Estudo lançado nesta terça-feira (12) ressalta a eficácia do Compromisso
Público da Pecuária em reduzir o desmatamento na Amazônia
Área desmatada para criação de gado, no Mato Grosso (© Chico Batata/Greenpeace)
A produção pecuária brasileira continua sendo a principal causadora
do desmatamento da Amazônia. Mas, graças ao Compromisso Público da
Pecuária (ou Acordo pelo Desmatamento Zero),
assinado em 2009, os maiores frigoríficos do país estão mostrando que é
possível sim eliminar o desmatamento de sua cadeia produtiva. Mas é
preciso muito mais.
Para que a produção pecuária deixe de ostentar o nefasto status de
principal ameaça à preservação da maior floresta tropical do planeta,
temos que ampliar a lista de frigoríficos comprometidos com o
desmatamento zero, fortalecer o controle sobre as fazendas fornecedoras,
de modo que os supermercados tenham controle total sobre a origem da
carne que comercializam (dando inclusive transparência pública para
estes dados). Além disso, o governo federal precisa aumentar a
governança sobre a região para, de um lado ampliar o Cadastro Ambiental
Rural (CAR) e, de outro, garantir a rastreabilidade de todas as etapas de produção bovina, do nascimento ao abate.
O caminho está sendo trilhado. Boa parte das conquistas, inclusive,
estão sendo reconhecidas em estudos científicos, como o publicado hoje
na revista norte-americana Conservation Letters. A publicação
destaca que toda a pressão da sociedade civil - liderada pelo Greenpeace
- resultou em um Compromisso Público da Pecuária que efetivamente
contribuiu para a diminuição do desmatamento. Leia aqui o artigo. Segundo a pesquisa,
os acordos de desmatamento zero exigidos pelo mercado têm alterado de
modo consistente o comportamento de fazendeiros e frigoríficos.
“Demonstramos que pressões públicas e privadas na cadeia bovina
efetivadas de forma concorrente, podem ser decisivas para a mudança do
jogo, ajudando, finalmente, a quebrar a ligação entre o desmatamento e a
produção de carne,” diz Holly Gibbs, autora do estudo e pesquisadora do
Departamento de Geografia e Estudos Ambientais do Centro para
Sustentabilidade e o Ambiente Global do Instituto Nelson de Estudos
Ambientais da Universidade de Wisconsin, Madison.
Elaborado por pesquisadores da Universidade Wisconsin, em conjunto
com a ONG Imazon e a National Wildlife Federation, o estudo foca sua
análise na cadeia da empresa JBS (uma das signatárias do Compromisso
Público da Pecuária) no Pará, estado responsável por 40% de todo o
desmatamento realizado na Amazônia na última década e que possui
atualmente o segundo maior rebanho do país – 19,2 milhões de cabeças de
gado. Segundo o artigo, em 2009, 36% das propriedades que forneciam
carne ou couro para a empresa tinham registros de desmatamentos
recentes. Em 2013 este número caiu para 4%.
De acordo com os pesquisadores, o Compromisso motivou muitos
fazendeiros a buscarem se regularizar para garantir o fornecimento à
JBS. Os pecuaristas que forneciam diretamente para a empresa promoveram
uma verdadeira corrida para se inscrever no Cadastro Ambiental Rural
(CAR), possibilitando que os frigoríficos bloqueassem de fato compras de
fazendas onde ocorreu desmatamento recente.
Consequentemente, o desmatamento caiu significativamente nas fazendas
fornecedoras – onde foi cerca de 50% menor que o registrado em fazendas
não fornecedoras. Apesar destas conquistas, ainda há muito o que se
fazer para eliminar por completo o problema. “Está mais do que na hora
de mais frigoríficos aderirem ao Compromisso Público da Pecuária”,
alerta Adriana Charoux, da campanha da Amazônia do Greenpeace Brasil.
“Grandes compradores dos frigoríficos, como supermercados, a
indústria que usa couro, alimentícia e também restaurantes que compram
grandes estoques, têm um papel determinante para pressionar seus
fornecedores a se comprometerem de uma vez por todas com o desmatamento
zero”.
Adriana ressalta que, na Amazônia, a palavra-chave é transparência.
“Sem ela, não há controle social. Sem controle da sociedade, não há como
garantir que a carne que chega aos nossos pratos está livre de
desmatamento e demais crimes sociais e ambientais”, conclui.
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