Relatório preliminar com a análise da qualidade da água e de sedimentos
na área afetada pela lama registra índices de manganês, arsênio e
chumbo muito acima do permitido
Camada de lama seca contendo resíduos minerais no município
de Paracatu de Baixo, cerca de 70km de Mariana, MG. Ao fundo, trecho do
rio Gualaxo do Norte (© VIctor Moriyama / Greenpeace)
Com o rompimento da barragem da mineradora Samarco em
Mariana (MG), no último dia 5 de novembro, o mar de lama também carreou
diversas informações desencontradas sobre a composição dos rejeitos e os
potenciais impactos da lama sobre os ecosistemas atingidos. Incomodados
com a falta de transparência e a gravidade da situação, pesquisadores
de diversas universidades criaram o Grupo Independente de Avaliação do
Impacto Ambiental (GIAIA), que se auto define como um “coletivo
cidadão-científico”.
Ao contrário do que a Companhia de Pesquisa de Recursos
Minerais (CPRM) e a Samarco afirmam a respeito da ausência de metais
pesados nas água do Rio Doce, o GIAIA, que conta com apoio do
Greenpeace, divulgou um Relatório Parcial
sobre a contaminação da bacia a partir de coletas realizadas em campo
entre os dias 4 e 8 de dezembro. Pesquisadores da UnB (Universidade de
Brasília) e da UFSCar (Universidade Federal de São Carlos) coletaram e
analisaram amostras de 17 pontos entre o rio Gualaxo do Norte, em trecho
acima da barragem rompida (portanto não atingido pela lama), até a foz
do Rio Doce, no Espírito Santo, onde a massa de lama chegou no dia 21 de
novembro.
Entre os elementos analisados, o manganês, por exemplo, está acima do permitido pela resolução 357 do Conselho Nacional do Meio Ambiente (CONAMA)
em 16 dos 17 pontos pesquisados, inclusive à montante da barragem de
Fundão (o que indicaria contaminação anterior ao desastre). Em dois
locais à jusante (rio abaixo) da barragem, em Ipatinga (cidade mineira
de 150 mil habitantes) e na confluência do Rio do Carmo com o Rio
Gualaxo do Norte, na cidade de Rio Doce, a concentração de manganês foi
de 2,65 mg/L, ou seja, 26 vezes acima do limite máximo estabelecido (0,1
mg/L). O manganês é um elemento neurotoxico, cujo consumo pode causar
diversos distúrbios e doenças mentais.
Em outro resultado preliminar do trabalho dos
pesquisadores, a água captada em Governador Valadares mostrou uma
concentração de arsênio quatro vezes superior aos valores máximos
permitidos para água potável. Já o chumbo, metal pesado com efeito sobre
o sistema cardiovascular e nervoso, apresentou limites acima do
permitido no Rio Gualaxo do Norte (0,029 mg/L) e na cidade de Rio Doce
(0,016 mg/L).
O CONAMA não impõe limites para o ferro e o alumínio, mas,
segundo o texto do relatório, ambos “estão em concentrações extremamente
altas em todos os pontos de coleta afetados pela lama de rejeito”.
Viviane Schuch, uma das idealizadoras e coordenadoras do GIAIA, explica
que se trata de um estudo preliminar, mas que os resultados são muito
confiáveis. “Essas mesmas amostras serão enviadas a laboratórios
nacionais, e possivelmente internacionais, para que os dados sejam
confirmados”, disse ela.
Vista aérea do município de Bento Rodrigues, em MG, tomado
pela lama de resíduos minerais (© Alexandre
Moreno/TerraSense/Greenpeace)
Um levantamento da SOS Mata Atlântica, em parceria com o
Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), aponta que a lama
destruiu pelo menos 324 hectares de mata nativa. O rompimento da
barragem também afetou um total de 679 km de rios, incluindo o Rio
Doce. Clique aqui para acessar o relatório completo.
Uma
semana após o desastre, o Greenpeace enviou uma equipe para registrar o
estado das comunidades atingidas pela lama e para percorrer o curso do
Rio Doce até o Oceano Atlântico, registrando os impactos pelo caminho.
Confira o nosso relato aqui e aqui.
A organização também vai seguir apoiando a pesquisa sobre os impactos
do desastre na região de Mariana e ao longo da Bacia do Rio Doce, bem
como divulgando seus resultados.
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