Segundo dados do INPE, os alertas de corte raso identificados pelo DETER
de agosto de 2014 a julho de 2015 chegaram a 3.260 Km2, área 107% maior
que a registrada no ano anterior
Área desmatada no Mato Grosso para expansão do agronegócio. Estado foi o
"campeão" em alertas de desmatamento e degradação. (© Paulo
Pereira/Greenpeace)
Seguindo a publicação dos dados do SAD do IMAZON,
divulgados na última quinta feira, o Instituto Nacional de Pesquisa
Espaciais (INPE) liberou hoje os dados de seu Sistema de Detecção do
Desmatamento na Amazônia Legal em Tempo Real – DETER e os números não
são nada animadores: o corte raso (3260 Km2) e a degradação florestal
(1708,5 Km2), somados aos alertas não confirmados, totalizam uma
destruição de 5.121,92 Km2. Estes são os maiores índices dos últimos
seis anos, invertendo a tendência de queda que vinha sendo apontada pelo
sistema.
“Sabemos que os sistemas de alertas não representam o total de
desmatamento e nem são eficazes para pegar pequenos desmatamentos com
menos de 25 hectares e é exatamente isso que preocupa, pois com este
aumento de alertas podemos esperar também um crescimento na taxa anual
medida pelo Prodes*”, afirma Rômulo Batista, da Campanha da Amazônia do
Greenpeace.
Os alertas de desmatamento e degradação acumulados de agosto de 2014 à
julho de 2015 superaram em 69% os índices registrados no período
anterior, de agosto de 2014 a julho de 2014.
Mais uma vez o estado do Mato Grosso liderou este triste ranking, somando 1.815 Km2 sendo, o equivalente a 35% de todos os alertas, seguido de perto pelo Pará que somou 1.535 Km2, com 29,8% do total, e Rondônia com 769 Km2, responsável por 15% dos alertas no período.
Enquanto o desmatamento corre solto na floresta, sem que o governo dê
a devida importância para o fato, diversas regiões do país enfrentam
uma grave crise hídrica, como os estados de São Paulo, Rio de Janeiro e
Minas Gerais, que vivem com a iminência de racionamento de água para os
próximos meses.
O desmatamento não afeta apenas quem vive na floresta, pelo
contrário, seus efeitos já estão sendo sentidos pelo Brasil afora. Ao
desmatar as florestas interferimos em um equilíbrio delicado e o planeta
todo paga a conta.
“Infelizmente o futuro que se anuncia não é nada bom. Em seus últimos encontros internacionais, com o presidente dos Estados Unidos e a chanceler da Alemanha,
o governo brasileiro não apresentou nenhuma ambição, limitando-se
apenas a acabar com desmatamento ilegal até 2030”, observa Batista.
Para acabar de vez com a destruição florestal o Brasil precisa fazer o
dever de casa, assumindo um compromisso com o Desmatamento Zero e com o
futuro. Faça parte do movimento pelo fim do desmatamento no Brasil
AGORA, assine pelo Desmatamento Zero.
*Prodes – Projeto de Monitoramento do Desmatamento na Amazônia
Legal - é o sistema de monitoramento oficial, medido pelo INPE. Como
utiliza outro tipo de satélite, que detecta desmatamentos menores de até
6,25 hectares, o índice é usado para indicar a taxa oficial de
desmatamento do Brasil.
xat
Monday, August 31, 2015
Fazendeiros atacam comunidade e matam liderança indígena
Mais uma liderança indígena foi assassinada. Mais uma vez um Guarani
Kaiowá. Até quando? Leia nota pública da APIB sobre o ataque
No último sábado, dia 29, a Terra Indígena Ñande Ru Marangatu,
que fica no Mato Grosso do Sul, foi alvo de um ataque organizado por
fazendeiros da região. Além de dezenas de índios feridos, entre eles
crianças, Simião Vilhalva Guarani foi morto com um tiro na cabeça.
Foram cerca de 40 caminhonetes que participaram do ataque, e como se não bastasse, no dia seguinte deu-se outra investida ao território e os fazendeiros conseguiram ocupar parte do local. O ataque teria partido do Sindicato Rural da cidade de Antônio João.
Em repúdio ao acontecido, a Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (APIB) divulgou uma nota pública sobre o assassinato do líder Simião Vilhalva Guarani, que pode ser lida na íntegra aqui.
O povo Guarani Kaiowá sofre com um longo histórico de ataques às suas Terras Indígenas no Mato Grosso do Sul, estado que mais mata índios do Brasil. Segundo relatório do Conselho Indigenista Missionário (CIMI), apenas em 2014 foram 41 ocorrências no estado – quase 30% do total nacional.
Foram cerca de 40 caminhonetes que participaram do ataque, e como se não bastasse, no dia seguinte deu-se outra investida ao território e os fazendeiros conseguiram ocupar parte do local. O ataque teria partido do Sindicato Rural da cidade de Antônio João.
Em repúdio ao acontecido, a Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (APIB) divulgou uma nota pública sobre o assassinato do líder Simião Vilhalva Guarani, que pode ser lida na íntegra aqui.
O povo Guarani Kaiowá sofre com um longo histórico de ataques às suas Terras Indígenas no Mato Grosso do Sul, estado que mais mata índios do Brasil. Segundo relatório do Conselho Indigenista Missionário (CIMI), apenas em 2014 foram 41 ocorrências no estado – quase 30% do total nacional.
O seu Busão dos Sonhos está nas mãos de Jilmar Tatto
As sugestões da sociedade para o Edital de Licitação de Transportes
Públicos de São Paulo já estão com o Secretário de Transportes
segunda-feira, 31 de agosto de 2015
Organizações entregam sugestões da população para o Edital de Licitação de Transportes Públicos de São Paulo
Hoje (31/08) pela manhã, algumas das organizações integrantes do
coletivo Busão dos Sonhos entregaram um documento ao secretário Jilmar
com demandas da população coletadas durante dez dias de mobilização.
Estavam presentes: Apé- estudos em mobilidade, Cidade a Pé, Idec, Greenpeace, Minha Sampa e Rede Butantã. Após a entrega, o Greenpeace registrou suas contribuições e uma nota técnica sobre a viabilidade das propostas em parceria com a Ciclocidade e o GT de Mobilidade Urbana da Rede Nossa São Paulo.
Basicamente, solicitamos: o cumprimento do Plano Municipal de Mudanças Climáticas (segundo o qual, até 2018, 100% da frota de ônibus deve rodar com combustíveis renováveis ou motor elétrico), além da garantia da intermodalidade por bicicleta, para que as pessoas possam levar suas bicicletas nos ônibus ou deixá-las em um bicicletário seguro nos terminais.
A Rede Butantã também protocolou seu posicionamento em conjunto com o Apé – estudos em mobilidade, no que diz respeito ao tempo de concessão e ao uso de índices que medem as reclamações do usuário na fórmula de remuneração.
Já o Idec pediu, em seu documento, a garantia dos direitos dos usuários no transporte público, principalmente no que diz respeito à informação, assim como a inclusão da avaliação de reclamações dos usuários (com devida resposta) como indicador na remuneração dos operadores.
Agora que o secretário Jilmar Tatto está em posse das propostas da sociedade civil e da população, precisamos nos manifestar para que elas sejam atendidas. Para isso, contamos com o seu apoio. Acompanhe e compartilhe as ações do coletivo Busão dos Sonhos nas redes sociais: http://bit.ly/busaodossonhos
Confira a galeria de fotos da mobilização aqui:
Estavam presentes: Apé- estudos em mobilidade, Cidade a Pé, Idec, Greenpeace, Minha Sampa e Rede Butantã. Após a entrega, o Greenpeace registrou suas contribuições e uma nota técnica sobre a viabilidade das propostas em parceria com a Ciclocidade e o GT de Mobilidade Urbana da Rede Nossa São Paulo.
Basicamente, solicitamos: o cumprimento do Plano Municipal de Mudanças Climáticas (segundo o qual, até 2018, 100% da frota de ônibus deve rodar com combustíveis renováveis ou motor elétrico), além da garantia da intermodalidade por bicicleta, para que as pessoas possam levar suas bicicletas nos ônibus ou deixá-las em um bicicletário seguro nos terminais.
A Rede Butantã também protocolou seu posicionamento em conjunto com o Apé – estudos em mobilidade, no que diz respeito ao tempo de concessão e ao uso de índices que medem as reclamações do usuário na fórmula de remuneração.
Já o Idec pediu, em seu documento, a garantia dos direitos dos usuários no transporte público, principalmente no que diz respeito à informação, assim como a inclusão da avaliação de reclamações dos usuários (com devida resposta) como indicador na remuneração dos operadores.
Agora que o secretário Jilmar Tatto está em posse das propostas da sociedade civil e da população, precisamos nos manifestar para que elas sejam atendidas. Para isso, contamos com o seu apoio. Acompanhe e compartilhe as ações do coletivo Busão dos Sonhos nas redes sociais: http://bit.ly/busaodossonhos
Confira a galeria de fotos da mobilização aqui:
Organizações entregam demandas da sociedade para Jilmar Tatto
Em ação na Prefeitura, coletivo Busão dos Sonhos apresenta a secretário
de Transportes sugestões coletadas durante dez dias de mobilização
sexta-feira, 28 de agosto de 2015 Foto: Greenpeace/Caio Paganotti
Hoje acaba o prazo para população se manifestar sobre o edital da licitação de tranportes de São Paulo. E às 10h, as organizações integrantes do coletivo Busão dos Sonhos entregam, ao secretário Jilmar Tatto, as demandas da sociedade.
Essas sugestões foram coletadas durante dez dias, em duas ações do grupo (na avenida Paulista e na Praça do Ciclista) e também por meio do Fabebook da coalizão.
Além disso, a Ciclocidade, Rede Nossa São Paulo e o Greenpeace também irão protocolar, em parceria, suas demandas junto à Prefeitura de São Paulo.
Nosso posicionamento aborda três pontos principais: garantir um número mínimo de vagas nos bicicletários dos terminais urbanos relativa à demanda do terminal; assegurar que os ônibus sejam equipados para levar bicicletas comuns e dobráveis, e exigir que 100% da frota use combustíveis renováveis até 2018, conforme Lei municipal de mudanças climáticas (14.933/09).
Estarão presentes: Apé – Estudos de Mobilidade, Cidadeapé, Rede Nossa Sao Paulo, Idec, Rede Butantã, Minha Sampa, Cidade Ativa, IEMA, Instituto Saúde e Mobilidade e Ciclocidade.
Acesse o Busão dos Sonhos, para ficar por dentro de algumas das oportunidades contidas nas cinco mil páginas dos editiais.
sexta-feira, 28 de agosto de 2015 Foto: Greenpeace/Caio Paganotti
Hoje acaba o prazo para população se manifestar sobre o edital da licitação de tranportes de São Paulo. E às 10h, as organizações integrantes do coletivo Busão dos Sonhos entregam, ao secretário Jilmar Tatto, as demandas da sociedade.
Essas sugestões foram coletadas durante dez dias, em duas ações do grupo (na avenida Paulista e na Praça do Ciclista) e também por meio do Fabebook da coalizão.
Além disso, a Ciclocidade, Rede Nossa São Paulo e o Greenpeace também irão protocolar, em parceria, suas demandas junto à Prefeitura de São Paulo.
Nosso posicionamento aborda três pontos principais: garantir um número mínimo de vagas nos bicicletários dos terminais urbanos relativa à demanda do terminal; assegurar que os ônibus sejam equipados para levar bicicletas comuns e dobráveis, e exigir que 100% da frota use combustíveis renováveis até 2018, conforme Lei municipal de mudanças climáticas (14.933/09).
Estarão presentes: Apé – Estudos de Mobilidade, Cidadeapé, Rede Nossa Sao Paulo, Idec, Rede Butantã, Minha Sampa, Cidade Ativa, IEMA, Instituto Saúde e Mobilidade e Ciclocidade.
Acesse o Busão dos Sonhos, para ficar por dentro de algumas das oportunidades contidas nas cinco mil páginas dos editiais.
Friday, August 28, 2015
O Brasil mais perto do Sol
Em segundo leilão exclusivo de energia solar 30 empreendimentos foram
contratados. Bahia e Piauí lideram a contratação expressiva de 833 MW.
Em Juazeiro, projeto do Minha Casa, Minha Vida, tem painéis solares em todos os telhados (©Carol Quintanilha/Greenpeace)
A energia solar teve destaque hoje: o segundo leilão
exclusivo para a fonte terminou com a contratação de 833,80 MW, a um
valor médio de R$301,79/MWh. O deságio foi de 14% em relação ao valor
inicial. “Com este preço, o governo dá sinais de que entendeu que é
preciso incentivar a fonte. Não basta realizar leilões exclusivos,
também é necessário garantir um preço final que faça com que os projetos
contratados sejam viáveis e, de fato, possam ser entregues”, comenta
Bárbara Rubim, da campanha de Clima e Energia do Greenpeace Brasil. Em
outubro de 2014 - quando ocorreu o primeiro leilão federal exclusivo -, o
valor final foi de R$215,12/MWh.
Se considerarmos que em novembro teremos outro leilão
exclusivo para a fonte, a perspectiva é de que a contratação total de
2015 de energia solar supere as expectativas. Para o setor, é necessário
garantir uma contratação de cerca de 1GW por ano, considerado o mínimo
para o desenvolvimento do mercado nacional.
Apesar de os leilões serem de inegável importância para a
maior inserção da energia solar na matriz elétrica brasileira, é preciso
lembrar que o maior potencial para a fonte no Brasil - que segue quase
despercebido pelo Governo Federal - está na descentralização da produção
de energia, na chamada micro e minigeração renovável.
Hoje, para um brasileiro ter acesso a um sistema
fotovoltaico e poder passar a gerar eletricidade a partir de seu
telhado, ainda existem certas barreiras. Uma delas são os impostos que
incidem no próprio sistema, que fazem com que ele seja 30% mais caro do
que poderia ser, e tributos como o ICMS (Imposto sobre Circulação de
Mercadoria e Serviços) que incidem na própria eletricidade de quem opta
por gerar sua própria energia, tornando-a menos vantajosa do que poderia
ser.
A Empresa de Pesquisa Energética (EPE) estima que se todo o
potencial de energia solar dos telhados brasileiros fosse aproveitado, a
eletricidade gerada seria suficiente para abastecer 2,3 vezes o consumo
inteiro do setor residencial de todo o país.
Uma outra barreira que precisa ser resolvida é a ausência
de linhas de crédito subsidiadas pelos bancos. Outra forma de incentivar
a energia solar, seria permitir aos cidadãos brasileiros usar seu FGTS
(Fundo de Garantia por Tempo de Serviço) para a aquisição de um sistema
fotovoltaico.
Para chamar a atenção do Governo e dos brasileiros para essas
questões, o Greenpeace lançou o Solariza. Um jogo que permite ao usuário
encontrar e marcar qualquer telhado no País e descobrir quanto poderia
estar gerando de energia e a economia prevista. O Solariza permite
mostrar o potencial da energia solar no Brasil e que a sociedade civil
tem interesse e deseja ter acesso à sistemas fotovoltaicos. Acesse,
jogue, participe e convide seus amigos!Alertas de desmatamento sobem e a violência vem a reboque
Dados publicados pelo IMAZON mostram um aumento de 63% nos alertas de
desmatamento e de 147% na degradação florestal, no período de agosto de
2014 a julho deste ano
Exploração ilegal de madeira deixa rastro de desmatamento e degradação em TI no Pará (© Daniel Beltrá/ Greenpeace)
O Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia (IMAZON) publicou ontem os resultados de seu Sistema de alerta do Desmatamento, o SAD, e as taxas consolidadas para o ano são altas: a área com desmatamento foi 63% maior, entre agosto de 2014 e julho de 2015, na comparação com o mesmo período do ano anterior. Só em julho, foram detectados 542 KM2 com alertaS de desmatamento, área 53% maior que o registrado em julho do ano passado.
“O SAD não é o instrumento mais indicado para medir as áreas perdidas, pois só “enxerga” desmatamentos maiores que 25 hectares. Porém, ele dá uma boa indicação do que podemos esperar na divulgação da taxa oficial medida pelo INPE, nos últimos anos tivemos apenas uma divergência entre as duas tendências”, explica Rômulo Batista da campanha da Amazônia.
Outro aumento muito preocupante foi o de trabalhadores do campo e ativistas ambientais mortos. Segundo informações da Comissão Pastoral da Terra, publicadas no final de julho, foram 23 mortos só no primeiro semestre, sendo 22 na Amazônia. Pessoas simples, camponeses, que foram mortos por sua luta para manter suas terras e modo de vida, impedindo assim o avanço do desmatamento e da exploração ilegal da floresta.
Infelizmente a violência continua e esta semana levou o Sr. Raimundo Santos Rodrigues. Conselheiro da Reserva Biológica do Gurupi desde 2012, ele era um defensor ferrenho da floresta e vinha denunciado a exploração ilegal da floresta. Sua esposa, que o acompanhava no momento do ataque dos assassinos, também foi atingida e segue internada.
O Brasil já conseguiu reduzir o desmatamento. Mas enquanto não houver melhoria e investimento na governança na Amazônia, um compromisso real com o Desmatamento Zero, o combate à exploração ilegal de madeira e o reconhecimento, respeito e proteção aos direitos dos povos tradicionais da floresta por parte dos Governos Federal e Estaduais, a paz na floresta nunca será alcançada.
Recentemente o governo brasileiro se comprometeu a acabar com o desmatamento ilegal até 2030, ou seja, cumprir a lei daqui a 15 anos. Mas, até lá, quantas arvores serão tombadas e quantas vidas serão perdidas nos rincões amazônicos?
Exploração ilegal de madeira deixa rastro de desmatamento e degradação em TI no Pará (© Daniel Beltrá/ Greenpeace)
O Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia (IMAZON) publicou ontem os resultados de seu Sistema de alerta do Desmatamento, o SAD, e as taxas consolidadas para o ano são altas: a área com desmatamento foi 63% maior, entre agosto de 2014 e julho de 2015, na comparação com o mesmo período do ano anterior. Só em julho, foram detectados 542 KM2 com alertaS de desmatamento, área 53% maior que o registrado em julho do ano passado.
“O SAD não é o instrumento mais indicado para medir as áreas perdidas, pois só “enxerga” desmatamentos maiores que 25 hectares. Porém, ele dá uma boa indicação do que podemos esperar na divulgação da taxa oficial medida pelo INPE, nos últimos anos tivemos apenas uma divergência entre as duas tendências”, explica Rômulo Batista da campanha da Amazônia.
Outro aumento muito preocupante foi o de trabalhadores do campo e ativistas ambientais mortos. Segundo informações da Comissão Pastoral da Terra, publicadas no final de julho, foram 23 mortos só no primeiro semestre, sendo 22 na Amazônia. Pessoas simples, camponeses, que foram mortos por sua luta para manter suas terras e modo de vida, impedindo assim o avanço do desmatamento e da exploração ilegal da floresta.
Infelizmente a violência continua e esta semana levou o Sr. Raimundo Santos Rodrigues. Conselheiro da Reserva Biológica do Gurupi desde 2012, ele era um defensor ferrenho da floresta e vinha denunciado a exploração ilegal da floresta. Sua esposa, que o acompanhava no momento do ataque dos assassinos, também foi atingida e segue internada.
O Brasil já conseguiu reduzir o desmatamento. Mas enquanto não houver melhoria e investimento na governança na Amazônia, um compromisso real com o Desmatamento Zero, o combate à exploração ilegal de madeira e o reconhecimento, respeito e proteção aos direitos dos povos tradicionais da floresta por parte dos Governos Federal e Estaduais, a paz na floresta nunca será alcançada.
Recentemente o governo brasileiro se comprometeu a acabar com o desmatamento ilegal até 2030, ou seja, cumprir a lei daqui a 15 anos. Mas, até lá, quantas arvores serão tombadas e quantas vidas serão perdidas nos rincões amazônicos?
Organizações civis promovem ação para engajar sociedade na licitação do busão
quinta-feira, 27 de agosto de 2015
Ontem, em parceria com Ape, Cidadeapé, Rede Nossa Sao Paulo, Idec, Rede Butantã e Ciclocidade, realizamos uma ação para conversar com a população de São Paulo sobre a licitação do sistema de ônibus da cidade.
Foram projetados slides nos prédios entre a avenida Paulista e rua da Consoloção, com informações sobre a importância da ação para o futuro da cidade. Além disso, especialistas em mobilidade urbana conversaram com as pessoas que paravam para assistir às projeções e responder as enquetes.
Um dos pontos questionados no edital é que a licitação não garante o cumprimento do Plano Municipal de Mudanças Climáticas, segundo o qual, até 2018, 100% da frota de ônibus deve rodar com combustíveis renováveis ou com motor elétrico.
Além disso, nada nos documentos leva em conta a intermodalidade por bicicleta, para que as pessoas possam levar suas bicicletas nos ônibus ou deixá-las em um bicicletário seguro nos terminais. Como o Plano de Mobilidade da cidade tem metas de crescimento do uso da bicicleta que devem chegar a 15 ou 20% dos deslocamentos em 15 anos, isso é fundamental para o bem-estar das pessoas e para o clima.
Iremos protocolar nosso posicionamento até o dia 31 de agosto, último dia da consulta pública, e também iremos transformar todas as demandas que coletamos da população em um documento a ser entregue à Secretaria de Transportes.
A semana está acabando e restam poucos dias a sociedade se manifestar antes que o prazo se esgote. Você está por dentro desse processo? Todas as informações estão no Facebook da coalização. Entrá lá para dar suas sugestões: http://bit.ly/busaodossonhos
Solariza simula um Brasil movido a energia solar
Jogo do Greenpeace mapeia potencial de energia solar do País e premia com instalação de painéis solares
Uma plataforma interativa que permite visualizar todos os
telhados brasileiros, simular a instalação de placas fotovoltaicas em
cada um deles e calcular o potencial do País para a geração de energia
solar. O Solariza é a nova ferramenta criada pelo Greenpeace para
engajar a sociedade em sua campanha de energia solar, que busca a
transição energética para um Brasil mais limpo e renovável. Essa matriz
energética tem importantes vantagens para o cidadão, a sociedade e o
meio ambiente.
Com a ferramenta também é possível calcular qual é o
potencial solar dos telhados individuais, estimando a economia que o
consumidor poderia ter ao produzir eletricidade em seu próprio telhado.
“Essas informações são essenciais para que os brasileiros - e mesmo o
Governo - possam entender que os telhados, geralmente as áreas mais
inutilizadas de nossas casas, podem ter um papel essencial na melhora da
sua qualidade de vida. Mas, para que isso aconteça, o Governo Federal
precisa permitir que todo brasileiro tenha acesso a um sistema
fotovoltaico, dando a ele as condições necessárias para a sua
aquisição”, diz Bárbara Rubim, da campanha de Clima e Energia do
Greenpeace Brasil.
A meta final do jogo é solarizar o equivalente a seis
milhões de telhados residenciais. Esse número representa a geração de
eletricidade necessária para desligar as termelétricas de Piratininga
(SP), Candiota (RS), e as usinas nucleares Angra 1 e 2.
Desde o agravamento da crise hídrica e devido ao baixo
nível dos reservatórios das hidrelétricas, as termelétricas estão em
funcionamento constante como um reforço para evitar um apagão. Estima-se
que mais de R$20 bilhões tenham sido queimados em combustíveis fósseis
para as usinas termelétricas no Brasil entre 2013 e 2014. Já as usinas
nucleares de Angra 1 e 2 estão com seus depósitos saturados de lixo
radioativo ao custo de R$1 bilhão aos cofres públicos, valor suficiente
para instalar placas solares em cerca de 60 mil telhados.
Já o jogador que acumular mais experiência solarizando
telhados receberá dois prêmios: a solarização de sua residência e a
oportunidade de participar da instalação solar na instituição vencedora
do “crowdroofing”.
A fim de estimular os usuários a atingirem a meta de
solarizar telhados suficientes para desligar essas usinas caras e
poluentes, o Greenpeace também inicia, nesta quinta (27/08), um
“crowdroofing” que funcionará da seguinte forma: quando 70% meta for
alcançada, ou seja,o equivalente a 4,2 milhões de casas forem
solarizadas, será aberta uma chamada pública para que entidades
beneficentes interessadas em ter os seus telhados solarizados se
cadastrem. Três entidades serão, então, pré-selecionadas com base em
critérios técnicos. A partir daí, a entidade vencedora será eleita pelo
público, que poderá votar em sua preferida.
Dessa forma o Greenpeace conta com a ajuda da população
para mapear e medir o potencial solar do Brasil, além de mostrar que
essa fonte poderia desempenhar - em nossa matriz - o papel hoje ocupado
por usinas térmicas e nucleares, que também são responsáveis pelos
constantes aumentos enfrentados pelo consumidor em sua conta de luz.
Brasil solar
A energia solar já é uma realidade no Brasil. Mas pode ser
muito mais. Se aproveitássemos todo o potencial que temos somente nos
telhados domiciliares, geraríamos eletricidade o suficiente para atender
2,3 vezes a demanda do setor residencial. Com muito menos, apenas 1,5%
de todos os domicílios brasileiros solarizados, poderíamos desligar as
caras e poluentes termelétricas de Piratininga (SP) e Candiota (RS).
Chegando a 10%, conseguiríamos nos ver livres das usinas nucleares Angra
1 e 2.
No entanto, isso só vai acontecer quando o Governo Federal
colocar o Sol como astro-rei da nossa matriz elétrica e na casa dos
brasileiros, tornando a energia solar mais acessível à população. Os
benefícios são muitos: geração da própria eletricidade, produção de uma
energia limpa e contas de luz mais baratas. Para isso, são essenciais
duas medidas simples: a criação de linhas de crédito subsidiadas que
popularizem a aquisição do sistema; e a possibilidade de utilização do
Fundo de Garantia (FGTS) para a compra e instalação de um sistema
fotovoltaico. Uma petição endereçada à Presidente Dilma Rousseff com
essas demandas também está disponível no site do jogo, para os usuários
que quiserem se posicionar oficialmente.
“Na prática, o FGTS é um fundo quase inacessível ao
trabalhador, que se vê obrigado a deixar seu dinheiro depositado com
rendimentos inferiores aos da poupança. Permitir que o cidadão possa
utilizar esse recurso para a compra de um sistema é garantir a ele uma
economia que fará a diferença em seu bolso todo mês, por mais de 25
anos”, continua Rubim. “Hoje essa possibilidade não só não existe, como o
Governo também utiliza os recursos do FGTS para financiar obras como a
construção de Angra 3. O cidadão deveria poder escolher como quer ver
seu dinheiro sendo investido.”
Ao atingir todas as metas do Solariza com a ajuda da sociedade,
conseguiremos mostrar aos Governantes que o Brasil pode e deve abusar do
sol para iluminar nosso presente e futuro.
Monday, August 24, 2015
Busão dos sonhos
segunda-feira, 24 de agosto de 2015
Moradores da capital descrevem como seria o seu #BusãoDosSonhos
Você já deu suas sugestões? Saiba mais sobre a licitação e participe também da construção de uma São Paulo pensada por pessoas e para pessoas.
A estrela de um grande guerreiro
Pirakumã Yawalapiti sendo barrado pela Polícia Militar do Distrito Federal na entrada do Congresso Nacional. Mobilização Nacional Indígena, outubro de 2013. (© André D'Elia)
Uma nova estrela brilha forte no céu. O grande líder indígena Pirakumã Yawalapiti faleceu na sexta-feira passada, dia 21, com sintomas de hipertensão, no Hospital da cidade de Água Boa (Mato Grosso). Com 58 anos de idade, Pirakumã sofreu um infarto enquanto se banhava.
Famoso por sua luta em defesa dos direitos tradicionais, Pirakumã foi o líder guerreiro do povo Yawalapiti, que vive na região do Alto Xingu, e uma das lideranças indígenas mais conhecidas do Brasil.
Pirakumã era um dos poucos índios ainda vivos que haviam presenciado a Expedição Roncador-Xingu durante os anos 50. Organizada pelos irmãos Villas Bôas, a viagem resultou na criação do Parque Indígena do Xingu e é retratada no filme Xingu, do diretor Cao Hamburguer – cujo roteiro contou com a consulta da liderança Yawalapiti.
"Eu estou falando aqui não é só pelo meu povo, é por todos que estão com pressa pra demarcar as terras. Se ninguém demarcar nós vamos enfrentar muita coisa: poluição, água vai acabar, água vai secar. Precisamos defender a nossa floresta", discursou Pirakumã Yawalapiti no Senado Federal durante a Mobilização Nacional Indígena desse ano.
Friday, August 21, 2015
Vem pensar na cidade em que você mora
sexta-feira, 21 de agosto de 2015 Não perca o busão, participe da licitação
Já tá sabendo da consulta pública sobre a licitação de ônibus de São Paulo? Até dia 31/08, o processo está aberto para que a sociedade possa opinar sobre o edital que irá regular o transporte público por ônibus nos próximos 20 anos na capital.
Por trás da cidade dos nossos sonhos, está um transporte público de qualidade, eficaz e com menos impactos no meio ambiente. Porém, temos poucos dias para ir além da imaginação e opinar sobre o edital da licitação. Então, com o objetivo de contribuir com a discussão, diversas organizações e movimentos, incluindo o Greenpeace, irão conversar com a população na avenida Paulista neste domingo (23/08).
Para se juntar a nós e colaborar com a reflexão sobre a nossa #SPdosSonhos, é só procurar o casarão ao lado do Parque Mário Covas. Venha dar sua opinão sobre o seu "Busão dos Sonhos" e ajude a construir uma cidade melhor!
Não dá pra ir? Participe por meio do site do evento, respondendo as enquetes e enviando sugestões!
Saiba mais e seja bem-vindo na construção dessa nova São Paulo.
Leilão de Energia aquém das expectativas
Apenas 7% dos projetos habilitados foram contratados, sendo maioria
proveniente de fonte eólica; número é inexpressivo perto do que foi
negociado no ano anterior
Turbina eólica na Suécia (© Philip Reynaers / Greenpeace)
Também foram negociados 66,18 MW provenientes de Pequenas Centrais Hidrelétricas (PCHs), ao preço médio de R$ 204,98 / MWh, 36,5 MW em usinas a biomassa, no valor médio de R$ 211,37 / MWh e uma usina termelétrica a gás natural, de 28,02 MW por um valor de R$ 214,25 MWh.
“O resultado desse leilão frustou as expectativas. Ano passado foram contratados 2.246 MW em usinas eólicas. Esse ano temos até o momento 628,8 MW”, compara Larissa Rodrigues, da campanha de Clima e Energia. “Teremos mais um leilão em novembro, mas provavelmente fecharemos o ano com uma contratação eólica bem menor que no último ano. O leilão de hoje mostrou que ainda são necessários ajustes para que a fonte eólica continue sua expansão”.
A baixa contratação de éolicas contrasta com as tendências de expansão da matriz elétrica verificadas no novo Balanço Energético Nacional (BEN 2015), recém lançado pelo governo. O documento identificou um crescimento significativo na capacidade instalada de eólicas, de 2.202 MW em 2013 para 4.888 MW em 2014.
Por outro lado, a energia proveniente de usinas térmicas movidas a combustíveis fósseis aumentou. Em 2014, elas geraram 23% da energia elétrica do País. Somente as usinas a óleo e a carvão, que são as mais poluentes, viram sua participação subir de 6,5% para 10% entre 2013 e 2014.
Segundo Rodrigues, “essa produção de energia, além de poluente, é cara e reflete direto na conta de luz do brasileiro, que não para de subir”. De acordo com ela, sempre que muitas usinas termelétricas são utilizadas no sistema, a bandeira tarifária fica vermelha e o consumidor paga mais. "Desde janeiro, quando esse sistema começou a valer, a bandeira não saiu do vermelho”, conclui.
Turbina eólica na Suécia (© Philip Reynaers / Greenpeace)
O governo promoveu hoje o 22º Leilão de Energia Nova A-3,
que contratou usinas de geração de energia elétrica para começarem a
operar daqui a três anos, em 2018. Haviam se habilitado para participar
do certame 371 projetos de usinas, somando 9.594 megawatts (MW). Ao
final do processo, apenas 29 projetos foram contratados, somando 669,498
MW, a um preço médio de R$ 188,87 / MWh.
A fonte eólica era a que mais tinha projetos habilitados para
participar do leilão, representando 90% do total. No entanto, das 338
usinas habilitadas, apenas 19 foram contratadas. A capacidade instalada
total de 538,8 MW foi vendida a um preço médio de R$ 181,09 / MWh.Também foram negociados 66,18 MW provenientes de Pequenas Centrais Hidrelétricas (PCHs), ao preço médio de R$ 204,98 / MWh, 36,5 MW em usinas a biomassa, no valor médio de R$ 211,37 / MWh e uma usina termelétrica a gás natural, de 28,02 MW por um valor de R$ 214,25 MWh.
“O resultado desse leilão frustou as expectativas. Ano passado foram contratados 2.246 MW em usinas eólicas. Esse ano temos até o momento 628,8 MW”, compara Larissa Rodrigues, da campanha de Clima e Energia. “Teremos mais um leilão em novembro, mas provavelmente fecharemos o ano com uma contratação eólica bem menor que no último ano. O leilão de hoje mostrou que ainda são necessários ajustes para que a fonte eólica continue sua expansão”.
A baixa contratação de éolicas contrasta com as tendências de expansão da matriz elétrica verificadas no novo Balanço Energético Nacional (BEN 2015), recém lançado pelo governo. O documento identificou um crescimento significativo na capacidade instalada de eólicas, de 2.202 MW em 2013 para 4.888 MW em 2014.
Por outro lado, a energia proveniente de usinas térmicas movidas a combustíveis fósseis aumentou. Em 2014, elas geraram 23% da energia elétrica do País. Somente as usinas a óleo e a carvão, que são as mais poluentes, viram sua participação subir de 6,5% para 10% entre 2013 e 2014.
Segundo Rodrigues, “essa produção de energia, além de poluente, é cara e reflete direto na conta de luz do brasileiro, que não para de subir”. De acordo com ela, sempre que muitas usinas termelétricas são utilizadas no sistema, a bandeira tarifária fica vermelha e o consumidor paga mais. "Desde janeiro, quando esse sistema começou a valer, a bandeira não saiu do vermelho”, conclui.
Reunião da CMTT decepciona organizações civis
A previsão do não cumprimento da lei de mundanças climáticas, a
intermodalidade restrita às regiões centrais e a falta de espaço para
participação da população preocupam ONGs
sexta-feira, 21 de agosto de 2015 Ação do Greenpeace pela prorrogação do prazo de consulta pública em licitação de novo sistema de ônibus da capital paulista (Foto: Rogério Assis/Greenpeace)
Organizações da sociedade civil participaram ontem da reunião do Conselho Municipal de Transporte e Trânsito, convocada pela Secretaria de Transportes de São Paulo, para prestar esclarecimentos sobre o edital de licitação do novo sistema de transporte paulistano, que prevê a contratação dos serviços pelos próximos 20 anos.
Pela lei de mudanças climáticas de São Paulo, a partir de 2018 o transporte público estará obrigado a usar 100% de combustíveis renováveis. No entanto, o secretário municipal de Transportes, Jilmar Tatto, já sinalizou que a lei não será cumprida no prazo e atribuiu o atraso às montadoras e fabricantes de ônibus. “Desconfio que existe um lobby das montadoras em não investir em energia limpa vinculada a ônibus. Isso só avança em automóveis particulares”, disse ele, durante a reunião de hoje.
Diversos grupos aderiram à mobilização por mais envolvimento da sociedade no processo de licitação. E o movimento continua neste domingo (23), com atividades na Avenida Paulista, que estará aberta às pessoas e fechada para carros, para a inauguração de um novo trecho da ciclovia. Entre outras entidades, Greenpeace, Idec e Cidade Ativa estarão presentes, conversando com a população e esclarecendo pontos importantes a respeito da licitação e de seu impacto no dia-a-dia das pessoas.
Outras informações sobre a mobilização estão no evento criado no Facebook pelo coletivo “Busão dos Sonhos”, que reúne as organizações que estão acompanhando o processo de licitação.
sexta-feira, 21 de agosto de 2015 Ação do Greenpeace pela prorrogação do prazo de consulta pública em licitação de novo sistema de ônibus da capital paulista (Foto: Rogério Assis/Greenpeace)
Organizações da sociedade civil participaram ontem da reunião do Conselho Municipal de Transporte e Trânsito, convocada pela Secretaria de Transportes de São Paulo, para prestar esclarecimentos sobre o edital de licitação do novo sistema de transporte paulistano, que prevê a contratação dos serviços pelos próximos 20 anos.
Pela lei de mudanças climáticas de São Paulo, a partir de 2018 o transporte público estará obrigado a usar 100% de combustíveis renováveis. No entanto, o secretário municipal de Transportes, Jilmar Tatto, já sinalizou que a lei não será cumprida no prazo e atribuiu o atraso às montadoras e fabricantes de ônibus. “Desconfio que existe um lobby das montadoras em não investir em energia limpa vinculada a ônibus. Isso só avança em automóveis particulares”, disse ele, durante a reunião de hoje.
Além da garantia de transição para combustíveis limpos,
atendendo à lei municipal de mudanças climáticas, as organizações
cobraram a viabilização da integração entre ônibus e bicicleta e a
garantia de que as reclamações dos usuários do transporte irão
influenciar na remuneração das empresas.
O Greenpeace apontou a necessidade de diversas mudanças no edital
para que a cidade realmente cumpra essa lei. “Por que a única política
pensada para intermodalidade está na unificação das bicicletas
compartilhadas (que não existem na periferia) com o bilhete único? Como
podemos garantir que a meta do plano municipal de mudanças climáticas
seja cumprida se o próprio secretário já disse que não será? A frota
limpa está sendo reduzida, mas não há indicativo na remuneração, por
quê? E o que acontece com as empresas que não fizerem a transição?”,
questiona Vitor Leal, da Campanha de Mobilidade do GreenpeaceDiversos grupos aderiram à mobilização por mais envolvimento da sociedade no processo de licitação. E o movimento continua neste domingo (23), com atividades na Avenida Paulista, que estará aberta às pessoas e fechada para carros, para a inauguração de um novo trecho da ciclovia. Entre outras entidades, Greenpeace, Idec e Cidade Ativa estarão presentes, conversando com a população e esclarecendo pontos importantes a respeito da licitação e de seu impacto no dia-a-dia das pessoas.
Outras informações sobre a mobilização estão no evento criado no Facebook pelo coletivo “Busão dos Sonhos”, que reúne as organizações que estão acompanhando o processo de licitação.
Em defesa do Parque dos Búfalos
Em plena crise hídrica, Tribunal de Justiça libera construção no Parque dos Búfalos, região de manancial da represa Billings
Moradores lutam pela manutenção do Parque dos Búfalos (© Carolina Marçal)
Sem floresta, não tem água, a frase se explica perfeitamente quando observamos a situação do sudeste do Brasil. Na cidade de São Paulo resta pouca floresta e falta água. Mesmo assim, nessa mesma semana, o Tribunal de Justiça de São Paulo liberou a construção de 193 prédios do Programa Minha Casa Minha Vida no Parque dos Búfalos, região de manancial da represa Billings.
O local foi declarado em 2012 como de utilidade pública, mas em 2013 o prefeito Fernando Haddad alterou a lei para liberar a área para moradias. Desde então, o Movimento Parque dos Búfalos vem lutando para que a construção seja transferida para outro local e o parque conservado.
Em fevereiro deste ano, a justiça havia determinado suspensão das obras após ações movidas contra o empreendimento pelos moradores da região e o Ministério Público. Porém, essa semana, a liminar foi derrubada, o que torna a edificação em uma área que deveria ser preservada mais próxima de se tornar realidade.
A construção de moradias em cima de nascentes e em uma área utilizada como parque pelos moradores do Jardim Apurá causará desmatamento e assoreamento de nascentes, impactando a qualidade e quantidade de água que chega na represa. A Billings sofre com a poluição causada pela falta de saneamento na região e o Parque é um dos últimos resquícios de Mata Atlântica em seu entorno.
Em tempos de falta de água na grande São Paulo, repensar o espaço urbano e pedir em pé de igualdade moradia e meio ambiente deveria ser via de regra. A luta pelo Parque dos Búfalos, uma área que se transformou em Parque pela vontade legítima da população continua. Se você acredita que moradia e meio ambiente devem ser igualmente priorizadas, assine a petição pela permanência do Parque dos Búfalos.
Moradores lutam pela manutenção do Parque dos Búfalos (© Carolina Marçal)
Sem floresta, não tem água, a frase se explica perfeitamente quando observamos a situação do sudeste do Brasil. Na cidade de São Paulo resta pouca floresta e falta água. Mesmo assim, nessa mesma semana, o Tribunal de Justiça de São Paulo liberou a construção de 193 prédios do Programa Minha Casa Minha Vida no Parque dos Búfalos, região de manancial da represa Billings.
O local foi declarado em 2012 como de utilidade pública, mas em 2013 o prefeito Fernando Haddad alterou a lei para liberar a área para moradias. Desde então, o Movimento Parque dos Búfalos vem lutando para que a construção seja transferida para outro local e o parque conservado.
Em fevereiro deste ano, a justiça havia determinado suspensão das obras após ações movidas contra o empreendimento pelos moradores da região e o Ministério Público. Porém, essa semana, a liminar foi derrubada, o que torna a edificação em uma área que deveria ser preservada mais próxima de se tornar realidade.
A construção de moradias em cima de nascentes e em uma área utilizada como parque pelos moradores do Jardim Apurá causará desmatamento e assoreamento de nascentes, impactando a qualidade e quantidade de água que chega na represa. A Billings sofre com a poluição causada pela falta de saneamento na região e o Parque é um dos últimos resquícios de Mata Atlântica em seu entorno.
Em tempos de falta de água na grande São Paulo, repensar o espaço urbano e pedir em pé de igualdade moradia e meio ambiente deveria ser via de regra. A luta pelo Parque dos Búfalos, uma área que se transformou em Parque pela vontade legítima da população continua. Se você acredita que moradia e meio ambiente devem ser igualmente priorizadas, assine a petição pela permanência do Parque dos Búfalos.
Pela primeira vez governo de São Paulo reconhece falta de água
Menos de uma semana após termos publicado artigo no UOL
com críticas ao governador Geraldo Alckmin e a dirigentes da Sabesp por
continuarem negando a falta de água em São Paulo, finalmente o Governo
do Estado reconheceu que, sim, enfrentamos uma crise hídrica.
No dia 18, por meio do Diário Oficial, o Governo de SP declarou “situação de criticidade hídrica a região da bacia hidrográfica do Alto Tietê”,
um dos principais e mais exauridos sistemas que abastecem a Grande São
Paulo e que passou a suprir parte da população que antes recebia água do
Sistema Cantareira.Essa é a primeira vez que o governo reconhece a situação crítica de falta de água em São Paulo. Mesmo com o rodízio de água implementado pela Sabesp, milhares de famílias sem água e o uso do volume morto nos dois principais sistemas que abastecem a cidade - Alto Tietê e Cantareira -, o governador Geraldo Alckmin ainda insistia em dizer que não havia estresse hídrico em São Paulo, como chegou a afirmar no Senado em julho desse ano.
Mesmo assim, a criticidade foi apenas reportada para o Alto Tietê, não incluindo outros sistemas, como o Cantareira, que atua no nível de 12,6% negativo desde o dia 19 de agosto. Esse sistema deixou de ser o principal fornecedor de água de São Paulo, e hoje abastece 5,3 milhões de pessoas – quase metade dos mais de 8 milhões de antes da crise.
Até agora, todas as respostas para a falta de água se resumem em grandes obras de transposição. Mas em época de seca, o que especialistas já previam aconteceu: o desvio do Rio Guaió para a represa Taiaçupeba, no Alto Tietê, com gasto de 28,9 milhões, não pode avançar pois o rio está seco.
O governo e a Sabesp precisam entender que a solução para a falta de água é admití-la e, assim, informar os cidadãos sobre seu alcance e o que se deve fazer em tempos críticos. Afinal, se a aceitação da crise tivesse vindo antes, os mananciais não estariam na situação alarmante em que se encontram hoje, já que ações para diminuir a demanda de água poderiam ter sido sido realizadas a tempo de diminuir os danos causados aos reservatórios.
Além disso, é urgente que se realize a recuperação e conservação das florestas em áreas de mananciais. Apesar de essas medidas serem de médio e longo prazo, a situação atual necessita também de políticas de curto prazo para que no futuro a falta de água e a degradação dos mananciais não chegue a níveis alarmantes. Atualmente, no Sistema Cantareira, restam apenas 15% de vegetação nativa.
Ações defendidas pelo Greenpeace, como o Desmatamento Zero, a recuperação de áreas de mananciais e o fim dos descontos para grandes consumidores são medidas que buscam soluções e encaminhamentos para crises. Tarefas atribuídas aos governantes que, infelizmente, a exemplo da crise em São Paulo, preferem esperar por São Pedro.
*Fabiana Alves é da campanha de Clima e Energia do Greenpeace Brasil
Tuesday, August 18, 2015
Shell tem permissão final para explorar o Ártico
Com a chegada do navio Fennica ao Oceano Ártico, governo dos EUA concede licença que faltava para empresa operar na região
Ativistas do Greenpeace em frente a plataforma de petróleo da Shell que vai operar no Ártico (© Keri Coles / Greenpeace)
Uma semana após o presidente Obama anunciar visita ao Alasca para conhecer comunidades tradicionais ameaçadas pelas mudanças climáticas, o governo dos Estados Unidos concedeu último aval necessário para que a empresa anglo-holandesa Shell perfure poços em busca de petróleo no Ártico.
Com a volta do navio quebra-gelo Fennica ao Mar de Chukchi, região do Alasca que faz parte do Ártico, o Departamento do Interior da administração Obama liberou a exploração nas águas geladas do Oceano Ártico. A Shell gastou cerca de 7 bilhões de dólares para operar na região.
Para a diretora executiva do Greenpeace EUA, Annie Leonard, o presidente Obama não pode anunciar uma visita ao Alasca para constatar os impactos do aquecimento global e ao mesmo tempo liberar a exploração de combustíveis fósseis na região ártica.
“Essa permissão significa que a administração Obama está abandonando o Ártico a um destino que depende da Shell. Enquanto o presidente conseguiu certo progresso na redução de emissões, seu legado ambiental será determinado pela sua decisão de manter ou não os combustíveis fósseis sob a terra”, comenta Leonard.
A petrolífera encaminhou o pedido assim que o navio Fennica se aproximou do Oceano Ártico. O quebra-gelo seria necessário, segundo o governo norte americano, por conter equipamentos de contenção de vazamento. “No entanto, as águas geladas e tempestuosas do Ártico representam um alto grau de dificuldade para a limpeza, uma vez que o óleo demora muito mais para se dissolver em baixas temperaturas”, explica Thiago Almeida, da campanha Salve o Ártico do Greenpeace Brasil.
No mês passado, ativistas do Greenpeace se penduraram da ponte St. John, em Portland, nos Estados Unidos, para bloquear a saída do Fennica que seguia rumo ao Ártico.
Ativistas do Greenpeace em frente a plataforma de petróleo da Shell que vai operar no Ártico (© Keri Coles / Greenpeace)
Uma semana após o presidente Obama anunciar visita ao Alasca para conhecer comunidades tradicionais ameaçadas pelas mudanças climáticas, o governo dos Estados Unidos concedeu último aval necessário para que a empresa anglo-holandesa Shell perfure poços em busca de petróleo no Ártico.
Com a volta do navio quebra-gelo Fennica ao Mar de Chukchi, região do Alasca que faz parte do Ártico, o Departamento do Interior da administração Obama liberou a exploração nas águas geladas do Oceano Ártico. A Shell gastou cerca de 7 bilhões de dólares para operar na região.
Para a diretora executiva do Greenpeace EUA, Annie Leonard, o presidente Obama não pode anunciar uma visita ao Alasca para constatar os impactos do aquecimento global e ao mesmo tempo liberar a exploração de combustíveis fósseis na região ártica.
“Essa permissão significa que a administração Obama está abandonando o Ártico a um destino que depende da Shell. Enquanto o presidente conseguiu certo progresso na redução de emissões, seu legado ambiental será determinado pela sua decisão de manter ou não os combustíveis fósseis sob a terra”, comenta Leonard.
A petrolífera encaminhou o pedido assim que o navio Fennica se aproximou do Oceano Ártico. O quebra-gelo seria necessário, segundo o governo norte americano, por conter equipamentos de contenção de vazamento. “No entanto, as águas geladas e tempestuosas do Ártico representam um alto grau de dificuldade para a limpeza, uma vez que o óleo demora muito mais para se dissolver em baixas temperaturas”, explica Thiago Almeida, da campanha Salve o Ártico do Greenpeace Brasil.
No mês passado, ativistas do Greenpeace se penduraram da ponte St. John, em Portland, nos Estados Unidos, para bloquear a saída do Fennica que seguia rumo ao Ártico.
Alckmin e Sabesp transferem à população a culpa pela crise hídrica
* Artigo de Fabiana Alves, da Campanha de Clima e Energia do Greenpeace Brasil, publicado no UOL em 15/08/2015
Desde os primeiros sinais da crise hídrica em São Paulo o discurso
da Sabesp e do governador do Estado habita um universo mais verossímil
para uma fábula de Lewis Carroll do que para a realidade que a população
enfrenta.
Recentes declarações de dirigentes da Sabesp, incluindo o presidente da companhia, Jerson Kelman, e o governador Geraldo Alckmin, comprovaram o pouco interesse em informar a população sobre as reais circunstâncias da falta de água. Em vez de admitir o desabastecimento e tentar resolver a crise em conjunto com os cidadãos, governo e Sabesp se afastam da sociedade civil ao negar o que é fato: sim, falta água em São Paulo.
Talvez Alice (do País das Maravilhas) possa esclarecer melhor aos paulistas – já que, pelo discurso de ambos, ela circula nos corredores institucionais do colapso hídrico. A população quer compreender, por exemplo, por que Alckmin declarou que "ninguém ficou sem água", em audiência sobre a crise hídrica realizada no Senado no dia 08 de julho.
A negação choca não apenas por ser uma inverdade comprovada diariamente pelos moradores do Estado, mas também pela incógnita de quem são os "ninguém" do governador,o que indica que a falta de água não é para todos.
São várias as fantasias. Jerson Kelman, por sua vez, justificou em recente entrevista à Folha que o problema não é garantir o suprimento ininterrupto de água, mas sim as pessoas não terem caixa d´água. Kelman transfere a culpa da má gestão da crise para a população, demonstrando descaso com milhares que não têm condições de alocar uma caixa d"água.
Aliás, o que apenas faz sentido quando não há abastecimento eficiente. Moradores do Jardim Régis, em São Paulo, chegaram a receber caixas d"água da Sabesp, mas não tinham dinheiro e nem espaço para instalá-las. A realidade é que a água existe para quem pode pagar por ela.
Na mesma entrevista fabulosa, Kelman afirmou que o preço da água poderia ser maior, até porque a população paga muito mais na conta do celular. Mas celular e água são bens distintos. Diferente do setor de telefonia, a água é um monopólio natural, ou seja, apenas uma empresa a fornece em cada cidade.
Em São Paulo, a Sabesp cuida do abastecimento de 364 municípios – e, para assegurar que um bem vital não seja tratado como mercadoria, o governo é acionista majoritário da companhia. Porém, se os gestores desse bem público mascaram a realidade sobre o seu abastecimento, a água acaba servindo de ferramenta de manobra política, ora defendendo conveniências de governo, ora de acionistas.
Outro personagem desse país maravilhoso, Manuelito Magalhães, diretor de gestão corporativa da Sabesp, escreveu o artigo "Gente também é bicho", defendendo obras de transposição de rios em caráter emergencial sem aprovação dos devidos órgãos ambientais. Desde 2011, relatório da própria Sabesp para investidores afirma que poderiam existir problemas de abastecimento devido à degradação de mananciais.
Além disso, o Atlas Brasil – Abastecimento Urbano de Água da Agência Nacional de Água já indicava, em 2010, que poderia haver deficit hídrico em mais da metade das cidades do país até 2015. Mesmo assim, os investimentos adequados não foram realizados.
Investir em obras de transposição não resolverá o problema de água de São Paulo, podendo, aliás, agravá-lo. Enquanto não houver políticas fortes de recuperação de mananciais, despoluição de rios e tratamento de esgoto, qualquer estiagem afetará a oferta de água do Estado.
Comprometer fluxos naturais de rios limita a capacidade dos cursos d´água em exercer suas funções de irrigação e abastecimento, além de deixá-los mais vulneráveis a efeitos adversos, como secas e enchentes. Talvez Alice possa nos dizer onde esses gestores querem chegar investindo na catástrofe.
A busca de água em lugares cada vez mais longe das áreas centrais demonstra uma política baseada no esgotamento de recursos naturais, e não na preservação. Kelman, porém, insiste que o impacto das obras de transposição é desprezível, pois são feitas em áreas urbanas. O presidente esquece que mudar cursos de rios causa alterações diretasao ecossistema. O meio urbano também necessita de florestas e água para sobreviver. Afinal, gente também é bicho.
Ignorar a falta de água, como Alckmin, ou comparar o preço da água com o do setor de telefonia, como Kelman, apenas dificulta a vida de milhares de cidadãos que vivem a seca dentro de suas casas, de mãos atadas, sem saberem ao certo como lidar com a falta de um recurso que é vital. Talvez apenas Alice possa explicar tudo isso.
Recentes declarações de dirigentes da Sabesp, incluindo o presidente da companhia, Jerson Kelman, e o governador Geraldo Alckmin, comprovaram o pouco interesse em informar a população sobre as reais circunstâncias da falta de água. Em vez de admitir o desabastecimento e tentar resolver a crise em conjunto com os cidadãos, governo e Sabesp se afastam da sociedade civil ao negar o que é fato: sim, falta água em São Paulo.
Talvez Alice (do País das Maravilhas) possa esclarecer melhor aos paulistas – já que, pelo discurso de ambos, ela circula nos corredores institucionais do colapso hídrico. A população quer compreender, por exemplo, por que Alckmin declarou que "ninguém ficou sem água", em audiência sobre a crise hídrica realizada no Senado no dia 08 de julho.
A negação choca não apenas por ser uma inverdade comprovada diariamente pelos moradores do Estado, mas também pela incógnita de quem são os "ninguém" do governador,o que indica que a falta de água não é para todos.
São várias as fantasias. Jerson Kelman, por sua vez, justificou em recente entrevista à Folha que o problema não é garantir o suprimento ininterrupto de água, mas sim as pessoas não terem caixa d´água. Kelman transfere a culpa da má gestão da crise para a população, demonstrando descaso com milhares que não têm condições de alocar uma caixa d"água.
Aliás, o que apenas faz sentido quando não há abastecimento eficiente. Moradores do Jardim Régis, em São Paulo, chegaram a receber caixas d"água da Sabesp, mas não tinham dinheiro e nem espaço para instalá-las. A realidade é que a água existe para quem pode pagar por ela.
Na mesma entrevista fabulosa, Kelman afirmou que o preço da água poderia ser maior, até porque a população paga muito mais na conta do celular. Mas celular e água são bens distintos. Diferente do setor de telefonia, a água é um monopólio natural, ou seja, apenas uma empresa a fornece em cada cidade.
Em São Paulo, a Sabesp cuida do abastecimento de 364 municípios – e, para assegurar que um bem vital não seja tratado como mercadoria, o governo é acionista majoritário da companhia. Porém, se os gestores desse bem público mascaram a realidade sobre o seu abastecimento, a água acaba servindo de ferramenta de manobra política, ora defendendo conveniências de governo, ora de acionistas.
Outro personagem desse país maravilhoso, Manuelito Magalhães, diretor de gestão corporativa da Sabesp, escreveu o artigo "Gente também é bicho", defendendo obras de transposição de rios em caráter emergencial sem aprovação dos devidos órgãos ambientais. Desde 2011, relatório da própria Sabesp para investidores afirma que poderiam existir problemas de abastecimento devido à degradação de mananciais.
Além disso, o Atlas Brasil – Abastecimento Urbano de Água da Agência Nacional de Água já indicava, em 2010, que poderia haver deficit hídrico em mais da metade das cidades do país até 2015. Mesmo assim, os investimentos adequados não foram realizados.
Investir em obras de transposição não resolverá o problema de água de São Paulo, podendo, aliás, agravá-lo. Enquanto não houver políticas fortes de recuperação de mananciais, despoluição de rios e tratamento de esgoto, qualquer estiagem afetará a oferta de água do Estado.
Comprometer fluxos naturais de rios limita a capacidade dos cursos d´água em exercer suas funções de irrigação e abastecimento, além de deixá-los mais vulneráveis a efeitos adversos, como secas e enchentes. Talvez Alice possa nos dizer onde esses gestores querem chegar investindo na catástrofe.
A busca de água em lugares cada vez mais longe das áreas centrais demonstra uma política baseada no esgotamento de recursos naturais, e não na preservação. Kelman, porém, insiste que o impacto das obras de transposição é desprezível, pois são feitas em áreas urbanas. O presidente esquece que mudar cursos de rios causa alterações diretasao ecossistema. O meio urbano também necessita de florestas e água para sobreviver. Afinal, gente também é bicho.
Ignorar a falta de água, como Alckmin, ou comparar o preço da água com o do setor de telefonia, como Kelman, apenas dificulta a vida de milhares de cidadãos que vivem a seca dentro de suas casas, de mãos atadas, sem saberem ao certo como lidar com a falta de um recurso que é vital. Talvez apenas Alice possa explicar tudo isso.
Dora, mais uma morte anunciada na Amazônia
Liderança rural assassinada no município de Iranduba (AM), Dora Salvador
convivia com ameaças há pelo menos 4 anos e havia denunciado diversas
vezes as intimidações
Dora fez diversas denúncias sobre as ameaças que sofria, mas não obteve proteção (Foto: Divulgação)
Maria das Dores dos Santos Salvador, de 52 anos, conhecida como Dora, foi sequestrada na última quarta-feira, 12 de agosto, em sua casa na comunidade de Portelinha, no município de Iranduba, a 27 quilômetros de Manaus (AM). Seu corpo foi encontrado no dia seguinte, com marcas de brutal violência e 12 tiros, segundo informações da Polícia Civil do estado.
Liderança rural, Dora denunciava a venda ilegal de terras na comunidade em que vivia e lutava pelo direito à terra, à moradia de qualidade, segurança, saúde e educação. Conforme as denúncias de Dora e dos moradores da região, a comercialização ilegal de lotes na comunidade era realizada por Adson Dias Silva, conhecido como “Pinguelão”, apontado como o principal suspeito de ser mandante do crime. De acordo com o jornal A Crítica, de Manaus, ele foi preso na última segunda-feira, dia 17, e estaria detido na delegacia de Manacapuru, município vizinho a Iranduba.
Gerson Priante, marido de Dora, que também foi agredido, disse à Comissão Pastoral da Terra (CPT) que ela convivia com ameaças há 4 anos e já havia registrado mais de 20 boletins de ocorrência na Delegacia de Iranduba contra Adson Silva. Há cerca de dois anos, ela denunciou uma agressão que havia sofrido à Secretaria de Segurança Pública do estado. Mais recentemente, em junho, também expôs a violência que vinha sofrendo na Assembleia Legislativa do Amazonas. Tudo sem resultados, já que ela não recebeu nenhuma proteção.
“Tudo que você pode imaginar de denúncias foi feito. Ela era uma líder e foi uma grande perda. Queremos que a justiça seja feita e que essa morte não seja em vão”, disse uma pessoa que conhecia Dora, mas não quis se identificar por questões de segurança.
Ainda segundo reportagem do jornal A Crítica, de Manaus, o secretário estadual de segurança pública do Amazonas, Sérgio Fontes, informou que a polícia não descarta a participação de Pinguelão no crime. Há sinais da participação dele também com o tráfico de drogas: de acordo com declarações das autoridades, em julho, uma operação da Polícia de Iranduba, em conjunto com um braço da Secretaria de Segurança Pública do Amazonas, realizada na comunidade de Portelinha, cumpriu cinco mandados de busca e apreensão contra o suspeito e apontou seu envolvimento com venda ilegal de terras, tráfico de drogas, ameaças e porte ilegal de armas de fogo.
“Estamos contando com o apoio, solidariedade e pressão de amigos e movimentos sociais para que este momento não fique só no choro, lamento e emoção. Queremos justiça”, afirmou Gerson Priante, o marido de Dora, em entrevista ao jornal A Crítica. Uma homenagem está sendo organizada pelos movimentos sociais da região nessa terça-feira, dia 18, em razão da missa de sétimo dia.
Segundo dados da CPT, até julho de 2015 já foram registrados 23 assassinatos em conflitos no campo no Brasil, sendo 22 deles na Amazônia.
O crime ocorre 32 anos depois do assassinato da líder camponesa Margarida Maria Alves, em 12 de agosto de 1983, símbolo da Marcha das Margaridas, que reuniu milhares de trabalhadoras na semana passada, em Brasília, para lembrar o Dia Nacional de Luta das Mulheres Trabalhadoras Rurais contra a Violência no Campo e por Reforma Agrária.
Pressione as autoridades para que haja Justiça! Envie um e-mail à Secretaria de Segurança Pública do Amazonas (SSP-AM) para exigir que a morte de Dora não fique impune: cg@ssp.am.gov.br
Dora fez diversas denúncias sobre as ameaças que sofria, mas não obteve proteção (Foto: Divulgação)
Maria das Dores dos Santos Salvador, de 52 anos, conhecida como Dora, foi sequestrada na última quarta-feira, 12 de agosto, em sua casa na comunidade de Portelinha, no município de Iranduba, a 27 quilômetros de Manaus (AM). Seu corpo foi encontrado no dia seguinte, com marcas de brutal violência e 12 tiros, segundo informações da Polícia Civil do estado.
Liderança rural, Dora denunciava a venda ilegal de terras na comunidade em que vivia e lutava pelo direito à terra, à moradia de qualidade, segurança, saúde e educação. Conforme as denúncias de Dora e dos moradores da região, a comercialização ilegal de lotes na comunidade era realizada por Adson Dias Silva, conhecido como “Pinguelão”, apontado como o principal suspeito de ser mandante do crime. De acordo com o jornal A Crítica, de Manaus, ele foi preso na última segunda-feira, dia 17, e estaria detido na delegacia de Manacapuru, município vizinho a Iranduba.
Gerson Priante, marido de Dora, que também foi agredido, disse à Comissão Pastoral da Terra (CPT) que ela convivia com ameaças há 4 anos e já havia registrado mais de 20 boletins de ocorrência na Delegacia de Iranduba contra Adson Silva. Há cerca de dois anos, ela denunciou uma agressão que havia sofrido à Secretaria de Segurança Pública do estado. Mais recentemente, em junho, também expôs a violência que vinha sofrendo na Assembleia Legislativa do Amazonas. Tudo sem resultados, já que ela não recebeu nenhuma proteção.
“Tudo que você pode imaginar de denúncias foi feito. Ela era uma líder e foi uma grande perda. Queremos que a justiça seja feita e que essa morte não seja em vão”, disse uma pessoa que conhecia Dora, mas não quis se identificar por questões de segurança.
Ainda segundo reportagem do jornal A Crítica, de Manaus, o secretário estadual de segurança pública do Amazonas, Sérgio Fontes, informou que a polícia não descarta a participação de Pinguelão no crime. Há sinais da participação dele também com o tráfico de drogas: de acordo com declarações das autoridades, em julho, uma operação da Polícia de Iranduba, em conjunto com um braço da Secretaria de Segurança Pública do Amazonas, realizada na comunidade de Portelinha, cumpriu cinco mandados de busca e apreensão contra o suspeito e apontou seu envolvimento com venda ilegal de terras, tráfico de drogas, ameaças e porte ilegal de armas de fogo.
“Estamos contando com o apoio, solidariedade e pressão de amigos e movimentos sociais para que este momento não fique só no choro, lamento e emoção. Queremos justiça”, afirmou Gerson Priante, o marido de Dora, em entrevista ao jornal A Crítica. Uma homenagem está sendo organizada pelos movimentos sociais da região nessa terça-feira, dia 18, em razão da missa de sétimo dia.
Segundo dados da CPT, até julho de 2015 já foram registrados 23 assassinatos em conflitos no campo no Brasil, sendo 22 deles na Amazônia.
O crime ocorre 32 anos depois do assassinato da líder camponesa Margarida Maria Alves, em 12 de agosto de 1983, símbolo da Marcha das Margaridas, que reuniu milhares de trabalhadoras na semana passada, em Brasília, para lembrar o Dia Nacional de Luta das Mulheres Trabalhadoras Rurais contra a Violência no Campo e por Reforma Agrária.
Pressione as autoridades para que haja Justiça! Envie um e-mail à Secretaria de Segurança Pública do Amazonas (SSP-AM) para exigir que a morte de Dora não fique impune: cg@ssp.am.gov.br
Friday, August 14, 2015
Governo confirma taxa de desmatamento
Com a revisão dos dados preliminares, o índice de queda no desmatamento
ficou abaixo do que havia sido divulgado em novembro, passando de 18%
para 15%
As florestas são essenciais para a regulação do clima e para a produção de chuvas. Foto de enorme área desmatada, em Roraima. (© Greenpeace/Marizilda Cruppe).
Nesta sexta-feira os ministros do Meio Ambiente, Izabella Teixeira, e da Ciência, Tecnologia e Inovação, Aldo Rebelo, apresentaram o resultado consolidado do Projeto de Monitoramento do Desmatamento na Amazônia Legal (Prodes), referente ao período de agosto de 2013 a julho de 2014. O número sofreu uma pequena variação em relação à estimativa divulgada em novembro do ano passado, a taxa oficial ficou em 5.012 km², que corresponde a uma redução de 15% em relação ao período anterior (2012-2013).
Durante a coletiva a ministra afirmou que a meta é chegar à taxa de desmatamento de 3.915 km² na Amazônia até 2020. Mas o fato é que, diante da crise climática que já estamos vivenciando, todo o desmatamento deveria ser evitado. O Brasil já desmatou o suficiente e hoje dispõe de áreas já abertas o suficiente para até dobrar a produção agrícola sem precisar cortar mais florestas. Inclusive, parte do setor produtivo já mostrou ser possível produzir sem destruir florestas, vide a Moratória da Soja e o Compromisso Público da Pecuária. Agora, deveríamos estar preocupados em como acabar de vez com o desmatamento.
Apesar da queda no desmatamento, a destruição de florestas ainda é o principal fator de emissões de gases do efeito estufa no Brasil e o governo brasileiro vem dando pistas que zerar o desmatamento não está entre suas prioridades. Ainda no ano passado, em reunião da ONU, o governo brasileiro se negou a assinar a declaração de Nova Iorque, documento que pede o fim do desmatamento em escala mundial. E há alguns meses, em encontro com o presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, a presidenta Dilma Rousseff se comprometeu, sem qualquer constrangimento, que trabalharia para tentar cumprir o Código Florestal, que ainda permite desmatamento. Enquanto isso, os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável da ONU (Organização das Nações Unidas), cuja versão final foi publicada nessa semana, prevê dentre suas metas acabar com o desmatamento até 2020.
O Brasil tem condições e deve fazer mais. Por isso, assumir um compromisso realmente audacioso de Desmatamento Zero é fundamental para o clima e para o nosso próprio futuro. Como disse recentemente o presidente Obama, “somos a primeira geração a experimentar os efeitos das mudanças climáticas e a última que pode fazer algo a respeito”.
Faça parte do movimento pelo Desmatamento Zero no Brasil. Assine a petição por uma lei que garanta a proteção das florestas e junte-se a mais de 1,2 milhões de brasileiros.
As florestas são essenciais para a regulação do clima e para a produção de chuvas. Foto de enorme área desmatada, em Roraima. (© Greenpeace/Marizilda Cruppe).
Nesta sexta-feira os ministros do Meio Ambiente, Izabella Teixeira, e da Ciência, Tecnologia e Inovação, Aldo Rebelo, apresentaram o resultado consolidado do Projeto de Monitoramento do Desmatamento na Amazônia Legal (Prodes), referente ao período de agosto de 2013 a julho de 2014. O número sofreu uma pequena variação em relação à estimativa divulgada em novembro do ano passado, a taxa oficial ficou em 5.012 km², que corresponde a uma redução de 15% em relação ao período anterior (2012-2013).
Durante a coletiva a ministra afirmou que a meta é chegar à taxa de desmatamento de 3.915 km² na Amazônia até 2020. Mas o fato é que, diante da crise climática que já estamos vivenciando, todo o desmatamento deveria ser evitado. O Brasil já desmatou o suficiente e hoje dispõe de áreas já abertas o suficiente para até dobrar a produção agrícola sem precisar cortar mais florestas. Inclusive, parte do setor produtivo já mostrou ser possível produzir sem destruir florestas, vide a Moratória da Soja e o Compromisso Público da Pecuária. Agora, deveríamos estar preocupados em como acabar de vez com o desmatamento.
Apesar da queda no desmatamento, a destruição de florestas ainda é o principal fator de emissões de gases do efeito estufa no Brasil e o governo brasileiro vem dando pistas que zerar o desmatamento não está entre suas prioridades. Ainda no ano passado, em reunião da ONU, o governo brasileiro se negou a assinar a declaração de Nova Iorque, documento que pede o fim do desmatamento em escala mundial. E há alguns meses, em encontro com o presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, a presidenta Dilma Rousseff se comprometeu, sem qualquer constrangimento, que trabalharia para tentar cumprir o Código Florestal, que ainda permite desmatamento. Enquanto isso, os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável da ONU (Organização das Nações Unidas), cuja versão final foi publicada nessa semana, prevê dentre suas metas acabar com o desmatamento até 2020.
O Brasil tem condições e deve fazer mais. Por isso, assumir um compromisso realmente audacioso de Desmatamento Zero é fundamental para o clima e para o nosso próprio futuro. Como disse recentemente o presidente Obama, “somos a primeira geração a experimentar os efeitos das mudanças climáticas e a última que pode fazer algo a respeito”.
Faça parte do movimento pelo Desmatamento Zero no Brasil. Assine a petição por uma lei que garanta a proteção das florestas e junte-se a mais de 1,2 milhões de brasileiros.
Fazendo cortesia com o chapéu alheio
Artigo publicado no Blog do Planeta, da Revista Época, fala sobre a
liberação, pelo Conselho do FGTS, de recursos para usina hidrelétrica e
nuclear. O dinheiro pertence ao cidadão, mas a escolha não
* artigo de Bárbara Rubim, da campanha de Clima e Energia do
Greenpeace Brasil, publicado no Blog do Plante, da Revista Época, em
20/07/2015
A sigla FGTS (Fundo de Garantia por Tempo de Serviço) é uma velha conhecida dos trabalhadores brasileiros. Mas não só deles. A relação do Fundo com o Banco Nacional de Desenvolvimento Social (BNDES) é como aquela que muitas vezes se tem com um antigo amigo que vive pedindo dinheiro emprestado: não aceita ‘não’ como resposta e sempre promete que é a derradeira e última vez em que isso acontece.
O exemplo mais recente dessa relação é um pedido que faria a gente repensar o relacionamento: a (não tão) módica quantia de R$10 bilhões solicitada pelo banco para o financiamento de controversas obras de infraestrutura.
Vejamos, por exemplo, o caso da Usina Hidrelétrica de Santo Antônio, parte do Complexo do Rio Madeira. Uma análise rápida do empreendimento - que num passado recente recebeu R$2 bilhões do FGTS - revela um atraso de quase cinco anos nas obras e o legado de um passivo ambiental enorme na região amazônica, com a perda de biodiversidade presente na área, o inchaço populacional e a remoção de comunidades ribeirinhas e indígenas locais. Apesar de tudo isso, em reunião realizada no último dia 15 de julho, o Comitê de Investimentos do Fundo garantiu à obra o repasse de mais R$45 milhões da poupança do trabalhador.
Infelizmente, quando o assunto é energia, as escolhas equivocadas do BNDES não param por aí. Outro empreendimento a ser beneficiado é a mal-fadada Usina Nuclear Angra 3, cujos custos atuais de construção já ultrapassam em mais de 100% as estimativas iniciais: saltaram de R$7 bi para R$15 bi. Ainda assim, as pressões feitas pelo governo federal e pelo BNDES surtiram efeito, e na mesma reunião decidiu-se também que outros R$400 milhões sairão do FGTS para serem utilizados em um empreendimento que, na melhor das hipóteses, ficará pronto em 2018, após suas obras terem sido paralisadas por 23 anos.
A teoria que levou à criação do FGTS, em meados da década de 1960, é louvável. Evitar o desamparo financeiro do trabalhador, sobretudo em casos de demissão ou doença terminal, por exemplo. Para isso, determina recolhimentos compulsórios a serem feitos pelo empregador sobre a folha de pagamento de seus funcionários e o depósito desse recurso em uma conta bancária.
Na prática, contudo, o levantamento desse recurso pelo trabalhador é restrito a poucas hipóteses legais. E, enquanto elas não ocorrem, é esse mesmo governo que escolhe como gastar, investir e para quem emprestar o dinheiro que, no dia-a-dia, parece inacessível à grande maioria.
A gravidade da falta de autonomia por parte dos brasileiros em relação à sua própria poupança é ainda mais evidente quando esta verba é utilizada para financiar obras que dificilmente encontrariam respaldo na opinião pública, seja por suas graves consequências socioambientais, ou por serem de questionável legalidade, já que - no caso de Santo Antônio e Angra 3 - estão envolvidas nas investigações sobre corrupção da Operação Lava Jato.
Se o objetivo é movimentar os recursos do Fundo e garantir que não falte eletricidade ao Brasil, há alternativas mais baratas, sustentáveis e democráticas. Uma delas é permitir ao cidadão que, se interessado, utilize a quantia depositada no FGTS, sua poupança compulsória, para poder adquirir um sistema de geração fotovoltaica, tornando-se um mini ou microgerador de eletricidade em sua propriedade.
A medida, de pouca complexidade, poderia resultar num crescimento exponencial do número de sistemas conectados à rede elétrica brasileira, no fortalecimento de um sistema descentralizado que ajudaria a reduzir a tão sobrecarregada rede elétrica e, ainda, aumentaria a quantidade de energia solar, fonte renovável, na matriz do País. A Empresa de Pesquisa Energética (EPE) mostra que o potencial de geração de eletricidade a partir do Sol nos telhados residenciais brasileiros é quase 20 vezes maior que a geração esperada da hidrelétrica da Santo Antônio. Ainda assim, a fonte segue recebendo poucos incentivos do poder público.
Apesar do inegável potencial brasileiro para a energia solar, o governo segue dando poucos incentivos para a fonte, enquanto nega ao brasileiro meios de adquirir seu próprio sistema e economizar na sua conta de luz. Os resultados dessa política são, assim como o FGTS, velhos conhecidos do cidadão: a escolha não lhe é dada, mas o dinheiro investido é dele e, ao final, a conta a ser paga também.
A sigla FGTS (Fundo de Garantia por Tempo de Serviço) é uma velha conhecida dos trabalhadores brasileiros. Mas não só deles. A relação do Fundo com o Banco Nacional de Desenvolvimento Social (BNDES) é como aquela que muitas vezes se tem com um antigo amigo que vive pedindo dinheiro emprestado: não aceita ‘não’ como resposta e sempre promete que é a derradeira e última vez em que isso acontece.
O exemplo mais recente dessa relação é um pedido que faria a gente repensar o relacionamento: a (não tão) módica quantia de R$10 bilhões solicitada pelo banco para o financiamento de controversas obras de infraestrutura.
Vejamos, por exemplo, o caso da Usina Hidrelétrica de Santo Antônio, parte do Complexo do Rio Madeira. Uma análise rápida do empreendimento - que num passado recente recebeu R$2 bilhões do FGTS - revela um atraso de quase cinco anos nas obras e o legado de um passivo ambiental enorme na região amazônica, com a perda de biodiversidade presente na área, o inchaço populacional e a remoção de comunidades ribeirinhas e indígenas locais. Apesar de tudo isso, em reunião realizada no último dia 15 de julho, o Comitê de Investimentos do Fundo garantiu à obra o repasse de mais R$45 milhões da poupança do trabalhador.
Infelizmente, quando o assunto é energia, as escolhas equivocadas do BNDES não param por aí. Outro empreendimento a ser beneficiado é a mal-fadada Usina Nuclear Angra 3, cujos custos atuais de construção já ultrapassam em mais de 100% as estimativas iniciais: saltaram de R$7 bi para R$15 bi. Ainda assim, as pressões feitas pelo governo federal e pelo BNDES surtiram efeito, e na mesma reunião decidiu-se também que outros R$400 milhões sairão do FGTS para serem utilizados em um empreendimento que, na melhor das hipóteses, ficará pronto em 2018, após suas obras terem sido paralisadas por 23 anos.
A teoria que levou à criação do FGTS, em meados da década de 1960, é louvável. Evitar o desamparo financeiro do trabalhador, sobretudo em casos de demissão ou doença terminal, por exemplo. Para isso, determina recolhimentos compulsórios a serem feitos pelo empregador sobre a folha de pagamento de seus funcionários e o depósito desse recurso em uma conta bancária.
Na prática, contudo, o levantamento desse recurso pelo trabalhador é restrito a poucas hipóteses legais. E, enquanto elas não ocorrem, é esse mesmo governo que escolhe como gastar, investir e para quem emprestar o dinheiro que, no dia-a-dia, parece inacessível à grande maioria.
A gravidade da falta de autonomia por parte dos brasileiros em relação à sua própria poupança é ainda mais evidente quando esta verba é utilizada para financiar obras que dificilmente encontrariam respaldo na opinião pública, seja por suas graves consequências socioambientais, ou por serem de questionável legalidade, já que - no caso de Santo Antônio e Angra 3 - estão envolvidas nas investigações sobre corrupção da Operação Lava Jato.
Se o objetivo é movimentar os recursos do Fundo e garantir que não falte eletricidade ao Brasil, há alternativas mais baratas, sustentáveis e democráticas. Uma delas é permitir ao cidadão que, se interessado, utilize a quantia depositada no FGTS, sua poupança compulsória, para poder adquirir um sistema de geração fotovoltaica, tornando-se um mini ou microgerador de eletricidade em sua propriedade.
A medida, de pouca complexidade, poderia resultar num crescimento exponencial do número de sistemas conectados à rede elétrica brasileira, no fortalecimento de um sistema descentralizado que ajudaria a reduzir a tão sobrecarregada rede elétrica e, ainda, aumentaria a quantidade de energia solar, fonte renovável, na matriz do País. A Empresa de Pesquisa Energética (EPE) mostra que o potencial de geração de eletricidade a partir do Sol nos telhados residenciais brasileiros é quase 20 vezes maior que a geração esperada da hidrelétrica da Santo Antônio. Ainda assim, a fonte segue recebendo poucos incentivos do poder público.
Apesar do inegável potencial brasileiro para a energia solar, o governo segue dando poucos incentivos para a fonte, enquanto nega ao brasileiro meios de adquirir seu próprio sistema e economizar na sua conta de luz. Os resultados dessa política são, assim como o FGTS, velhos conhecidos do cidadão: a escolha não lhe é dada, mas o dinheiro investido é dele e, ao final, a conta a ser paga também.
Thursday, August 13, 2015
Dilma e Merkel: o que esperar deste encontro
Na próxima semana, a presidenta brasileira e a chanceler alemã se
encontram em reunião bilateral. Florestas, investimentos em energia e a
Conferência do Clima são temas que devem ser abordados.
(©creative commons)
Desafetos no futebol, mas parceiros históricos em relação ao meio ambiente. A cooperação na área ambiental se consolidou no início dos anos 90 com a criação do Programa Piloto para a Proteção das Florestas Tropicais (PPG7), que se destinava ao desenvolvimento e criação de áreas protegidas no Brasil. A Alemanha teve destaque como o principal parceiro e investidor do Programa, além de ter contribuído para outras iniciativas como o Fundo Amazônia.
Nesta antiga relação, não foi apenas a Amazônia que recebeu investimentos. Também foram feitas parcerias nas áreas de energias renováveis, como a solar, e em energia nuclear. A contradição é que enquanto o potencial de Sol é elevadíssimo no Brasil e pouco aproveitado, a Alemanha que possui menos irradiação tem quase 10% de sua população se beneficiando da energia solar.
De olho na Conferência do Clima, a COP21, que acontece no final do ano em Paris, na França, e na qual espera-se que mais de 190 países assinem um acordo para redução da emissão de gases de efeito estufa, é fundamental acompanhar o que acontece com o desmatamento e a Amazônia.
Nas negociações internacionais, o Brasil é tido como um excelente cumpridor de suas obrigações e o governo federal faz questão de ressaltar os números de queda do desmatamento no País e, consequentemente, a queda das emissões. No entanto, o governo Dilma é um dos que menos demarcou Unidades de Conservação e Terras Indígenas, uma das melhores formas de combater o desmatamento. Para se ter uma ideia, nos últimos cinco anos Dilma criou apenas 1% do total das Unidades de Conservação existentes.
Além disso, o controle da extração de madeira da Amazônia na forma como é feito hoje funciona apenas para legalizar madeira ilegal. Órgãos oficiais do próprio governo definem que ilegalidade do setor chega a mais de 50% do volume extraído. O atual cenário coloca em risco os esforços realizados pelos programas de cooperação entre Brasil e Alemanha e muitas das áreas protegidas demarcadas com apoio do PPG7.
Um aporte de novos investimentos no Brasil por parte da chanceler alemã seria bem-vindo e Merkel poderia reiterar o apoio do governo alemão em relação à proteção das florestas e à adoção de metas mais ambiciosas para combater as mudanças climáticas visto que a Alemanha é um dos grandes financiadores do esforço global para a conservação de florestas tropicais.
(©creative commons)
Desafetos no futebol, mas parceiros históricos em relação ao meio ambiente. A cooperação na área ambiental se consolidou no início dos anos 90 com a criação do Programa Piloto para a Proteção das Florestas Tropicais (PPG7), que se destinava ao desenvolvimento e criação de áreas protegidas no Brasil. A Alemanha teve destaque como o principal parceiro e investidor do Programa, além de ter contribuído para outras iniciativas como o Fundo Amazônia.
Nesta antiga relação, não foi apenas a Amazônia que recebeu investimentos. Também foram feitas parcerias nas áreas de energias renováveis, como a solar, e em energia nuclear. A contradição é que enquanto o potencial de Sol é elevadíssimo no Brasil e pouco aproveitado, a Alemanha que possui menos irradiação tem quase 10% de sua população se beneficiando da energia solar.
De olho na Conferência do Clima, a COP21, que acontece no final do ano em Paris, na França, e na qual espera-se que mais de 190 países assinem um acordo para redução da emissão de gases de efeito estufa, é fundamental acompanhar o que acontece com o desmatamento e a Amazônia.
Nas negociações internacionais, o Brasil é tido como um excelente cumpridor de suas obrigações e o governo federal faz questão de ressaltar os números de queda do desmatamento no País e, consequentemente, a queda das emissões. No entanto, o governo Dilma é um dos que menos demarcou Unidades de Conservação e Terras Indígenas, uma das melhores formas de combater o desmatamento. Para se ter uma ideia, nos últimos cinco anos Dilma criou apenas 1% do total das Unidades de Conservação existentes.
Além disso, o controle da extração de madeira da Amazônia na forma como é feito hoje funciona apenas para legalizar madeira ilegal. Órgãos oficiais do próprio governo definem que ilegalidade do setor chega a mais de 50% do volume extraído. O atual cenário coloca em risco os esforços realizados pelos programas de cooperação entre Brasil e Alemanha e muitas das áreas protegidas demarcadas com apoio do PPG7.
Um aporte de novos investimentos no Brasil por parte da chanceler alemã seria bem-vindo e Merkel poderia reiterar o apoio do governo alemão em relação à proteção das florestas e à adoção de metas mais ambiciosas para combater as mudanças climáticas visto que a Alemanha é um dos grandes financiadores do esforço global para a conservação de florestas tropicais.
Tuesday, August 11, 2015
Usina nuclear de Sendai é reativada no Japão
Após dois anos sem energia nuclear, reator nuclear de Sendai é
reativado. Japão deveria incentivar fontes renováveis como a energia
solar em vez de reavivar a indústria nuclear.
Ativista do Greenpeace Japão protesta com população local em frente à usina nuclear de Sendai no Japão. (©Masaya Noda/Greenpeace)
A reativação do reator nuclear de Sendai hoje não reverterá o declínio da indústria nuclear do Japão, visto que todas as nove instalações nucleares japonesas enfrentam questões de segurança insuperáveis, junto a crescentes desafios jurídicos, públicos e políticos, adverte o Greenpeace Japão.
“A extensão em que as questões de segurança foram ignoradas no processo de revisão da Autoridade de Regulação Nuclear (NRA) feito para a reativação da usina de Sendai revela como a indústria nuclear e seus aliados no governo estão desesperados”, afirma Mamoru Sekiguchi, da campanha de Clima e Energia do Greenpeace Japão.
“Em vez de estar passando por um renascimento, boa parte dos reatores nucleares do Japão nunca será reativada. O primeiro-ministro Abe e a agência reguladora nuclear estão pondo em risco a segurança do Japão em troca de uma fonte de energia que provavelmente não será capaz de fornecer a eletricidade que o país precisa no futuro”, disse Sekiguchi.
A análise do Greenpeace Japão, publicada em abril de 2015, revelou que, em 2030, a energia nuclear provavelmente fornecerá apenas entre 2% e 8% da eletricidade gerada do Japão, comparada com a taxa divulgada pelo governo, de 22%.
O reator 1 de Sendai não opera desde maio de 2011. A NRA não conseguiu aplicar medidas estritas de segurança no reator de Sendai, dentre elas a NRA aprovou uma avaliação da Kyushu Energia Elétrica, que não apresentava os riscos sísmicos na usina de Sendai e violava os parâmetros de segurança pós-Fukushima da própria agência.
Além disso, uma análise encomendada pelo Greenpeace Japão em fevereiro revelou que a NRA também aceitou uma análise falha de risco vulcânico da Kyushu Energia Elétrica para o vulcão ativo Monte Sakurajima, localizado a apenas 50km do local do reator. A agência também não conseguiu exigir da Kyushu Energia Elétrica a conclusão do plano de segurança operacional relativo à idade das instalações antes de passar para a revisão do reator.
A opinião pública se opõe à prefeitura de Kagoshima diante da impossibilidade de implantarem medidas de planejamento emergenciais, incluindo planos de evacuação para idosos e pacientes internados em hospitais.
Os 43 reatores nucleares remanescentes no Japão apresentam inúmeras questões de segurança, incluindo falhas sísmicas nos locais onde existem reatores e problemas relacionados à idade das instalações. Isso e a opinião pública podem conseguir fazer com que muitos reatores tenham suas atividades encerradas permanentemente.
“A NRA admitiu que não é capaz nem de garantir a segurança se o reator nuclear for reativado. Porém, já se passaram quatro anos desde o derretimento dos reatores em Fukushima Daiichi, que ltinha um planejamento de emergência inadequado e avaliações de riscos com base em dados sísmicos e vulcânicos falhos. Estamos em uma situação trágica, em que a NRA está se agarrando a uma indústria nuclear cada vez mais decadente, em vez de colocar em primeiro lugar a vida e a subsistência das pessoas que vivem na sombra dos reatores,” disse Kendra Ulrich, do Greenpeace Japão.
“A política energética atual do governo não assegura nem mesmo as reduções de emissão de carbono anunciadas recentemente, que são insuficientes. O primeiro passo rumo a um futuro energético seguro é o primeiro-ministro Abe abandonar essa obsessão de tentar salvar a indústria nuclear e permitir o crescimento do inovador setor de energia renovável. O povo do Japão merece poder optar por energias renováveis, seguras e limpas,” disse Ulrich.
A energia nuclear não é necessária para assegurar drásticas reduções de carbono. O crescimento da energia renovável no Japão foi explosivo nos últimos quatro anos. Até abril de 2015, 24GW de energia solar foram instalados e mais 58GW aprovados para instalação. A capacidade nuclear do Japão antes do acidente de Fukushima Daiichi era de 45GW. Até 2014, os investimentos em novos painéis solares aumentaram para 2,6 trilhões de ienes (US$25 bilhões), com 8GW.
Ativista do Greenpeace Japão protesta com população local em frente à usina nuclear de Sendai no Japão. (©Masaya Noda/Greenpeace)
A reativação do reator nuclear de Sendai hoje não reverterá o declínio da indústria nuclear do Japão, visto que todas as nove instalações nucleares japonesas enfrentam questões de segurança insuperáveis, junto a crescentes desafios jurídicos, públicos e políticos, adverte o Greenpeace Japão.
“A extensão em que as questões de segurança foram ignoradas no processo de revisão da Autoridade de Regulação Nuclear (NRA) feito para a reativação da usina de Sendai revela como a indústria nuclear e seus aliados no governo estão desesperados”, afirma Mamoru Sekiguchi, da campanha de Clima e Energia do Greenpeace Japão.
“Em vez de estar passando por um renascimento, boa parte dos reatores nucleares do Japão nunca será reativada. O primeiro-ministro Abe e a agência reguladora nuclear estão pondo em risco a segurança do Japão em troca de uma fonte de energia que provavelmente não será capaz de fornecer a eletricidade que o país precisa no futuro”, disse Sekiguchi.
A análise do Greenpeace Japão, publicada em abril de 2015, revelou que, em 2030, a energia nuclear provavelmente fornecerá apenas entre 2% e 8% da eletricidade gerada do Japão, comparada com a taxa divulgada pelo governo, de 22%.
O reator 1 de Sendai não opera desde maio de 2011. A NRA não conseguiu aplicar medidas estritas de segurança no reator de Sendai, dentre elas a NRA aprovou uma avaliação da Kyushu Energia Elétrica, que não apresentava os riscos sísmicos na usina de Sendai e violava os parâmetros de segurança pós-Fukushima da própria agência.
Além disso, uma análise encomendada pelo Greenpeace Japão em fevereiro revelou que a NRA também aceitou uma análise falha de risco vulcânico da Kyushu Energia Elétrica para o vulcão ativo Monte Sakurajima, localizado a apenas 50km do local do reator. A agência também não conseguiu exigir da Kyushu Energia Elétrica a conclusão do plano de segurança operacional relativo à idade das instalações antes de passar para a revisão do reator.
A opinião pública se opõe à prefeitura de Kagoshima diante da impossibilidade de implantarem medidas de planejamento emergenciais, incluindo planos de evacuação para idosos e pacientes internados em hospitais.
Os 43 reatores nucleares remanescentes no Japão apresentam inúmeras questões de segurança, incluindo falhas sísmicas nos locais onde existem reatores e problemas relacionados à idade das instalações. Isso e a opinião pública podem conseguir fazer com que muitos reatores tenham suas atividades encerradas permanentemente.
“A NRA admitiu que não é capaz nem de garantir a segurança se o reator nuclear for reativado. Porém, já se passaram quatro anos desde o derretimento dos reatores em Fukushima Daiichi, que ltinha um planejamento de emergência inadequado e avaliações de riscos com base em dados sísmicos e vulcânicos falhos. Estamos em uma situação trágica, em que a NRA está se agarrando a uma indústria nuclear cada vez mais decadente, em vez de colocar em primeiro lugar a vida e a subsistência das pessoas que vivem na sombra dos reatores,” disse Kendra Ulrich, do Greenpeace Japão.
“A política energética atual do governo não assegura nem mesmo as reduções de emissão de carbono anunciadas recentemente, que são insuficientes. O primeiro passo rumo a um futuro energético seguro é o primeiro-ministro Abe abandonar essa obsessão de tentar salvar a indústria nuclear e permitir o crescimento do inovador setor de energia renovável. O povo do Japão merece poder optar por energias renováveis, seguras e limpas,” disse Ulrich.
A energia nuclear não é necessária para assegurar drásticas reduções de carbono. O crescimento da energia renovável no Japão foi explosivo nos últimos quatro anos. Até abril de 2015, 24GW de energia solar foram instalados e mais 58GW aprovados para instalação. A capacidade nuclear do Japão antes do acidente de Fukushima Daiichi era de 45GW. Até 2014, os investimentos em novos painéis solares aumentaram para 2,6 trilhões de ienes (US$25 bilhões), com 8GW.
Plano de Energia traz poucas novidades
Em Plano de Investimento em Energia Elétrica, governo corre com grandes obras atropelando a sociedade e o meio ambiente.
Projeto Minha Casa, Minha Vida em Juazeiro, Bahia, tem painéis solares. Moradores foram capacitados para a manutenção do sistema. (©Carol Quintanilha/Greenpeace)
Projeto Minha Casa, Minha Vida em Juazeiro, Bahia, tem painéis solares. Moradores foram capacitados para a manutenção do sistema. (©Carol Quintanilha/Greenpeace)
O governo federal anunciou hoje o Plano de Investimento em
Energia Elétrica (PIEE), um pacote de investimento de R$ 116 bilhões em
geração e R$ 70 bilhões em transmissão de energia elétrica até o final
de 2018. Na prática, são definidos os projetos prioritários de energia
para o País, quais são as usinas que vão receber investimentos e quais
os rumos do setor elétrico nos próximos anos. "O anúncio do Plano que
poderia indicar que o Brasil vai entrar no trilho das energias
renováveis, como solar e eólica, no entanto, não traz muita novidade e
demonstra falta de visão por parte do governo federal", afirma Larissa
Rodrigues, da campanha de Clima e Energia do Greenpeace Brasil.
Para os próximos três anos, o plano indica mais usinas
termelétricas a carvão e a gás natural, além de grandes hidrelétricas na
Amazônia e outras tantas pelo País, mesmo quando os reservatórios
destas últimas estão praticamente secos. Ou seja, o Brasil opta por
investir em fontes que são poluentes, que trazem grandes impactos
socioambientais e custos elevados para o bolso do consumidor.
Hidrelétricas no Rio Tapajós
O ministro de Minas e Energia, Eduardo Braga, destacou as
hidrelétricas de São Luiz do Tapajós e Jatobá entre as obras planejadas,
ambas no rio Tapajós, no Pará. O objetivo do Ministério é correr para
realizar o leilão da maior delas até o final do ano.
A falta de transparência e de diálogo do governo com o povo
Munduruku sobre os planos de construção da hidrelétrica no rio Tapajós e
a ausência da demarcação da Terra Indígena Sawré Muybu, que deve ser
alagada caso a usina seja construída, são algumas das questões em
relação à construção da hidrelétrica.
Ao pronunciar que fará o leilão da hidrelétrica ainda em
2015, o Ministro assume que passará por cima dos direitos do povo
Munduruku e das demais comunidades tradicionais que vivem ao longo do
rio Tapajós. Para obter o licenciamento ambiental da obra é obrigatório
realizar com a uma consulta livre, prévia e informada (CLPI) com a
população afetada, prevista na Convenção 169 da Organização
Internacional do Trabalho (OIT), da qual o Brasil é signatário.
A Convenção 169 estabelece o direito dos povos tradicionais
a serem consultados antes que decisões com implicações diretas em suas
vidas sejam tomadas. A convenção pretende reservar a eles o direito de
influenciar o processo de tomada das decisões que lhes afetam.
No início de 2015, o povo Munduruku e os ribeirinhos da região
entregaram à Secretaria-Geral da Presidência um Protocolo sobre como
querem ser consultados, mas até hoje não obtiveram um retorno.
Fato é que o processo de consulta prévia não está sendo
realizado e por isso, no mês de junho, uma sentença da Justiça Federal
de Itaituba proibiu o governo federal de licenciar a usina de São Luiz
do Tapajós, caso não seja devidamente realizada a consulta à população
afetada.
A Convenção 169 vem sendo historicamente desrespeitada pelo
governo brasileiro, principalmente quando se trata de projetos de
hidrelétricas. Alguns outros exemplos recentes de não cumprimento à
Convenção 169 são as populações atingidas pela construção das
hidrelétricas de Jirau e Santo Antônio (rio Madeira), ou Belo Monte (rio
Xingu), que nunca foram devidamente consultadas.
Faltaram novidades e a conta de luz continua cara
O governo perdeu a chance de mostrar que o Brasil pode,
sim, contar com mais fontes renováveis e fazer com que a sua matriz
elétrica seja mais diversificada e distribuída. O plano não trouxe
muitas novidades em relação às outras fontes renováveis para além das
hidrelétricas. Continuamos a perpetuar um modelo de geração de energia
centralizado, que privilegia grandes obras, mesmo quando seus efeitos
negativos já são conhecidos.
No plano do governo foram finalmente incluídas projeções para a
energia solar, fonte que foi sempre negligenciada no planejamento. Os
números são tímidos tanto para a energia solar quanto para a eólica, que
tem potencial para contribuir com muito mais que os 6 mil MW previstos
no Plano. "A ambição para essas fontes deve ser maior para que o Brasil
possa evitar novos investimentos, por exemplo, em usinas a carvão, que
não fazem sentido em um país cuja vocação natural são as fontes
renováveis", conclui Rodrigues.
Mais do que isso, em discurso sobre o Plano, a presidenta
Dilma enalteceu as decisões tomadas em seu governo no final de 2012 que
reduziram as contas de luz dos brasileiros em cerca de 18%. No entanto,
não comentou que as contas de luz praticamente dobraram desde 2013.
Infelizmente, não é preciso fazer contas, porque todos os brasileiros
sentiram a mudança diretamente no bolso.
Setor energético quadruplica emissões de carbono
Faltando quatro meses para a COP21, a conferência do clima de Paris, o
Observatório do Clima apresenta análise inédita das emissões brasileiras
de gases de efeito estufa entre 1970 e 2013, além de projeções para os
próximos anos; documento inclui recomendações para a participação do
Brasil no novo acordo climático
O Observatório do Clima (OC) ‒ rede que reúne 37 entidades da sociedade civil com o objetivo de discutir as mudanças climáticas no contexto brasileiro ‒ acaba de divulgar uma análise ampliada sobre as emissões brasileiras de gases do efeito estufa (GEE), entre 1970 e 2013. Nesse período, o setor de energia — que inclui produção e consumo de combustíveis e energia elétrica —quadruplicou seus níveis de GEE, chegando a 2013 com 29% das emissões brasileiras. Nenhum outro setor teve crescimento tão acelerado e em níveis tão altos de emissão.
A análise permite traçar uma curva de emissões brasileiras em toda a economia e projetá-las para os próximos anos. O resultado é preocupante: embora o Brasil ainda tenha chance de cumprir a meta proposta em 2009 (de reduzir suas emissões em 2020 em relação à tendência), tudo indica que daqui a cinco anos essa trajetória será ascendente. Isto é: o país estará na contramão da recomendação da ciência de declínio das emissões para evitar os piores efeitos do aquecimento global. Caso o desmatamento na Amazônia saia do controle, nem a meta de 2009 será cumprida.
Os dados foram levantados pelo SEEG, o Sistema de Estimativa de Emissões de Gases de Efeito Estufa, plataforma de acesso aberto criada pelo OC. Além de relatórios analíticos com informações atualizadas sobre as emissões de cinco setores da economia (agropecuária, energia, processos industriais, mudança de uso da terra e tratamento de resíduos), o SEEG também lançou hoje um documento-síntese, que identifica alguns dos principais desafios do Brasil para reduzir os gases que provocam o aquecimento global. Dessa forma, procura auxiliar na contribuição do país para um novo acordo climático global, a ser firmado na COP21, que acontecerá em Paris, em dezembro.
“É muito importante que o Brasil volte ao seu papel de protagonista nas discussões climáticas mundiais. Com essa análise em mãos, a sociedade terá melhor condição de cobrar das lideranças brasileiras a proposição de metas adequadas à realidade do país”, afirma André Ferretti, gerente de estratégias de conservação da Fundação Grupo Boticário de Proteção à Natureza e coordenador geral do Observatório do Clima.
Só nos últimos cinco anos, as emissões da área energética aumentaram 34%. “A expansão se deve à queda da participação do etanol, ao aumento do consumo de gasolina e diesel, além do incremento de geração termelétrica no Brasil”, informa Carlos Rittl, secretário-executivo do OC. Para ele, essa tendência é alarmante, mesmo quando comparada àquele que ainda é o pior vilão das emissões brasileiras, o desmatamento (que respondeu por 35% do total dos GEE do Brasil em 2013).
Montanha-russa de números
O relatório do SEEG traz conclusões positivas, pelo menos, à primeira vista. Por exemplo, o setor de mudança no uso do solo (desmatamento) apresentou uma redução de mais da metade de participação nas últimas duas décadas — de 70%, nos anos 1990, caiu para 35% em 2013. Essa queda, somada a um cálculo inflado de aumento do PIB, foi a principal responsável por colocar o Brasil no trilho de cumprir a meta de reduzir emissões em 36,1% a 38,9% em 2020 em relação à tendência.
No entanto, Tasso Azevedo, coordenador do SEEG, alerta que não dá para deitar nos louros. “As emissões ligadas à mudança do uso da terra atingiram seu valor mais baixo em 2012 (32%), mas, em 2013, voltaram a subir (para 35%). O principal motivo foi o aumento do desmatamento na Amazônia”, argumenta Azevedo. Como medida elementar para auxiliar na desaceleração do aquecimento global, ele frisa que “é imprescindível acabar com o desmatamento, ilegal e legal”.
Já na área energética, André Ferreira, diretor-presidente do Instituto de Energia e Meio Ambiente (Iema), explica que se registrou no período em foco uma evolução das emissões por fonte primária, com amplo predomínio do petróleo (72% em 2013), seguido do gás natural (17%) e do carvão (6%). “Ao mesmo tempo, a participação de fontes renováveis na matriz energética brasileira, que nos 1990 chegou a superar 50%, caiu para 41% em 2013.
Panorama total
A agropecuária aparece como a terceira maior responsável pelas emissões do Brasil, com 27% do conjunto. Desde 1970, a taxa já cresceu 160%. Os principais contribuintes são o metano emitido pelo gado e o uso de fertilizantes nitrogenados. A grande oportunidade aqui está no manejo correto e na recuperação das pastagens degradadas. “Quando bem manejados, mesmo os pastos podem ajudar a neutralizar carbono, sem dizer que as técnicas acabam por proporcionar um crescimento considerável da produção”, explica Marina Piatto, do Imaflora, que analisou essas estimativas.
Processos industriais é o penúltimo colocado (6% das emissões totais de 2013). As emissões nesse setor mais do que triplicaram entre 1970 e 1990 e, desde então, quase dobraram. Os segmentos que mais contribuíram para essa situação no ultimo ano do estudo foram a siderurgia e a produção de cimento — 52% somadas. Com base nisso, André Ferreira, do Iema, assegura que “a queda dessas emissões depende de aumentos da eficiência energética, inovações em processos, a exemplo do uso de carvão vegetal na siderurgia”.
O setor de resíduos responde pela menor parcela de emissões no Brasil com 3% do total em 2013. A cifra representa um crescimento de 300% desde 1970, porém, com números totalizados muito menores dentro do conjunto de emissões do país. O tratamento correto de resíduos tende, no primeiro momento, a acelerar as emissões, por envolver processos que potencializam as emissões de metano (de lixão para aterro controlado, por exemplo). “Para uma maior eficiência, é necessário universalizar o tratamento biológico de resíduos sólidos e esgoto no Brasil com o aproveitamento do biogás e dos materiais recicláveis”, assinala Igor de Albuquerque, do Iclei, que coordenou o relatório analítico do setor.
Pará, campeão nacional de emissões
Na versão mais recente do SEEG foi possível alocar mais de 90% das emissões de gases de efeito estufa nos Estados brasileiros ao longo de todo o período estudado. Focando em 2013, Pará e Mato Grosso figuram como os maiores emissores do país, devido ao desmatamento e à atividade pecuária. Logo em seguida vêm São Paulo e Minas Gerais, onde predominam emissões do setor de energia (especialmente o transporte) e, no caso mineiro, o gado leiteiro.
Embora o Brasil tenha passado por avanços importantes no que diz respeito às políticas públicas voltadas às mudanças climáticas, as análises do SEEG indicam que o país ainda não incorporou uma estratégia de desenvolvimento que leve em conta o controle das emissões de gases do efeito estufa. “As inciativas do governo federal, derivadas da Política Nacional sobre Mudança Climática, de 2009, têm escala muito tímida, e são frequentemente atropeladas por outras, como os subsídios à gasolina e o incentivo ao carro”, pondera Carlos Rittl. “É como se houvesse dois governos em ação: um que elabora políticas avançadas de descarbonização e outro que sabota sistematicamente essas políticas.”
O resultado é que o país não aproveita as oportunidades e as vantagens únicas que uma economia de baixo carbono pode oferecer. “A governança que sustenta as políticas públicas brasileiras relacionadas às mudanças climáticas não é claramente estabelecida. O país ainda não possui um sistema claro de monitoramento e avaliação para todas as políticas públicas ou para o conjunto de iniciativas sobre mudanças do clima e de cada um dos planos setoriais”, finaliza Rittl.
Sobre o SEEG
O SEEG (Sistema de Estimativas de Emissões de Gases de Efeito Estufa) é uma iniciativa do Observatório do Clima que compreende a produção de estimativas anuais das emissões de gases de efeito estufa (GEE) no Brasil, documentos analíticos sobre a evolução das emissões e um portal na internet para disponibilizar, de forma simples e clara, os métodos e dados gerados no sistema.
As informações são sistematizadas de acordo as diretrizes do IPCC (Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas), com base em Inventários Brasileiros de Emissões e Remoções Antrópicas de Gases do Efeito Estufa — elaborado pelo MCTI (Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação) — e em dados obtidos junto a relatórios governamentais, institutos, centros de pesquisa, entidades setoriais e organizações não governamentais.
Entre meados de 2014 e meados de 2015, foi desenvolvida a segunda versão do SEEG que, além de revisar as estimativas para o período 1990-2012 e incluir as estimativas de emissões para o ano de 2013, acrescenta as estimativas de emissões nacionais desde 1970 e, pioneiramente, apresenta uma primeira aproximação da distribuição das emissões por unidade da federação ao longo de todo o período.
O Observatório do Clima (OC) ‒ rede que reúne 37 entidades da sociedade civil com o objetivo de discutir as mudanças climáticas no contexto brasileiro ‒ acaba de divulgar uma análise ampliada sobre as emissões brasileiras de gases do efeito estufa (GEE), entre 1970 e 2013. Nesse período, o setor de energia — que inclui produção e consumo de combustíveis e energia elétrica —quadruplicou seus níveis de GEE, chegando a 2013 com 29% das emissões brasileiras. Nenhum outro setor teve crescimento tão acelerado e em níveis tão altos de emissão.
A análise permite traçar uma curva de emissões brasileiras em toda a economia e projetá-las para os próximos anos. O resultado é preocupante: embora o Brasil ainda tenha chance de cumprir a meta proposta em 2009 (de reduzir suas emissões em 2020 em relação à tendência), tudo indica que daqui a cinco anos essa trajetória será ascendente. Isto é: o país estará na contramão da recomendação da ciência de declínio das emissões para evitar os piores efeitos do aquecimento global. Caso o desmatamento na Amazônia saia do controle, nem a meta de 2009 será cumprida.
Os dados foram levantados pelo SEEG, o Sistema de Estimativa de Emissões de Gases de Efeito Estufa, plataforma de acesso aberto criada pelo OC. Além de relatórios analíticos com informações atualizadas sobre as emissões de cinco setores da economia (agropecuária, energia, processos industriais, mudança de uso da terra e tratamento de resíduos), o SEEG também lançou hoje um documento-síntese, que identifica alguns dos principais desafios do Brasil para reduzir os gases que provocam o aquecimento global. Dessa forma, procura auxiliar na contribuição do país para um novo acordo climático global, a ser firmado na COP21, que acontecerá em Paris, em dezembro.
“É muito importante que o Brasil volte ao seu papel de protagonista nas discussões climáticas mundiais. Com essa análise em mãos, a sociedade terá melhor condição de cobrar das lideranças brasileiras a proposição de metas adequadas à realidade do país”, afirma André Ferretti, gerente de estratégias de conservação da Fundação Grupo Boticário de Proteção à Natureza e coordenador geral do Observatório do Clima.
Só nos últimos cinco anos, as emissões da área energética aumentaram 34%. “A expansão se deve à queda da participação do etanol, ao aumento do consumo de gasolina e diesel, além do incremento de geração termelétrica no Brasil”, informa Carlos Rittl, secretário-executivo do OC. Para ele, essa tendência é alarmante, mesmo quando comparada àquele que ainda é o pior vilão das emissões brasileiras, o desmatamento (que respondeu por 35% do total dos GEE do Brasil em 2013).
Montanha-russa de números
O relatório do SEEG traz conclusões positivas, pelo menos, à primeira vista. Por exemplo, o setor de mudança no uso do solo (desmatamento) apresentou uma redução de mais da metade de participação nas últimas duas décadas — de 70%, nos anos 1990, caiu para 35% em 2013. Essa queda, somada a um cálculo inflado de aumento do PIB, foi a principal responsável por colocar o Brasil no trilho de cumprir a meta de reduzir emissões em 36,1% a 38,9% em 2020 em relação à tendência.
No entanto, Tasso Azevedo, coordenador do SEEG, alerta que não dá para deitar nos louros. “As emissões ligadas à mudança do uso da terra atingiram seu valor mais baixo em 2012 (32%), mas, em 2013, voltaram a subir (para 35%). O principal motivo foi o aumento do desmatamento na Amazônia”, argumenta Azevedo. Como medida elementar para auxiliar na desaceleração do aquecimento global, ele frisa que “é imprescindível acabar com o desmatamento, ilegal e legal”.
Já na área energética, André Ferreira, diretor-presidente do Instituto de Energia e Meio Ambiente (Iema), explica que se registrou no período em foco uma evolução das emissões por fonte primária, com amplo predomínio do petróleo (72% em 2013), seguido do gás natural (17%) e do carvão (6%). “Ao mesmo tempo, a participação de fontes renováveis na matriz energética brasileira, que nos 1990 chegou a superar 50%, caiu para 41% em 2013.
Panorama total
A agropecuária aparece como a terceira maior responsável pelas emissões do Brasil, com 27% do conjunto. Desde 1970, a taxa já cresceu 160%. Os principais contribuintes são o metano emitido pelo gado e o uso de fertilizantes nitrogenados. A grande oportunidade aqui está no manejo correto e na recuperação das pastagens degradadas. “Quando bem manejados, mesmo os pastos podem ajudar a neutralizar carbono, sem dizer que as técnicas acabam por proporcionar um crescimento considerável da produção”, explica Marina Piatto, do Imaflora, que analisou essas estimativas.
Processos industriais é o penúltimo colocado (6% das emissões totais de 2013). As emissões nesse setor mais do que triplicaram entre 1970 e 1990 e, desde então, quase dobraram. Os segmentos que mais contribuíram para essa situação no ultimo ano do estudo foram a siderurgia e a produção de cimento — 52% somadas. Com base nisso, André Ferreira, do Iema, assegura que “a queda dessas emissões depende de aumentos da eficiência energética, inovações em processos, a exemplo do uso de carvão vegetal na siderurgia”.
O setor de resíduos responde pela menor parcela de emissões no Brasil com 3% do total em 2013. A cifra representa um crescimento de 300% desde 1970, porém, com números totalizados muito menores dentro do conjunto de emissões do país. O tratamento correto de resíduos tende, no primeiro momento, a acelerar as emissões, por envolver processos que potencializam as emissões de metano (de lixão para aterro controlado, por exemplo). “Para uma maior eficiência, é necessário universalizar o tratamento biológico de resíduos sólidos e esgoto no Brasil com o aproveitamento do biogás e dos materiais recicláveis”, assinala Igor de Albuquerque, do Iclei, que coordenou o relatório analítico do setor.
Pará, campeão nacional de emissões
Na versão mais recente do SEEG foi possível alocar mais de 90% das emissões de gases de efeito estufa nos Estados brasileiros ao longo de todo o período estudado. Focando em 2013, Pará e Mato Grosso figuram como os maiores emissores do país, devido ao desmatamento e à atividade pecuária. Logo em seguida vêm São Paulo e Minas Gerais, onde predominam emissões do setor de energia (especialmente o transporte) e, no caso mineiro, o gado leiteiro.
Embora o Brasil tenha passado por avanços importantes no que diz respeito às políticas públicas voltadas às mudanças climáticas, as análises do SEEG indicam que o país ainda não incorporou uma estratégia de desenvolvimento que leve em conta o controle das emissões de gases do efeito estufa. “As inciativas do governo federal, derivadas da Política Nacional sobre Mudança Climática, de 2009, têm escala muito tímida, e são frequentemente atropeladas por outras, como os subsídios à gasolina e o incentivo ao carro”, pondera Carlos Rittl. “É como se houvesse dois governos em ação: um que elabora políticas avançadas de descarbonização e outro que sabota sistematicamente essas políticas.”
O resultado é que o país não aproveita as oportunidades e as vantagens únicas que uma economia de baixo carbono pode oferecer. “A governança que sustenta as políticas públicas brasileiras relacionadas às mudanças climáticas não é claramente estabelecida. O país ainda não possui um sistema claro de monitoramento e avaliação para todas as políticas públicas ou para o conjunto de iniciativas sobre mudanças do clima e de cada um dos planos setoriais”, finaliza Rittl.
Sobre o SEEG
O SEEG (Sistema de Estimativas de Emissões de Gases de Efeito Estufa) é uma iniciativa do Observatório do Clima que compreende a produção de estimativas anuais das emissões de gases de efeito estufa (GEE) no Brasil, documentos analíticos sobre a evolução das emissões e um portal na internet para disponibilizar, de forma simples e clara, os métodos e dados gerados no sistema.
As informações são sistematizadas de acordo as diretrizes do IPCC (Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas), com base em Inventários Brasileiros de Emissões e Remoções Antrópicas de Gases do Efeito Estufa — elaborado pelo MCTI (Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação) — e em dados obtidos junto a relatórios governamentais, institutos, centros de pesquisa, entidades setoriais e organizações não governamentais.
Entre meados de 2014 e meados de 2015, foi desenvolvida a segunda versão do SEEG que, além de revisar as estimativas para o período 1990-2012 e incluir as estimativas de emissões para o ano de 2013, acrescenta as estimativas de emissões nacionais desde 1970 e, pioneiramente, apresenta uma primeira aproximação da distribuição das emissões por unidade da federação ao longo de todo o período.
Estado de Rondônia está sob suspeita de ‘lavar’ madeira ilegal
Ministério do Meio Ambiente investiga se o governo de Rondônia declara como legal madeira proveniente de desmatamento
Carregamento de madeira ilegal no Pará (© Marizilda Cruppe/Greenpeace)
Como o Greenpeace tem denunciado desde maio de 2014, uma das principais fraudes que impulsionam a atividade de madeireiros ilegais é a aprovação de planos de manejo em áreas que já foram desmatadas. O esquema criminoso utiliza os créditos gerados para esses planos de manejo para documentar como legítima a madeira retirada de áreas que, em tese, deveriam ser protegidas, caso de Terras Indígenas e unidades de conservação. Com papéis oficiais adulterados, a madeira pode ser exportada e vendida como legal para o mercado global. Agora, o estado de Rondônia está sendo investigado pelo Ministério do Meio Ambiente (MMA) por possivelmente “lavar” madeira obtida ilegalmente de estados vizinhos como o Acre, Mato Grosso e Amazonas.
A suspeita do MMA reside na discrepância encontrada na contabilização da produção madeireira de Rondônia em 2013 com relação à sua área, uma conta que parece não fechar. O estado produziu o equivalente ao Pará nesse ano, apesar de ter uma área seis vezes menor. A informação foi divulgada pelo diretor do Serviço Florestal Brasileiro, Raimundo Deusdará Filho, durante uma palestra no II Encontro Nacional de Editores e Colunistas, promovido pela Coluna Esplanada, em Brasília, no dia 10. Ao UOL, a ministra Izabella Teixeira, disse que o caso seria um sinal claro de "corrupção".
De acordo com o MMA, Rondônia, 13º estado em termos de tamanho entre os 27 do Brasil, concedeu autorização para a extração de madeira equivalente a 4.003.304 metros cúbicos de madeira, em 2013. No mesmo período, o estado do Pará, o segundo maior da União, autorizou extração de 4.669.493 metros cúbicos, valor 15% maior, mas para uma região que é seis vezes maior.
Deusdará afirmou que há investigações em curso, mas que no atual estágio de coleta de provas seria inviável informar mais detalhes. No entanto, como a gestão ambiental é responsabilidade dos estados desde 2006, especula-se sobre a participação de esferas do governo rondoniense na fraude de planos de manejo. "Fraudes em Planos de Manejo Florestal estão destruindo as florestas e não é de hoje. O Greenpeace vem alertando para esse problema há mais de um ano. E a lentidão nas investigações também é um ponto prejudicial, já que quando anunciado o problema os madeireiros correm para comercializar esses créditos antes da conclusão do processo”, afirma Marina Lacôrte, da campanha da Amazônia do Greenpeace.
A extração de madeira por lei deve ser acompanhada por um processo eletrônico que permita seu rastreamento para evitar que seja obtida ilegalmente de terras indígenas ou áreas de proteção. O sistema vem sendo frequentemente fraudado em suas diferentes etapas. Além disto, a fiscalização e o monitoramento são frágeis e muito aquém do que é necessário, apresentando mais oportunidades para a ação criminosa de madeireiros. “Árvore no chão é dano sem volta. A situação está completamente insustentável e não há papel que garanta a verdadeira origem e legalidade da madeira. É necessário suspender tudo e revisar todos os planos imediatamente”, completa Marina Lacôrte.
Carregamento de madeira ilegal no Pará (© Marizilda Cruppe/Greenpeace)
Como o Greenpeace tem denunciado desde maio de 2014, uma das principais fraudes que impulsionam a atividade de madeireiros ilegais é a aprovação de planos de manejo em áreas que já foram desmatadas. O esquema criminoso utiliza os créditos gerados para esses planos de manejo para documentar como legítima a madeira retirada de áreas que, em tese, deveriam ser protegidas, caso de Terras Indígenas e unidades de conservação. Com papéis oficiais adulterados, a madeira pode ser exportada e vendida como legal para o mercado global. Agora, o estado de Rondônia está sendo investigado pelo Ministério do Meio Ambiente (MMA) por possivelmente “lavar” madeira obtida ilegalmente de estados vizinhos como o Acre, Mato Grosso e Amazonas.
A suspeita do MMA reside na discrepância encontrada na contabilização da produção madeireira de Rondônia em 2013 com relação à sua área, uma conta que parece não fechar. O estado produziu o equivalente ao Pará nesse ano, apesar de ter uma área seis vezes menor. A informação foi divulgada pelo diretor do Serviço Florestal Brasileiro, Raimundo Deusdará Filho, durante uma palestra no II Encontro Nacional de Editores e Colunistas, promovido pela Coluna Esplanada, em Brasília, no dia 10. Ao UOL, a ministra Izabella Teixeira, disse que o caso seria um sinal claro de "corrupção".
De acordo com o MMA, Rondônia, 13º estado em termos de tamanho entre os 27 do Brasil, concedeu autorização para a extração de madeira equivalente a 4.003.304 metros cúbicos de madeira, em 2013. No mesmo período, o estado do Pará, o segundo maior da União, autorizou extração de 4.669.493 metros cúbicos, valor 15% maior, mas para uma região que é seis vezes maior.
Deusdará afirmou que há investigações em curso, mas que no atual estágio de coleta de provas seria inviável informar mais detalhes. No entanto, como a gestão ambiental é responsabilidade dos estados desde 2006, especula-se sobre a participação de esferas do governo rondoniense na fraude de planos de manejo. "Fraudes em Planos de Manejo Florestal estão destruindo as florestas e não é de hoje. O Greenpeace vem alertando para esse problema há mais de um ano. E a lentidão nas investigações também é um ponto prejudicial, já que quando anunciado o problema os madeireiros correm para comercializar esses créditos antes da conclusão do processo”, afirma Marina Lacôrte, da campanha da Amazônia do Greenpeace.
A extração de madeira por lei deve ser acompanhada por um processo eletrônico que permita seu rastreamento para evitar que seja obtida ilegalmente de terras indígenas ou áreas de proteção. O sistema vem sendo frequentemente fraudado em suas diferentes etapas. Além disto, a fiscalização e o monitoramento são frágeis e muito aquém do que é necessário, apresentando mais oportunidades para a ação criminosa de madeireiros. “Árvore no chão é dano sem volta. A situação está completamente insustentável e não há papel que garanta a verdadeira origem e legalidade da madeira. É necessário suspender tudo e revisar todos os planos imediatamente”, completa Marina Lacôrte.
A Agenda que não enxerga o Brasil
A Agenda Brasil, plano de recuperação econômica divulgado hoje pelo
Governo Federal, é uma proposta que destroi o Brasil antes de salvá-lo.
Conjunto de ONGs lança manifesto rechaçando medidas.
Lançada hoje (11/8) pelo Governo Federal e senadores da base aliada, a Agenda Brasil
é um pacote de 28 medidas para combater a crise. No entanto, a
iniciativa acaba por revelar a incapacidade do governo de formular um
plano nacional que enxergue o meio ambiente, não como entrave, mas como
alavanca para desenvolver e modernizar o Brasil.
O plano embutido na Agenda Brasil é fazer mais do mesmo. O
meio ambiente à reboque da economia e a inclusão social, do aumento do
consumo e não pela garantia dos direitos básicos aos cidadãos. Em reação
ao documento, conjunto de organizações da sociedade civil, entre elas o
Greenpeace, divulgou manifesto rechaçando as medidas apresentadas.
O governo federal mais uma vez perde a chance de fazer
diferente. Mostra não conseguir enxergar oportunidades na crise. Ao
invés de repensar os rumos do País, continua com a implantação de
programas emergenciais, que são desenhados no atropelo, porém que
definem as condições de vida da sociedade por muitas décadas. É a lógica
de empurrar o problema com a barriga, adotando medidas com impacto
negativo na população e no meio ambiente.
Já passou da hora de pensar um modelo de desenvolvimento
que respeito a diversidade socioambiental do Brasil, levando em conta os
mais diversos recursos que o País dispõe. É o momento de mostrar que a
floresta em pé é mais valiosa que a floresta no chão; é a hora do desmatamento zero.
É o momento de reconhecer que quem mora longe dos centros urbanos
também é cidadão brasileiro e de entender que, quando a água da torneira
seca em casa, é por que a mata ciliar que protege rios e a floresta
foram destruídas. É impossível salvar o Brasil destruindo o Brasil.
Pontos críticos
Dividida em três áreas, “Melhoria do Ambiente de Negócios e
Infraestrutura”, “Equilíbrio Fiscal” e “Proteção Social”, a Agenda
Brasil contém diversos pontos críticos em relação ao meio ambiente, que
segue sendo visto pelo governo e pelo setor privado como um empecilho
para o desenvolvimento brasileiro.
As terras indígenas são colocadas dessa maneira, como
entraves para a recuperação da crise, e propõe-se a revisão dos marcos
jurídicos que as regulam para acelerar as obras de infraestrutura. A
proposta tem o claro objetivo de transformar essas terras em locais de
atividades produtivas, ou seja, torná-las rentáveis aos olhos da União.
Não se leva em conta, como de costume, os povos tradicionais que alí
habitam, suas culturas e hábitos, e muito menos os serviços prestados
por estes territórios preservados, como a regulação climática, a
produção de chuvas e a manutenção da biodiversidade, entre outros.
A proposta também quer incentivar a mineração a partir da
implementação de um novo marco jurídico para o setor. Isso vai gerar uma
corrida, sem regra conhecida e com potencial dramático de destruição,
às riquezas que hoje pertencem à União.
Outro ponto de atenção é que a Agenda Brasil estipula a
revisão da legislação de licenciamento ambiental em zonas costeiras,
áreas naturais protegidas, unidades de conservação e cidades históricas.
Além disso, pede por uma “PEC das Obras Estruturantes”, pela qual os
processos de licenciamento ambiental referentes às obras do PAC
(Programa de Aceleração do Crescimento) e dos programas de concessões
seriam simplificados.
Enquanto a Agenda Brasil tenta enfraquecer o processo de
licenciamento ambiental, a presidente discursa apresentando o Programa
de Investimento em Energia Elétrica, enaltecendo os esforços do governo
no que tange ao licenciamento. O problema é que a própria diz que “as
hidrelétricas foram feitas com cuidado e rapidez” e, quando olhamos para
a realidade, especialmente para as usinas do Rio Madeira e para Belo
Monte,no Xingu, vemos no que ‘rapidez’ se traduz: impactos
socioambientais graves e irreversíveis, sentidos principalmente pela
população mais pobre.
A marcha da insensatez agora avança sobre o Rio Tapajós, no
Pará, com o governo tentando empurrar goela abaixo de comunidades
ribeirinhas e povos indígenas a construção da hidrelétrica de São Luiz
do Tapajós.
O Procurador do Ministério Público Federal, João Akira, em artigo publicado na mais recente edição da Revista Greenpeace,
pontua que os problemas do licenciamento ambiental são de outra
natureza e não dizem respeito à velocidade da marcha procedimental, mas à
sua qualidade e à decisão política de investimento na sua eficácia. “O
que se verifica não são essencialmente falhas normativas, mas défice
democrático e deficiências na condução dos procedimentos, o que tornam
injustificáveis muitas das decisões tomadas. O exercício do poder
político e a expansão do poder econômico já não se satisfazem com o
sacrifício dos há muito sacrificados, agora querem que seja feito tudo
muito rápido”, afirmou Akira.
Acelerar o licenciamento destes projetos tende a expor a
população aos risco do planejamento ruim, abre a porta para a ja
endêmica indústria de corrupção comum as estas obras. Taí a Lava-Jato
com uma cachoeira de exemplos lamentáveis. Estes grandes projetos, como
as hidrelétricas na Amazônia, são sempre acompanhados de grandes
impactos ambientais – muitos deles irreversíveis. São obras que atingem
áreas de preservação permanente, derramam óleo no mar, que contaminam e
represam os rios, deslocam milhares de pessoas e contribuem para o
desmatamento.
Público ou privado?
Como se não bastasse, o pacote de medidas ainda pede a
revisão do marco regulatório das concessões, para favorecer os
investimentos privados em projetos de infraestrutura. São aqueles
projetos de uso público e comum que o Estado transfere a execução para o
setor privado. Ou seja, são todos aqueles projetos que deveriam atender
à população brasileira e não à lógica econômica financeira. Isso está
diretamente ligado com outro ponto da tal “agenda”, que pede a
implantação de uma "Avaliação de Impacto Regulatório", para que o Senado
possa dimensionar as consequências das normas dessas concessões nos
investimentos em infraestrutura. O que se esquece, uma vez mais, é que
seria necessário avaliar o impacto também na vida das pessoas.
Em resumo, a Agenda Brasil mais uma vez se fortalece o
discurso de enfraquecer o princípio da precaução, das salvaguardas
ambientais e os direitos coletivos. Enfraquece sobretudo uma alternativa
para o desenvolvimento do Brasil que concilie produção e preservação,
desenvolvimento com transparência e respeito aos recursos naturais,
econômicos e humanos. Por tudo isso, com a Agenda Brasil o governo
reenforça sua torpe miopia.
Crédito da foto de capa: © Marcos Oliveira / Agência Senado - Creative Commons
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