Greenpeace Brasil cobra posicionamento de montadora alemã em relação à fraude em testes de emissões veiculares no País
Recentemente, a Volkswagen se envolveu em um escândalo
que contradisse um de seus anúncios mais famosos: “você conhece, você
confia”. A multinacional admitiu utilizar softwares de manipulação em
seus carros a diesel (vendidos como menos poluentes), para mascarar os
testes de emissão de 11 milhões de automóveis – incluindo a picape a
diesel Amarok no Brasil.
O episódio torna o momento oportuno para
repensarmos as atuais políticas de incentivo ao uso de transporte
individual, em um contexto no qual a inexistência de metas obrigatórias
de eficiência energética veicular e de testes de emissões transparentes,
independentes e efetivos gera preocupações do ponto de vista ambiental e
social.
Em resposta à situação, enviamos hoje
(30/10) três cartas ao Ministério do Desenvolvimento, Indústria e
Comércio Exterior (MDIC), ao Ministério do Meio Ambiente (MMA) e à
Volkswagen, solicitando posicionamento e providências sobre a recente
declaração de adulteração em testes de emissões veiculares da marca.
Além de reforçar uma demanda já
apresentada pelo Greenpeace à empresa em 2014 – para que a montadora
produzisse no Brasil veículos tão eficientes quanto seus similares
europeus –, a carta enviada à VW
solicita que a empresa divulgue amplamente informações sobre os
veículos afetados e os impactos da fraude; invista em um aumento mínimo
de 41% da eficiência energética média de sua frota até 2021; e apresente
um plano ambicioso, com cronograma definido de investimentos agressivos
em pesquisa e desenvolvimento de tecnologias aplicadas à
eletromobilidade, para a substituição de motores a combustão.
Com isso, esperamos que a marca se
comprometa de fato com o meio ambiente e seus consumidores, e produza
carros mais eficientes, com menos consumo de combustível, menos emissões
de poluentes atmosféricos e menos gases de efeito estufa.
As cartas enviadas ao MMA e MDIC
pedem a investigação da fraude (incluindo os modelos que não são a
diesel) e a análise de seus impactos; a realização de testes de emissões
no Brasil em ciclo de uso real, feitos por laboratórios independentes,
abertos à população e sem o envolvimento de montadoras; e a criação de
metas obrigatórias de eficiência energética veicular alinhadas com a
União Europeia, visando um aumento mínimo de 41% deste número até 2021,
em relação à linha de base de 2011 do Inovar Auto – equivalente a 1,22
MJ/Km no ciclo NBR 7024:2010.
Atualmente, a maneira como são feitos os
testes de emissões, com o respaldo de montadoras, como a Volkswagen,
carece de transparência de dados e independência, o que torna sua
credibilidade questionável.
A única iniciativa do governo em relação à
eficiência energética veicular no Brasil é o Inovar-Auto (Programa de
Incentivo à Inovação Tecnológica e Adensamento da Cadeia Produtiva de
Veículos Automotores). No entanto, o projeto tem adesão voluntária e
oferece subsídios para a indústria automobilística com contrapartida
tecnológica pouco ambiciosa. Consequentemente, possui capacidade
limitada de diminuir os efeitos danosos das emissões de poluentes, os
quais causam problemas à saúde e contribuem para as mudanças climáticas.
Carros prejudicam a saúde e o clima
A eficiência energética dos veículos é
apontada como uma das medidas mais simples para redução de emissões de
gases de efeito estufa por diversas instituições e estudos
especializados, como o Painel Intergovernamental sobre Mudanças
Climáticas (IPCC) e a Agência Internacional de Energia (IEA). Segundo o
Ministério do Meio Ambiente, em 2020, o setor de transporte pode emitir
cerca de 60% mais dióxido de carbono (CO2) do que em 2009, atingindo 270
milhões de toneladas de CO2. Deste total, os automóveis responderão por
40%.
Para além da fraude dos motores a diesel, os carros brasileiros estão defasados em relação à União Europeia. De acordo com estudo realizado pelo Greenpeace Brasil e COPPE/UFRJ,
as únicas metas de eficiência energética veicular, apresentadas no
programa Inovar-Auto, estão com dois anos de atraso em relação às metas
europeias.
Segundo este estudo, as emissões de gases
de efeito estufa em 2030 poderiam ser 24% menores do que as atuais se
houvesse padrões de eficiência energética veicular rígidos no Brasil.
Contudo, esse não é um objetivo comum da indústria automobilística
nacional ou do governo federal, que insiste em dar subsídios a
montadoras no Brasil sem cobrar que elas produzam, no mínimo, carros tão
eficientes quanto os que vendem na Europa.
Enquanto as demandas enviadas à VW e aos
ministérios não forem atendidas, haverá espaço para fraudes como esta,
protagonizada por uma empresa que afirmava em seus anúncios “você
conhece, você confia”.
A mesma companhia tem enaltecido seu
valor nas redes sociais, usando a hashtag #volksvagemvale. Mas qual
seria o valor de uma companhia que se afirma preocupada com o meio
ambiente apesar de fraudar testes de emissão de poluentes? Entre no
Facebook da montadora e complete a hashtag: #volkswagenvale... Destruição do meio ambiente, mentira, fraude, efeito estufa, doenças cardíacas e respiratórias são algumas opções.
A sua pressão é o caminho para a mudança.
Leia a íntegra da carta enviada à VW aqui.
Leia a íntegra da carta enviada ao MMA aqui.
Leia a íntegra da carta enviada ao MDIC aqui.
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