Apesar da Shell ter desistido de explorar o Ártico, a região ainda não
está a salvo das grandes empresas de petróleo e da pesca industrial
Há 3 anos o Greenpeace trabalha para impedir a exploração de petróleo no Ártico e, finalmente, na semana passada, a Shell declarou que está deixando a região por tempo indeterminado.
Essa ainda não é uma conquista completa. A ONG
continua pedindo a proibição da pesca industrial predatória na área e
que ninguém mais tente explorar petróleo naqueles mares gelados. Pede-se
que o Polo Norte seja transformado em um santuário global, garantindo a
proteção da casa dos ursos polares e de muitos outros animais que lá
vivem.
Em maio deste ano, ativistas em caiaques cercaram a Polar
Pioneer, plataforma de perfuração da Shell, para que ela não deixasse
Seattle, nos Estados Unidos, e partisse em direção ao Ártico. (© N.
Scott Trimble / Greenpeace)
Até aqui, o movimento Salve o Ártico teve tantos
grandes momentos que é difícil escolher alguns para destacar, mas ainda
assim vale tentar.
Lembrar para continuar
Em dezembro de 2011, apesar de diversos especialistas
apontarem os perigos dos planos da empresa, a Shell lançou uma campanha
publicitária para convencer o mundo de que é seguro explorar petróleo
no mar Ártico. “A Shell está pronta para o Ártico”, era o slogan da
campanha, mas a verdade é que nem a Shell nem nenhuma outra empresa
está.
“Essa é a pior jogada de marketing na história das piores
jogadas de marketing. Vamos com tudo”, diz uma das paródias do anúncio
publicitário da Shell. (© Greenpeace)
Durante a Rio+20, diante do Corcovado, balão em forma de
urso polar lembra a urgência de salvar o Ártico. (© Greenpeace /
Marizilda Cruppe)
Apesar da sua campanha publicitária, a Shell não
conseguia esconder o quão ruins eram os seus planos. Em julho, a empresa
admitiu que, em caso de vazamento, não teria como recuperar 90% do
petróleo que derramasse, como lhe era exigido. Era mais importante do
que nunca impedir seus planos!
No fim de 2012, uma série de falhas começou a
aparecer nos supostamente seguros planos da Shell. Em novembro, a Guarda
Costeira dos EUA deteve a Noble Discoverer,
uma das plataformas da empresa, devido a graves problemas de segurança.
Durante um teste, o equipamento da Shell que deveria conter um vazamento
no Ártico foi "esmagado como uma lata de cerveja", segundo relatório.
Como se isso não bastasse, na noite de ano novo a plataforma de perfuração Kulluk
encalhou após ser arrastada por um ciclone. Com esses enormes erros
estampando as capas dos jornais, o mundo começava a ficar mais atento
para o assunto.
A “Bandeira Para o Futuro” tremulando no extremo norte do planeta. (© Christian Åslund / Greenpeace)
Já em agosto de 2013, milhões de pessoas assistiram ao vivo os banners da campanha Salve o Ártico serem adicionados ao momento de glória da Shell,
que patrocinava o Grand Prix da Fórmula 1. Na época, o vídeo mostrando o
momento foi retirado do YouTube, mas isso só fez com que os protetores
do Ártico o compartilhassem mais e mais, até que ele atingisse milhões
de visualizações.
Indiscutivelmente, o momento mais dramático da campanha Salve o Ártico foi quando as autoridades russas prenderam 30 dos ativistas do Greenpeace,
que protestavam contra os planos da petrolífera Gazprom, estatal russa,
que também pretendia explorar a região. Depois de mais de dois meses
presos, as autoridades cederam aos protestos dos milhões de pessoas em
todo mundo, anistiando os ativistas.
A resistência seguiu firme. No início de 2014, a Shell anunciou que não exploraria petróleo no Ártico naquele ano.
A justificativa era a enorme queda de 71% nos lucros da empresa e uma
decisão judicial que questionava a legalidade de suas locações de
perfuração. Um representante da Shell disse que os planos estavam "sob
revisão", mas ainda era muito cedo para comemorar.
Cidadãos da Legolândia vão às ruas em São Paulo para
protestar contra a parceria da LEGO com a Shell. (© Fábio Nascimento /
Greenpeace)
Mais de um ano depois, em agosto de 2015, a Shell recebeu do governo dos Estados Unidos a licença final para explorar as águas do Ártico, apesar de nesse momento já haver 7 milhões de pessoas pedindo ao governo norte americano que não autorizasse isso.
A artista e ativista indígena Audrey Siegl, do povo Musqueam, encara a Polar Pioneer (© Keri Coles / Greenpeace)
Nesse momento, um time de estrelas veio brilhar ao lado do Greenpeace e vestiu a camisa pelo Ártico.
Mais de 60 celebridades foram fotografadas com a camiseta da campanha,
entre elas Maisie Williams (a Arya Stark, de Game of Thrones), Chris Martin (vocalista da banda Coldplay), o ator Ian McKellen, o músico Ozzy Osbourne e a modelo Pamela Anderson.
Ativistas se penduram embaixo de ponte em Portland, nos
Estados Unidos, para impedir que navio da Shell rume para o Ártico. (©
Steve Dipaola / Greenpeace)
No Reino Unido, durante todos os dias de agosto, o Greenpeace fez um protesto musical
do lado de fora da sede da Shell e só paramos para que, em setembro,
mais alguém pudesse protestar. Já que a Shell invadiu a casa dos ursos
polares, um representante da espécie foi até a sede da empresa para exigir que ela saísse de lá.
O gigante boneco de uma ursa polar foi colocado em frente ao prédio
durante a noite, com a promessa de ali ser mantido até que as exigências
de Aurora – como a ursa foi batizada – fossem atendidas.
E então, na semana passada, a Shell surpreendeu (e aliviou) o mundo ao anunciar que finalmente estava deixando o Ártico. De acordo com o jornal The Guardian,
além do aumento dos custos da exploração, outra das razões para a
decisão da empresa foi a intensidade dos protestos públicos contra a
perfuração, pois a Shell teme que eles possam manchar ainda mais a sua
reputação.
Conforme os anos foram passando e os protestos se
acumulando, parece que a maré virou. Por mais que no início parecesse
difícil parar a exploração daquela área, a cada um que se uniu ao
Greenpeace, o movimento Salve o Ártico ganhou mais força, o que garantiu
essa conquista.
Resistir é preciso
Como já foi dito, essa ainda não é uma conquista
completa. O Greenpeace só se dará por satisfeito quando o Ártico for
declarado um santuário global. Porém, a ONG tem certeza de que, com a
ajuda das mais de 7 milhões de pessoas que já resistem ao seu lado e das
outras tantas milhões que ainda se juntarão a ela, um dia ainda poderá comemorar - aí sim, em tom de plena vitória! - e dizer orgulhosamente que o Ártico foi salvo.
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