Enquanto mais de 190 países se reúnem em Lima, no Peru, para discutir
como superar o desafio das mudanças climáticas, bancada ruralista tenta
votar nesta quarta-feira (3) duas propostas que visam paralisar a
demarcação de Terras Indígenas e outras áreas protegidas – um dos
mecanismos mais eficientes para a proteção da floresta.
A Mobilização Nacional Indígena, rede de organizações coordenada
pela
Articulação dos Povos Indígenas do Brasil, promove um tuítaço
nesta
quarta, a partir das 10h30, contra as propostas.
Duas propostas que restringem drasticamente os direitos territoriais
das populações tradicionais podem entrar em votação no Congresso
Nacional nesta quarta-feira 3 de dezembro. Se aprovadas, as medidas
abrirão caminho para o maior golpe político da história recente contra
os direitos dos povos tradicionais, inviabilizando na prática a
demarcação de novas Terras Indígenas (TIs), a criação de Unidades de
Conservação (UCs) e a titulação de Territórios Quilombolas, instrumentos
fundamentais para o combate ao desmatamento.
Ao comprometer o modo de vida de populações locais e negar os
direitos dos povos tradicionais sobre seus territórios, as propostas
colocam em risco também o enfrentamento às mudanças climáticas e o
futuro do planeta.
Para o Greenpeace, o projeto é baseado em ideias preconceituosas e
promove uma perigosa e falsa oposição entre a manutenção dos direitos
indígenas e o crescimento do agronegócio nacional.
A Mobilização Nacional Indígena,
rede de organizações coordenada pela Articulação dos Povos Indígenas do
Brasil, promove um tuítaço nesta quarta, a partir das 10h30, contra as
propostas. Participe!
O parecer da Proposta de Emenda à Constituição (PEC) 215/2000,
apresentado pelo deputado ruralista Osmar Serraglio (PMDB-PR), deve ser
apreciado na Comissão Especial que analisa a matéria, às 14h30, no
Plenário 12 da Câmara Federal. Já a Comissão Mista de regulamentação da
Constituição deve votar o Projeto de Lei (sem nº) que regulamenta o Art.
231 da Constituição Federal, de autoria do senador Romero Jucá
(PMDB-RR), às 14h, no Plenário 13 da Ala Alexandre Costa do Senado.
Representantes da Sociedade Civil e indígenas das etnias
Ava-Canoeiro, Apinajé, Krahô, Tapuia, Kanela do Tocantins, Xerente e
Karajá de Xambioádo, todas do Tocantins, estarão em Brasília para
realizar mobilização contra as propostas.
Abrindo as portas para o desmatamento
Apresentado por Serraglio como um substitutivo,
o novo relatório da PEC 215 propõe uma ampla gama de exceções ao
direito de posse e usufruto das terras por parte dos povos indígenas,
além de inviabilizar novas demarcações e legalizar a invasão, a posse e a
exploração de terras indígenas demarcadas. O projeto transfere, ainda,
do Executivo para o Legislativo a prerrogativa de aprovar a
oficialização de TIs, UCs e territórios quilombolas e adota a data de
promulgação da Constituição (5/10/1988) como “marco temporal” para
comprovar a posse indígena. Ou seja: a comunidade teria direito à terra
apenas se puder demonstrar que ocupava o território nessa data (saiba mais).
A outra proposta que pode entrar em votação, o Projeto de Lei
Complementar que regulamenta o Art. 231 da Constituição
Federal,éassinado pelo senador Romero Jucá (PMDB-RR), ex-líder do
governo no Senado – que também é relator do controverso parecer sobre a
regulamentação da PEC do Trabalho Escravo. A proposta classifica
propriedades rurais como “área de relevante interesse público da União”.
Como consequência, o projeto estabelece que essas áreas poderão ser
excluídas da delimitação das terras indígenas se seus títulos de
ocupação forem “considerados válidos” ou poderão ser objeto de
desapropriação ou de compensação com outra área ofertada pela União.
Dessa forma, o projeto transforma interesses privados em "de relevante
interesse público da União".
Jogo de interesses
Em agosto deste ano a Polícia Federal interceptou uma ligação que indicaria interferência indevida de ruralistas
no processo de elaboração da relatoria da PEC 215. Segundo a
investigação, que culminou na prisão de Sebastião Ferreira Prado, líder
da Associação de Produtores Rurais de Suiá-Missú (Aprossum), na gravação
Prado pede contribuição para uma “vaquinha” de R$ 30 mil, que seria
usada para pagar um advogado ligado a Confederação Nacional da
Agricultura (CNA) para produzir o relatório e “colocar as coisas de
interesse nosso”, como disse o ruralista.
Na época, a Justiça Federal em Mato Grosso considerou que os fatos
representavam “um desvirtuamento da conduta do parlamentar responsável
pela elaboração da PEC, eis que a CNA é parte política diretamente
interessada no resultado da mencionada PEC”.
Pasto fértil para engorda da bancada ruralista
O governo de Dilma Rousseff foi o que menos demarcou TIs,
desde a redemocratização do Brasil. Enquanto a média de demarcações do
governo de José Sarney foi de 13 TIs por ano de governo, o governo Dilma
tem média pífia de 3,6 TIs/ano.
Em outubro passado, no auge da campanha eleitoral, Dilma Rousseff garantiu em carta aberta
que, se reeleita, se empenharia para mudar este cenário e que
considerava a PEC 215 inconstitucional. “Nada em nossa Constituição será
alterado com relação aos direitos dos povos indígenas! De todas as
justas reivindicações apresentadas não tive dúvidas sobre a questão da
inconstitucionalidade da PEC 215”, afirmou.
De acordo com o Rômulo Batista, da campanha da Amazônia doGreenpeace,
se no cenário atual as propostas já possuem forte chances de passar no
Congresso, graças a força da bancada ruralista, com a nova configuração
das casas legislativas, a costura política do agronegócio se tornará
ainda mais intensa.
“A única possibilidade de isso não acontecer é a presidente
Dilma se empenhar para que a PECnão seja aprovada, honrando sua promessa
de campanha. Agora é preciso que o governo mostre sua força e tenha uma
atuação incisiva para que este tipo de proposta não siga adiante”,
afirma Batista. Saiba mais aqui
Assessoria de comunicação da Mobilização Nacional Indígena
Oswaldo Braga (ISA) – oswaldo@socioambiental.org
(61) 3035-5104 / 9103-2127
Carolina Fasolo (Cimi) – carolgfasolo@gmail.com
(61) 2106-1650 / 9686-6205
Assessoria de comunicação Greenpeace
Rosana Villar – rosana.villar@greenpeace.org
(92) 98114-4467
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