Um olhar de perto sobre as obras emergenciais que, sem transparência,
análise de impacto ou efetividade garantida, prometem acabar com a crise
hídrica
Ativista em local de obra por onde será bombeada água do sistema Rio Grande para o Alto Tietê. (Foto: Mídia NINJA)
O governo do estado de São Paulo está tentando superar uma crise
ambiental sem precedentes com obras que ignoram análises de impacto
ambiental. E não está dando certo.
Uma visita feita por
representantes da Aliança pela Água, Mídia NINJA, Volume Vivo e
Greenpeace a reservatórios de água dos sistemas Rio Grande e Alto Tietê,
alvos de uma das megaobras aprovadas pelo governador Geraldo Alckmin
para enfrentar a crise hídrica que o estado enfrenta, deixa latente as
limitações das medidas que vêm sendo adotadas.
Local de obra por onde passarão canos de bombeamento de água. (Foto: Mídia NINJA)
O governo pretende bombear água de uma das poluídas bacias do Rio Grande
direto para o Alto Tietê, visando aliviar a situação desse sistema que
atende mais de 4 milhões de pessoas — mas as contas não fecham. Serão
retirados 4 mil litros de água por segundo de uma bacia que, durante o
período de estiagem, não recebe nem metade disso — ou seja, sairá mais
água do que entra, gerando um déficit que tende a sobrecarregar o
sistema. Na outra ponta da obra, os mesmos 4 mil litros por segundo
serão despejados em um braço de água que aguenta pouco mais do que mil
litros por segundo, o que provavelmente levará a inundações nas áreas
residenciais do entorno. Cabe destacar que há mais consequências para
quem vive na região, como impactos em áreas de lazer e transporte, por
exemplo.
A obra foi aprovada em caráter emergencial, e por isso
contratada sem licitação, análise de impacto ambiental ou medidas para
mitigar os esperados impactos negativos. O Tribunal de Contas do Estado
(TCE) já questionou tal caráter emergencial, tendo em vista que o
governo poderia ter agido com antecedência pois sabia há tempos que a
crise se aproximava — de acordo com a Lei 8.666/2013, esse conhecimento
prévio impede contratações emergenciais.
(Foto: Mídia NINJA)
Vale ressaltar que essa é apenas uma dentre várias obras
problemáticas previstas para lidar com a crise que se arrasta há mais de
um ano, e que resulta de mais de uma década de descaso por parte do
governo com relação à gestão dos recursos hídricos. Ao invés de
investimentos massivos em soluções estruturais como o reflorestamento de
mananciais e a despoluição dos reservatórios, prioridade têm sido dada a
medidas superficiais que apenas prolongam o problema. E vale destacar
que, enquanto as centenas de milhões de reais para as questionáveis
obras em andamento vêm dos bolsos da população, a Sabesp e o governo do
estado continuam oferecendo descontos na conta de água para grandes
empresas e organizações beneficiadas pelos chamados “contratos de demanda firme”.
Já
sabemos que não há saída fácil para a atual crise hídrica do estado de
São Paulo. A pergunta que fica é: quanto o governo e a Sabesp ainda
conseguem dificultar a situação?
Texto por Pedro Telles e Fabiana Alves, do Greenpeace, e fotos por Mídia NINJA para o ContaDagua.org
Inicialmente publicado no site da Medium.
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