Campo de Soja próximo a Santarém, no Pará, ao lado de trecho
de floresta Amazônica. A Moratória da Soja, firmada em 2006, vem
contribuindo para a preservação do bioma, graças ao comprometimento das
empresas em não adquirir grãos produzidos em áreas desmatadas. (© Karla
Gachet/Panos/Greenpeace)
Em sua mais recente publicação, sobre experiências de gestão ambiental que deram certo, a União dos Cientistas Preocupados (Union of Concerned Scientists - UCS) classificou a Moratória da Soja e do gado, a iniciativa pelo Desmatamento Zero, todas ações encabeçadas no Brasil pelo Greenpeace, com apoio de parceiros, e a atuação do Ministério Público Federal como os principais motivos para a redução do desmatamento na Amazônia brasileira nos últimos anos.
O documento, “Histórias de Sucesso no Âmbito do Desmatamento – Nações Tropicais onde as políticas de proteção e reflorestamento deram certo”, traz como exemplo os avanços obtidos por países como Madagascar, El Salvador, Quênia, Vietnã, Moçambique e Brasil em deter o avanço da degradação ambiental e seus impactos, a partir de diferentes iniciativas, tanto de âmbito social como político.
Neste cenário, o avanço obtido pelo Brasil desde 2006 é considerado excepcional. De acordo com o levantamento, na década de 90 o Brasil foi um dos países que mais desmatou florestas tropicais no mundo, ocupando a 4º posição, logo à frente da Indonésia, no ranking de maiores emissores de CO2 do planeta.
Na virada do milênio, entretanto, o País levou um ‘choque de realidade’ e, apesar de a maioria dos setores terem mantido ou aumentado as emissões no período de 2001 a 2011, houve uma tendência geral de redução no Brasil, de 750 milhões de toneladas de CO2 ao ano, o que representa um corte de quase um terço do total jogado na atmosfera. Segundo a análise do grupo, esta redução só foi possível graças ao sucesso do País no quesito ‘mudanças de uso da terra’, onde as emissões despencarem 64%.
“A redução nas emissões do setor das mudanças de uso da terra teve essencialmente origem na diminuição do desmatamento na Amazônia, a maior floresta tropical do mundo. Cerca de 60% da floresta amazônica pertence ao Brasil, e aproximadamente 80% da floresta original ainda sobrevive. Mas até somente uma década atrás, a floresta estava desaparecendo a passos rápidos, tornando o Brasil o líder em desmatamento em todo o mundo naquela época e a terceira maior fonte de emissões de gases que causam o aquecimento global, depois dos Estados Unidos e da China”, detalha o relatório.
De acordo com o grupo de cientistas, esta mudança “sem precedentes” começou a acontecer a partir de 2006, com o estabelecimento da Moratória da Soja, acordo motivado pelo relatório “Comendo a Amazônia”, publicado naquele ano pelo Greenpeace, que expunha as relações entre a indústria de soja e o desmatamento da Amazônia, com o aquecimento global, a poluição da água e o trabalho escravo.
Graças a pressão exercida pelo Greenpeace em duas grandes empresas, a Cargill, comerciante mundial de grãos e soja, e McDonald’s, maior cadeia de fast food no mundo, algumas semanas após a divulgação do relatório, a indústria nacional de soja, por meio de suas duas principais associações comerciais, a Associação Brasileira de Indústrias de Óleos Vegetais e a Associação Nacional de Exportadores de Cereais, que declararam uma moratória de desmatamento, comprometendo-se a não comprar nenhum grão de soja produzido nas terras da Amazônia após 24 de junho de 2006.
“Seis anos após a entrada em vigor da moratória da soja, estudos com base em imagens de satélite permitiram mostrar o seu sucesso. Rudorff et al. (2011) descobriram que até o ano-safra 2009–2010 apenas 0,25% de terras com cultura de soja tinham sido cultivadas em áreas desmatadas desde a implementação da moratória. Esses campos criados pelo desmatamento da Amazônia representaram apenas 0,04% da área total de soja no Brasil”, esclarece o documento.
Os pesquisadores identificaram, ainda, que apenas um ano depois da entrada em vigor da moratória, a ligação entre o desmatamento e a produção de soja havia sido finalmente quebrada no Mato Grosso, Estado que atingiu então os menores níveis de derrubada de florestas até então.
Da mesma maneira, o relatório “Abatendo a Amazônia” (Slaughtering the Amazon), divulgado pelo Greenpeace em 2009, expondo a conexão entre a produção de gado na Amazônia com a degradação do bioma, teve efeito imediato no mercado e entre produtores, que assumiram o compromisso de não adquirir mais gado produzido em fazendas envolvidas com ilícitos ambientais e sociais na região.
Outro “sucesso” do Greenpeace no País, segundo o documento da UCS, foi a defesa do Desmatamento Zero, “que se tornou uma força importante contra as grandes fazendas que tradicionalmente dominavam a Amazônia e os novos atores do desmatamento”.
Apesar do sucesso comprovado das iniciativas, a Moratória da Soja, por exemplo, teve sua extinção decretado para o final deste ano, sem que as empresas e governos tenham chegado a um consenso sobre um mecanismo que possa substituir, de maneira eficiente, o acordo.
“Essa ascensão indica que o progresso do Brasil na redução do desmatamento terminou? Ou é uma inversão temporária, similar àquela que ocorreu em 2008, seguindo-se de novo uma tendência decrescente? Neste momento, é simplesmente muito cedo para se prever. O Brasil inscreveu seu plano para reduzir o desmatamento em 80% em 2020 na lei nacional (Governo do Brasil, 2009), mas para que haja um progresso continuado será necessário redobrar os esforços para reduzir as emissões”, sentencia o relatório.
A UCS tem sede nos Estados Unidos da América, e reúne 400 mil cientistas, estudantes e pesquisadores, de diversas especialidades, de todo o mundo, que trabalham a partir de análises técnicas, políticas e cientificas, para propor inovações e soluções práticas para um mundo mais saudável e sustentável.
Em sua mais recente publicação, sobre experiências de gestão ambiental que deram certo, a União dos Cientistas Preocupados (Union of Concerned Scientists - UCS) classificou a Moratória da Soja e do gado, a iniciativa pelo Desmatamento Zero, todas ações encabeçadas no Brasil pelo Greenpeace, com apoio de parceiros, e a atuação do Ministério Público Federal como os principais motivos para a redução do desmatamento na Amazônia brasileira nos últimos anos.
O documento, “Histórias de Sucesso no Âmbito do Desmatamento – Nações Tropicais onde as políticas de proteção e reflorestamento deram certo”, traz como exemplo os avanços obtidos por países como Madagascar, El Salvador, Quênia, Vietnã, Moçambique e Brasil em deter o avanço da degradação ambiental e seus impactos, a partir de diferentes iniciativas, tanto de âmbito social como político.
Neste cenário, o avanço obtido pelo Brasil desde 2006 é considerado excepcional. De acordo com o levantamento, na década de 90 o Brasil foi um dos países que mais desmatou florestas tropicais no mundo, ocupando a 4º posição, logo à frente da Indonésia, no ranking de maiores emissores de CO2 do planeta.
Na virada do milênio, entretanto, o País levou um ‘choque de realidade’ e, apesar de a maioria dos setores terem mantido ou aumentado as emissões no período de 2001 a 2011, houve uma tendência geral de redução no Brasil, de 750 milhões de toneladas de CO2 ao ano, o que representa um corte de quase um terço do total jogado na atmosfera. Segundo a análise do grupo, esta redução só foi possível graças ao sucesso do País no quesito ‘mudanças de uso da terra’, onde as emissões despencarem 64%.
“A redução nas emissões do setor das mudanças de uso da terra teve essencialmente origem na diminuição do desmatamento na Amazônia, a maior floresta tropical do mundo. Cerca de 60% da floresta amazônica pertence ao Brasil, e aproximadamente 80% da floresta original ainda sobrevive. Mas até somente uma década atrás, a floresta estava desaparecendo a passos rápidos, tornando o Brasil o líder em desmatamento em todo o mundo naquela época e a terceira maior fonte de emissões de gases que causam o aquecimento global, depois dos Estados Unidos e da China”, detalha o relatório.
De acordo com o grupo de cientistas, esta mudança “sem precedentes” começou a acontecer a partir de 2006, com o estabelecimento da Moratória da Soja, acordo motivado pelo relatório “Comendo a Amazônia”, publicado naquele ano pelo Greenpeace, que expunha as relações entre a indústria de soja e o desmatamento da Amazônia, com o aquecimento global, a poluição da água e o trabalho escravo.
Graças a pressão exercida pelo Greenpeace em duas grandes empresas, a Cargill, comerciante mundial de grãos e soja, e McDonald’s, maior cadeia de fast food no mundo, algumas semanas após a divulgação do relatório, a indústria nacional de soja, por meio de suas duas principais associações comerciais, a Associação Brasileira de Indústrias de Óleos Vegetais e a Associação Nacional de Exportadores de Cereais, que declararam uma moratória de desmatamento, comprometendo-se a não comprar nenhum grão de soja produzido nas terras da Amazônia após 24 de junho de 2006.
“Seis anos após a entrada em vigor da moratória da soja, estudos com base em imagens de satélite permitiram mostrar o seu sucesso. Rudorff et al. (2011) descobriram que até o ano-safra 2009–2010 apenas 0,25% de terras com cultura de soja tinham sido cultivadas em áreas desmatadas desde a implementação da moratória. Esses campos criados pelo desmatamento da Amazônia representaram apenas 0,04% da área total de soja no Brasil”, esclarece o documento.
Os pesquisadores identificaram, ainda, que apenas um ano depois da entrada em vigor da moratória, a ligação entre o desmatamento e a produção de soja havia sido finalmente quebrada no Mato Grosso, Estado que atingiu então os menores níveis de derrubada de florestas até então.
Da mesma maneira, o relatório “Abatendo a Amazônia” (Slaughtering the Amazon), divulgado pelo Greenpeace em 2009, expondo a conexão entre a produção de gado na Amazônia com a degradação do bioma, teve efeito imediato no mercado e entre produtores, que assumiram o compromisso de não adquirir mais gado produzido em fazendas envolvidas com ilícitos ambientais e sociais na região.
Outro “sucesso” do Greenpeace no País, segundo o documento da UCS, foi a defesa do Desmatamento Zero, “que se tornou uma força importante contra as grandes fazendas que tradicionalmente dominavam a Amazônia e os novos atores do desmatamento”.
Apesar do sucesso comprovado das iniciativas, a Moratória da Soja, por exemplo, teve sua extinção decretado para o final deste ano, sem que as empresas e governos tenham chegado a um consenso sobre um mecanismo que possa substituir, de maneira eficiente, o acordo.
“Essa ascensão indica que o progresso do Brasil na redução do desmatamento terminou? Ou é uma inversão temporária, similar àquela que ocorreu em 2008, seguindo-se de novo uma tendência decrescente? Neste momento, é simplesmente muito cedo para se prever. O Brasil inscreveu seu plano para reduzir o desmatamento em 80% em 2020 na lei nacional (Governo do Brasil, 2009), mas para que haja um progresso continuado será necessário redobrar os esforços para reduzir as emissões”, sentencia o relatório.
A UCS tem sede nos Estados Unidos da América, e reúne 400 mil cientistas, estudantes e pesquisadores, de diversas especialidades, de todo o mundo, que trabalham a partir de análises técnicas, políticas e cientificas, para propor inovações e soluções práticas para um mundo mais saudável e sustentável.
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