Exibição de filme em São Paulo e audiência pública em Brasília dão voz às vítimas de violências na Amazônia
“Será que eu vou ter que ser assassinado para que vocês acreditem e
tomem providências?”, disse Josias Paulino de Castro, 54 anos, em
audiência realizada no dia 5 de agosto com o ouvidor Agrário Nacional de
Mato Grosso, desembargador Gercino José da Silva Filho. Apenas onze
dias depois da oitiva, o líder comunitário e sua esposa, Ereni da Silva
Castro, 35 anos, foram mortos em uma emboscada. Josias era presidente da
Associação dos Produtores Rurais Nova União (Aspronu), do Assentamento
Projeto Filinto Müller, e conhecido na região por denunciar madeireiros
que atuam no estado. Ele e sua esposa são as mais recentes vítimas da violência e impunidade que imperam na Amazônia.
Uma realidade que faz com que cidadãos que buscam garantir seus
direitos sobre a terra, o respeito à lei e a proteção da floresta,
sofram grave risco de perder a vida. A sucessão de tragédias mostra que,
por mais que alertem as autoridades, os ameaçados de morte não
conseguem obter a proteção necessária. Pior: na maioria dos casos, os
algozes permanecem impunes e prontos para reforçar a lei do mais forte
sobre o Estado de Direito.
De acordo com um levantamento da Comissão Pastoral da Terra (CPT), de
1985 a 2013 foram registradas 981 tentativas de assassinato na Amazônia
Legal. Nesse mesmo período, 699 mortes foram consumadas. De todos esses
crimes, apenas 35 foram julgados, condenando 20 mandantes e 27
executores. “Nesse contexto, infelizmente, assistimos perplexos os
moradores da região, muitos deles verdadeiros ativistas pelo meio
ambiente, sair da lista de ameaçados e entrar na de assassinados. Além
de Josias, Zé Claudio e outros tantos, quantos ainda vão ter que
anunciar a própria morte?”, questiona Claudia Caliari, da Campanha
Amazônia do Greenpeace. Ainda segundo a CPT, este ano já foram
registrados 23 assassinatos em conflitos no campo, número superior ao de
casos identificados no mesmo período de 2013, que somou 21 mortes.
Para chamar a atenção da opinião pública e ampliar o debate sobre a
situação de insegurança em que vivem estes trabalhadores extrativistas,
além buscar soluções para o problema, a Comissão de Direitos Humanos do
Senado realizará, nesta quarta-feira 3 de setembro, uma Audiência
Pública com a presença de lideranças de comunidades afetadas pela exploração ilegal de madeira e a violência atrelada à atividade. O Greenpeace estará presente.
Entre os convidados estão a coordenadora da CPT, que atua em Boca do
Acre (AM), Maria Darlene Braga Martins, autora de denúncias sobre
irregularidades em Planos de Manejo Florestal e sobre a ação de
fazendeiros e madeireiros no estado. Maria Darlene está ameaçada de
morte desde 2011. Também participará da audiência Antônio Vasconcelos,
liderança na Reserva Extrativista Ituxi (RESEX), localizada em Lábrea,
no sul do Amazonas, ameaçado de morte desde 2001, por defender a criação
e manutenção da RESEX em que vive.
Claudelice Santos, irmã caçula de José Claudio, assassinado em maio
de 2011, no Pará, junto com sua esposa, Maria do Espírito Santo, é outra
importante presença confirmada. Zé Claudio, assim como Josias, foi
morto apenas alguns meses depois de denunciar publicamente que poderia
perder a vida a qualquer momento. Desde então sua irmã Claudelice luta para que os acusados do crime sejam condenados.
Antes do evento em Brasília, neste domingo 31, Claudelice passa por
São Paulo para participar de um debate aberto ao público no Museu da
Imagem e do Som (MIS). O debate sucede a exibição do documentário “Toxic
Amazon: uma crônica de mortes anunciadas" (VICE, 2011), com entrada
gratuita, e conta também com a participação do trabalhador rural e
agente pastoral da CPT, Cosme Capistano da Silva, que atua em Boca do
Acre e vive sob ameaça de morte desde 2013.
O documentário “Toxic Amazon: uma crônica de mortes anunciadas" (VICE,
2011), será exibido neste domingo, no Museu da Imagem e do Som (MIS),
com entrada gratuita (MIS - Avenida Europa, 158, Jardim Europa.
RacioCine – Auditório LabMIS, 18h). Após a projeção acontecerá um
bate-papo, com as presenças de Claudelice Santos, irmã caçula de José
Claudio, e de Cosme Capistano da Silva, agente pastoral da CPT,
No comments:
Post a Comment
Note: Only a member of this blog may post a comment.