Greenpeace Brasil cobra posicionamento de montadora alemã em relação à fraude em testes de emissões veiculares no País

sexta-feira, 30 de outubro de 2015
 
Recentemente, a Volkswagen se envolveu em um escândalo que contradisse um de seus anúncios mais famosos: “você conhece, você confia”. A multinacional admitiu utilizar softwares de manipulação em seus carros a diesel (vendidos como menos poluentes), para mascarar os testes de emissão de 11 milhões de automóveis – incluindo a picape a diesel Amarok no Brasil. 
O episódio torna o momento oportuno para repensarmos as atuais políticas de incentivo ao uso de transporte individual, em um contexto no qual a inexistência de metas obrigatórias de eficiência energética veicular e de testes de emissões transparentes, independentes e efetivos gera preocupações do ponto de vista ambiental e social.  
Em resposta à situação, enviamos hoje (30/10) três cartas ao Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC), ao Ministério do Meio Ambiente (MMA) e à Volkswagen, solicitando posicionamento e providências sobre a recente declaração de adulteração em testes de emissões veiculares da marca. 
Além de reforçar uma demanda já apresentada pelo Greenpeace à empresa em 2014 – para que a montadora produzisse no Brasil veículos tão eficientes quanto seus similares europeus –, a carta enviada à VW solicita que a empresa divulgue amplamente informações sobre os veículos afetados e os impactos da fraude; invista em um aumento mínimo de 41% da eficiência energética média de sua frota até 2021; e apresente um plano ambicioso, com cronograma definido de investimentos agressivos em pesquisa e desenvolvimento de tecnologias aplicadas à eletromobilidade, para a substituição de motores a combustão. 
Com isso, esperamos que a marca se comprometa de fato com o meio ambiente e seus consumidores, e produza carros mais eficientes, com menos consumo de combustível, menos emissões de poluentes atmosféricos e menos gases de efeito estufa. 
As cartas enviadas ao MMA e MDIC pedem a investigação da fraude (incluindo os modelos que não são a diesel) e a análise de seus impactos; a realização de testes de emissões no Brasil em ciclo de uso real, feitos por laboratórios independentes, abertos à população e sem o envolvimento de montadoras; e a criação de metas obrigatórias de eficiência energética veicular alinhadas com a União Europeia, visando um aumento mínimo de 41% deste número até 2021, em relação à linha de base de 2011 do Inovar Auto – equivalente a 1,22 MJ/Km no ciclo NBR 7024:2010.
Atualmente, a maneira como são feitos os testes de emissões, com o respaldo de montadoras, como a Volkswagen, carece de transparência de dados e independência, o que torna sua credibilidade questionável. 
A única iniciativa do governo em relação à eficiência energética veicular no Brasil é o Inovar-Auto (Programa de Incentivo à Inovação Tecnológica e Adensamento da Cadeia Produtiva de Veículos Automotores). No entanto, o projeto tem adesão voluntária e oferece subsídios para a indústria automobilística com contrapartida tecnológica pouco ambiciosa. Consequentemente, possui capacidade limitada de diminuir os efeitos danosos das emissões de poluentes, os quais causam problemas à saúde e contribuem para as mudanças climáticas.

Carros prejudicam a saúde e o clima 
A eficiência energética dos veículos é apontada como uma das medidas mais simples para redução de emissões de gases de efeito estufa por diversas instituições e estudos especializados, como o Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC) e a Agência Internacional de Energia (IEA). Segundo o Ministério do Meio Ambiente, em 2020, o setor de transporte pode emitir cerca de 60% mais dióxido de carbono (CO2) do que em 2009, atingindo 270 milhões de toneladas de CO2. Deste total, os automóveis responderão por 40%.
Para além da fraude dos motores a diesel, os carros brasileiros estão defasados em relação à União Europeia. De acordo com estudo realizado pelo Greenpeace Brasil e COPPE/UFRJ, as únicas metas de eficiência energética veicular, apresentadas no programa Inovar-Auto, estão com dois anos de atraso em relação às metas europeias. 
Segundo este estudo, as emissões de gases de efeito estufa em 2030 poderiam ser 24% menores do que as atuais se houvesse padrões de eficiência energética veicular rígidos no Brasil. Contudo, esse não é um objetivo comum da indústria automobilística nacional ou do governo federal, que insiste em dar subsídios a montadoras no Brasil sem cobrar que elas produzam, no mínimo, carros tão eficientes quanto os que vendem na Europa.
Enquanto as demandas enviadas à VW e aos ministérios não forem atendidas, haverá espaço para fraudes como esta, protagonizada por uma empresa que afirmava em seus anúncios “você conhece, você confia”. 
A mesma companhia tem enaltecido seu valor nas redes sociais, usando a hashtag #volksvagemvale. Mas qual seria o valor de uma companhia que se afirma preocupada com o meio ambiente apesar de fraudar testes de emissão de poluentes? Entre no Facebook da montadora e complete a hashtag: #‎volkswagenvale... Destruição do meio ambiente, mentira, fraude, efeito estufa, doenças cardíacas e respiratórias são algumas opções. 
A sua pressão é o caminho para a mudança. 

 Leia a íntegra da carta enviada à VW aqui.
Leia a íntegra da carta enviada ao MMA aqui.
Leia a íntegra da carta enviada ao MDIC aqui