Tuesday, October 6, 2015

Sol ao Sul: a primeira parada da nossa expedição

Postado por Barbara Rubim

Fomos em busca de histórias e pessoas que já apostam na energia gerada pelo sol. E encontramos uma revolução em andamento


Escola Estadual Roberto Schutz (SC) foi a primeira escola pública a receber um sistema fotovoltaico no Brasil. (©Greenpeace/Otávio Almeida)

O despertador tocou na quinta-feira, dia 1o de outubro, às três e meia da manhã. Apesar de sonolenta, a adrenalina já tomava conta de mim: começava ali a expedição para gravar o web documentário sobre a história da energia solar no Brasil a partir da perspectiva de quem já vive essa revolução. Partimos, então, eu, Fábio Nascimento (cinegrafista), Marina Yamaoka (produtora) e Otávio Almeida (fotógrafo) para o primeiro destino: Santa Catarina, no Sul do país. Ficaríamos quatro dias no estado, com a tarefa de retratar algumas iniciativas solares que têm ocorrido por lá.

Chegamos ao aeroporto de Florianópolis e já seguimos rumo ao primeiro ponto de gravação: o Centro de Pesquisa e Capacitação em Energia Solar da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). Coordenado pelo Professor Ricardo Rüther, o centro já está em uso, mesmo com suas obras ainda em processo.

O Sul é a região brasileira com os piores índices de irradiação solar. E, mesmo assim, tem se destacado pela forma como aproveita essa fonte. Enquanto o professor Rüther nos contava sobre a iniciativa e mostrava as instalações, eu pensava nas pessoas que seriam formadas ali. Elas já terão em seu ensino a visão de um Brasil diferente e aprenderão como construí-lo na prática. Confesso que senti vontade de não ir embora. Poderia muito bem ficar por ali, me juntar a eles e voltar a estudar. O web documentário, no entanto, era a missão que me chamava.
No dia seguinte, pegamos a estrada logo cedo. Às seis e meia já estávamos a caminho de Rancho Queimado. Lá iríamos até a Escola Estadual Roberto Schutz, que recebeu um sistema fotovoltaico e de aquecimento de água. Sabíamos que o dia seria tão corrido quanto o anterior, mas não estávamos preparados para a acolhida daquela escola: abraços apertados mesa de café da manhã, funcionários com sorriso no rosto, ansiosos e animados por nos terem lá. Depois do café, os alunos se reuniram para cantar três músicas que ensaiaram para nós. Um menino de cabelinho loiro e cortado estilo cuia, que estava na primeira fileira do coral, acompanhava o ritmo das canções batendo os pés no chão. Essa visão me encheu de ternura.
Depois da apresentação ouvimos o que o diretor, os professores e os alunos da escola pensavam sobre a energia solar e os sistemas que haviam recebido da Unisul - universidade que desenvolve pesquisas nessa frente e cujos representantes também estavam na escola.

Difícil dizer o quê, de tudo o que ouvi, me tocou mais. A escola ser autossuficiente em eletricidade e ter a conta de luz reduzida para a tarifa mínima? O relato dos professores de que agora tinham água quente nos banheiros e cozinha – e isso os ajudava durante o inverno rigoroso? Ou a animação com as quais os estudantes responderam, quase em uníssono, que sim, queriam ter um sistema daqueles em suas próprias casas? Talvez tenha sido vê-los ali, tão animados para receber “o pessoal do Greenpeace”. Isso me lembrou quão importante é, em nosso trabalho, inspirar as pessoas. Naquele dia, no entanto, sem dúvidas foram eles que me inspiraram.
No sábado, nosso destino era o município de Tubarão. Lá visitamos a maior usina solar fotovoltaica do Brasil, a Cidade Azul. Fazia frio e o vento era cortante. A usina impressiona pela beleza dos módulos, de sua disposição e pela rapidez com a qual fora construída: cerca de três meses.
A vizinhança, contudo, apaga um pouco essa beleza: do outro lado do rio está o Complexo Termelétrico Jorge Lacerda, o maior da América Latina, operando a carvão. Ao lado dele, uma pilha enorme desse combustível esperava para ser queimada. A visão daquelas duas usinas, uma completamente oposta à outra em tecnologia, impactos e possibilidades, localizadas ali, em margens opostas de um mesmo rio, me fez sentir de forma muito concreta que realmente estamos numa encruzilhada para decidir como queremos que seja o futuro do nosso país.
Essa decisão sempre esteve lá, à espreita, mas parece que as crises que vivemos agora nos colocaram cara a cara com ela. De um lado, a opção de construir um Brasil mais limpo, com mais empregos e mais equilíbrio para o meio ambiente e para nosso dia a dia. Do outro, a opção de seguir pelo mesmo caminho, com mais térmicas poluentes e grandes hidrelétricas, que mantém uma lista quase infinita de desrespeitos aos direitos humanos, principalmente para as populações que vivem em seus arredores.
O Governo acha que essa decisão é dele. Mas, na verdade, é nossa.  E ao pensar em tudo isso, ficou ainda mais claro para mim que o objetivo dessa expedição é sobretudo mostrar que um futuro diferente, no qual essa revolução solar esteja presente, não é apenas possível, mas sim uma realidade. A revolução solar já está acontecendo.

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