Em meio a escândalo de madeira ilegal, diversas empresas europeias estão
cancelando contratos com a Rainbow Trading, denunciada pelo Greenpeace
por comercializar madeira extraída sem autorização
Ativistas holandeses surpreendem navio suspeito de carregar
madeira ilegal (© Greenpeace/Bas Beentjes)
Após recente investigação do Greenpeace, que instalou rastreadores
em caminhões para monitorar a rotina de carregamento e transporte de
madeira ilegal no Pará, as empresas holandesas Stiho e LTL Woodproucts
anunciaram a suspensão da compra de madeira da Rainbow Trading. Na
França, a companhia Rougier Sylvaco também confirmou que está
suspendendo a comercialização com a Rainbow Trading enquanto essa está
sob investigação. Na Suécia a empresa "Interwood”, importadora que
negocia madeira com o Brasil, declarou que nao vai mais comprar madeira
da Rainbow e que vai suspender a importação de Ipê da Amazônia, já que
não consegue verificar a legalidade do produto.
A Rainbow Trading teve seis containers bloqueados pelas autoridades
belgas. Sua madeira está impedida de entrar no mercado até que as
autoridades competentes investiguem a fundo esses carregamentos. As
empresas que compraram madeira das serrarias denunciadas deverão
responder de acordo com a EUTR (European Union Timber Regulation),
legislação que proíbe a importação de madeira ilegal para o mercado
europeu e obriga as empresas a se prevenirem quanto ao risco de importar
essa madeira.
O Greenpeace tem pressionado as autoridades europeias para que
apliquem a EUTR e já havia alertado as empresas sobre os riscos de
ilegalidade da madeira da Rainbow, antes da chegada de três
carregamentos entregues na Bélgica no início de outubro e novembro.
A Rainbow Trading acumula quase meio milhão de reais em multas junto
aos órgãos ambientais. Durante operação deflagrada pela Sema (Secretaria
do Meio Ambiente do Pará) no início de novembro, em decorrência das
denúncias do Greenpeace, a empresa recebeu mais quatro multas: duas por
vender centenas de metros cúbicos de madeira ilegal, uma por lavar
madeira, ou seja, vender madeira com créditos falsos ou fraudulentos, e
outra por inserir informação falsa no sistema eletrônico de controle de
produtos florestais do Pará – o Sisflora.
Além disso, a Rainbow recebeu madeira contaminada da serraria Odani,
que também foi flagrada receptando o produto ilegal. Esta última também
foi fiscalizada e multada pela Sema, tornando evidente que essas
serrarias operam com irregularidades e não conseguem atestar, de fato, a
origem legal da madeira que comercializam.
Enquanto a Sema fiscaliza as empresas denunciadas e as áreas que
fornecem madeira para elas, o governo federal ainda não visitou as áreas
da União onde ocorreu a extração ilegal denunciadas no relatório. Para o
Greenpeace isto pode dificultar a conclusão das investigações do
governo estadual.
Além de ambas as empresas estarem bloqueadas no Sisflora, elas estão
também bloqueadas no sistema DOF (Documento de Origem Florestal) -
sistema eletrônico de controle federal, e assim permanecerão enquanto a
operação estadual continuar. Isso significa que, por ora, essas empresas
estão impossibilitadas de realizar qualquer tipo de transação comercial
de madeira, pelo menos até que as investigações sejam finalizadas.
Na última sexta-feira, dia 28 de novembro de 2014, o Ministério
Público Federal do Pará, o Ibama, a Sema, a associação dos engenheiros
florestais do Pará (APEF), alguns representantes do setor produtivo via
suas associações (Aimex - Associação das Indústrias Exportadoras de
Madeira do Pará; Unifloresta – Associação da cadeia produtiva Florestal
da Amazônia), entre outras entidades, confirmaram os graves problemas
do setor, já que firmaram um Termo de Ajustamento de Conduta (TAC), que
busca a melhoria da atividade madeireira no estado.
Este acordo já vinha sido discutido, mas sua assinatura só aconteceu após uma investigação
do Ministério Público Federal no Pará que teve início em 2013. Essa
investigação levou ao lançamento de diversas ações civis públicas contra
o Ibama e a Sema, entre outros atores, expondo as falhas do sistema. O
recente acordo, limitado ao estado do Pará, não implica na revisão
imediata de planos de manejo florestal existentes e do sistema com um
todo. Embora inclua medidas positivas, o termo não resolve a maioria dos problemas apontados pelo Greenpeace.
“Ao interromper a compra de madeira da Amazônia, os mercados mandam
uma mensagem muito clara de que toda a cadeia está contaminada já que o
risco da ilegalidade é alto demais. O governo federal precisa se juntar
aos esforços da Sema e dos mercados e dar o primeiro passo na solução do
problema, liderando imediatamente a revisão de todos os planos de
manejo aprovados desde 2006 e realizar uma reforma robusta no sistema de
controle”, finaliza Minami.
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