Governo anuncia leilão de hidrelétrica no Tapajós enquanto indígenas
afetados preparam-se para defender o direito à consulta prévia, livre e
informada previsto na Convenção 169 da OIT
Canteiro de obras da usina hidrelétrica de Belo Monte, que, assim como
está ocorrendo no caso do Tapajós, foi realizada sem um verdadeiro
processo de consulta prévia aos povos afetados (© Greenpeace/Marizilda
Cruppe)
Na semana passada, o Ministério de Minas e Energia publicou, no
Diário Oficial da União, uma portaria definindo o leilão da usina
hidrelétrica São Luiz do Tapajós, no oeste do Pará, para o dia 15 de
dezembro. Parte do polêmico projeto do Complexo do Rio Tapajós, que tem
sido criticado pelos impactos negativos que irá causar na região, São
Luiz deve gerar cerca de 8 mil Megawatts (MW) e está prevista para
entrar em operação em 2019.
Com o objetivo de se preparar para o processo e compreender melhor
seus direitos fundamentais, no próximo dia 24 de setembro, os Munduruku,
indígenas que serão afetados pelo empreendimento, farão um ciclo de
diálogo sobre o direito de consulta prévia, livre e informada previsto
na Convenção 169. Essa atividade levará à construção de uma espécie de
“protocolo de consulta” que informará ao governo sobre como os indígenas
querem ser consultados, reafirmando a necessidade de garantir o
respeito aos processos internos de tomada de decisão.
No entanto, a confirmação de data para a realização do leilão antes
mesmo de ser realizada a consulta aos povos afetados soou para os
Mundurukus como um recado de que o governo não tem compromisso com a
implementação de um verdadeiro processo de consulta.
Em carta publicada no dia 14 de setembro, eles se disseram
indignados: “Mais uma vez o governo demostra que não quer
diálogo. Exigimos que seja anunciado no Diário da União que o leilão não
vai ser feito e que será realizada a consulta livre, prévia, informada e
consentida com o povo Munduruku e todos os ribeirinhos e demais
populações que estão ameaçadas pelo projeto das usinas no rio Tapajós,
como prevê a Convenção 169. Exigimos que o governo cumpra o acordo que
fez conosco, e que não se comporte como traidor, enganador e mentiroso
em um assunto que diz respeito à sobrevivência e dignidade do nosso
povo”.
Alinhadas à luta das populações tradicionais da região, lideranças do
povo Munduruku têm sistematicamente denunciado e reafirmado ao governo
que a construção das usinas hidrelétricas planejadas no rio Tapajós
coloca em xeque a existência milenar de seu povo.
No início de setembro, o governo havia procurado os Munduruku para
tratar da construção da usina. Na ocasião, a Secretaria Geral da
Presidência da República convidou as lideranças do povo para apresentar
uma proposta de consulta sobre os possíveis aproveitamentos energéticos
no rio Tapajós. Na oportunidade, as lideranças expuseram aos
representantes do governo Dilma que consideravam inoportuna a realização
do processo de consulta de forma precipitada, conforme a declaração de
Leusa Caba, liderança das mulheres Munduruku: “Nós estamos organizando,
junto com uma série de parceiros, uma formação política para o nosso
povo sobre o que é a Consulta Previa da Convenção 169. Então, o que
queremos é que o governo respeite este processo, que acorde com a gente
que a consulta ocorrerá, mas que será feita quando estivermos prontos, e
a partir das nossas demandas”.
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