Encontro reúne bispos da Igreja Católica, lideranças do povo Munduruku,
movimentos sociais e organizações da sociedade civil para protestar
contra o licenciamento do Complexo hidrelétrico do Tapajós
Lideranças do povo Munduruku protestam contra a construção
do Complexo do Tapajós (©Greenpeace/Bruno Kelly)
“Imagina se você é moradora daqui, vive aqui, se consultam o que você
acha e você não pode dizer ‘eu não quero’, e o povo todo não pode dizer
‘nós não queremos’!”. É com essa reflexão que Dom Erwin Kräutler, bispo
do Xingu, fala sobre a construção do Complexo hidrelétrico do Tapajós, o
mais novo megaprojeto de energia do governo para a Amazônia que,
seguindo os passos de Belo Monte, está sendo desenvolvido sem consultar
de forma apropriada as populações tradicionais que serão afetadas pelo
empreendimento.
“Querem repetir o que estão fazendo em Altamira, querem sacrificar o
rio Tapajós com consequências irreversíveis para um povo do tamanho do
povo Munduruku, que defende a cultura que herdou de seus antepassados”,
afirma ele. “O governo é um rolo-compressor”.
Dom Erwin esteve na Caravana em Defesa do Rio Tapajós, que ocorreu na
semana passada na comunidade de São Luiz do Tapajós, próxima a Itaituba
(PA), onde está prevista a primeira de cinco hidrelétricas programadas
para a região. Ao longo do rio vivem cerca de 12 mil índios da etnia
Munduruku, que, ao lado dos povos ribeirinhos, são contrários ao
projeto.
No dia anterior à Caravana, ativistas do Greenpeace se uniram a cerca de 60 Munduruku para protestar contra o licenciamento do Complexo escrevendo a enorme mensagem “Tapajós Livre” com pedras na areia de uma praia próxima à comunidade.
“A natureza que a gente está vendo, mais tarde a gente não vai poder
ver. Não queremos perder o patrimônio que o nosso Deus, Karosakuybu, fez
pra gente cuidar, que é o rio e a floresta”, diz Juarez Saw Munduruku,
cacique da aldeia Sawré Muybu,
que corre o risco de ser alagada caso a hidrelétrica seja construída.
Além dessa aldeia, a região que pode ficar debaixo d’água é rica em
biodiversidade e abriga uma das principais porções de floresta intacta
do país, composta por unidades de conservação e terras indígenas.
Mesmo com todas as demonstrações contra o empreendimento, no início de novembro, em entrevista à BBC Brasil,
o Ministro Chefe da Secretaria Geral da Presidência, Gilberto Carvalho,
afirmou que o governo não abrirá mão das hidrelétricas.
Segundo Felício Pontes, Procurador da República no Pará, afirmar que
as hidrelétricas serão construídas de qualquer jeito é uma atitude
desrespeitosa em relação aos povos da floresta: “Dizer que isso é fato
consumado viola o direito dessas populações tradicionais e viola o
próprio processo de consulta prévia. É também um desrespeito à própria
Justiça, pois a decisão judicial determina a consulta prévia,
e queremos que ela seja feita de forma verdadeira” afirma ele,
defendendo que a consulta seja realizada em todas as aldeias Munduruku, e
não apenas com alguns representantes, respeitando assim a forma de
organização desse povo.
“Mais do que nunca a foz do Tapajós tem que se unir às cabeceiras do
Tapajós onde está o território Munduruku. Mais do que nunca isso é
necessário, pois estamos num processo crucial de luta e defesa pela
Amazônia e, dependendo de quem vença essa luta, nós vamos saber se
existe ou não existe mais Amazônia”, conclui Pontes.
Veja o vídeo sobre a Caravana em Defesa do Tapajós:
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