Monday, September 8, 2014

Yeb Saño: O Ártico e as mudanças climáticas

A ciência é clara, as mudanças climáticas podem afetar a sociedade de maneiras cada vez mais agressivas. (© Sean Hawkey/Greenpeace)

Eu nasci a 8046 km de distância do Polo Norte e agora que cresci, percebi que o meu futuro está totalmente ligado com o destino do Ártico. Quando discursei nas negociações da ONU em Varsóvia, no ano passado, exigindo ação imediata de apoio às consequências do tufão Haiyan, não passava pela minha mente o tamanho da repercurssão que causaria. O tufão Haiyan foi o mais brutal da história das Filipinas, deixando mais de 6.200 mortos, 1,9 milhões de desabrigados e 6 milhões de deslocados. Palavras não podem descrever o sofrimento.
A ciência é clara: as mudanças climáticas podem afetar a sociedade de maneiras cada vez mais agressivas. Mesmo que o tufão Haiyan não tenha se originado somente pelas mudanças climáticas, meu país se recusa a aceitar que caso nada seja feito, os tufões farão parte de nosso cotidiano. Não podemos continuar trilhando um caminho que pode comprometer nossas crianças e seus futuros.
Após o trágico acontecimento, mais de 750.000 pessoas assinaram uma petição demonstrando sua solidariedade às Filipinas. Esse apoio global me motivou em um dos momentos mais tristes da minha vida, proporcionando um novo fio de esperança. Então, por que eu, um negociador do clima das Filipinas, me tornei um defensor do Ártico? A razão é simples: o Ártico é visto como protagonista no desdobramento de uma crise climática originada pelo homem. Os últimos sete anos foram marcados como os verões mais quentes no Ártico, resultando na menor extensão de gelo no mar.
Com uma paisagem deslumbrante e uma geografia extraordinária, os icebergs exercem função climática essencial. Refletem a energia do sol e mantem o metano bloqueado no subsolo. O derretimento do Polo Norte resultaria em um aumento drástico no nível do mar, ou seja, o que acontece no Ártico não fica só no Ártico .
Ao fazer um balanço dos danos causados ​​por Haiyan e ao me preparar para mais uma rodada de negociações climáticas da ONU, cheguei a uma conclusão: é uma história com um toque irônico e trágico. As companhias de petróleo estão se movendo para o continente ao mesmo tempo em que as geleiras estão derretendo, o que facilita a exploração de petróleo na área. Após apontar todos os danos causados pelo tufão Haiyan e entrar nessa batalha, não acredito que existam companhias capazes de cogitarem a ideia de explorar petróleo em uma área que possui forte importância no cenário climático.
Demandas globais de petróleo que poderiam justificar economicamente a exploração no Ártico, resultariam em um catastrófico impacto climático, aumentando a temperatura global em 6 graus Celsius. As companhias de gás e petróleo que sondam a área estão mostrando total desrespeito aos esforços feitos para prevenir o planeta das drásticas mudanças climáticas a que estamos sujeitos.
Foi por esse motivo que assinei a “Declaração Internacional pelo Futuro do Ártico”, que convoca todos os cidadãos do mundo a redobrar seus esforços para combater as alterações climáticas e trabalhar conjuntamente com os Estados do Ártico para tomar medidas que preservem o ambiente polar.
Ao meu ver, a principal razão para assinar a petição foi simples: não pode haver uma resposta internacional racional para a mudança climática que permita a expansão da perfuração de petróleo em áreas recém-fundidas do Ártico.
Habitantes que vivem aos redores da região Ártica tem grande privilégio e uma forte responsabilidade. Como guardiões de um ecossistema incrível, eles são os primeiros a testemunhar os impactos das mudanças climáticas. As geleiras derretendo e o mar de gelo encolhendo devem figurar entre as mais dramáticas mudanças ambientais na história da humanidade.
O próximo capítulo dessa história continua incerto. Vamos aproveitar este momento para fazer um balanço do nosso passado e nosso futuro? Será que vamos proteger o Ártico para as gerações futuras, ou vamos permitir que o Oceano Ártico seja poluído e explorado por combustíveis fósseis?
Em nossa resposta à crise do Ártico, a posteridade nos julgará.
*Yeb Sano é negociador-chefe da ONU para as Filipinas e signatário da Declaração Internacional pelo Futuro do Ártico.

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