O mapeamento da degradação florestal dos últimos três anos já foi
realizado pelo Inpe, mas os dados ainda não foram divulgados pelo
governo. Essa omissão prejudica o monitoramento da extração ilegal de
madeira na região
Extração predatória de madeira no Pará (©Greenpeace/Marizilda Cruppe)
O sistema Degrad, lançado pelo Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas
Especiais) em 2008, mapeia anualmente as áreas de floresta degradadas,
ou seja, aquelas que são exploradas e estão em processo de desmatamento
mas ainda não sofreram corte raso e por isso não tiveram a cobertura
florestal totalmente removida.
A exploração madeireira é comum nesses locais e por isso o Degrad
acaba sendo a melhor ferramenta que o governo federal tem em mãos para
identificar também as áreas onde essa exploração é feita de forma
predatória e ilegal.
A somatória das áreas mapeadas serve como um índice anual de
degradação florestal. Esse índice foi anunciado regularmente pelo
governo desde que o Degrad foi lançado até o ano de 2011, com os dados
referentes à 2010, porém, desde então, nada mais foi divulgado a
respeito.
Agora, o projeto “Mídia e Desmatamento na Amazônia”, da ANDI,
revelou que o Inpe tem os dados do mapeamento da degradação da
cobertura florestal na Amazônia referentes a 2011, 2012 e 2013, porém,
eles ainda não foram divulgados.
Segundo a matéria veiculada no site do projeto, cabe ao Ministério da
Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI), órgão ao qual o Inpe é
diretamente ligado, e ao Ministério do Meio Ambiente decidir sobre a
divulgação pública dos dados do Degrad, assim como de outros projetos de
monitoramento.
“Nós estamos acompanhando o processo de produção de dados sobre o
monitoramento que o Inpe faz da cobertura florestal na Amazônia e
percebemos que eles estão menos transparentes: o Prodes, o Deter e o
Degrad [ferramentas de monitoramento] estão com sua divulgação atrasada.
Só que essas informações interessam à sociedade, elas não são monopólio
do Ministério do Meio Ambiente”, disse Marco Gonçalves, editor do Mídia
e Desmatamento na Amazônia.
O Degrad é capaz de “enxergar” áreas a partir de 6,25 hectares, muito
menores do que as que o Prodes – o sistema oficial que analisa o
desmatamento – consegue (25 hectares). Num contexto em que o
desmatamento está mudando de perfil e busca áreas pequenas justamente
para burlar os satélites, a divulgação desses dados seria essencial.
“Com esta absurda censura aos dados do Degrad, o governo tentar
esconder que a floresta está sendo sistematicamente destruída pela
exploração predatória e ilegal de madeira, que, como o Greenpeace
mostrou na campanha Chega de Madeira Ilegal,
acaba utilizando o próprio sistema de controle do governo para
legalizar esse crime”, disse Marina Lacôrte, da Campanha da Amazônia do
Greenpeace.
Se o governo não censurasse os dados, seria possível, por exemplo, a
obtenção de um amplo levantamento de áreas protegidas onde ocorre
exploração ilegal de madeira. A partir daí, haveria base para traçar
análises e estratégias para combater frentes madeireiras que estão
destruindo terras indígenas como a Cachoeira Seca, no Pará, a Caru, Awá e
Alto Turiaçu, no Maranhão e Zoró, no Mato Grosso. Isso sem falar nas
unidades de conservação Rebio Gurupi, também no Maranhão, e Resex
Riozinho Anfrisio, no Pará – para citar apenas algumas que sofrem com o
problema.
“O saque de madeira dentro de terras indígenas e unidades de
conservação é grave, pois, além de acabar com a biodiversidade da
floresta, gera violência e conflitos com as populações locais. No
entanto, o governo prefere fechar os olhos: além de não controlar o
setor madeireiro, ele está congelando a demarcação e a criação de terras
indígenas e novas unidades de conservação e, pior, também não dá
condições de implementação para as que já existem, permitindo o assédio
dos madeireiros”, disse Marina.
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