Acusado pelo presidente da Funai de estar travando a demarcação de
terra indígena no Tapajós, ICMBio afirma que o órgão não teve acesso ao
relatório e nem emitiu qualquer parecer sobre território reivindicado
pelos Munduruku
À esquerda, presidente do ICMBio Claudio Maretti escuta a
liderança indígena Juarez Saw Munduruku (© Alan Azevedo / Greenpeace)
Na contínua luta pela demarcação de suas terras, que já
dura mais de dez anos, três lideranças Munduruku se reuniram ontem (15)
em Brasília com o presidente do Instituto Chico Mendes de Biodiversidade
(ICMBio), Claudio Maretti, para tirar a limpo uma acusação feita pelo
presidente da Funai. Segundo João Pedro, o ICMBio, junto do Ministério
de Meio Ambiente e do Ministério de Minas e Energia, estaria travando a
demarcação da TI Sawré Muybu pelo fato dela incidir na Floresta Nacional
(Flona) de Itaituba II, uma Unidade de Conservação (UC) gerida pelo
órgão. Convidado por Maretti, João Pedro não compareceu a reunião e foi
substituído pelo Coordenador de Proteção Florestal da Funai.
“O governo recomenda que a Funai nos consulte antes de
publicar o relatório. Mas não sei se fomos consultados nesse caso
específico”, explicou Maretti, que destacou sua equipe para aprofundar a
questão. Segundo Renato Sales, diretor de Ações Socioambientais e
Consolidação Territorial em Unidades de Conservação do ICMBio, “não
procede a informação que estamos travando esse processo demarcatório. A
nós nunca foi encaminhado ou solicitado nenhum parecer sobre o relatório
da TI Sawré Muybu”.
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Para o cacique Juarez Saw Munduruku, o processo está errado
desde o início, pois seu povo habitava o território mesmo antes da
implementação da UC: “eu estava lá na época da criação da Flona, foi em
1998. Eu posso te dizer que nós não fomos consultados, ninguém foi”.
A liderança indígena Roseninho Munduruku também chamou
atenção para o fato de o ICMBio ter instalado placas de delimitação da
Flona de Itaituba II apenas três dias depois da autodemarcação da TI
Sawré Muybu pelos Munduruku. “É coincidência demais, isso gera uma
tensão desnecessária. Tem placa a 500 metros de garimpo ilegal”. Para
Roseninho, seu povo deveria ter sido consultado.
Segundo a diretoria do ICMBio, a Funai foi avisada e se
esperava que o órgão indigenista transmitisse a informação ao Povo
Munduruku, o que nunca aconteceu.
Ao fim da reunião as lideranças cobraram da Funai que esta
apresentasse os pareceres do MMA e do MME que contestam no processo de
reconhecimento da TI Sawré Muybu, pois para eles não há sentido o fato
do relatório ser contestado sem sequer ter sido publicado.
“A desinformação parece ser a melhor arma do governo para
arrefecer a luta dos Munduruku pelo reconhecimento do seu território. É
sempre um órgão jogando a responsabilidade para o outro. E a ausência do
presidente da Funai revela a disposição de continuar a manter
paralisado o processo de reconhecimento da TI Sawré Muybu, dada a
decisão do governo de construir a hidrelétrica de São Luiz do Tapajós de
qualquer jeito”, defende Danicley de Aguiar, da campanha da Amazônia do
Greenpeace Brasil.
No último dia 29, o
Greenpeace Brasil apresentou à sociedade brasileira uma análise crítica
do Estudo de Impacto Ambiental da usina de São Luiz do Tapajós,
realizada por nove cientistas, líderes em suas áreas de conhecimento, e
demonstrou como o EIA omite e subestima possíveis impactos da obra. Na
análise fica evidenciada a disposição de se propor a remoção dos
Munduruku da TI Sawré Muybu.
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