Apesar de divulgadas estimativas preliminares de expansão de energia
solar em até 1.400 MW no final da década, a fonte foi novamente excluída
do plano decenal. (©Rogério Reis/Tyba)
Assim como em anos anteriores, o PIB é superestimado para a década. A despeito do cenário econômico nacional e internacional, o PIB projetado se mantém na otimista e irreal faixa de 4,8% ao ano no período. Enquanto isso, as projeções mais otimistas de bancos e agências financeiras não passam de 3,5% até 2020 e a própria projeção oficial de crescimento do PIB para este ano foi revista em 2,5%.
Outra projeção questionável é a dimensão das projeções energéticas, que baseadas em um PIB irreal são distorcidas em mais de 10 mil MW ao final do período de análise. O plano prevê 335 MW médios a menos do que o que foi projetado no ano passado, mas esta redução poderia ser muito maior; a projeção do crescimento da demanda energética em taxas de 3,5% ao ano resultaria em uma Usina de Itaipu a menos.
A expansão do sistema elétrico para atender a demanda projetada - de 53% para a década - prevê o aumento das hidrelétricas em 34 mil MW ou 40% enquanto as pequenas centrais hidrelétricas e as usinas por biomassa crescem em apenas 2 mil e 5 mil MW, respectivamente. Estas projeções são condizentes com as realidades dos respectivos mercados, mas tanto as PCHs quanto as usinas de biomassa poderiam almejar melhores resultados com políticas de incentivo adequadas.
Uma boa notícia foi a redução da expansão das fontes fósseis em relação ao que era projetado no PDE de 2021. A capacidade instalada total em termelétricas fósseis caiu de 26 mil MW para pouco menos de 22,5 mil MW. No entanto, este número não parece factível diante da pressão por mais térmicas fósseis evidenciada depois dos riscos de apagões neste ano.
As energias renováveis continuam abaixo de seu enorme potencial no plano. Para a energia eólica, é projetado um crescimento médio de 1.600 MW por ano, mas na prática já são contratados 2 mil MW por ano, demonstrando que esse número poderia ter sido mais otimista. E apesar de divulgadas estimativas preliminares de expansão de energia solar em até 1.400 MW no final da década, a fonte foi novamente excluída do plano decenal. O argumento do custo alto para a energia solar foi novamente usado, mas desconsidera-se que esta competitividade deve ser alcançada ainda na primeira metade do horizonte de projeção.
Em relação à previsão de investimentos, por incrível que pareça, o desequilíbrio entre investimentos em petróleo e gás e fontes renováveis não apenas se manteve, como aumentou. Dos R$1,125 trilhões previstos para os próximos dez anos, 72,% serão destinados aos combustíveis fósseis, enquanto os biocombustíveis que recebiam 7% do total no plano anterior, agora, receberão menos de 5%. E as renováveis – PCHs, eólica e biomassa – continuam com a irrisória participação de 3%.