Brasil
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