Wednesday, October 2, 2013

Vida de ativista

Desde 2006 no Greenpeace, Ana Paula Maciel, a brasileira que está presa na Rússia, defende o meio ambiente dentro e fora dos navios

Ana Paula embarcada no navio Esperanza, em 2010 (Foto: © Nick Cobbing / Greenpeace) 

Os cabelos ruivos, a pele clara e os olhos azuis podem enganar, mas Ana Paula Alminhana Maciel é uma brasileira típica: comunicativa, simpática e sem medo de trabalho pesado. Gaúcha, 31 anos, bióloga, Ana Paula é, também, ativista do Greenpeace. E faz parte do time de marinheiros da organização que, a cada três meses, embarcam em um navio, para defender o meio ambiente em missões ousadas mundo afora.
Porém, nos últimos dias, o semblante calmo da brasileira deu lugar à preocupação. Ana Paula faz parte do grupo de tripulantes do navio quebra-gelo Arctic Sunrise que é acusado de pirataria e viu a embarcação ser rebocada até o porto de Murmansk, extremo norte da Rússia europeia, onde espera, detido, pelo final das investigações.
Os ativistas estavam na região para protestar pacificamente contra os planos da gigante estatal russa Gazprom de explorar petróleo no Ártico. A plataforma Prirazlomnaya, que os ativistas tentaram escalar, é a primeira em alto-mar na região e a previsão é que comece a operar em 2014.
Ana Paula, que deveria ficar detida até o fim das investigações, foi uma dos cinco primeiros ativistas a ser indiciados pelo crime de pirataria, o que pode lhe render até 15 anos de cadeia sob uma acusação desmentida até pelo presidente russo, Vladimir Putin. “É absolutamente evidente que eles não são piratas”, disse ele na quarta-feira, 25 de setembro.
Essa não foi a primeira vez da brasileira no Oceano Ártico. Em 2010, Ana embarcou no navio Esperanza para trabalhar em uma expedição científica do Greenpeace, onde foi documentada a biodiversidade do Ártico e estudada a acidificação dos oceanos. Em 2012, ela voltou à região, quando cientistas coletaram amostras de gelo em expedição que tinha como objetivo impulsionar a campanha para transformar a região em um santuário ecológico global.
Apesar de detestar frio, a brasileira nunca negou uma missão. “Ela dizia que se pudesse escolher, trabalharia somente em locais ensolarados. Mas ela vai aonde ela precisa defender a natureza”, entrega Rosângela Alminhana, mãe da ativista. “A única vez que a vi estressada com as viagens foi quando foi para o Ártico na época em que não há noite”, completa.
A aparência calma de Ana Paula contrasta com a ferocidade com que luta pelo meio ambiente. Ativista desde o berço, segundo Rosângela, ela não mede esforços para defender a natureza em qualquer parte do planeta. “Ela já nasceu para ser ativista, é o dom dela. Quando está em casa, não deixa ninguém usar sacolas plásticas. É um trabalho que faz 24 horas por dia e com muito prazer. Tenho muito orgulho dela”, conta a mãe.

De voluntária a marinheira
Formada em Biologia pela Universidade Luterana do Brasil (Ulbra), em Canoas, Rio Grande do Sul, Ana Paula se juntou ao Greenpeace como voluntária em 2006, por intermédio de uma amiga. No mesmo ano, ela soube que o navio Arctic Sunrise estaria aberto para o embarque de voluntários por um mês, numa espécie de estágio. Mal sabia que esta se tornaria sua segunda casa, já que este foi o navio no qual mais embarcou até hoje. Tornou-se assistente de cozinha e, com o fim do estágio, foi convidada pela tripulação para continuar embarcando no navio.
Logo nas primeiras missões, a ativista precisou mostrar sua força. Em sua primeira ação embarcada, em maio de 2006, ficou detida por algumas horas em uma tensa manifestação em Santarém, no Pará, contra o desmatamento provocado pela indústria de soja. Um mês depois, já como tripulante do Arctic Sunrise, foi presa e deportada na ilha de São Cristóvão e Névis, no Caribe. Ela pisou na ilha para participar de um protesto contra a caça comercial de baleias.
O trabalho nos navios
A cada três meses, Ana Paula embarca em um navio, atua como ativista e marinheira e volta para descansar por mais três meses, esquema no qual trabalha até hoje. Pelos colegas, Ana Paula é descrita como uma pessoa muito comunicativa. Nas embarcações, a brasileira se mostra sempre muito centrada e de bom humor, apesar de ter que dividir o pequeno espaço com mais de vinte pessoas do mundo todo.

Dedicada, aprendeu inglês sozinha com os membros da tripulação, e também arrisca um pouco de italiano e espanhol. Ela gosta muito de ler, especialmente publicações sobre Biologia. Como boa marinheira, faz de tudo nos navios. E também fora deles. “É uma pessoa que faz a diferença no mundo”, orgulha-se a mãe.

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