Joelma, viúva de Dezinho, assumiu a luta do marido e também é ameaçada (© Greenpeace)
No julgamento que ocorreu na última quinta-feira, dia 24, o fazendeiro Lourival de Sousa Costa, acusado de ser um dos mandantes do crime, e Domício de Souza Neto, acusado como intermediário, foram absolvidos pelo júri, que considerou faltarem provas concretas do envolvimento dos réus.
“Ontem, a grilagem, o latifúndio, o crime e a impunidade tiveram uma grande conquista, pois o resultado do julgamento é um incentivo à matança de trabalhadores rurais. A família que luta por justiça fica presa, ameaçada, enquanto quem assassina fica livre”, afirmou Francisco de Assis Solidade, presidente da Fetagri-PA (Federação dos Trabalhadores na Agricultura do Estado do Pará).
“Como viúva, eu vejo esse resultado com muita tristeza. Depois de 13 anos, só agora a gente conseguiu colocar um dos mandantes no banco dos réus. Mas mais uma vez a justiça do Pará mostrou que quem tem o poder de comando é quem mata, enquanto quem morre é o verdadeiro condenado”, afirma Joelma.
Maria Joel Dias da Costa, a Joelma, assumiu a luta do marido após o assassinato, mas hoje ela está entre as 38 pessoas ameaçadas de morte no sul e sudeste do Pará e vive com escolta policial. Sua história foi contada no site da Pública junto com a de outras nove mulheres ameaçadas devido a conflitos agrários.
“Em um Estado incapaz de combater ilegalidades como a grilagem de terras e a destruição da floresta, as lideranças comunitárias rurais cumprem um importante e corajoso papel na proteção do meio ambiente e dos direitos das minorias. Mas a impunidade vista em crimes como esse contribui para deixar a situação dessas pessoas ainda mais vulnerável” afirma Danicley de Aguiar, da Campanha Amazônia do Greenpeace.
De fato, um levantamento realizado pela CPT mostrou a dificuldade que o país tem para punir os crimes no campo. De 1985 a 2012, foram 679 casos de assassinatos na Amazônia Legal, com 961 vítimas no total. Desses casos, apenas 34 foram julgados, condenando 19 mandantes e 26 executores.
O assassinato de Dezinho foi denunciado na Comissão Interamericana de Direitos Humanos da OEA (Organização dos Estados Americanos), em 2007, apontando a morosidade da justiça do Pará, a omissão do Estado brasileiro para proteger a vítima e o descaso na apuração do crime. Em 2008, a Comissão reconheceu indícios de que as autoridades brasileiras não empreenderam esforços suficientes para prevenir e investigar o caso.
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