Tuesday, December 9, 2014

Munduruku denunciam governo brasileiro para relatora da ONU

Durante abertura da Cúpula dos Povos, em Lima, cinco lideranças Munduruku denunciam governo brasileiro à relatora especial da ONU sobre o não-cumprimento da Convenção 169 da OIT na construção de grandes hidrelétricas na Amazônia 

 
Munduruku falam sobre hidrelétricas do Tapajós durante evento
da Cúpula dos Povos (© Greenpeace) 

Enquanto negociadores discutem na COP, Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas, que acontece em Lima, no Peru, como combater as ameaças do clima, representantes de povos indígenas de todo o mundo se reuniram ontem, dia 8, para a abertura da Cúpula dos Povos, evento que ocorre em paralelo à COP para ampliar o debate e incluir a participação de movimentos sociais.
Na ocasião, os Munduruku informaram à relatora especial da ONU para direitos indígenas que o Brasil não está respeitando a Convenção 169 da OIT, diante da falta da Consulta, Livre, Prévia e Informada em relação a construção das hidrelétricas previstas para o rio Tapajós, na Amazônia: “O governo não nos consultou sobre esse grande projeto e por isso estamos aqui, para denunciá-lo por estar atropelando a lei. Nós não vamos abrir mão do rio Tapajós, onde temos vários lugares sagrados”, afirmou Josias Munduruku.
Vicky Tauli-Corpuz, a relatora especial da ONU para povos indígenas, disse que é preciso que os direitos humanos estejam integrados com as discussões que estão ocorrendo durante o evento oficial. “Eu vim aqui hoje para ouvir sobre as violações aos direitos humanos que estão acontecendo em vários países da América Latina. É uma ótima oportunidade para entender o que está acontecendo nessa região e fazer a conexão com o que está acontecendo dentro da Conferência sobre mudanças climáticas”, afirmou ela.
Durante a mesa sobre desmatamento e mudanças climáticas, organizada pela Aidesep (Asociación Interétnica de Desarrollo de la Selva Peruana) e pela Forest Peoples Programme, os Munduruku também fizeram uma fala pública em que condenaram o projeto que prevê a construção de uma série de hidrelétricas no rio Tapajós, onde vivem, afirmando que irão resistir “até a última gota de sangue” e reiterando que o governo deve realizar a consulta em todas as mais de cem aldeias.

A mesa reuniu ainda indígenas de várias partes do América Latina, que expuseram os problemas em comum enfrentados pelos povos da Pan Amazônia, ameaçados por madeireiros e grandes projetos de infraestrutura, como mineração, extração de petróleo e a construção de grandes hidrelétricas.
Cerca de oito mil pessoas e duzentas organizações sociais de várias partes do mundo estão sendo aguardadas para a Cúpula dos Povos, que esse ano tem como tema central:  “Mudemos o sistema, não o clima”.

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