Novos assassinatos de lideranças dos trabalhadores rurais mostram que a
luta pela preservação da floresta e pelo direito à terra continua sendo
respondida à bala.
Imagem da cena do crime, onde Paulino de Castro e sua esposa foram
alvejados enquanto andavam de moto. Apenas em 2014, foram registrados 23
assassinatos no campo. (© OPantanalOnline / Divulgação)
A violência no campo segue fazendo vítimas na Amazônia. No último
sábado, dia 16, Josias Paulino de Castro, de 54 anos, e sua esposa
Ereni da Silva Castro, 35, foram assassinados no Mato Grosso, em
Guariba, zona rural de Colniza. Josias era presidente da Associação dos
Produtores Rurais Nova União (Aspronu) do Assentamento Projeto Filinto
Müller. Cerca de uma semana antes, ele havia denunciado a extração
ilegal de madeira na região, corrupção e emissão irregular de títulos de
terra.
A CPT (Comissão Pastoral da Terra) divulgou uma nota denunciando e repudiando
a onda violência no campo, que foi intensificada nos meses de julho e
agosto desse ano. “Mais uma vez são mortes anunciadas, sem que se tomem
as devidas providências para evitá-las”, diz a nota.
No início de agosto, Josias havia participado de audiência com o
ouvidor agrário nacional e autoridades do Estado do Mato Grosso, em
Cuiabá. Na ocasião, denunciou políticos da região por extração ilegal de
madeira. Também afirmou haver emissão irregular de títulos de terras.
Segundo a nota da CPT, ele havia dito que ele e outros agricultores
estavam ameaçados: “Estamos morrendo, somos ameaçados, o governo de Mato
Grosso é conivente, a PM de Guariba protege eles, o governo federal é
omisso. Será que eu vou ter que ser assassinado para que vocês acreditem
e tomem providências?”. Assim como Zé Claudio, assassinado em 2011, que
afirmou em palestra que estava sofrendo graves ameaças, Josias anunciou
a própria morte.
Ainda segundo os dados da CPT, ocorreram quatro mortes apenas na
semana passada, além de outros sete assassinatos em julho. De acordo com
os dados, em 2014 já foram registrados 23 assassinatos em conflitos no
campo. No mesmo período de 2013, esse número também foi alto: 21.
Além do casal Castro, também foi assassinada a tiros, no último dia
13, a ex-presidente do Sindicato dos Trabalhadores na Agricultura de
União do Sul, no Mato Grosso, Maria Lúcia do Nascimento, por conflitos
agrários. Ela morava no assentamento Nova Conquista II e já havia
registrado ameaças em Boletins de Ocorrência e em atas de denúncias
feitas diretamente ao Ouvidor Agrário Nacional, desembargador Gercino
José da Silva Filho. Segundo a CPT, as ameaças foram testemunhadas,
inclusive, por oficiais de justiça.
“Todos esses casos são conhecidos e já tinham sido denunciados. No
entanto, as autoridades competentes se mantêm omissas e, por
consequência, coniventes com essa barbaridade. Na Amazônia, a falta de
governança e a impunidade só agravam a violência” disse Marina Lacôrte,
da campanha Amazônia do Greenpeace. “Queremos saber o que os candidatos
vão fazer para dar um basta de uma vez por todas nessa situação”,
completou ela.
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