Enquanto governos, empresas e sociedade civil dizem querer o fim do desmatamento, Dilma parece não pensar do mesmo jeito
Foto: Greenpeace/Daniel Beltra
Nesta semana, iniciativas globais elevaram o tom da discussão em
torno de aumentar a proteção das floretas. Em dois diferentes momentos,
empresas e governos assinaram compromissos pedindo pelo fim do
desmatamento. Ao mesmo tempo, no Brasil, uma pesquisa apontou que 90%
dos brasileiros são contra a derrubada da Amazônia. E a lei de
iniciativa popular pelo desmatamento zero já contabiliza mais de 1
milhão de assinaturas. Porém, para a presidente Dilma e o ex-ministro
Roberto Rodrigues, um dos representantes do agronegócio nacional, o fim
do desmatamento é “utópico” e “demagógico”. Para Rodrigues, desmatamento
zero é “coisa errada”.
O mundo parece que não concorda. Na última quarta-feira, o fórum
global conhecido como ‘Consumers Goods Forum’, que reúne 400 marcas
globais, como L’Oreal, Proctor & Gamble e Unilever, se comprometeu a
ajudar seus membros a alcançar a meta de ‘desmatamento zero líquido’ em
suas cadeias produtivas até 2020. Tais compromissos precisam ser
tratados com interesse e atenção. Uma vez traduzidos em realidade, eles
têm a capacidade de impactar positivamente a proteção às florestas ao
redor do globo. Mas é preciso monitorar essas ações. E é neste campo que
algumas iniciativas já existentes, como a moratória da soja e acordos
de não-desmatamento para óleo de palma, são determinantes.
No mesmo dia, na conferência da ONU, foi apresentada a declaração de
Nova Iorque, documento que pede o fim do desmatamento em escala mundial.
A declaração conta com 150 assinaturas, entre elas 32 países, 20
estados e outras 40 empresas de atuação global. Foi exatamente nesse
evento que o governo brasileiro protagonizou cenas lamentáveis ao se
negar a assiná-lo.
“A postura do Governo é tacanha. O Brasil detém mais de 30% das
florestas tropicais do mundo e deveria, por conta disso, não apenas
assinar, mas liderar a escrita desse texto, tentando deixá-lo mais
ousado. Ao contrário disso, Dilma deu as costas para as florestas, assim
como faz aqui no Brasil”, disse Marcio Astrini, do Greenpeace. “Pior, o
governo foi aplaudido por parte do agronegócio brasileiro. Esse tipo de
postura compromete a imagem do próprio setor agropecuário nacional,
colocando nele o rótulo do atraso. Apequenaram nosso país”, completou.
Fazendo coro aos acordos mundiais, uma pesquisa divulgada no início
da semana resume que, para os brasileiros, a Amazônia é muito valiosa e
não deve ser desmatada. A pesquisa realizada com 2.000 pessoas é
intitulada "Floresta Amazônica e Alterações Climáticas", feita pelo
Instituto Análise e publicada no jornal Valor Econômico.
Quase por unanimidade, 90% dos entrevistados dizem que o desmatamento
da Amazônia é ruim para o desenvolvimento do Brasil, pois reduzirá as
chuvas e aumentará as temperaturas. A percepção dos brasileiros está
alinhada com o que diz a ciência; é da Amazônia que vem a maior parte
das chuvas que abastecem os reservatórios de água e as plantações de
comida do sul e sudeste do país.
A pesquisa ainda mostra a opinião contrária dos entrevistados nos
temas hidrelétricas na Amazônia, expansão da agricultura sobre florestas
e código florestal.
De comum, os compromissos internacionais e a pesquisa sobre Amazônia
nos revelam que a demanda global por produtos livres de desmatamento é
crescente. E neste novo mundo, o Brasil poderia ser um exemplo de
liderança. Temos potencial para sermos o maior produtor de alimentos e
maior protetor de florestas do planeta, usando as áreas já abertas em
nosso país, que oferecem espaço suficiente para dobrar a produção de
alimentos sem desmatar.
Porém, a escolha de Dilma e de parte do Agronegócio é a de virar as
costas para essa realidade. Ao negarem o fim do desmatamento, eles vão
não apenas levar mais destruição às nossas florestas, mas também
comprometer o futuro da própria agropecuária brasileira.
Mas, se depender de Dilma e do ex-ministro, o Brasil vai continuar olhando para o futuro pelo retrovisor.
No comments:
Post a Comment
Note: Only a member of this blog may post a comment.