Intervenção em ponto de ônibus próximo ao Parque do Ibirapuera, em São Paulo, desafia governantes a assumir compromisso com mobilidade urbana de qualidade (©divulgação)
Os paulistanos acordaram nesta quarta-feira com uma
surpresa: cem pontos de ônibus das regiões da Vila Madalena, Avenida
Paulista, Vila Mariana, entre outras, estampavam cartazes com a seguinte
frase: “A espera acabou. Até o final de 2014 a extensão do metrô de São Paulo vai dobrar”.
Os cartazes continham também uma foto-montagem de Geraldo Alckmin,
atual governador do Estado de São Paulo, e de Dilma Rousseff, presidenta
do Brasil. A união dos políticos de partidos diferentes também
reforçava o estranhamento da “propaganda”.
A provocação realizada pelo Greenpeace Brasil tem o
objetivo de pressionar os candidatos (Dilma é candidata à reeleição
assim como Alckmin) a assumir verdadeiro compromisso com a melhoria do
transporte público e com a mobilidade urbana para além de promessas
eleitoreiras. A intervenção foi destaque na imprensa e provocou reações
dos partidos dos candidatos. “Mas ninguém lembrou que o voto dos
cidadãos é sempre conquistado com promessas que depois não são
cumpridas e que a população convive com condições indignas de transporte
público”, afirma Barbara Rubim, da Campanha de Transporte do
Greenpeace. “Isso tem que mudar”.
O planejamento inicial da atividade previa a
revelação de seus objetivos e autoria no final da quarta-feira 13.
Diante da comoção nacional e em respeito ao falecimento do candidato
Eduardo Campos e equipe, o Greenpeace decidiu postergar a assinatura do
protesto para hoje, quinta-feira.
Os cartazes continham também a hashtag
#JuntosPelaMobilidade para incentivar a população a compartilhar a
imagem e questionar o anúncio nas redes sociais. Esse objetivo foi
atingido e o estranhamento alimentou inúmeras discussões na Internet,
gerando respostas dos partidos envolvidos (PT e PSDB). A discussão de
fundo, contudo - que trata exatamente da falta de compromisso dos
governantes com a melhoria do transporte público e com a mobilidade
urbana -, não recebeu a mesma atenção por parte das agremiações
políticas. Resultado: mais uma vez a disputa partidária deixou em
segundo plano o que realmente interessa à população.
No balanço dos últimos quatro anos do que foi feito
no estado de São Paulo em relação ao investimento em transporte público,
por exemplo, apenas 13% do que havia sido prometido de expansão do
metrô virou realidade. O governo federal, por sua vez, repetiu o papel
de transferir a responsabilidade. Limitou-se a acompanhar passivamente a
incapacidade dos entes estaduais e municipais de não aplicar os
recursos transferidos pela União para desenvolver e executar os
projetos de mobilidade urbana. Tanto é que, dos cerca de R$150 bilhões
prometidos nos últimos anos, aproximadamente 30% foi de fato convertido
em melhorias para a população.
O Greenpeace não quer que esse erro se repita. Por isso,
desde 2013, desenvolve a Campanha de Transportes para pressionar os
governantes a quebrar esse ciclo nocivo que compromete a qualidade de
vida nas grandes cidades. Em ano eleitoral, a organização pede aos
candidatos à Presidência que priorizem investimentos regulares na
mobilidade urbana. Como só investimento não vira realidade, o governo
federal precisa também se envolver com a capacitação e a implementação
de projetos em nossas cidades. Os governadores não podem encarar as
melhorias de mobilidade como carta eleitoreira – as mudanças e
compromissos assumidos precisam começar já em 2015, evitando que, daqui
há quatro anos, elas continuem na lista de promessas.
Confira abaixo algumas das promessas não-cumpridas pelo governo de São Paulo em relação à ampliação de sua rede metroviária:
- Em 2010, ao ser eleito, o governador prometeu terminar a linha 4 do Metrô, criar o Expresso Guarulhos e a linha 6 do Metrô, que ligaria as regiões São Joaquim, Freguesia do Ó e Brasilândia. Nenhuma dessas se cumpriu;
- Em 2012, prometeu entregar mais 126 km de malha metroviária para São Paulo até 2018;
- No mesmo ano, disse que até 2014 a cidade teria mais 30 km de metrô. Desses 30 km, no entanto, somente 13% saiu do papel.
O Governo Federal também não deixa a desejar no quesito promessas que não saíram do papel:
- Em junho de 2009 foi anunciado o trem-bala que, apesar de ser questionável, deveria ter sido entregue para a Copa do Mundo, e hoje está sem previsão de inauguração;
- Em 2010 estava previsto investimento de R$11,6 bilhões (valor não corrigido pela inflação) para as obras de mobilidade que seriam o legado da Copa, ao final de 2013 o valor já havia caído para R$8,5 bilhões. Em números de projetos, chegamos a ter 67 obras prometidas, das quais somente 42 foram mantidas, a grande maioria delas, contudo, só ficará pronta entre 2015 e 2017, se não atrasarem de novo;
- Somando-se o valor prometido para a mobilidade entre PACs e o Pacto da Mobilidade (anunciado em junho de 2013), chegamos à vultosa quantia de R$150 bilhões, contudo, cerca de 70% desse valor nunca saiu dos cofres do Governo Federal.
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