Proposta de texto que paraliza a criação de áreas como territórios
indígenas pode ser votada amanhã, consagrando o avanço do agronegócio e
do desmatamento em detrimento dos direitos indígenas e das políticas
climáticas
(© Alan Azevedo / Greenpeace)
A votação da Proposta de Emenda Constitucional (PEC) 215,
ou a PEC do Genocídio, está cada vez mais próxima. A iniciativa que
prevê transferir o poder de demarcação de Terras Indígenas (TIs),
Territórios Quilombolas e Unidades de Conservação (UCs) do Poder
Executivo ao Congresso Nacional volta à pauta da Câmara dos Deputados amanhã, dia 20, ao meio-dia.
O texto pode ser submetido à deliberação pelo presidente da Comissão
Especial que analisa a PEC 215, deputado Nilson Leitão (PSDB/MT).
TIs e UCs são áreas protegidas fundamentais ao equilíbrio climático e à manutenção dos mananciais de águas e outros serviços ambientais. Os territórios indígenas, inclusive, são comprovadamente as regiões com menores índices de desmatamento do Brasil. Levando em conta o atual cenário de negociações climáticas, controlar o desmatamento, que é um dos principais vetores de emissão de gases de efeito estufa, deveria ser a prioridade número um do governo brasileiro.
No entanto, segundo manifesto assinado por mais de 70 organizações da sociedade civil, com a aprovação da PEC 215 grandes empreendimentos serão permitidos dentro dessas áreas protegidas, tais como: hidroelétricas, mineração, agropecuária extensiva, implantação de rodovias, hidrovias, portos e ferrovias.
Para Danicley de Aguiar, da campanha de Amazônia do Greenpeace Brasil, "A PEC do Genocídio tem o claro interesse de sujeitar o reconhecimento dos direitos territoriais das populações quilombolas, extrativistas e especialmente dos povos índígenas aos interesses do agronegócio nacional, incorporando ou mantendo estes territórios no vigoroso mercado de terras que alimenta o avanço da fronteira da agropecuária nacional”.
O Greenpeace defende que o Brasil já desmatou demais e tem um estoque de terras cultiváveis capaz de suportar toda a cadeia de produção agropecuária sem ter que derrubar mais nenhum palmo de floresta. Um exemplo claro disso é o estado do Mato Grosso do Sul. Segundo o IBGE, são mais de 21 milhões de cabeças de gado ocupando pouco mais de 20 milhões de hectares. Por outro lado, o povo Guarani Kaiowá ocupa 35 mil hectares com uma população total de 46 mil indígenas. Há mais pasto para um boi do que terra para uma família indígena criar os filhos, produzir o próprio alimento e enterrar seus os mortos.
“Não tem fundamento o agronegócio reivindicar mais terra. As TIs somam apenas 12% de todo o território nacional, enquanto que a área ocupada por estabelecimentos agropecuários abocanha nada menos que 41% do território nacional”, compara Aguiar, que conclui: “Se considerarmos a função constitucional dos territórios indígenas, o discurso ruralista de que é muita terra para pouco índio é uma falácia, que só se sustenta no ódio e no preconceito daqueles que negam aos povos tradicionais desse país o direito de existirem segundo suas próprias culturas”.
Caso a PEC 215 seja aprovada amanhã pela Comissão Especial
que a analisa, o texto seguirá para ser apreciado pelo plenário da
Câmara dos Deputados.
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