Variedade desenvolvida pela FuturaGene / Suzano pode ser a primeira
árvore transgênica plantada em todo mundo; estudos apresentados são
insuficientes para garantir a segurança
Eugenio Ulian, vice-presidente de Assuntos Regulatórios da
FuturaGene. ©Greenpeace
O Greenpeace participou hoje da audiência pública sobre o eucalipto
transgênico, realizada pela CTNBio (Comissão Técnica Nacional de
Biossegurança). O encontro é parte do processo de liberação comercial da
variedade de eucalipto geneticamente modificada da FuturaGene / Suzano
Papel e Celulose, desenvolvida com o objetivo de produzir mais celulose
em menos tempo.
A audiência contou com a participação de representantes das empresas
envolvidas, membros da CTNBio, cientistas autônomos, representantes de
Ministérios, apicultores e representantes de ONGs e movimentos sociais.
Caso o pedido seja aprovado pela CTNBio, o Brasil será o primeiro país
do mundo a plantar árvores transgênicas em escala comercial.
Se o uso indiscriminado de soja, milho e algodão transgênicos já é
preocupante, o pedido de liberação comercial feito pela FuturaGene /
Suzano polemiza a questão ainda mais. Árvores vivem por muito mais tempo
e fazem parte de cadeias alimentares naturais e de ecossistemas
complexos, e portanto representam ameaças ambientais de longo prazo para
ecossistemas ricos em biodiversidade - ameaças que podem ser difíceis
(se não impossíveis) de prever e avaliar. O escape de pólen ou semente
de árvores de eucalipto geneticamente modificadas pode colocar em risco a
vida natural.
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“Não é à toa que nenhum país do mundo tenha autorizado o plantio
comercial de árvores transgênicas até hoje”, lembra Gabriela Vuolo,
coordenadora da campanha de agricultura e alimentação do Greenpeace
Brasil. “É importante que a CTNBio tenha realizado esta audiência
pública, porque ficou ainda mais claro que a liberação desta variedade
transgênica de eucalipto poderá trazer danos seríssimos para o meio
ambiente, para a população e para a economia”, acrescenta ela.
Durante a audiência, diversas intervenções pontuaram a insuficiência
ou inadequação dos estudos apresentados pela FuturaGene / Suzano.
Perguntada, a empresa declarou que não realizou, por exemplo, estudos
específicos para comparar o consumo de água da variedade transgênica com
a variedade convencional. Representante do Ministério do Meio Ambiente
afirmou que não foram apresentados estudos de longa duração, e lembrou
que os efeitos da soja e do milho transgênicos no médio e longo prazo
não foram positivos. Destacou-se também que a Convenção de
Biodiversidade, da qual o Brasil é signatário, recomenda cautela com
relação a árvores geneticamente modificadas.
O representante do Ministério do Desenvolvimento Agrário alertou que
os estudos realizados para avaliar os efeitos do eucalipto nas abelhas e
na produção de mel são insatisfatórios, pois levaram em conta apenas
cinco colmeias de uma única localidade. Cerca de 25% do mel produzido no
Brasil vem do eucalipto, e a pesquisa apresentada pela FuturaGene /
Suzano não avalia os aspectos nutricionais do mel produzido a partir de
pólen trangênico, tampouco sua toxicidade ou alergenicidade.
A Associação Brasileira dos Exportadores de Mel (ABEMEL) se mostrou
preocupada com a possível liberação: como não há aprovação desta
variedade em nenhum outro lugar do mundo, as exportações brasileiras de
mel e própolis poderão ser afetadas, numa situação semelhante à ocorrida
no México em 2011.
“Com base nos estudos apresentados, não dá pra dizer que o mel
produzido a partir destes eucaliptos é seguro para consumo”, alerta
Gabriela. E questiona: “O que vai acontecer com os 350 mil apicultores
brasileiros que dependem da produção de mel para sobreviver? E a
produção orgânica de mel, própolis, pólen e geleia real? Liberar o
eucalipto transgênico sem estas respostas é uma temeridade, uma
irresponsabilidade”.
Selo FSC
Outra preocupação levantada foi a de que os critérios do FSC (Forest
Stewardship Council) não aceitam variedades transgênicas para
certificação florestal. A Assembleia Geral do FSC se reúne na Espanha,
na próxima semana, e a Campanha Internacional para Parar Árvores
Geneticamente Modificadas (CSGET, na sigla em inglês) irá apresentar uma
carta, pedindo que o FSC se desvincule da Suzano caso a liberação do
eucalipto transgênico seja aprovada no Brasil.
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