Em resposta aos resultados da última reunião preparatória da ONU para a
Conferência do Clima que acontece em Paris no final do ano, Martin
Kaiser, diretor de políticas internacionais para o clima do Greenpeace,
declarou:
segunda-feira, 26 de outubro de 2015
Foto: Greenpeace / Baas Beentjes
“Enquanto isso, as conversas em Bonn, na Alemanha, ocorreram como se não houvesse urgência alguma. Isso aumenta a pressão sobre as negociações que serão realizadas em Paris e agrava as dificuldades para que se chegue a um acordo ambicioso.
“Por outro lado, temas fundamentais – como o objetivo de longo prazo de eliminar os combustíveis fósseis – estão de volta ao texto de negociação e recebem cada vez mais apoio das nações. Queremos palavras que sinalizem o fim da era dos combustíveis fósseis e apontem para um mundo com 100% de energias renováveis. Já temos um começo.
“Além disso, cada vez mais países vêm apoiando um mecanismo que eleve os compromissos climáticos a cada cinco anos. Esse processo precisa começar antes de 2020, para que não se perca em ambições frágeis.
“A constatação de que o tema ‘Perdas & Danos’ continua no texto também é positiva. Este mecanismo é indispensável para os mais pobres, que estão perdendo suas casas neste exato momento, em países como Filipinas e México.
“Acreditamos, no entanto, que o texto está longo demais. Faltando apenas cinco semanas para a conferência de Paris, estamos diante de 55 páginas – que não são específicas o bastante no caso de alguns temas essenciais. O motivo é claro: os países produtores de petróleo estão tentando bloquear as negociações e se apropriar do processo, em benefício próprio. Não podemos permitir que façam isso impunemente.
“As limitações de tempo vêm se transformando num grave problema. Os negociadores estão ficando nervosos – o que é compreensível, considerando o que está em jogo. Todos querem ser os últimos a mostrar as cartas, mas nem todos terão o ás de espadas – e o assunto é sério demais para se transformar numa partida de pôquer. As nações precisam baixar as cartas e jogar juntas, numa única equipe.
“Nossa esperança está nas mudanças que vêm transformando por fora o processo de negociação da ONU. Este ano tivemos a declaração do G7 sobre a ‘descarbonização’, a Encíclica Papal, a cooperação entre China e Estados Unidos sobre mudanças climáticas, e o encontro entre Ban Ki-Moon e líderes globais na ONU – do qual surgiu uma declaração final que inclui 100% de energia limpa como uma das alternativas.
“O mundo corporativo também passa por uma mudança de mentalidade. Há poucos dias a Enel, gigante italiana do setor energético, afirmou que vai eliminar totalmente o carvão até 2050. Os investidores estão entendendo o recado: a era dos combustíveis fósseis acabou, e é preciso acelerar a transição de investimentos marrons para investimentos verdes.
“Os ventos da mudança sopram no mundo da energia. Paris precisa sentir esse movimento e se curvar a ele”.
A seguir, a resposta geral do Greenpeace ao documento:
O novo texto reflete parte dos movimentos que vêm empurrando o mundo rumo à proteção do clima. Isso se aplica especialmente ao objetivo de longo prazo de eliminar os combustíveis fósseis e ao mecanismo para que os compromissos climáticos se tornem mais ambiciosos em intervalos regulares.
No entanto, o desafio de chegar a um acordo universal é gigantesco, e vai exigir grande vontade política dos ministros e chefes de estados presentes em Paris.
Avaliação detalhada do Greenpeace
- O texto cresceu para 55 páginas, incluindo o Acordo e a Decisão
- O novo texto baseia-se, em grande parte, na negociação e nas sugestões dos co-facilitadores de grupos temáticos. No entanto, pequenas revisões foram feitas entre a conclusão dos grupos e a divulgação do texto
- O novo texto é mais equilibrado e contém mais alternativas do que a versão inicial emitida pelos co-facilitadores antes da sessão
- Houve diferentes níveis de progresso entre os vários temas; de maneira geral, questões de natureza mais técnica avançaram mais do que assuntos com maior carga política (mitigação, finanças, Perdas & Danos)
- Já temos no texto elementos indicando que o fim da energia fóssil é inevitável. Isso precisa ocorrer em 2050, e não no final do século
- O termo “descarbonização”, que não constava da redação anterior, reapareceu na nova versão, onde surge como uma alternativa
- Em Bonn, os países menos desenvolvidos e as pequenas ilhas-estado se alinharam para apoiar um objetivo mais ambicioso para o longo prazo
- Agora existe uma opção clara no texto de negociação para que as partes comuniquem sua INDC (sigla em inglês para Contribuição Nacionalmente Determinada Pretendida) a cada 5 anos, dentro de um cronograma comum e sincronizado (Artigo 3.8)
- Foi proposto que uma revisão do progresso atingido aconteça a cada 5 anos, a partir de 2023 ou 2024
- Houve um movimento rumo à resolução de que a revisão do progresso atingido inclua mitigação, adaptação e modos de implantação
- Ainda não está claro como a revisão do progresso atingido vai garantir que as partes aumentem suas ambições – não existe nenhum processo em andamento para avaliar as INDCs, quando forem divulgadas, de modo a permitir um ajuste para cima
- De maneira geral, houve progresso e foram estabelecidas opções claras
- Caminha-se em ritmo adequado rumo a um modelo de transparência que cubra tanto ações quanto apoio, com bom potencial para uma redação final significativa e justa em Paris; entretanto, as opções disponíveis ainda representam riscos e não esclarecem se a implantação poderá conduzir a resultados adequados
- As opções apresentadas no texto incluem o princípio fundamental de não retroceder, bem como o reconhecimento de que diferentes níveis de desenvolvimento dos países exigem diferentes níveis de responsabilidade
- Algumas opções de redação ainda apresentadas no texto podem enfraquecer o cumprimento das metas, já que abrem espaço para a não-observância; além disso, os mecanismos para garantir uma melhora na qualidade dos relatórios ao longo do tempo são muito limitados
Perdas & Danos (Artigo 5)
- O texto permanece dividido: as duas propostas em jogo são, a rigor, um tudo ou nada
- Opção 1: não há qualquer referência a Perdas & Danos no Acordo (proposto pelo grupo de países chamado “Umbrella Group”, que continua preocupado com custos de indenizações e responsabilização)
- Opção 2: uma seção detalhada, protegida dentro do Acordo, estabelece um mecanismo internacional para tratar de Perdas & Danos (trata-se da formulação de preferência do grupo de países G77)
- Para os países em desenvolvimento, um Acordo que contenha no mínimo uma referência a Perdas & Danos é ponto inegociável, e essa questão provavelmente não será resolvida antes de Paris
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