Desta vez, 70 organizações assinam manifesto que exige a retirada imediata de tramitação da proposta na Câmara dos Deputados
Deputada Érika Kokay (PT/DF) lê o manifesto no salão verde da Câmara,
acompanhada de outros deputados e lideranças indígenas (©Alan
Azevedo/Greenpeace)
Depois da maioria dos senadores ter se posicionado contra à Proposta
de Emenda Constitucional (PEC) 215, foi a vez da Câmara dos Deputados
receber um manifesto rejeitando a iniciativa. Desta vez, 70
instituições, entre organizações da sociedade civil e movimentos
sociais, entregaram uma moção de repúdio à proposta para deputados que
fazem parte das frentes parlamentares de Apoio aos Povos Indígenas, em
Defesa dos Direitos Humanos e Ambientalista.
O lançamento do Manifesto público contra a PEC 215
ocorreu nesta quinta-feira (11) no Salão Verde da Câmara, com a
participação de lideranças indígenas, representantes das entidades
signatárias e parlamentares ligados à causa. O documento é resultado da
Plenária “Ameaças aos direitos fundamentais e a PEC 215: democracia,
povos indígenas e meio ambiente”, realizada no dia 19 de maio em Brasília.
A exigência das 70 entidades que assinam o manifesto, entre elas o
Greenpeace, é a retirada imediata de tramitação da PEC 215 e das outras
iniciativas que objetivam suprimir ou regredir os direitos dos povos
indígenas, das comunidades quilombolas e o reconhecimento das unidades
de conservação.
As organizações signatárias entendem que a PEC irá paralisar
definitivamente os processos de regularização das áreas protegidas
fundamentais ao equilíbrio climático e à manutenção dos mananciais de
águas e outros serviços ambientais. “A proposta pode permitir a
liberação de grandes empreendimentos dentro dessas áreas protegidas,
tais como: hidroelétricas, mineração, agropecuária extensiva,
implantação de rodovias, hidrovias, portos e ferrovias”, informa o
manifesto.
Segundo a deputada Érika Kokay (PT-DF), que fez a leitura do
documento, essa moção de repúdio apresentada pelas instituições vem
complementar o manifesto articulado pela Comissão de Direitos Humanos do Senado, por meio do senador João Capiberibe (PSB/AP),
que conseguiu assinatura da maioria dos senadores. “É uma articulação
desse segmento do Congresso Nacional com a sociedade civil e povos
indígenas, que são construtores da sua própria liberdade e da sua
própria defesa de direitos que estão ameaçados neste momento pela
tramitação da PEC 215”, defendeu Érika Kokay, que é coordenadora da
Frente Parlamentar em Defesa dos Direitos Humanos.
Na avaliação do deputado Edmilson Rodrigues (PSOL-PA), que é um dos
integrantes da Comissão Especial que analisa a PEC 215, o manifesto é
mais um ato de luta contra a violência direcionada aos povos indígenas
que vem secularmente sendo agredidos. “Estamos na Comissão para fazer a
luta por dentro dela, deslegitimando-a. E temos obtido sucesso”,
destacou.
O parlamentar ressaltou ainda que há representantes do povo na Câmara
“que tratam o brasileiro como não tratam as patas do seu gado. São
capazes de acariciar seus cavalos de raça e beijar as patas de seus
bois, mas querem passar a motosserra na floresta e destruir 305 etnias
indígenas”.
Para a representante da Articulação dos Povos Indígenas do Brasil
(Apib), Pierlângela Wapichana, esse manifesto é prova de que muita gente
defende os povos indígenas no Brasil. “Nós resistimos, desde 1500, mas
não conseguiram acabar com a gente. Nós queremos sempre o diálogo e esse
manifesto diz ‘vamos dialogar’. Mas se não houver o diálogo, nós vamos
resistir na força”, avisou a indígena.
Para Danicley de Aguiar, da campanha de Amazônia do Greenpeace
Brasil, "além de um desrespeito com os direitos dos povos indígenas e
quilombolas do Brasil, a PEC 215 abriria espaço para que grandes áreas
de floresta que deveriam ser Terras Indígenas na Amazônia sejam
beneficiadas e juridicamente incorporadas ao agronegócio brasileiro".
Inconstitucionalidade
A PEC 215 também é considerada inconstitucional pelas organizações
que assinam o manifesto. Elas informam que a medida fere cláusulas
pétreas relacionadas com o princípio da separação dos poderes e a
consagração de direitos fundamentais dos povos indígenas, que enquanto
tais ostentam blindagem constitucional e respaldo na normativa
internacional.
“Mas vamos dizer não a essa adulteração da democracia nativa do
Brasil. E vamos ser realistas e otimistas”, defendeu o deputado Chico
Alencar (PSOL-RJ), que tem apoiado constantemente os povos indígenas e
organizações sociais na luta contra a PEC 215. Segundo o parlamentar, a
proposta está sendo conduzida sem o devido debate com os indígenas e a
sociedade, mas que a situação pode ser revertida. Ele destacou o apoio
dos 48 senadores que assinaram também um manifesto contra a PEC.
O deputado Paulo Pimenta (PT-RS) também compartilha da mesma opinião
ao considerar que a PEC 215 “é o maior retrocesso da história do Brasil,
pois coloca em risco direitos que foram conquistados”. Conforme o
parlamentar, a proposta tenta retirar do Poder Executivo a prerrogativa
constitucional, com a clara intenção de trancar no País qualquer avanço
socioambiental e de rever questões dos povos indígenas e quilombolas que
já estão consolidadas.
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